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Queen: Uma das maiores coleções sobre a banda está no Brasil

Por Ricardo Seelig
Postado em 03 de junho de 2007

Existe aquela pessoa que ouve uma música e quer saber de quem é. Outras, já vão até uma loja e compram o disco daquele grupo que toca aquela música que elas gostaram. O ouvinte casual começa a ficar para trás quando, movidos por curiosidade e paixão, começamos a descobrir a discografia daquela banda que gostamos quando ouvimos aquele música. A maioria das pessoas pára por aí, e se dá por satisfeita quando possui todos os álbuns oficiais dos artistas que curte. Mas tem gente que vai além, muito além, e é justamente pessoas assim que nós mostramos aqui na Collector´s Room.

Antônio Henrique Seligman é um desses caras que faz a palavra "colecionador" ficar restrita a apenas poucas pessoas. Dono de uma imensa coleção sobre o Queen, e de um conhecimento enciclopédico sobre o grupo, Henrique nos recebeu para um longo papo sobre um dos maiores e mais importantes nomes da história da música.

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Um dos maiores colecionadores de Queen em todo o mundo é brasileiro, e ele vai contar a sua história agora, aqui no Whiplash.Net.

Henrique, pra começar o nosso papo, eu queria que você se apresentasse aos nossos leitores.

Meu nome é Antônio Henrique Seligman, nasci em 1964, sou bacharel em Física (como Brian May!) e trabalho em uma empresa de engenharia, na área de sistemas. Coleciono Queen desde 1977 e atualmente sou colaborador da Queen Productions UK. Uma cronologia resumida de minhas atividades em relação ao Queen pode ser encontrada aqui.

Como foi o seu primeiro contato com o rock?

Através dos discos do meu irmão mais velho. Ainda quando estava na escola primária, me lembro de ouvir muito um LP ao vivo dos Bee Gees, LPs e compactos de John Lennon, Paul McCartney, Beatles, Creedence Clearwater Revival, The Archies, Pink Floyd ... Os amigos dele também deixavam discos de rock lá em casa eu ouvia tudo. Mas o primeiro compacto que eu ganhei (da minha irmã) foi do ... Frank Sinatra (Let Me Try Again)!!!

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Mais ou menos com que idade você percebeu que essa paixão não tinha cura, e que iria acompanhá-lo por toda a vida?

Por volta de 1974. No ano anterior meu irmão havia comprado o LP importado "Billion Dollar Babies" do Alice Cooper, e o encarte com aquela nota de 1 bilhão de dólares foi provavelmente o primeiro item que me chamou atenção para edições diferentes de discos. Em 19 abril de 1974 Alice Cooper fez um show no Ibirapuera, meu irmão foi, e eu fiquei batendo a cabeça na parede em casa!!!

Você consegue dizer em que momento você se transformou de um fã normal de música em um colecionador?

Em 1977 eu comecei a comprar os discos do Queen, mas depois de pouco tempo já tinha tudo o que havia sido lançado no Brasil (alguns compactos e LPs). Sedento por mais, me associei ao fan clube inglês e comecei a trocar correspondência e material com fãs que colocavam anúncios nos magazines trimestrais. Foi aí que descobri que o que eu tinha é só a pontinha do iceberg (na realidade essa sensação me acompanha até hoje)!

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Qual o tamanho da sua coleção?

Tenho todos os itens de minha coleção cadastrados em um sistema que eu próprio criei para essa finalidade, mas a quantidade de formatos (107 no momento) é muito extensa para ser listada e subtotalizada aqui, e há certas ramificações secundárias (pastas de reportagens impressas, camisetas, posteres, etc) que eu não catalogo. Provavelmente o principal seja composto por algo na casa dos 5 mil itens relacionados ao Queen , mas se alguém quiser contar (depois me digam quantos são!), quase tudo o que eu tenho está listado em meu site.

Além do Queen, de que outros grupos você possui mais material?

Eu tenho pouquíssimos itens não relacionados ao Queen, mas minha esposa tem uma coleção interessante do The Cult, mais alguns CDs obrigatórios (Led Zeppelin, Jimi Hendrix, Black Sabbath, etc). Quando quero ouvir algo diferente recorro aos discos dela.

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Você sabe dizer por qual motivo virou um fã tão dedicado ao Queen? Como foi que a banda te conquistou dessa maneira?

