Carol Morreu - Toni Garrido estava certo sobre o fim de semana
Por Felipe Ricotta
Postado em 15 de maio de 2005
"Alguém que tenha, sim, Inteligência, Beleza, Cultura, Saúde, Brilho, faz bem é em CAIR NA SARJETA - nem que seja pra sair de lá com alguma experiência. Porque não tem a menor graça deixar a sarjeta pros fracos, pros burros, despreparados. Temos que tocar essa gente toda é pros bancos, pra bolsa, pras corporações, pros shopping centers, pros três poderes, pras agências de publicidade, pras redações dos grandes jornais, pros escritórios de advocacia, pra esses guichês supostamente "limpinhos" que são o lugar deles." (Alex Antunes)
Sexta.
Lançamento do Guia Rio Sp da O2 Neurônio.
Livraria da Travessa. Ipanema.
(a troca de emails.)
"Pô, manero, Nina. Posso te entrevistar pr'uma Ricotta?? Tô com medo de aparecer lá (na livraria) e ser espancado por vocês. Bjos do spammerzinho camarada."
"Claro que pode! Inclusive você não sabe de nada! Eu quero te entrevistar para a Tpm, pro Badulaque!!! Será que pode??? Podia ser no mesmo dia. A gente marcava um pouco antes na Travessa. O que você acha? Beijo, Nina."
(...)
(as três 02 neurônias tavam sentadas numa mesa dando autógrafos.)
"Nina Lemos?"
"Sim, sou eu."
"Prazer. Felipe Ricotta."
Ela mal olhou pra mim e, em um milésimo de segundo, procurou o celular na bolsa, pediu o meu pra marcar a entrevista pra amanhã (mas não era hoje?), acendeu um cigarro mas eu acho que não vi, salvou meu número pra depois comentar com as neurônias.
"Meninas, esse menino é um mito. Ele manda email pra todo mundo da redação da Trip e blah blah blah blah..."
"Olha, mas já vou te dizendo logo que eu só faço NU ARTÍSTICO, OK?" - era a piada semi-ensaiada que tinha tudo pra agradar mas acho que ela não captou a inocência irônica. ela também não sabia que eu era um tímido ocasional em mode ON [x] OFF [ ] e que (tá, eu assumo) tava um pouco nervoso.
"Olha, querido. Acho que não vai dar nem pra fazer fotos. Você tem alguma do seu arquivo pessoal pra me mandar?"
E toda hora que a Nina esquecia que eu existia pra ir falar com outra pessoa, procurar um cigarro ou simplesmente só pra olhar para algum outro lugar que não fosse pra MIM e assim deixar mais explícito ainda no ar meu desconforto, buscava suprir minha urgente carência de atenção nas outras duas 02 neurônias. Uma nem deve ter percebido que eu estava lá na frente delas, a outra sorria pra mim em silêncio e confesso que fiquei com um pouco de medo dela.
("Por que diabos ela só fica sorrindo sem falar nada? Talvez ela tenha ficado com dormência mental de tanto dar autógrafos, deve ser isso.")
"Olha, eu precisava entrevistar vocês, como que faz?"
1) "ai, mas vai ser rápido?"
2) "ai, num pode ser por email não? manda por email."
3) "ah, então senta aí do lado e faz agora mesmo."
Chega. Num tenho a menor manha e sou muito estrela pra ser repórter.
Entrevista é o caralho. Mas peraí, calma. Última tentativa.
"Na verdade, eu só queria saber se vocês lêem Ricotta."
Rec no gravador.
"E aí, Nina? Você lê Ricotta?"
"Não. Eu não leio."
"Pô, como assim você não lê???"
Stop.
(...)
Abaixo, o relato de um amigo sulmineiro perdido naquela sexta-feira suja carica e divagando sobre minha escrita + meu fim de noite NO SEX: APENAS TÁTICAS VANILLA SKY no Botecotaco Humaitoso.
