Nelson Dylara: A coleção de fotos, ingressos e autógrafos do paparazzi do rock
Por Ricardo Seelig
Postado em 24 de abril de 2006
Esta edição da Collector´s Room será um pouco diferente do que você está acostumado a ler. Ao invés de apresentar um colecionador de CDs e vinis de algum grupo, fomos bater um papo com Nelson Dylara, o "paparazzi do rock", fotógrafo gaúcho que possui um impressionante acervo de imagens cobrindo quase três décadas de paixão pela música. Muitas histórias interessantes vieram à tona na nossa conversa. Então, embarque junto comigo nesta viagem musical e visual pelos caminhos do rock.
Antes de mais nada eu gostaria de agradecer a sua participação aqui na Collector´s Room, Nelson. Vamos começar falando um pouco de você.
Olá, meu nome é Nelson Dylara, tenho 44 anos, sou casado e pai de três filhos (Ingrid, Mayara e Igor), e natural de Cahoeira do Sul (RS). . Além de fotógrafo sou também representante comercial.
Como você conheceu o rock e como começou esta história de fotografar os seus ídolos?
Eu comecei a gostar de rock na década de setenta. Curtia Black Sabbath, Kiss, Deep Purple, Sweet, Genesis, e foi com a vinda do Genesis ao Brasil em 77 que fiz as minhas primeiras fotos, no show dos caras no Gigantinho, em Porto Alegre.
E quando você começou a levar este hobby mais a sério?
Para falar a verdade, até hoje encaro como um hobby, mas o meu interesse aumentou quando fui ao primeiro "Rock In Rio", em 85, e consegui fazer algumas fotos do Ozzy Osbourne, Jake E. Lee e Scorpions. Mostrava para os meus amigos e eles ficavam de cara, perguntavam como eu tinha conseguido e tal. Todos queriam as fotos do Ozzy, e foi aí que me despertou e comecei a fotografar as principais bandas do cenário mundial.
Imagino que o seu banco de imagens deva ser gigantesco. Você tem uma idéia de quantos negativos possui?
Tenho aproximadamente 4.250 negativos.
Quais foram os grupos que você mais fotografou?
Iron Maiden eu fotografei duas vezes: uma em Porto Alegre em 95, e outra no "Monsters Of Rock" de Curitiba, em 98. Outros grupos que se destacam no meu acervo são Black Sabbath, Kiss, Deep Purple, Slayer, Kreator, Genesis, Sepultura e Ratos de Porão.
Além das fotos, você coleciona outros materiais dos seus ídolos?
Eu coleciono vinil. Tenho bastante material, vou sempre aos sebos em busca de raridades.
Além disso, também coleciono autógrafos. Os primeiros que consegui foram dos lendários Casa das Máquinas. Assisti os caras em Paranaguá, no Paraná, foi o primeiro show da minha vida.
Gosto também de guardar todos os ingressos dos shows que fui. Comecei a guardar quando assisti ao Kiss no Maracanã em 83.
E tenho também alguns vídeos, DVDs, algumas imagens exclusivas que eu mesmo filmei dos shows do Maiden em Porto Alegre em 92 e do AC/DC em Curitiba em 98. Editei e passei este material para DVD, e são as preciosidades da minha coleção que eu mais gosto.
Qual é a sua banda preferida?
Minha banda predileta é o Black Sabbath. Tenho todos os vinis lançados no Brasil, autógrafos, fotografei a formação clássica com Ozzy, Tony Iommi, Geezer Butler e Bill Ward, além de outros vocalistas como Ian Gillan, Dio e Tony Martin. Tenho uma foto ao lado do Bill Ward, em que ele está autografando uma camiseta do Sabbath que eu estava usando.
Existe alguma foto que te enche de orgulho, que você tirou e as pessoas procuraram bastante depois?
Isso aconteceu com os Mamonas Assassinas. Fotografei toda a banda trinta dias antes do acidente. Vendi quase quinze mil fotos. E, é claro, a foto com a formação clássica do Black Sabbath.
Uma curiosidade: você possui algum esquema para descobrir onde os grupos vão se hospedar, que horas chegam, estas coisas que facilitam na hora de fotografar alguém?
Sempre tive informantes nos aeroportos, que me passavam os horários de chegada e retorno dos grupos. Procurava descobrir em quais hotéis eles ficariam hospedados, e sempre me misturava entre os hóspedes, sem camiseta de banda para não dar bandeira, sempre pronto para dar um click.
Além disso, eu conheci o César Menitz, da Metal Head, e ele me credenciou em alguns shows e entrevistas coletivas, o que facilitou bastante o meu trabalho. Sou muito grato a ele, o cara é sangue bom.
Como você guarda todo este acervo?
Eu deixo os negativos dentro de um arquivo de plástico próprio para guardá-los.
Falando um pouco de música agora. Você lembra qual foi o primeiro disco que você comprou?
Meu primeiro disco foi o "Love Gun" do Kiss. Comprei porque vi eles em um programa da Globo chamado "Rock In Concert", nos anos setenta, que era apresentado pelo Nelson Motta.
Eu gostaria que você fizesse um top#5 com as fotos que você mais gosta.
Claro, vamos lá:
1) Ozzy chegando no Maksoud Plaza
2) Steve Harris no show do Iron Maiden em Porto Alegre, em 92
3) Gene Simmons, do Kiss, saindo do camarim
4) Bruce Dickinson no show do Maiden em Porto Alegre, em 92
5) Mamonas Assassinas em Tubarão, trinta dias antes do acidente
Nelson, para você quais são os dez melhores álbuns de todos os tempos?
