Como foram os últimos meses de Renato Russo e a causa da sua morte
Por Bruce William
Postado em 27 de maio de 2022
Neste 16º episódio da série "Conexão Legiônica", o youtuber e especialista em BRock Júlio Ettore descreve como foram os últimos dias de Renato Russo e a causa da morte do vocalista/fundador da Legião Urbana. Segue logo abaixo uma transcrição adaptada de alguns trechos do vídeo, que pode ser visto na íntegra com mais detalhes e imagens no player a seguir.
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"No dia 11 de outubro de 1996 a aparência de Renato Russo era praticamente pele e osso. Ele estava vinte quilos mais magro que o normal, pesando 45 kgs, passou o último mês de sua vida se alimentando basicamente de água de coco e dizendo coisas como 'mãe, eu não sou daqui'", começa Júlio no vídeo.
Depois ele passa a falar sobre o período que começou ainda em 1995, bem no final do ano, quando o vocalista entrou em depressão. "Renato vivia dizendo estar em 'depressão química'", conta Arthur Dapieve no livro "Renato Russo - O Trovador Solitário". "Era um eufemismo para a ressaca causada pelos medicamentos que tinha que tomar na tentativa de combater os efeitos da Aids, que aos poucos avançavam, uma febre aqui, outra lá".
Esta informação é confirmada por Dado Villa-Lobos em sua autobiografia ("Memórias de um Legionário"): "O Renato percebia a gravidade de sua situação, e estava ansioso: 'Nós precisamos fazer o disco agora!', dizia ele ao (Marcelo) Bonfá e a mim, nos meses finais daquele ano.
O disco ao qual se referiam era "A Tempestade", também chamado "A Tempestade ou O Livro dos Dias", que sairia no dia 20 de setembro de 1996. E neste ponto Júlio retorna a alguns anos antes, descrevendo como foi a descoberta da doença por parte de Renato.
O mau humor de Renato Russo nos últimos meses de vida
Depois Júlio avança até meados de 1996 quando Renato vai ficando cada vez mais enfraquecido, e conta como foi a visita dele ao estúdio para refazer o vocal de uma música que estava com problemas técnicos: "Nesse momento, o Renato apareceu no estúdio, de bengala, muito fragilizado, reclamando da gravação: 'Cara, que merda é essa? Isso aqui é uma banda de rock!' E, no que fomos regravar a canção, ele teve um destempero total e disse: 'Está uma merda, essa mixagem está uma bosta!", descreveu Dado em seu livro, o que, explica Júlio, coincide com os relatos de que o vocalista estava com um humor absolutamente imprevisível, e havia se tornado uma pessoa muito difícil para se conviver.
Júlio conta também que Renato não estava mais concedendo entrevistas televisivas, e quando precisava de alguma imagem, como no caso do encarte do disco "A Tempestade", ele se valia de fotos antigas. Até que, entre julho e agosto, o pai do vocalista, Renato Manfredini, se mudou de Brasília para o Rio de Janeiro para morar com o filho e acompanhar de perto seus últimos meses de vida. A mãe de Renato, Dona Carminha, desconhecia a doença do filho.
Neste ponto, Renato Russo ficou totalmente recluso, ninguém mais conseguia falar com ele, explica Júlio. Poucas informações sobre este período da vida do cantor foram divulgadas, uma delas foi uma visita que o jornalista Marcelo Fróes fez no início de agosto, que ele relatou em matéria publicada na revista Bizz em novembro. "Chegando a sua casa, fui conduzido pelo empregado à sala de som, onde Renato ouvia The Jesus & Mary Chain. Batemos um papo, ele pergunta pelos preparativos do meu casamento, explica que está cansado e tem que sair com uma tia, a senhora sentada no sofá ao lado. Hoje imagino que aquela senhora fosse sua enfermeira e que o compromisso fosse voltar para a cama".
Marcelo diz ainda na matéria que falaria outras duas vezes por telefone com o Renato, numa delas: "Antes de desligar, convido: 'Em dezembro a gente vai se ver no meu casamento'. 'Ainda é cedo pra dizer se vou poder ir, corta. 'Mas a gente vai se vendo, quem sabe para ouvir um som'".
Boatos diziam que Renato Russo havia se suicidado
Júlio então relata que no dia 8 de outubro surgiram boatos dizendo que Renato havia se suicidado. Dado e Rafael Borges (empresário da Legião Urbana) decidem ir até o apartamento, é Dado descreve em detalhes em sua autobiografia como foi esta última vez em que ele esteve com o vocalista: "Nós fomos lá à casa do Renato, em Ipanema, e o pai dele nos recebeu. Quando eu entrei no quarto, vi um corpo esquálido como o de um prisioneiro judeu no holocausto, em uma cama de hospital e sob lençóis brancos. Eu fiquei em estado de choque. Então o Dr. Saul (Bteshe, médico de Renato) cutucou o meu amigo doente, que estava de bruços, e lhe disse: 'Olha, Renato, quem está aí'. E ele respondeu, antes de se virar de bruços novamente: 'É o guitarrista da minha banda'". Dado percebeu que era o fim.
