Carol Morreu - Medo e delírio na Micareta II
Por Felipe Ricotta
Postado em 14 de junho de 2005
Jammil E Uma Noites.
Bonfim de Semana.
Riocentro.
"Olha que cara mais grosseirão, Toother. Ele pegou a mulher e levantou ela do chão do nada. E o pior de tudo. Ele tem mamas, cara. Ele tem mamas e fica puxando as mulheres."
"CHUPA TODA E AÍ CHUPA TOD..."
"Ei, posso fazer um entrevista com você?"
"CHUPA TODA! CHUPA TODA! TODA! TODA!"
"Olha, eu sei que era pras pessoas ficarem se pegando, isso é uma micareta, as pessoas tão muito loucas, eu tenho até medo dessas coisas e...Ei, você me deu um beijo agora? Ei, ei...mais um. Outro beijo? Mas vem cá, você já beijou quantos hoje? Eu sou o segundo? Então quer dizer que eu acabei de pegar baba de um maluco qualquer, é isso?"
Ela enfim se pronunciou, mas com um pouco de dificuldade para articular as palavras.
"Porquevocêmebeijou?"
"(...)" - ué, mas foi você que me beijou! - "Porque você é linda." - putz.
"Vocêmebeijadenovo?"
"Beijo. Mas você tem que deixar seu email."
(...)
(ainda ela)
"Vocêvaifalarquemebeijounotexto?"
"Lógico. Você é linda."
"Falaqueeubeijo...muuuuito."
"Demorou."
Ela beija muito.
Isso que antes de me beijar, ela lambeu meu pescoço e lambeu meu gravadorzinho.
"Mitch, eu tenho que te falar que eu me excitei quando ela lambeu o gravador."
"Aí, lembra do nosso juramento? A gente não vai beijar ninguém, certo? Mas se a gente for agarrado, aí não tem jeito, a gente beija. Né?"
"Lógico! Mas tem que lamber o gravador também!"
(...)
"O que você acha dessa galera que fica se agarrando, todo mundo pegando todo mundo e tal? Você acha que falta romantismo nos dias de hoje? Putz, cara. Tão agarrando sua amiga! Olha lá!"
"O nível tá muito baixo. Eu acho rídiculo essa galera que fica se esfregando por aí."
"E vocês acham que DETONAUTAS é a melhor banda de axé da atualidade?"
"Não, não! Tá maluco?"
"Pô, quem é a melhor banda de axé então? CARNE DE SEGUNDA?"
"Ivete, Banda Eva, Babado Novo, tem várias."
(...)
"Ei, peraí, deixa eu te apresentar um amigo meu." - eu, o repórter-cupido, agilizando o lado do maluco que tinha acabado de tomar um fora da gatinha.
"Aí, eu prefiro o pessoal da imprensa."
"Olha isso aí, hein?" - mole discarado, que absurdo!
E ela deixou de lado um bombado que tava chegando nela pra dar mole pra mim! Desculpem-me, eu sei que vocês não têm nada com isso, mas essa foi a minha VINGANÇA SUPREMA contra todos os fortões que sempre tiravam onda comigo na academia anos atrás porque eu pegava pouco no supino! Realmente significou muito pra mim esse momento.
(...)
No meio da confusão, acabei me perdendo do meu Amorzinho Love Story e num momento de desespero, me dirigi à seção de Achados e Perdidos.
"Olha, é o seguinte. Eu perdi uma mulher, cara. Tem uma meia hora já."
"Hã."
"Ela tava de verde."
"Hã."
"Eu preciso muito encontrar ela."
"Olha só, todas as mulheres de verde que foram perdidas vem pra cá pro Achados e Perdidos. No final da festa, você volta aqui que a gente vai colocar todas num paredão e você vê qual é a sua."
(...)
"Quantas mulheres feias você já beijou hoje?"
"?!"
"Porque bonita eu não vou nem perguntar, né? Não vale homem, hein?"
