A curiosa história de "American Woman", música anti-guerra que se tornou um hit
Por Mateus Ribeiro
Postado em 16 de junho de 2024
Existem músicas que possuem histórias muito interessantes e curiosas. É o caso de "American Woman", hit da banda canadense The Guess Who, que foi lançada há mais de meio século e ganhou releituras assinadas pela banda suíça Krokus e pelo cantor/compositor estadunidense Lenny Kravitz.
Pois bem, "American Woman" é a faixa que dá nome ao álbum que o The Guess Who lançou em 1970. A música foi criada quando o guitarrista Randy Bachman passou por um perrengue durante uma apresentação que o grupo estava fazendo no final dos anos 1960.
A corda arrebentou? Sem problemas!
"Bem, eu estava no palco com o The Guess Who. Eu não tinha uma guitarra reserva. Não tinha um afinador. Não tinha um roadie. Arrebentei uma corda [da guitarra]. Naquela época, quando você arrebentava uma corda, o líder, que era Burton Cummings [tecladista/vocalista do The Guess Who], dizia: ‘Randy quebrou uma corda, vamos fazer uma pausa’. Então, a banda fazia uma pausa enquanto você se esforçava para trocar a corda.
Essa guitarra era uma Les Paul de 59 com uma barra de tremolo Bigsby, então, demorou um pouco para trocar uma corda (...). E com o Bigsby na guitarra, você tem que a afinar várias vezes, porque o Bigsby tem uma mola. Quando você afina a guitarra e as cordas atingem o tom, todas elas saem do tom novamente. É preciso afinar e afinar até que a mola encontre seu lugar de descanso", relatou Randy, durante entrevista concedida ao site Songfacts.
"Comecei a tocar esse riff no palco e olhei para o público, que agora estava se aglomerando e conversando entre si. Todas as suas cabeças se voltaram para trás. De repente, percebi que estava tocando um riff que não queria esquecer e que precisava continuar tocando. Então me levantei e continuei tocando esse riff. Estava sozinho no palco. Olhei para a plateia e vi meu baterista, Garry Peterson, pedi para ele subir ao palco e começamos a tocar. Então, vi [o baixista do Guess Who] Jim Kale, ele olhou para cima, e eu e Garry estamos tocando. Eu o chamei e ele começou a tocar o riff do baixo. E então, chamamos Burton Cummings no palco, e virou uma jam session. Estávamos tocando esse riff várias vezes", acrescentou o guitarrista, que também contou como nasceu a letra de "American Woman".
"Eu gritei: ‘Cante alguma coisa!’. E ele [Burton] respondeu: ‘O quê?’. Eu falei: ‘Cante qualquer coisa!’. E as primeiras palavras que saíram de sua boca foram: ‘American woman, stay away from me’ [‘Mulher americana, fique longe de mim’].
Estávamos fazendo uma turnê nos Estados Unidos. Isso foi no final dos anos 60, eles tentaram nos recrutar e nos mandar para o Vietnã. Estávamos de volta ao Canadá (...), onde o baile estava cheio de fugitivos do recrutamento que deixaram os Estados Unidos. Isso foi em Kitchener-Waterloo, uma cidade nos arredores de Toronto, e escrevemos a música ali mesmo no palco."
Uma música anti-guerra
A "Mulher Americana" citada na letra de "American Woman" não é necessariamente uma mulher. Segundo Randy, a expressão se refere a dois famosos símbolos estadunidenses.
"É basicamente uma música de protesto contra a guerra, que diz: ‘Não queremos suas máquinas de guerra, não queremos suas cenas de gueto, fiquem longe de mim’ [‘We don't want your war machines, we don't want your ghetto scenes, stay away from me’].
‘American Woman’ não é a mulher na rua. É a Estátua da Liberdade e aquele pôster do Tio Sam com a cartola de estrelas e listras em que ele tem um dedo apontando para você: ‘Uncle Sam Wants You’ [‘O Tio Sam Quer Você’]. Esse foi basicamente o nosso pensamento no momento em que a música foi escrita no palco."
Um hit que foi censurado
No fim das contas, "American Woman" se tornou um grande sucesso, que chegou ao primeiro lugar das paradas dos Estados Unidos. Porém, de acordo com Randy, o governo vetou a execução da música.
"[‘American Woman’] Chegou ao primeiro lugar na Billboard antes de perceberem que era uma música de protesto contra a guerra, porque não era permitido tocar músicas de protesto no rádio. O governo proibiu (...). The Guess Who estava nessa onda de ‘These Eyes’, ‘Laughing’, ‘She's Come Undone’, ‘No Sugar Tonight’, ‘No Time’ e depois ‘American Woman’. O rádio tocava automaticamente sem nem pensar que estávamos dizendo palavras contra a guerra, letras contra a guerra."
No fim das contas, a tenebrosa e desnecessária Guerra do Vietnã acabou. E "American Woman", que resistiu ao teste do tempo, continua sendo ouvida por muitas pessoas até os dias atuais. Ainda bem!
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