Neste ponto, Júlio conta que a mãe de Renato queria ir visitar o filho, mas é desaconselhada por ele, que não queria que a mãe o visse naquela situação. Ela não viaja. E Renato Russo morreu na madrugada de sexta-feira, às 1:15. Ele estava acompanhado do pai e de um enfermeiro.
Daí é reproduzido um trecho do livro "Renato Russo: o filho da revolução" de Carlos Marcelo, que conta como a mãe de Renato ficou sabendo do ocorrido: "Pouco depois das duas da manhã, já no dia 11 de outubro, o telefone toca no apartamento dos Manfredini na Asa Sul. A dona da casa atende. Do outro lado da linha, com voz calma, o marido lhe comunica: 'Carminha o Júnior acabou de falecer. A esposa tem um acesso de fúria. Em lágrimas grita: 'você não podia ter feito isso comigo, Renato!' Desculpa, ele responde. 'Eu botei ele no mundo, eu tinha que estar nessa hora, queria estar junto dele e segurar a mão dele. O marido silencia".
Nesta hora o vídeo mostra uma declaração da Dona Carminha para a TV Globo em 2007: "E essa mágoa eu fiquei de não estar lá na hora que o Júnior foi embora, sei lá eu ficaria pensando em botar ele no meu colo, fazer um... não deu". Júlio conta então que a mãe de Renato pegou o primeiro voo para o Rio de Janeiro e quando chegou os médicos, inclusive Doutor Saul, asseguraram para ela que não houve dor no momento em que o Renato morreu.
A causa da morte de Renato Russo
Em seguida, Júlio fala sobre a causa da morte de Renato Russo: "Segundo o atestado de óbito, a morte foi causada por septicemia, bronco pneumonia e infecção urinária. Aí tem aquela controvérsia: 'Tá, mas ele morreu de AIDS. Mas a mãe dele disse que não, que foi de depressão'. Bom, como você viu no atestado de óbito não está nenhuma das duas porque na verdade elas não são causas de morte imediatas, tanto AIDS quanto a depressão tem causas associadas a elas. O debate que existe é se foi a AIDS ou a depressão que levaram a esse quadro, que fez com que o Renato desenvolvesse esses problemas. Segundo diz a Carminha em várias entrevistas, a carga viral no sangue do Renato estaria em níveis normais. Mas o médico dele no dia da morte do Renato deu várias entrevistas em que ele falava que a causa foi AIDS".
Daí no vídeo é exibido um depoimento exibido pelo Jornal Nacional da TV Globo em 11/10/1996 onde o médico, Dr. Saul Bteshe diz: "Ultimamente realmente ele se entregou, ele não mostrou força para viver", disse. E ao ser perguntado sobre qual teria sido exatamente a causa da morte de Renato Russo, ele respondeu: "SIDA. AIDS". Em seguida, o Dr. Saul conta que Renato tinha a doença havia seis anos".
Júlio então diz que nos dias seguintes à morte de Renato Russo, a imprensa fez um esforço imenso para tentar reconstruir seus últimos dias, e ele destaca uma matéria feita pela revista Manchete, que ele mostra no vídeo, e onde se lê o seguinte: "Pele e osso, com 20kg a menos que os 65 habituais, barba comprida, quase irreconhecível, Renato Russo morreu à 1:15 desta sexta-feira". Em seguida, a matéria cita a mãe do Renato: "'Ele se entregou', desabafou sua mãe, Maria do Carmo. Nos últimos tempos ele não cansava de repetir: 'Mãe, eu não sou daqui'. Ele desistiu de tomar o doloroso coquetel de drogas que poderia mantê-lo vivo por mais tempo".
Mas Júlio diz que essa é uma outra questão controversa, contestada por várias pessoas, inclusive na coletiva de imprensa que Dado e Bonfá deram para anunciar o fim da Legião o Bonfá disse: "não, andei lendo na imprensa que o Renato desistiu, isso é mentira, ele nunca iria desistir", mas conforme Júlio, a maioria dos depoimentos eram mesmo que o Renato desistira de tomar o coquetel. "Tem um tio dele que falou numa matéria para o Globo: 'ele queria morrer, por isso não foi internado', justificou o tio, o fato de ter morrido no apartamento".
"O Renato pediu para a família que não tivesse nenhum tipo de cerimônia, solenidade, que não tivesse procissão e que ele fosse cremado e assim aconteceu no dia doze no Cemitério do Caju no Rio", conta Júlio. "No dia seguinte, inclusive, os pais e a irmã do Renato, Carmem Teresa, lançaram as cinzas do Renato nos Jardins do Sítio Roberto Burle Marx em Barra de Guaratiba" relata, enquanto exibe uma foto da família jogando as cinzas.
[an error occurred while processing this directive]Por fim, Júlio conclui: "Então é isso, a gente percebe que o Renato quis morrer em paz. Ele quis fugir daquela exposição toda que o Cazuza corajosamente enfrentou. É uma coisa muito pessoal pra gente querer julgar. Mas 26 anos depois o que importa é que ainda estamos falando sobre Renato Russo, não só sobre a morte dele mas principalmente sobre a vida dele, as coisas que ele fez enquanto estava vivo e até hoje estão mais vivas do que nunca!".
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