O que voltou o foco da minha atenção para o Queen foram os arranjos vocais do Freddie, e a guitarra de Brian May. Guaranteed to blow my mind (1)!

Vamos fazer então uma cronologia da sua vida de colecionador: qual foi o primeiro álbum que você comprou, e porque?

"News Of The World", na época do lançamento. Eu havia comprado o compacto "We Are The Champions/We Will Rock You" após ver o vídeo de "We Are The Champions", e fiquei curioso por ouvir o resto do disco. Depois quis conhecer os discos lançados anteriormente ... and the rest is history ;-)

Qual foi o número máximo de itens que você já adquiriu de uma única vez?

Eu cheguei a adquirir algumas coleções inteiras, de pessoas que estavam se desfazendo de seus itens. Os itens duplicados depois eu trocava com colecionadores do exterior. Uma das maiores aquisições que fiz foram as pastas de reportagens e os LPs bootlegs de William Nilsen, fundador do primeiro fan club do Queen do Brasil.

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Qual item você considera o mais raro da sua coleção?

O mais raro, em termos de quantidade de cópias produzidas, seria o LP holandês "Make Me Feel Like A Millionaire" (veja na galeria lateral), que contém um show do Queen no Earls Court em 1977. Foram prensadas apenas 20 unidades numeradas, e a minha é a de número 18. O título do disco tem tudo a ver com seu valor.

E o mais bonito, qual é pra você?

Bonito? Hmmm ... apesar de certos LPs e compactos terem picture sleeves (2) sensacionais, assim como certos picture discs, livros e tour programmes, eu nunca pensei muito em minha coleção nesse aspecto (beleza), mas para exemplificar itens com um visual particularmente atrativo, talvez eu mencionasse dois carrinhos (veja na galeria lateral) da Hot Rockin' Steel que eu tenho, um verde inspirado no álbum "News Of The World", e uma van branca decorada como a capa do LP "A Night At The Opera". Ambos são itens aprovados e licenciados oficialmente pela Queen Productions.

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Existem alguns lançamentos estranhos, e de vez em quando alguns acabam caindo nas nossas mãos. Qual você considera o item mais diferente e curioso do seu acervo?

Eu gosto muito de itens em formatos bizarros, muitos dos quais não tenho o respectivo aparelho para tocar. Um bom exemplo seria o VHD "Live In Rio" (veja na galeria lateral). Não confundam VHD com VHS! VHDs eram discos de video magneto-opticos confinados em um cartucho enorme (cerca de 40 x 30 cm) , e lidos através de contato físico com uma agulha. Uma mistura dos conceitos de vinil, laserdisc e disquete, a grosso modo. O formato VHD é uma evolução dos videodiscos CED (levei um Greatest Flix em videodisco CED no programa do Ronnie Von em 2006, quem assistiu deve lembrar).

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Existe algum disco que você passou um tempão atrás até consegui-lo para a sua coleção?

Sim! Embora estivesse atrás dele desde que comecei a colecionar, somente ano passado consegui localizar e adquirir o LP duplo sueco "Invite You To A Night At The Warehouse" (veja na galeria lateral), que contém um show do Queen na Dinamarca em 1977. Foram prensadas exatamente 896 cópias deste bootleg duplo de vinil, lançado numa luxuosa edição gatefold colorida e plastificada, muito acima do padrão de bootlegs dos anos 70, cuja maioria tinha capas fotocopiadas mono ou bicromáticas. Em um livro sobre o Queen chamado "The First Ten Years", uma frase sobre esse LP não me saía da cabeça: "Chances of obtaining a copy of this long gone item seem to be non-existent". Consegui provar o contrário, após 29 anos de persistência à caça desse item.

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E, complementando a pergunta anterior, quais aqueles que, apesar de você estar atrás há uma cara, ainda não conseguiu?

Ha ha ha … Há itens IMPOSSÍVEIS de se conseguir, como o acetato de 10 polegadas de 1973 com o demo de estúdio de "Hangman", uma música do início da carreira do Queen e que nunca foi lançada, apesar de ter sido executada ao vivo algumas vezes entre 1973 e 1976. Nem o próprio Brian May tem esse acetato. A única cópia de que se tem notícia está no acervo de um outro colecionador particular, que deu uma sorte inacreditável ao encontrá-lo perdido em uma feira de discos em 1984.