1) AC/DC – Back In Black
2) Led Zeppelin – Led Zeppelin IV
3) Jethro Tull – Aqualung
4) Pink Floyd – Dark Side Of The Moon
5) Queen – Live Killers
6) Deep Purple – In Rock
7) Iron Maiden – The Number Of The Beast
8) Judas Priest – Painkiller
9) Kiss – Destroyer
10) Black Sabbath – Black Sabbath
Dentre o que você tem ouvido ultimamente, tem alguma coisa que você destacaria para os leitores do Whiplash.Net?
Eu gostei muito do novo CD do Maria do Relento, "Terapia Kamikase". O novo guitarrista dos caras toca muito, e a banda está bem mais madura, mais pop. Tenho ouvido bastante também um grupo de punk rock de Novo Hamburgo, Papai José. Os caras se apresentam com roupas de umbanda, Papai José é o nome do guia que os protege. Tem também uma banda mexicana, Maná.
E como sempre estou revisando os meus vinis, tenho curtido muitas bandas antigas do rock gaúcho, como Astaroth, Cascavelletes, Bixo da Seda e Câmbio Negro.
Com certeza deve existir algum artista que você ainda não fotografou, e gostaria muito.
Eu gostaria de fotografar o Paul McCartney. Quando ele tocou em Curitiba eu iria fazer as fotos, estava credenciado e tudo, mas dois dias antes do show quebrei o pé fazendo cooper e não pude ir. Isso dói até hoje, o cara é um dos Beatles.
Como todo fã de rock que se preze você deve ter alguma história interessante pra contar pra gente.
Mas claro. Aqui em Tubarão eu moro no centro, próximo a uma garagem de ônibus com oficina. Quando o Raul Seixas e o Marcelo Nova estavam percorrendo o Brasil na tour do "Panela do Diabo" eles estavam indo para Criciúma e ônibus deu problema, e eles vieram consertar nesta oficina, que dá uns oitenta metros da minha casa. O Raul desceu, atravessou a rua e foi para um bar, onde ficou bebendo vodka no gargalo. Ficou viajando lá, disse que não sabia o que tinha, e ficou quase meia hora bebendo direto, mas só fiquei sabendo disso quando o meu cunhando chegou e me falou do ocorrido. Ele chegou falando "tu nem imagina com quem eu estava agora", e é claro que eu nunca iria adivinhar que o Raul estava quase ao lado da minha casa.
Tem também outra história que rolou no inverno de 1984. Fiquei noivo na cidade de Bagé (RS), com a data do casamento marcada para o dia 20/01. Eu era bancário e totalmente apaixonado pela minha noiva. Ela era de família tradicionalista e primeira prenda de um CTG local. Meu sogro cuidava de uma fazenda experimental, e minha sogra queria que o nosso casamento fosse em um estilo todo gauchesco. Os padrinhos, os convidados e até o padre teriam que estar pilchados, e eu chegaria na fazenda da carroça e vestido de gaúcho, enquanto minha noiva chegaria de carroça e vestida de prenda. A cerimônia aconteceria no meio do campo, meu sogro engordava uma vaca e duas ovelhas para a festa... mas eu sentia que eu não iria casar, eu tinha este pressentimento.
Quando faltavam uns quarenta dias para o casamento estava assistindo TV com a minha noiva quando apareceu uma propaganda do primeiro "Rock In Rio", anunciado como o "maior festival de rock de todos os tempos". As atrações eram grupos que gostava, Whitesnake, AC/DC, Yes, Iron Maiden, Queen, entre outros, e principalmente o Ozzy. Pensei "tá aí a minha despedida de solteiro!!!". Falei com ela, e a resposta foi ou eu ou o "Rock In Rio". Ela mandou eu escolher, tentei convencê-la a ir junto mas não teve jeito. Fui ao banco onde estava sendo vendido o passaporte, comprei para os dez dias, entrei em férias e fui para o Rio.
No dia do meu casamento cantei "Love Of My Life" de frente para o Queen, sendo regido pelo maestro Freddy Mercury. Quem estava lá sabe do que eu estou falando. Este show do Queen marcou para sempre a minha vida, e lá mesmo no Rio pedi transferência para outra agência bem londe de Bagé,
[an error occurred while processing this directive]Você tem um projeto de publicar estas fotos em um livro, certo? Como anda este projeto?
No verão passando eu e o Nino Lee, do site www.markadiabo.com, estávamos escrevendo, mas o Nino teve alguns problemas pessoais e teve que dar uma parada. Chegamos a escrever algumas páginas, o Nino sabe tudo de rock e escreve muito bem, e estávamos fazendo a evolução do rock dos anos 70 aos 90, com fotos. Temos até o título, "Rock In Foco", que não está descartado. Material para publicar eu tenho, e não é pouco, e com certeza ainda vou editar este livro.
Bem Nelson, valeu o papo, este espaço é seu.
As pessoas devem amar primeiro a si próprios para depois amar alguém, curtir a vida da melhor maneira possível, dar valor a cada minuto, não desistir dos seus sonhos. Preservem a natureza e amem os animais, principalmente os cachorros. E para gostar de rock não é preciso usar drogas. Agradeço a você, Ricardo, e um abraço a todos os leitores do site. Quem quiser mandar mensagens aí vai o meu e-mail: [email protected].
Valeu !!!!
[an error occurred while processing this directive]Collectors Room
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