Carol Morreu - Resolvendo uma treta com o Djavan
Por Felipe Ricotta
Postado em 20 de janeiro de 2005
(anos 90. Eu e ela.)
"Poxa, que linda a música que você fez pra mim."
"A gente pode até emocionar alguém fazendo uma música. Mas uma música nunca vai fazer alguém te amar. Isso é triste."
"A gente não pode ficar junto. Você sabe disso."
"É, eu sei."
(dezembro de 2004. a troca de emails.)
"Colé, neguinha? Aí, vai ter Djavan sexta e sábado aqui e eu arrumei credencial pra
cobrir...só q eu tenho planos malignos...ehhe liga aqui em casa se tu tiver de bob agora.
bjos"
"To enrolada aqui agora! Planos malignos???? O quê????"
"Eu queria falar pra ele que sou teu namorado...eheheh Posso?"
"NÃOOO!!!!"
"Sério q pode? Pô, demorou então...:) Ele vai se amarrar...eheheh"
"Vc já inventou uma historia parecida com essa que nao deu certo, lembra? Lembra? Lembra?"
"Qual o nome da música que ele fez pra vc mermo?"
"Não vou falar a musica e NUNCA mais falo nada p/ vc...Vc já reparou que não consegue ficar de boca fechada????"
Djavan. Rio.
Fundição Progresso.
Lulu Santos no Claro Hall, Barão Vermelho no Canecão, Paralamas no Noites Cariocas, Djavan na Fundição.
Abri o jornal e...que cheiro de mofo é esse?
Em que ano a gente está mesmo? 85?
E mais uma vez as pessoas cantaram em coro Garota Eu Vou Pra California, Bete Balanço, Meu Erro e Flor De Lis.
(...)
Resolvi cair para a Fundição pois precisava resolver essa história de uma vez por todas.
Afinal, quem esse cara pensa que é pra fazer uma música logo pra ela?
EU fiz uma música pra ela há muito tempo atrás e era tudo que ela tinha.
Agora como competir com o Djavan?
O cara faz aquelas músicas todas cheias de acordes estranhos e é um POETA COM DREADS.
Não tem como concorrer, mesmo sendo mais bonito que ele.
Uma fã falou que ele chega até a TOCAR no universo feminino.
Eu não tenho a manha, só toco punheta mesmo.
(...)
Desenrolei com a assessora de imprensa da Fundição, expliquei meu drama e acho que ela entendeu minha aflição da alma. Eu tinha que falar com esse cara de qualquer jeito, tirar umas satisfações, pô!
"Poxa, mas que babado forte, hein?"
"Então, né? Acho até que eu vou mandar essa história pro meu amigo Leão Lobo."
"Olha, Felipe. Me procura quando acabar o show que eu vejo se consigo te colocar lá dentro do camarim, ok?"
(...)
"Só tem casal nesse lugar! Tô começando a ficar deprimido."
(...)
"Você é fã do Djavan mesmo ou veio aqui só pra fazer o filme com ela? Aliás, vocês tão namorando ou o quê?" - putz, quem sou eu? O Amaury Jr?
"A gente é só amigo. Mas lógico que não. Eu curto o Djavan sim."
"Sei. Mas então você viria pra cá amarradão ver o cara mesmo sem ela?
"Sozinho? Nem fudeno!"
(...)
"Olha, eu acho as músicas novas muito ruins." - ela disse e eu ficava pasmo sacando a galera que só ligava mesmo pras músicas mais manjadas.
(mais tarde, ele cantava algo sobre 'jogar pérolas aos porcos' e eu tive um insight)
"Ah, isso acontece no show do Lulu Santos também."
Nos shows que eu costumo ir, acontece o contrário. O legal é curtir as mais obscuras pra tirar onda.
"Tá vendo? Agora ele toca uma desconhecida e todo mundo fica com essa cara de bunda fingindo que tá gostando. Mas não, peraí. Isso aí que tá rolando é Emoções do Manco Rei??"
(...)
"Então, você curte as letras do Djavan?"
"Adoro."
"Você se identifica com elas?"
"Muito."
"Então me explica uma coisa. O que você acha que significa AÇAÍ. GUARDIÃ. ZUM DE BESOURO. UM IMÃ. BRANCA É A TEZ DA MANHÃ ? Tem alguma noção?"
"?!"
"?!"
"Olha, acho que açaí tem a ver com guardiã porque a árvore de açaí é bem grande..."
"E aí, ele tava sentado perto da árvore de açaí, pensando na amada quando veio um besouro pentelho zunindo na orelha dele, algo do tipo?"
"...então ele olhou pro céu e tudo ficou branco como a cara da manhã!" - o cara completou o raciocínio.
Explicado agora, apesar d'eu achar que ele tirou aquelas palavras soltas de alguma cruzadinha das Revistas Coquetel mesmo.
(...)
O fim do show estava próximo e me posicionei estrategicamente a alguns metros da assessora de imprensa com o intuito de embarcar na aba quando ela entrasse no camarim.
Mas perdi ela de vista e assim que o cara vazou do palco, se formou atrás de mim uma mega fila de mocréias sedentas pelo cara, péla-sacos e variantes.
Como sou ninja, saí da Fundição e entrei por trás, mas já era tarde demais.
O cara tava indo embora.
"Ô Djavan! Beleza?"
Fui completamente ignorado e ele passou por mim apressado todo superstar com um segurança atrás e de mãos dadas com uma girl.
E meu plano de zoar com o Djavan foi por água abaixo.
(...)
"Mas você sabe que eu prefiro muito mais a sua música do que a dele, né?"
Carol Morreu
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