Gota: A coleção do proprietário da Roots Records
Por Ricardo Seelig
Postado em 11 de abril de 2007
Esta matéria foi publicada muitos anos atrás, está datada, e a coleção mostrada hoje deve ser bem diferente. Mas a matéria continua sendo uma curiosa cobertura sobre uma invejável coleção, e por isso a destacamos.
Praia e natureza. Florianópolis é conhecida em todo o Brasil por esses atributos, mas a ilha também possui uma intensa cena rock e heavy metal. A Roots Records é um dos principais pontos de encontro da galera que gosta de música pesada em Floripa, e foi justamente com Luiz Antônio Menegotto, o popular Gota, proprietário da loja, que batemos um longo papo para essa edição da Collector´s Room. Afinal, tá na hora de todo o Brasil saber que, além da beleza de suas praias, Floripa também tem muito rock em suas ruas.


Agradecimento especial a Ben Ami Scopinho pela condução da entrevista e pelas fotos.
Gota, você é bastante conhecido aqui em Florianópolis, mas no resto do país as pessoas ainda não conhecem você. Então, pra começar o nosso papo, eu queria que você se apresentasse aos nossos leitores.
Meu nome é Luiz Antônio Menegotto, tenho 43 anos, sou formado em psicologia/UFSC, casado, tenho quatro filhos e um cachorro chamado Jimmy.
Você é proprietário da Roots Records, uma das lojas de discos mais tradicionais de Floripa, mas tudo isso teve um começo. Como foi o seu primeiro contato com o rock?
Meus primos, mais velhos do que eu, se reuniam na casa de minha avó, e entre as conversas com as gatinhas, rolava muita viola e gaita de boca. Made In Brazil, Casa das Máquinas, Mutantes, Caetano e muitos outros que nem me lembro. Era um fumacê danado.

E mais ou menos com que idade você percebeu que essa paixão não tinha cura, e que iria acompanhá-lo por toda a vida?
Pois então, eu tinha uns 12 anos na época.
Você consegue dizer em que momento você se transformou de um fã normal de música em um colecionador?
O momento exato não sei te dizer, mas o quarto foi ficando cheio de LPs e fitas cassetes agrupados pelo chão (as estantes já estavam cheias).
Qual o tamanho da sua coleção?
Veja bem, eu viajava muito (risos) para adquirir os discos, tinha cerca de uns quatro mil vinis e centenas de fitas cassetes e de vídeo (VHS). Antes de montar a loja, eu já tinha alguns compactos, muitos importados. Sempre procurei adquirir itens com capinha e foto das bandas. Busco qualidade e não quantidade, e tenho hoje por volta de uns mil e tantos compactos.

De quais grupos você possui mais material, quais são as suas bandas favoritas?
Sou meio eclético, então tenho de tudo um pouco. Hard, blues, reggae, muito progressivo, heavy e thrash metal. Mas minhas bandas preferidas são Purple, Sabbath, Uriah Heep, Grand Funk, …
Vamos fazer então uma cronologia da sua vida de colecionador: qual foi o primeiro álbum que você comprou, e por quê?
O primeiro disco que comprei foi o "Made In Europe" do Deep Purple, numa loja que nem existe mais. Era sábado e chovia muito, me lembro que pedi duas sacolas para não molhar. No segundo grau, após as aulas, nos reuníamos na casa deste ou daquele colega para curtirmos os discos. Minhas referências foram boas.
Qual foi o número máximo de itens que você já adquiriu de uma única vez?
Não lembro, mas com certeza foi em alguma promoção.
Qual item você considera o mais raro da sua coleção?
O "Black Álbum" dos Beatles, que é uma pérola entre os bootlegs, coisa de fã de carteirinha mesmo, saíram somente dez mil cópias. Também o "Two Virgins" do John Lennon.
E o mais bonito, qual é pra você?
Vários piratas do Hendrix e do Led, que considero verdadeiras obras-primas, tamanha a qualidade gráfica e sonora do material (vendi todos). Entre os compactos, destaco alguns pictures dos Beatles, Elvis, Stones e Grand Funk, coloridos e com várias fotos alternativas.

Existem alguns lançamentos estranhos, e de vez em quando alguns acabam caindo nas nossas mãos. Qual você considera o item mais diferente e curioso do seu acervo?
Uma vez tive um Jethro Tull, creio que era o "Stand Up", importado, capa dupla. Quando você abria, levantava umas figuras com os caras da banda. Nada demais, me lembrava os livros infantis. Mas o mais esquisito que ainda tenho é um antigo compacto dos anos 60, com a propaganda da Frigidaire (marca de geladeiras). É um exemplar em papelão.
Além de fã, você é proprietário de uma loja de discos. Como é isso para um colecionador? Você pega o que é do seu interesse, encomenda direto das distribuidoras, ou ainda compra em outras lojas o que te interessa?
Tudo isso. Quando vamos a São Paulo, minha mulher reclama que ficamos pouco tempo nos atacados de roupas e CDs/DVDs, mas fico horas nas lojas de discos, tá no sangue.


