A curiosa história da música "O Papa É Pop", do Engenheiros do Hawaii
 Por Bruce William
Por Bruce William
Postado em 02 de maio de 2022
Júlio Ettore, especialista em BRock e em Legião Urbana, passou a limpo a história da música "O Papa é Pop" e de sua irmã gêmea, "Perfeita Simetria", em um vídeo publicado em seu canal do youtube, que pode ser conferido no player a abaixo. E logo em seguida, a transcrição adaptada dos principais trechos.
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"Eu vou começar citando algumas referências históricas dessa letra, que hoje algumas pessoas não lembram ou talvez não façam tanto sentido", diz Júlio. "E a primeira delas é que o Papa naquela época era João Paulo II e ele realmente sofreu um atentado em 13 de maio de 1981", explicando em seguida que é um lugar onde as pessoas costumam ficar e neste dia o Papa passou por ali cumprimentando os fiéis quando levou dois tiros à queima-roupa, e apesar da gravidade do atentado ele sobreviveu.
Em seguida, Júlio explica o conceito de pop: "Esse negócio das coisas serem populares ainda existe, mas a gente não usa mais a palavra pop para se referir a ela. Hoje seriam os virais, os trends, as tendências, enfim. Mas naquela época, fim dos 80 e começo dos 90 essas coisas eram chamado de pop, o que caía no gosto do povo, estava nas paradas, no Disk MTV, o Humberto (Gessinger) fala de capa de revista, pois as pessoas se informavam através da mídia tradicional, televisão, jornal. Hoje a gente não para muito pra olhar capa de revista em banca de jornal. E a história de um planeta na sua cama, também é uma cena muito fim dos anos oitenta, as revistas, os pôsteres, os cartazes..."
 

Daí ele conta que a ideia de fazer um disco brincando com esse negócio de ser pop teve uma série de origens: "Uma delas foi a constatação do próprio Engenheiros que eles tinham se tornado pop. O Humberto falou sobre isso numa entrevista na revista Bizz: 'Essa ideia existia desde que o papa levou um tiro, era uma letra que falava 'o pop não perdoa ninguém'. Mas na época era super difícil falar do pop porque eu não fazia parte, a banda era pequena ainda. Mas desde o ano passado, o pop se tornou mais real para nós. A tecnologia levou a isso, onde tudo é pop. Bem, nós amadurecemos nesse último ano e aprendemos a assumir o lado pop'. Então o Humberto dizia com esse disco que ele queria 'jogar poeira na engrenagem', ao invés de bater de frente com essa questão de ser pop, vamos tentar desconstruir essa ideia".
 
Depois Júlio exibe também a declaração dada por Humberto para o programa Matéria Prima em 1991: "O que eu chamo de pop, não sei se é isso que os acadêmicos chamam de pop. Essa realidade simplificada onde não existem dois tons da mesma cor, só existe um tom de verde, só existe um tom de azul, tudo é muito simplificado hoje em dia pela mídia, pela rapidez em geral. E eu acho que a gente pode jogar uma poeira nesse mecanismo de sucesso, pretendo que a gente jogue".
Então Júlio conta uma história muito curiosa que explica por qual motivo a música foi centrada na figura do Papa: "Humberto estava folheando uma revista e encontrou aquela foto que aparece no encarte do disco, bem na capa, do Papa João Paulo II tomando chimarrão. Porque ele fez uma viagem ao Brasil em 1980 e eles fez várias coisas, até segurou uma bandeira do Flamengo". 'Eu já tinha feito essa música, mas não dava muita importância para ela', explicou o Humberto, 'até que um dia eu lendo a (revista) Veja, eu vi uma foto do (Leonel) Brizola no escritório dele, e atrás dele tinha um pôster do Papa tomando chimarrão e eu disse 'olha ali, cara! O Papa é pop mesmo! Quando ele vai pro Sul ele toma chimarrão, quando vai pro Nordeste ele põe aquele chapéu de nordestino, e eu disse 'pô, esse cara é mais pop do que todo mundo!'". Por sinal, essa foto era de propriedade do Governador do Rio na época, o Leonel Brizola. Daí pediram a foto emprestado para ele e colocaram na capa do disco.
 
Muitas bandas fizeram músicas atacando o Papa, a nossa é a favor dele
Neste trecho, Júlio diz que Humberto não achava que a música causaria polêmica, e ele explicou o motivo em entrevista para a revista Bizz: "Acho que não terá problemas. Muitas bandas fizeram músicas falando mal da Igreja diretamente. A nossa é super sutil, e é a favor do Papa. Se houver algum problema eu retiro, porque sou supercatólico. Não é brincadeira, é super sério. Se o Papa tem coragem de tomar chimarrão em Porto Alegre, ele tem de ter coragem de estar na capa do disco do Engenheiros".
Após comentar algumas curiosidades sobre a gravação da música, incluindo o fato de terem usado bateria eletrônica em todo ou quase todo o disco, Júlio fala da curiosa citação no final das letras do encarte do disco que diz "Lulu 'Heil Gessinger' Santos", e explica qual é a história por trás disso: "Teve uma matéria do Jornal do Brasil em 17 de fevereiro de 1989, e lá pelas tantas, Humberto falou o seguinte sobre o Lulu Santos: 'Existem entertainers e grupos que querem acrescentar uma existência abaixo das luzes de palco. Na primeira classificação se enquadram o David Cooperfield, o Sílvio Santos e o Lulu Santos, e na segunda estamos nós e muitas bandas como o IRA!, a Legião Urbana e o Paralamas".
 
Daí o livro "Infinita Highway" conta como foi a repercussão dessa matéria: "Em entrevista para a Folha de São Paulo de 1º de outubro de 1990, Gessinger contou que 'ele (Lulu Santos) ligou pra casa me chamando de nazista. Fiquei chateado, não queria polemizar com ele (Lulu Santos), é uma pessoa que eu admiro. Na minha cabeça ser 'entertainer' não é pejorativo".
Por fim, Júlio comenta que "O Papa É Pop" tem a mesma música de "Perfeita Simetria" mas não há nenhum motivo para isso, trata-se apenas de uma auto-referência: "Aproveitando a autonomia que conquistamos na indústria, fui me fechando no meu próprio trabalho, que foi ficando cada vez mais autorreferente. Discos compunham trilogias, melodias e capas que se repetiam anos depois, letras de músicas voltavam transformadas. Duas letras na mesma melodia, duas melodias com a mesma letra..." explicou Humberto Gessinger no seu livro "Pra Ser Sincero", que ainda mencionou o assunto quando esteve no programa "Matéria Prima" em 1991: "Ela é a perfeita simetria com 'O Papa É Pop', né? Tem a ver com essa logomarca do disco, que é a Perfeita Simetria. Foi a última música do CD e da fita, ela fecha o ciclo do disco espelhando 'O Papa É Pop'".
 
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