"Cara, tá tocando Pink Floyd!" - porque numa micareta também tem rock, baby!
Entrevistava alguém quando de repente eu escutei algo familiar...
"(...)" - WE DON'T NEED NO EDUCATION...
"Cara, tá tocando Pink Floyd, tá tocando Pink Floyd, ei vocês, depoimento pra imprensa rapidinho, chegaí." - elas eram 4 e loiras - "Vocês curtem Pink Floyd?"
"Curto sim!"
"E me diz então. Como que vocês conseguem gostar de Pink Floyd e frequetar micareta ao mesmo tempo?"
"Porque a graça é essa, essa mistura toda."
"É igual doce com salgado, entendeu?"
"É CHULETA!"
Mas como assim CHULETA? Eu comecei a ficar tonto. Eu não sabia mais onde eu tava, porque o caminhão fica andando em círculos o tempo todo e você acaba perdendo a noção de espaço em certos momentos. Enquanto isso, o pastor que animava o rebanho lá do alto do caminhão gritava JOGA A MÃO PRO ALTO E ENFIA O DEDO NO __! JOGA A MÃO PRO ALTO E...mas talvez eu tenha escutado errado.
(...)
Chegou um maluco bebaço do meu lado e ficou todo ÃÃÃÃÃÃÃ, querendo atenção. Acabei sendo meio grosseiro e te digo que nesses anos todos que eu tenho de carreira como repórter idiota, raramente isso aconteceu. Provavelmente devia estar meio irritado porque ainda não tinha tocado nenhuma música do Kaoma e eu acho um absurdo essa nova geração do axé não prestar uma homenagem à maior banda de suingue dançante micarético que já existiu aqui no Brasil.
"E aí? Qual foi, mano? Quê que tu quer? Quer dar uma entrevista?"
"ÃÃÃÃÃÃ, eu quero pegar várias mulé agora!"
"Pô, mas tu tem que chegar nelas então! Eu num tenho nada com isso!"
"Mas tu trabalha no Bonfiiiiiim!"
"Não, eu não trabalho no Bonfim, eu sou um profissional midiático sério, eu tô fazendo um trabalho de análise antropológica sobre micaretas e eu não posso te ajudar. Foi mal."
(...)
"Olha, o lance é o seguinte... TIRA O PÉ DO CHÃO MAS SÓ TIRA UM, NÃO TIRA OS DOIS QUE VOCÊ CAI. MAS AGORA, SE VOCÊ TIRAR OS DOIS PÉS DO CHÃO E NÃO CAIR, CUIDADO! SAI DO CHÃO MAS DEPOIS QUE SAIR DO CHÃO, VOLTA PELO AMOR DE DEUS! NÃO VAI NÃO! VOLTA!"
(...)
Me distraí e quando olhei ao redor procurando pelo meu fotógrafo, ele estava sendo agarrado por uma micarética muito gata.
("Ela virou pra mim e me perguntou se podia me dar um beijo. E eu não falei nada, só fiz gestos verticais pra cima e pra baixo com a cabeça.")
"E aí, Toother? Como foi dar um beijo artificial caraliento sem sentimento?"
"Cara, foi um bom beijo."
(...)
A carência do ser humano atinge níveis grotescos.
"Amigo, você está com as calças arriadas aí. Que história é essa, véio?"
"É nóis! Isso aqui é...no Bonfim, primeiro eu faço a minha fé, tá ligado?"
"Podecrê. E tu já pegou quantas?"
"Ah, umas 4 só. Eu tô fraco, eu tô fraco."
FARRAPO HUMANO.
Esse maluco gordo-forte-feio que cambeleava bebum pelo recinto com a bermuda arriada no joelho mostrando a sunguinha era um FARRAPO HUMANO e eu meio que tive um certo asco por estar sendo exposto àquela visão deplorável.