"Fala Felipe, tudo tranquilo? Cara (...) Pouco te conheço. Na verdade muito mais pela literatura factual que você desenvolve nos textos que produz. Sim. Eu os leio também. Embora muitas vezes confesso que não os entenda. Mas leio. Interessante (...) Não que duvidasse daquilo que era exposto ou traduzido por você. Mas pensava como alguém pode conseguir passar por tanta coisa, informação e vivência em apenas um final de semana. Depois desse final de semana no Rio eu compreendo melhor. As coisas não só acontecem com você como também você busca isso (...) estar no meio de fatos que poderão ser revelados como gatilho para sua imaginação e interpretação (...) Desde o encontro com todos na Cobal, a coincidente topada sua com as garotas astronômicas... passando pelo Jockey Club e meu fim de noite em um bar surreal onde procurava na jukebox um disco do Calcinha Preta, ouvindo as astronômicas discutindo como cocaina era fascinante... e Raul Seixas no talo.. isso sem contar meu cachorro quente sem nada (apenas pão e salsicha, o que despertou a incredulidade do vendedor da barraquinha... caraca... você não quer nem molho??? nunca vendi um cachorro assim!) e no final (...) enquanto você terminava de bancar o taxi driver às seis e tanto da manhã, estávamos discutindo a veracidade dos relatos e comparando-os com a necessidade de auto-afirmação das garotas cariocas (...) Imprevisibilidade. Essa palavra me domina assim como domina você também. Compreendo agora que seus relatos não são apenas uma quimera. Como uma fotografia de uma paisagem fantástica, é difícil expressar um dia (ou diria uma noite?) do Rio em apenas palavras. Quem não vivencia isso não poderá nunca entender. Oportunidade. Mas mais do que isso. Capacidade de interpretação literal da própria existência aliada a uma visão da realidade crua. Mas não basta as coisas acontecerem. Tem que perceber os segundos passando para poder interpretar. Ou seja, seus textos agora tem significado. Poderá ser APENAS mais um final de semana no Rio de Janeiro. Ou não. A escolha é minha."
(o ps meu.)
Cara, só faltou falar sobre as amizades que a Carol Azevedo fez com as "meninas" da casa (uma delas quase um Robert Plant From Hell, diga-se de passagem. aliás, ela vomitou no banheiro, caso você não saiba), meus tapas de repreensão na tua mão no melhor estilo freira surtada do Colégio Das Irmãs OLHA AQUI, NÃO QUERO SABER SPAF! SPAF! DE VOCÊ SPAF! SPAF! SACANEANDO MINHAS AMIGAS NÃO, OUVIU BEM? SPAF! SPAF!, a garota afastando a cadeira pra ficar longe de você provavelmente meio assustada com o tua verbalização agressiva/pinguça, você dizendo pra outra que ela era a favor do Bush só porque ela tava usando um bottom do... The Kinks?! Como assim?
Acho que você não chegou a pegar as crianças de rua gêmeas que cantavam e dançavam - o velho maldito que mandou eles pararem com aquilo bem no auge do momento com certeza vai arder nas chamas do inferno.
Nem o cara bizarro que andava com uma caixa de bateria nas costas e que ficava colando no ouvido da minha ninfa-musinha pra falar prováveis obscenidades. Nem sacou a tristeza no olhar daquela gorda negra enorme quando ela virou mais um gole e interrompeu nosso papo pra dizer que tinha uma filha. Mas que ela morava nos Estados Unidos. O braço dela era do tamanho da minha coxa, não pude deixar de notar isso.
Sábado.
Lasciva Lula, The John Candy, Nove e Perla Siete
Operation Party. Showbar.
Bem ao lado da Clínica de Estimulação Russa(?!), rolava mais uma edição da Operation Party com casa cheia, bandas bacanas e... mas, peraí, o que diabos seria uma Estimulação Russa? Estávamos do lado de fora do Showbar e enquanto o cara me explicava o que viria a ser aquilo, me dei conta de que minha pergunta e suas possíveis respostas engraçadinhas de duplo sentido não eram mais um tópico original a se debater entre os frequentadores do lugar. Provavelmente, todo mundo que pára ali onde eu parei e atinge o mesmo ângulo de visão que tive já deve ter ficado com essa questão na cabeça quando leu a plaquinha e...
Enfim.
A ressaca de sexta me deixou de saco cheio de tudo e todos, e nesses dias o melhor a fazer é apenas ficar na sua o máximo que der pra se evitar os pensamentos ansiosos paranóicos.
Na verdade, tava num bom momento pra fritar com raiva do mundo e discorrer sobre a imbecilidade que é gastar tempo de vida pra rotular e explicar o som dos outros.
"Então, diz aí, como vocês definem o som do PERLA SIETE?"
"É grunge indie rock'n'roll, alguma coisa desse tipo aí. Ah, é uma mistura de punk com alternativo com grunge com Deftones e com uma porra muito sinistra. E não é hardcore. Pode ser palavrão? (pode, manda ver.) É foda. Irada. Maneira. É muito doido, brother, som manero, bem alternativo mermo, isso aí. Diferente, nada convencional, eles tocaram uma cover do Faith No More, né?"
"Não, cara. Foi uma cover do Oingo Boingo! Você tá viajando!"
"Podecrer, eu confundi. Pô, apaga esse meu depoimento aí."
"Tá bom, podeixar. E você aí, consegue perceber a influência do Oingo Boingo na banda?"