Como você guarda e conserva a sua coleção?

Ela está tomando a maior parte de meu apartamento ... Inicialmente eu havia reservado um cômodo apenas para a coleção e o computador, mas nos últimos anos tive de remover os CDs, os posteres enquadrados e alguns outros itens de dimensões maiores de lá. Os CDs estão armazenados em móveis de madeira e vidro específicos (veja na galeria lateral) para esta finalidade, mas a maior parte do resto está em armários (veja na galeria lateral) que estavam no próprio apartamento quando o comprei. Tenho lido artigos técnicos sobre conservação e armazenamento de fitas magnéticas, conservação de acervos, etc, e na medida do possível tenho aplicado certas normas. Depois de muitos anos colecionando você tem de se preocupar com esses aspectos para garantir a preservação dos itens e minimizar a ação do tempo. Os itens não ficam expostos à luz direta, por exemplo. O ideal seria controlar também a temperatura do ambiente onde eles estão armazenados, mas infelizmente isso ainda não foi possível.

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Outros tipos de manutenção envolvem a transferência de material raro em fita magnética (áudio & vídeo) para CDs e DVDs, e posteriormente a restauração/remasterização das gravações. Esse é o tipo de coisa que toma MUITO tempo, e ainda tenho centenas de tapes de áudio/vídeo aguardando na fila para serem transferidos para mídia digital... um dia!

Quais são os itens que você mais gosta entre todos da sua coleção?

Em termos gerais de formato, minha preferência pessoal seria pelos itens de vinil, principalmente os compactos 7". Nunca gostei do som de CDs. Neste formato, eu destacaria os 7"s (veja na galeria lateral) do Smile (3) e Larry Lurex (4) (deste último tenho 3 edições diferentes).

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Mas os itens de maior valor sentimental provavelmente seriam um autógrafo que Brian May nos deu na capa de um CD, com dedicatória (veja na galeria lateral) a mim e à Liane, e provavelmente para ela a camiseta (veja na galeria lateral) que ele autografou lá no camarim. Também tenho uma plaquinha de madeira autografada pelos quatro integrantes no Japão em 1985 (veja na galeria lateral), que é muito importante pelo fato de ter estado nas mãos do Freddie. Por falar em Freddie, também está no nosso acervo um fragmento do lenço de papel (veja na galeria lateral) onde ele enxugou o suor da testa no Morumbi em 1981. Será que contém DNA para produzir um clone dele? ;-) (risos).

Onde você costuma comprar os itens para o seu acervo? Que lojas você indica, aquelas que possuem os itens mais difíceis de se encontrar, para quem está começando agora a sua coleção?

Quando comecei a colecionar recorria às lojas alternativas do centro de São Paulo, e depois, durante muitos anos, a maior parte de meus itens era proveniente de trocas com colecionadores de outros países. Mais recentemente, com a era da internet, tenho recorrido, além das trocas, a sites como o eBay. Recomendo cuidado ao adquirir itens autografados, porque a vasta maioria do que se encontra à venda é falso. Procure sempre a opinião de um especialista antes de comprar. Gravações falsas (5) também são muito comuns, e vale o mesmo conselho. Outra fonte de ótimos itens é a eil.com, mas seus preços são proporcionais à qualidade dos itens que fornecem. E quem estiver procurando gravações raras de áudio e vídeo de baixa geração e sem compressão pode recorrer a mim mesmo ;-)

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Você é casado com a Liane, como você mesmo já citou. Gostaria de saber como ela vê essa sua dedicação a sua coleção.

Conheci minha esposa Liane por causa do Queen. Em 1984 estive em um programa de TV divulgando um evento que eu estava organizando na época, ela me ligou ... e estamos juntos até hoje. Há altos e baixos nessa relação com o Queen. Como a banda não é mais a mesma, ela (com uma certa razão que não lhe tiro) já não vê sentido em tanta dedicação ainda. Deixamos muita coisa de lado em nossa vida por causa disso, não há como negar.

E os seus amigos, já colocaram algum apelido em você depois de todos esses anos dedicados aos discos, ou vêem você como uma espécie de "consultor", aquele cara que conhece tudo e que tem dicas preciosas para passar?

