Carol Morreu - Lobão para iniciantes
Por Felipe Ricotta
Postado em 19 de setembro de 2004
Tem certas horas que a gente realmente consegue perceber que o mundo está ao contrário e ninguém reparou. Tudo bem que existam contratos, panelas, marketing, capitalismo selvagem, enfim. Mas e o bom senso?
Lobão e Cachorro Grande. Rio, Circo Voador 04/09/04
"Por que será que o Lobão só tem pêlos no braço do cotovelo pra baixo?"
"A Rádio Cidade traz pra vocês.....Lobãoooooo!"
Como assim? Será que foi uma provocação? Será que o Lobão já está tão preso a esse estigma de insatisfeito mor total que seus inimigos não temem mais suas palavras? Ou a idéia ingênua-absurda era mesmo tentar associar a imagem da rádio ao nosso Pocahontas From Hell?
"Rádio Cidade é o Caralho! Quem ouve Rádio Cidade tem que ser preso, é um bundão!" - foi inevitável e eu tive a impressão de que o Lobo caiu na armadilha.
(...)
Abriu o show com "Universo Paralelo" e durante a música, eu senti a galera cantando junto e fiquei muito feliz de estar pertencendo àquele espetáculo que me dava a falsa impressão de ser muito mais genuíno por ser comandado pelo cara mais essencial pra música brasileira nos últimos anos.
Normalmente, a tendência natural das pessoas que enxergam de longe e que estão de fora é se deixar levar pelo comodismo de apenas amareladamente rir de suas declarações e concordar com os pais no almoço de Domingão.
"Esse cara é louco mesmo!"
"É, minha filha, ele é drogado, sabia?"
Mas olha, tia.
Em primeiro lugar, no mundo louco que a gente vive, as drogas são tão necessárias quanto o ar que você respira (a diferença é que a sua você compra na farmácia) e assumir isso não me transforma num ser menor pro seu moralismo conservador.
Só queria que você tentasse perceber que nessa de reprovar quem te causa repulsa, você perde a oportunidade maravilhosa de expandir seus horizontes, refletir sobre suas tristes crenças consumistas e principalmente, perceber que aqueles que lutam contra os gigantes, mesmo sabendo que eles são muito maiores e mais poderosos, são pessoas que merecem TOTAL RESPEITO SEMPRE.
Por mais que seja doloroso pra nós admirar alguém que faz o que nós nunca tivemos coragem de fazer.
(...)
Quem tocou primeiro foi o Cachorro Grande que fez o showzaço de sempre.
E eu tava curtindo o show amarradão quando de repente ela surge bem na minha frente - não sei de onde - com um cigarro apagado na boca.
ERA A GAROTA FRANK JORGE, ehehe (Leia Ricotta #22 em www.carolazevedo.zip.net).
É lógico que ela não precisou falar uma palavra pra que eu acendesse seu cigarro.
"Vem cá, você é de Porto Alegre?"
(...)
Ao meu lado esquerdo, uma freak visivelmente fora de si fechava os olhos e dizia "Foda-se, foda-se!". Ao meu lado direito, uma coroa gata (provavelmente ex-rata de Circo) suspirava - "Ai, ele faz o que quer com essa guitarra..." - e eu tinha certeza de que ela queria dar pra ele.
(...)
"Pra fechar, uma coisa mais romântica... Alguém tem um baseado, pelamordedeus?"
Certos momentos acabam se tornando mágicos e você às vezes nem entende o porquê.
Só sei que "Me Chama", com o Circo inteiro cantando junto e ele com um baseado na boca apenas acompanhando na guitarra foi um desses momentos em que você tem a impressão de estar vivenciando parte da história.
A jam com seus pupilos do Cachorro Grande tocando a nova "Agora é Tarde" e "Helter Skelter" fechou a noite com chave de ouro.
"E pau no cu de Deus, evidentemente."
PS: A gente chegou em casa, ela se apavorou com "Come To Daddy" do Aphex Twin e eu tive que assumir que realmente é o clipe mais macabro que eu já vi em toda minha vida.
Carol Morreu
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