Carol Morreu - Mas e o show do Mundo Livre, cara?
Por Felipe Ricotta
Postado em 19 de outubro de 2004
Como escrever algo se você não consegue parar de assistir na TV "A Voz e Sensibilidade de Markinhos Moura no Almoço com os Artistas"?
Mundo Livre Sa e Comadre Fulozinha.
Rio, Circo Voador
10/09/04
(...)
"Quem vai cantar aí hoje?"
"Errr...o Fred 04."
"Quem é esse?"
"(putz, que anta.) Pô, é um cara legal aí..."
"Nossa, você tem uns olhos lindos!"
"(será que essas duas são putas?) Hein?"
"Seus olhos..."
"(com certeza, elas são putas velhas!) Ah...Pô. Brigado." - fiquei tímido e saí de perto.
(...)
Na fila da bilheteria, cruzei minha amiga rata de praia (leia Ricotta#21) e, após ficar acertado que eu não iria entrevistá-la ("visto que ela só fala merda" - eu declamei), a gente conversava sobre o Mundo Livre. Acabei falando pra ela sobre o texto que saiu na revista da MTV sobre os caras e ela cortou logo minha gastação pagando de cool.
"Eu não leio a revista da MTV."
"Beleza, cara. Mas você sabe que existe uma revista da MTV, certo? E que MTV é uma multinacional que..."
"Tá Ricota, tá! Tchau!"
Acho que a gente se amou em outra reencarnação, quando éramos gatos.
(...)
O Mundo Livre tocava "Mexe Mexe" e eu fiquei pasmo com o poder hipnótico que a música exercia sobre duas garotas que dançavam freneticamente sem ligar pro mundo.
"Se liga, cara. Ela tá indo de costas, nem tá vendo a parada."
"Vai bater, com certeza."
Ela cantava e sambava e ia chegando pra trás em direção à base de sustentação da cobertura do Circo.
"Vai bater, vai bater..."
"Ah se vai."
"Vai bater, vai bater, vai bater a cabeça..."
Bateu.
(...)
B Negão subiu no palco pra fazer uma participação especial e se destacou pelo apoio moral em "Seu suor é...".
Talvez ele estivesse nervoso ou tinha esquecido a letra, vai saber, mas acabou que ele não conseguia cantar a música, era só "vai!" o tempo todo.
E aquilo começou a me dar nos nervos, saca?
Pô, vai pra onde, amigo? Tá indo, já.
Eu não tava conseguindo pensar direito e minha onda era acreditar qu e o mano tava em outro plano preso no segundo que antecedia o primeiro acorde da música.
E ele ficava "Vai, vai, vai!", mas não percebia que a música já tinha ido faz tempo.
Uma hora o Fred 04 ia acabar chamando o cara na chincha e mandando a real.
"Ô Bernardo, que papo é esse de vai, vai? A música tá indo já, tá rolando, se liga."
Eu realmente cheguei a acreditar que tudo isso estava acontecendo durante alguns segundos, mas logo depois tive que assumir pra mim mesmo que quem tava viajando na batata era eu e que o melhor a fazer era esperar a onda passar.
Quando a música acabou, tinha contado 78 "Vai's".
(...)
Vi de longe o grande Xico Sá se dirigindo à parte de fora do Circo e fui atrás pra ver se não descolava alguma luz.
Só que quando cheguei perto do cara, ele desabou no canteirinho e eu fiquei até meio preocupado.
"Puta merda, será que o cara vai vomitar aqui mermo?"
"Eu perdi um olho, eu perdi um olho!"
(Cara, quê que esse maluco tá falando?)
Demorei, mas acabei percebendo que a treta era que uma das lentes de seu óculos tinha ido pro saco e ele queria muito que eu comprasse cerveja pra gente.
"Tá louco, cara? Depois você apaga sério aí e eu vou ser lembrado como o cara que matou o Xico Sá? Nemfudeno..."
(...)
No fim das contas, ele me deu uma nota de 10 e acabei indo comprar as malditas cervas.
O papo rolava e eu tentava entender o que ele estava falando. Ele berrava coisas do tipo "A burguesia é uma merda", "Cláudio Assis é necessário!" e eu concordava mas o problema era a chuva de saliva que eu tomava na cara e nos braços que tava incomodando mesmo.
Quando me dei conta, tinha acabado o show.
(...)
Precisava resolver uma aflição da alma e fui ao camarim em busca de paz de espírito.
"Beleza, Bactéria? Cara, lembra que da outra vez você tinha falado sobre uns xaropes e tal? Então...Qual o nome mermo?"
Carol Morreu
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