Não tenho apelido, mas sirvo como "consultor" de assuntos do Queen frequentemente, inclusive para a própria Queen Productions. Você vai encontrar meu nome nos créditos do livreto que acompanha o DVD "Live At Wembley Stadium", por exemplo.

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Onde você costuma pesquisar a respeito de discos raros que está procurando, de novos lançamentos, essas coisas. Em que fontes você busca essas informações?

Essas informações eu pesquiso para montar um wants list mundial, e as fontes são as mais diversas possíveis, desde informações provenientes de outros colecionadores mundo afora, bem como sites de leilão, lojas, gravadoras, e às vezes contato direto com os próprios artistas. Vários artistas que gravaram com membros da banda, ou fizeram covers/tributos ao Queen, chegaram a me enviar seus discos diretamente.

Esta pergunta todo colecionador adora responder: quais são, para você, os dez melhores álbuns de todos os tempos?

Vou tentar me segurar e colocar só um do Queen nessa lista ;-)

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1.Queen II (Queen)
2.Dark Side Of The Moon (Pink Floyd)
3.Physical Grafitti (Led Zeppelin)
4.Machine Head (Deep Purple)
5.Are You Experienced? (Jimi Hendrix)
6.Volume 4 (Black Sabbath)
7.Destroyer (Kiss)
8.Back In Black (AC/DC)
9.Some Girls (The Rolling Stones)
10.Revolver (The Beatles)

O que está rolando no seu som atualmente, e o que você recomendaria para os leitores do Whiplash?

Em termos de música atual, não ouço nada. O pouco que vejo na VH1 já é mais do que suficiente, argh! Só ouço música que resiste à seleção natural do tempo.

Relacionado ao Queen, para as pessoas que conhecem o básico e querem se aprofundar um pouco mais, eu recomendaria conhecer os discos solos de Roger Taylor. Esse material é muito bom e quase sempre é "underrated", mesmo no meio dos fãs do Queen.

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A sua coleção tem um limite? Tipo, você acha que, algum dia, vai parar de comprar discos porque acha que, enfim, tem tudo o que sempre quis ter? Você acha que esse dia chegará, ou ele não existe para um colecionador?

Esse limite seria o dia em que todos os itens de meu wants list migrassem para o my collection list, e eu tenho consciência de que este dia nunca vai chegar. Colecionadores sérios têm consciência de quão minúsculo seu acervo é em comparação a tudo o que existe em termos de itens relativos ao artista ou grupo colecionado. À aqueles que dizem que "tem tudo", perdoai-os - eles não sabem o que dizem.

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Qual você acha que foi, é e continua sendo o legado, a importância e a influência do Queen para o rock?

Bandas como o Queen levaram o rock a um nível de virtuosismo musical que infelizmente não se tem visto mais hoje em dia. Mas felizmente mais e mais músicos têm surgido se dizendo ter sido influenciados pela banda (principalmente vocalistas influenciados por Freddie), o que talvez signifique uma luz no fim do túnel...

Pra você, qual é o melhor álbum do Queen, o momento que o grupo alcançou o seu ápice criativo, e porque?

Meu álbum preferido é o segundo disco, de 1974. "Queen II" é quase um álbum conceitual, apinhado de ideías extremamente criativas do começo ao fim. "Ogre Battle" para mim é a melhor música da banda, e nem sequer foi lançada em single (apesar de existir um acetato que evidencia uma provável intenção nesse sentido). "The Fairy Feller's Master Stroke" é uma explosão de idéias inspirada por uma pintura de Richard Dadd. Onde mais se ouviu falar de uma música inspirada por um quadro?

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Minha esposa Liane considera o ápice criativo do Queen o álbum seguinte, "Sheer Heart Attack", do mesmo ano. Dois dos melhores álbuns da banda lançados no mesmo ano realmente pode ser um indicativo do pico criativo do grupo.

Você já encontrou os caras da banda, já esteve frente a frente com eles. O que você sentiu nessa hora?