Existe algum disco que você passou um tempão atrás até conseguí-lo para a sua coleção?
Vários! No momento quero um compacto do Caetano com os Mutantes, mas anda meio caro.
E, complementando a pergunta anterior, quais aqueles que, apesar de você estar atrás há uma cara, ainda não conseguiu?
Não se pode ter tudo, mas de vez em quando pinta algum.
Como você guarda e conserva a sua coleção?
Eu guardava em estantes e em caixas, agrupadas no chão, todos com plástico externo e interno. Tem-se que ter cuidado, pois também se trata de um investimento.
Quais são os itens que você mais gosta entre todos da sua coleção?
Atualmente são os compactos. As capas diferenciadas dos LPs são um atrativo à parte.

Quais são, para você, os dez melhores álbuns de todos os tempos?
Impossível responder, mesmo que fossem 100 álbuns.
O que está rolando no seu som atualmente, e o que você recomendaria para os leitores do Whiplash?
Todo colecionador fica contente com cada nova descoberta. Minha última se chama Boomerang, dos anos 70.
A sua coleção tem um limite? Tipo, você acha que, algum dia, vai parar de comprar discos porque acha que, enfim, tem tudo o que sempre quis ter? Você acha que esse dia chegará, ou ele não existe para um colecionador?
A tendência é a coleção aumentar.

Já parou para pensar com quem os seus discos ficarão quando você estiver mais velho?
Penso que fiz a minha parte. Se meus filhos depois quiserem vender, tudo bem, só não troquem por pagode (desculpe, não pude evitar)
O que o rock representa na sua vida?
Meu passado, meu trabalho, minha vida.
Se você tivesse que indicar algumas bandas, e alguns discos, para uma pessoa que nunca teve contato com o rock, o que indicaria?
Chucky Berry (o verdadeiro rei do rock), Beatles, AC/DC, Ramones e Motorhead na primeira semana. Depois visite a galeria e escolha sua tribo.
Tem alguma história engraçada ou curiosa que aconteceu com você por causa da música, e que te fez pensar algo como "isso só acontece com um colecionador mesmo"?
Seguinte: certa vez um cliente, que por razões óbvias vou omitir o nome, deixou um bilhete que dizia "amigo Luiz, pede para mim 54 CDs do Twisted Sister – Stay Hungry. Conto contigo, um abraço do teu amigo... ". Passado alguns dias, lhe perguntei por que ele queria 54 CDs iguais, e prontamente me respondeu: "Eu quero um só, os demais tu coloca na loja". E assim foram com outras bandas nas mais diversas quantidades, virei pára-raios.
A Roots é um ponto de encontro tradicional da galera que gosta de rock e heavy metal em Floripa. Como surgiu a loja, e quais são os planos para o futuro?
Mesmo antes de me formar em psicologia (1986) eu desejava trabalhar com música. Antes trabalhei em clínicas de educação especial, escolas públicas, particulares, asilos e jardins de infância. Tenho boas recordações, mas recebia pouco. Ganhava uns trocados vendendo gravações e LPs via correio (puta saudade, eu era feliz e não sabia). Até que botei o diploma na gaveta e fui trabalhar num escritório de contabilidade, juntei grana por dois anos, consegui "paitrocínio" e abri a Roots. Lá coloquei minha coleção inteira de LPs, cassetes e VHS à venda. O que era para ser uma perda, se transformava em satisfação, pois a galera que comprava, curtia merecidamente. Tudo começou em 1991, e de lá pra cá foram muitas amizades e "causos". Posso dizer com certeza que valeu a pena. No decorrer deste ano pretendo ainda fazer algumas reformas dentro da loja, ampliando o espaço e as ofertas.

Certo, Gota, mas a sua coleção é particular, ou também está à venda, pô?!
A coleção de compactos eu não vendo. Mas me desfiz de muitos de meus discos no início da loja.
Todo fã de rock é meio compulsivo, obsessivo, faz tudo pra ter aquele disco que quer. Quais foram os clientes mais "loucos" que você já teve na sua loja, que te impressionaram seja pela vontade de ter um disco, pelo conhecimento a respeito de determinada banda, ou por serem estranhos mesmo?
Cara, já apareceu de tudo, dava certamente para escrever um livro. Uma vez, um casal me perguntou sobre Peter Frampton, e sugeri o CD "Comes Alive". A "moça" começou a observar o tempo das músicas, não demorou muito e disse: "Amor olha aqui, uma música de 1:23 ("Penny For Your Troughts") e essa de 14:15 ("Do You Feel Like We Do"). Isso não existe, vamos embora". O cara agradeceu e se foram. Fiquei de cara.


Se você pudesse resumir em uma palavra o que o rock faz você sentir, que palavra seria essa?
Vivo.
Cara, muito obrigado pelo papo, valeu por ter aceitado participar da Collector´s Room, e que tudo dê certo na sua vida.
Eu que agradeço a oportunidade e quando puderes, nos faça uma visita, ou acesse www.rootsrecords.com.br.






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