"Pô, cara. LEVANTA ESSA BERMA AÍ, PELAMORDEDEUS, NÉ?"
"As coroa da Tijuca dão mole, cara."
(...)
Dois caras dançavam libinosamente quase que colados um no outro.
"Amigos, essa coreografia que vocês tavam fazendo aí...vocês ensaiaram ela por meses e tal, qual foi? É um lance meio erótico, né?"
"A gente inventou a-gooooora! Porque a gente tá no bri-lhooooo."
"Eu faço academia, eu faço lamba aeróbica, mas aqui num tem essa. A gente inventa."
Eu poderia comentar sobre o tremzinho que a gente fez logo depois que saímos andando mas eu prefiro esquecer que isso aconteceu.
"ÍNDIOS, CARA! ÍNDIOS! F#DEU! CORRE!!"
(...)
Meu Amorzinho Love Story ressurgiu do meio da massa verde e meu coração voltou a bater forte na micareta.
"Diz aí, depois de tanto tempo longe um do outro, você já beijou quantos? Ou você tava se guardando pra quando a gente se encontrar?"
"Depois que eu falei contigo, eu só beijei um."
"Olha, eu vou sair de perto de você porque tá muito difícil. Até porque eu prefiro te beijar num dia em que você não tenha beijado ninguém antes."
(mais tarde)
"Pô, Mitch, você tinha que ter complementado e dito E DEPOIS QUE VOCÊ ME BEIJAR, VOCÊ NÃO VAI QUERER BEIJAR MAIS NINGUÉM."
"Podecrer. Dei mole."
(...)
"(...)" - EU VOU ENFIAR O PINCEL NA SUA BOCA CHUPA TODA CHUPA TODA...
"Chupadora? Cara, que grosseria. Aí, vem aqui, o cara tá cantando isso mesmo? Chupadora? Chupadora de quê?"
"Chupa toda! É chupa toda!"
"E esse lance de BOTAR O PINCEL NA SUA BOCA? Como é isso?"
"Cada um entende como quiser, brother. Isso aqui tá muito bom! Uhuuuuuuu!"
(...)
Mais pro final do evento, comecei a perceber pessoas de verde caídas no chão por todos os lados e por alguns instantes, meus amigos, eu me senti quase como que dentro de uma cena deletada de O RESGATE DO SOLDADO RYAN. Mas como assim?
"O que aconteceu com a sua amiga aí capotada no teu colo? Ela teve uma intoxicação devido ao excesso de axé no organismo, foi isso?"
"Não, ela bebeu muita vodka mesmo."
(...)
"Aí, vocês podem me dar um abraço? Eu tô carente, não tô podendo beijar ninguém porque eu tô trabalhando."
E 5 mulheres me abraçaram ao mesmo tempo.
"Óóóóóóó, várias mulheres, Óóóóóóóó!" - eu acabei me entregando ao momento.
Chegaram uns malucos para me parabenizar pelo feito grandioso.
"AÍ, TU É O CARA! TU É O CARA! AGARROU VÁRIAS MULÉ!"
"Que nada, eu sou prego, eu sou prego. E vocês já beijaram quantas?"
"Eu agarrei 17. Mas tu agarrou 5 de uma vez! PORQUE TU É O CARA!"
(...)
Depois de várias horas de agito eletrizante, nós já estávamos de saco cheio daquela suruba light. De repente, a química do cerébro parecia ter voltado ao normal e tudo ficou meio cinza.
A música, que antes era praticamente ambiente pois tínhamos nos adaptado à ela - Darwin, baby, Darwin - entrava pelo ouvido sutil como uma broca. Me dirigi ao Posto Médico.
"Doutora, eu tô precisando de um tarja preta. Tem como você me arrumar um?"
"(...)"
"É que eu não tô mais aguentando a micareta. Não rola?"
"Não."
"Sério mesmo?"
"Sério."
"(...)"
"E uma morfina na veia? Tem como?"
Carol Morreu
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