Nos primeiros instantes de meu encontro com Brian May em seu camarim no Imperator Hall (RJ, 09/11/1992), eu congelei. Minha esposa Liane estava mais tranquila e iniciou a conversa. Só me foi cair a ficha depois de alguns minutos. Brian foi extremamente receptivo, e fez de tudo para nos deixar muito a vontade. Estávamos só eu, a Liane, o Brian e o Jim Beach (manager do Queen) no camarim, sentados no mesmo sofá lado a lado, com ele entre nós, e ouviu atenciosamente tudo o que eu quis contar sobre meu trabalho de pesquisa sobre a banda. Deixei um disquete com ele (aqueles enormes disquetes de 5 1/4", lembra?) contendo listas de memorabilia e gravações raras que talvez fossem úteis para ele (que também é colecionador - o maior de todos, diga-se de passagem) naqueles tempos sem internet. Ele estava tomando café e comendo banana - cardápio mais brasileiro que esse impossível!!! Quando nosso "semancol" indicou que estava na hora de deixá-los (depois de uns 15 ou 20 minutos), nos despedimos e fomos embora. Se fosse por ele, acho que poderíamos ter ficado bem mais!!! A foto desse encontro, tirada pelo Jim Beach (veja na galeria lateral), acabou saindo no encarte do CD Greatest Hits III.

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Freddie Mercury sempre foi uma figura carismática, um showman, um vocalista excepcional. Sua morte, por AIDS em 1991, fez com que uma parcela conservadora da sociedade mundial condenasse as ações de sua vida pessoal, famosa por festas homéricas e intermináveis. O fato de você ser um grande fã do Queen e de Mercury, e ele ser um homossexual assumido, mudou de alguma forma a sua opinião sobre o homossexualismo, fez você ficar mais tolerante com os gays, ou você só se interessa pela música da banda e a vida pessoal dos caras não tem nada a ver pra você?

Meu interesse principal sempre foi a música, mas o conhecimento sobre a vida pessoal dos integrantes acabou sendo consequência do volume de livros e artigos que acabei lendo e absorvendo por consequência de colecionar. De posse dessa carga de informação, posso dizer que sou uma pessoa sem preconceitos nesse sentido. Tanto é que quando eu e minha esposa fomos consultados sobre a publicação de um livro sobre o Freddie no Brasil, indicamos à editora o livro de Jim Hutton, seu último namorado.

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Qual é a sua opinião, como fã, sobre a volta do Queen com Paul Rodgers nos vocais?

Eu acho que o Paul Rodgers é o melhor vocalista do mundo ... para as músicas do Free e do Bad Company.

O que ocorreu é que ele já era amigo de Brian May e uniu-se a eles por acaso (após uma apresentação em um programa de TV), mas duvido que jamais ele tenha ouvido um LP do Queen além dos "Greatest Hits" que devem ter dado para ele ouvir antes da tour. Numa entrevista recente do programa de rádio "Rockline" em que os fãs ligam e fazem perguntas às bandas, quando questionados porque não tocavam certas músicas não-hits, Paul reconheceu abertamente não conhecê-las.

Com relação ao uso do nome "Queen": dá para imaginar os Rolling Stones sem Mick Jagger, os Beatles sem John Lennon, U2 sem Bono, Led Zeppelin sem Robert Plant? Sim ou não? Acho que o mesmo raciocínio vale para o Queen sem Freddie Mercury.

Brian e Roger têm o direito legal de propriedade de uso da marca "Queen", porque contam com a bênção da família de Freddie e a não interferência de John Deacon, mas para mim é nítido de que o uso do nome é uma questão meramente comercial. Concertos e produtos com o nome "Queen" vendem mais do que com um novo nome qualquer.

Quando cadastro um produto dessa fase atual em meu banco de dados, ao invés de "Queen + Paul Rodgers", catalogo como "Brian May + Roger Taylor + Paul Rodgers". O mesmo vale para itens em cuja capa constam "Queen + Five", "Queen + Robbie Williams", e outras participações dos últimos anos. O nome que está impresso na capa nesses casos para mim não é relevante, prefiro optar por catalogar exatamente aquilo que o produto contém. A única exceção é o single "Under Pressure", que realmente contém "Queen + David Bowie".

Na minha visão, o Queen (ou isso que eles chamam de Queen hoje) tornou-se uma banda cover de si própria. E com um repertório previsibilíssimo, diga-se de passagem. Há bandas tributo com repertório bem mais interessante que o deles. Duvido que os vejamos tocando coisas como "Son And Daughter", "Ogre Battle" ou "It's Late" ao vivo de novo.

Já parou para pensar com quem os seus discos ficarão quando você estiver mais velho? Quem será o herdeiro da sua coleção no futuro?

