Ícone do metal é alvo de críticas por tocar com músico condenado por assassinato
Por Emanuel Seagal
Em 24/05/22
Tom Dare e Matt Rushton, apresentadores do Hell Bent For Metal, um podcast LGBTQ+ realizado em parceria com o Knotfest (festival criado pela banda Slipknot), discutiram em seu 79º episódio o "problema do metal com seu apoio tácito à homofobia". Um dos alvos da discussão foi o músico norueguês Bård Guldvik Eithun, conhecido pelo pseudônimo "Faust" e sua participação entre 1992 e 1994 como baterista do Emperor, ícone do black metal, com o qual gravou o icônico álbum "In the Nightside Eclipse".
Em 1992 "Faust", aos dezoito anos, esfaqueou um homem até a morte. Segundo ele enquanto voltava de um pub foi abordado por Magne Andreassen, que o convidou para ter relações sexuais. O baterista aceitou ir com Magne em uma floresta próxima, o esfaqueou 37 vezes e o chutou diversas vezes na cabeça quando ele estava caído. A polícia não tinha suspeitos do crime por cerca de um ano, porém "Faust" contou o que fez para diversos outros músicos, como "Euronymous" (Mayhem), "Vark Vikernes" (Burzum) e Dani Filth (Cradle of Filth). Em 1993 ele foi preso, e no ano seguinte recebeu a sentença de 14 anos de prisão, solto por bom comportamento em 2003.
Atualmente "Faust" toca na banda de black metal Djevel, que ganhou o Grammy norueguês na categoria metal, e no dia 7 de maio fez uma participação com o Emperor no festival inglês Incineration, um dos tópicos discutidos no podcast.
"É um festival em Londres, majoritariamente black metal, mas com um pouco de death metal. Eu fui em diversas das primeiras edições e algumas após, pois estava trabalhando para algumas revistas. Ele aconteceu neste final de semana e teve como headliner o Emperor, o que não é problema, porém eles trouxeram o maldito 'Faust' pra tocar", comentou Tom Dare.
Após relatar os fatos referentes ao crime de ódio cometido por "Faust", o apresentador disse: "Ele nunca, até onde sabemos, e nós procuramos, fez alguma declaração pública de remorso de qualquer tipo, e o Emperor o trouxe para shows em pelo menos três shows. […] Me sinto inseguro e não me sinto bem-vindo. Minha segurança física importa menos do que a de um cara tocando bateria. Vamos ser claros, não trouxeram ele porque ninguém mais pode tocar aquelas músicas. Trouxeram ele por razões sentimentais e de marketing. Isso também manda a mensagem de que (o vocalista e guitarrista) "Ihsahn" dá mais valor para tocar com seu amigo do que a mensagem que isso manda para todos os gays na plateia de que suas vidas não importam, o que me deixa furioso. Imagino que ele não perceba isso…"
Em seguida Matt Rushton, apresentador do podcast e produtor do Knotfest, comentou: "Ihsahn falou a respeito há alguns anos dizendo que 'as pessoas têm opiniões e visões diferentes se outros podem mudar, ele cumpriu sua pena e pode recomeçar', bem não se nunca houve sequer um pedido de desculpas." Ele acrescentou: "Para ser mais específico, acho que se alguém esfaqueasse uma pessoa heterosexual 37 vezes, ele não seria tratado da mesma maneira que 'Faust'. Isso manda a mensagem de que nós importamos menos."
Matt concluiu criticando o festival Incineration por fazer o show com a participação do "Faust" e usar como atrativo, sem necessidade, pois o Emperor, uma das maiores bandas da história do black metal, venderia os mesmos ingressos sem "Faust": "Se ele tivesse assasinado outro músico do black metal ele não seria bem-vindo. Eles estão promovendo um assassino homofóbico que nunca expressou publicamente remorso, para vender ingressos, e isso em si é um ato homofóbico."
Acompanhe a discussão na íntegra clicando no player abaixo.