Penso nisso às vezes, mas e se tivéssemos um filho(a) que gostasse de boybands ou Britney Spears? (risos).

Acho que ainda é cedo para pensar nessas coisas, é difícil de prever o dia de amanhã. Por exemplo, se eles resolverem um dia sair em tour com o Robbie Williams eu posso muito bem pirar de vez e vender tudo!!!

O que o rock representa na sua vida?

Estou numa idade meio estranha, como canta Ian Anderson no Jethro Tull – "too old to rock'n'roll but too young to die".

Acho que o rock'n'roll é uma forma de se recusar a envelhecer, pelo menos de cabeça :-)

Henrique, se você tivesse que indicar algumas bandas, e alguns discos, para uma pessoa que nunca teve contato com o rock, o que indicaria?

Indicaria esses discos que coloquei no top ten de todos os tempos.

Tem alguma história engraçada ou curiosa que aconteceu com você por causa da música, e que te fez pensar algo como "isso só acontece com um colecionador mesmo"?

Sim, mas a história não é engraçada , mas sim de terror! Ano passado, após mais de 23 anos procurando, consegui finalmente localizar o LP "Just To Know What He's Doing - Live at the Tube" (6) à venda em uma loja na Alemanha (veja na galeria lateral). Muito bem, comprei sem pestanejar e aguardei ansiosamente o pacote vir pelo correio. Cerca de dez dias após a compra, minha esposa estava sozinha em casa quando tocaram o interfone do apartamento chamando-a na portaria. Qual não foi seu horror quando ao descer ela deu de cara com o LP nas mãos de dois indivíduos que diziam ter "achado" o pacote na rua, insinuando o recebimento de uma recompensa. Ela não pagou e num ato de coragem um tanto perigosa tirou o disco deles, mandando-os embora. Enviei uma cópia do video das câmeras do prédio aos correios, mas eles não conseguiram dar uma explicação sobre como meu raríssimo LP foi parar nas mãos de terceiros. Com certeza só vieram entregar porque viram o valor do disco no Invoice da loja, e não iriam conseguir vender por se tratar de material extremamente alternativo. Felizmente, essa foi uma ocorrência isolada.

Pra fechar, que papel você acha que nós, colecionadores, temos na indústria da música, no mundo e aqui no Brasil?

Acho que somos uma fonte de consulta/pesquisa. Acumulamos, organizamos e preservamos items raros, sons e imagens que de outra forma se perderiam no ar. Desfazemos mitos, identificamos counterfeits (7) e gravações falsas ... e de vez em quando até as próprias bandas vêm nos perguntar ou pedir nossa opinião sobre alguma coisa ;-)

Cara, muito obrigado pelo papo, valeu por ter aceito participar da Collector´s Room, e que tudo dê certo na sua vida.

Eu é que agradeço pela oportunidade, tudo de bom pra você também.

(1) Referência a trecho da música "Killer Queen".

(2) Capas com fotos ou ilustrações.

(3) Compacto promocional americano (promo only, inclusive) de agosto de 1969, da banda pre-Queen formada por Brian May, Roger Taylor e Tim Staffel. Contém mixes exclusivos das músicas "Earth" e "Step On Me".

(4) Compacto de 1973 (lançado pouco antes do primeiro single do Queen, "Keep Yourself Alive"), onde Freddie assumiu um pseudônimo de referência satírica a Gary Glitter. Contém covers de "I Can Hear Music" (Greenwich/Phil Spector/Barry) e "Goin' Back" (Goffin/Carole King). Brian e Roger também participaram dessa sessão de gravação.

(5) Inúmeros bootlegs contém erros (intencionais ou não) em suas capas, de forma que muitas vezes colecionadores iniciantes adquirem um show achando que é outro. Criei então, com a colaboração de outros colecionadores, um guia para identificar esse tipo de fakes.

(6) Bootleg LP de Robert Plant contendo um show de 1983 no qual Roger Taylor está na bateria e backing vocals.

(7) Reprodução de disco raro, com mesmo artwork, produzido com a finalidade de ser vendido como se fosse o original. Sempre há pequenos detalhes que identificam os falsos dos verdadeiros, mas frequentemente passam despercebidos a compradores desavisados.


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Sobre Ricardo Seelig

Ricardo Seelig é editor da Collectors Room e colabora com o Whiplash.Net desde 2004.
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