"O vocalista é tão retardado quanto."
"E você, o que achou da banda?"
"EU COMERIA UM PÃO COM MEL. MAS DEIXO PRA DEPOIS."
Eu, como sou um cara sensível, fui bem lá no fundo e consegui sacar toda a genialidade da garota que definiu o som dos caras fazendo um paralelo com sensações próprias já antes experimentadas. E graças à ela, acabei me dando conta de que o som dos caras dá mesmo vontade de Comer Pão Com Mel Mas Deixar Pra Depois. Mas isso só vale pra quem realmente curte pão com mel, o que não é o meu caso.
"Ah, e o roadie deles dorme nos ensaios."
(...)
Sobre a outra banda, o NOVE.
"Finge que você é um crítico chato de música, vai lá."
"Pô, mas eu sou um cara legal pra carai, como que eu vou imitar um crítico chato? Além disso, eu tava aqui do lado de fora, nem tava dando pra ouvir direito."
"Ah, então é melhor ainda pra você fazer um comentário!"
"Achei bacana...sei lá...achei...ah, eu não posso falar mais. É pra onde, pro Fantástico?"
"Não, nem é. Faz uma poesia, sei lá."
"Nove. Não foi novo. Nem inovador. Mas novamente agradou o público presente. Não chegou a ser uma navalha."
"Poxa, ficou legal."
"É bem feito, bem ensaiado, os caras têm uma presença legal mas realmente não acrescentou nada à história do rock."
[an error occurred while processing this directive]Uau, que pusta exagero, não? Na verdade, eu levaria como um elogio, visto que a História Do Rock só conta mesmo pros chatos que se metem a discutir e analisar o rock de forma séria, pras edições comemorativas da Revista Bizz, essas coisas. Mas isso foi só uma pequena lenha na fogueira, ok? Relaxem.
(...)
THE JOHN CANDY. A Banda.
"A banda é bastante indie, é banda pra tocar na Casa Da Matriz."
"Do tipo que o Lúcio Ribeiro da Folha ia se amarrar?"
"Aí eu não sei. Mas é bem legal. É uma proposta, como diria Júpiter Maçã."
THE JOHN CANDY. O Mito.
"John Candy era um grande ator, engraçado, fez ótimos filmes..."
"E você acha que ele devia ter morrido antes de ter feito JAMAICA ABAIXO DE ZERO?"
"Olha, mas vou te falar que eu até gosto de JAMAICA ABAIXO DE ZERO. É um filme bacana de Sessão da Tarde. É bom pra Sessão da tarde, entende?"
"Eu queria dar o nome de uma pessoa pra banda. Aí nesse dia eu tava em casa vendo um filme do John Candy na hora..."
"Qual era o filme?"
"Era OS BLUES BROTHERS, que por sinal é um ótim..."
"Mas peraí. O John Candy fez OS BLUES BROTHERS?"
"Fez. Ele era um policial."
"Ah tá. Achei que você tivesse confundindo com o John Belushi, que foi aquele que morreu e que era irmão do James. Mas peraí, na verdade agora eu não sei, qual era o mais velho que morreu? O James ou o John? Bem, mas eu lembro do John Candy no JAMAICA ABAIXO DE ZERO."
"Que é ótimo também!"
[an error occurred while processing this directive]"Bom, ele fez JAMAICA ABAIXO DE ZERO e morreu. Você acha que ele acabou a carreira bem?"
"Olha, BLUES BROTHERS com certeza é muito melhor que JAMAICA ABAIXO DE ZERO..."
Esquece o nosso plano de sermos felizes.
Esquece que eu falei
Que pra sempre te amaria
Independente de tudo.
Que eu faria qualquer coisa
Para chegarmos a casal de velhos.
Não seremos um casal de velhos."
("Casal De Velhos", Lasciva Lula.)
Largado e sentado no mega confortável sofazinho do Showbar, eu me emocionei e tive um Momento Trevas com essa música do Lasciva Lula enquanto eles à executavam. Entendam.
1) O clip do Johnny Cash na TV tocando uma das músicas mais lindas do Nine Inch Nails. Ele todo velhaco acabado um pouco antes de morrer em contraste com várias cenas dele jovem. Corta para um quadro de uma foto antiga linda do homem com o microfone na mão, corta para o disco de ouro quebrado no chão da sala vazia.
2) THE WIDOW do The Mars Volta na minha cabeça enquanto eu penso na vó do meu amigo que perdeu seu companheiro de vida inteira. Let Me Die Cause I'll Never Sleep Alone. 3) "Cara, a letra de casal de velhos não tem muita história não: eu havia terminado um relacionamento e me toquei de que tinha feito promessas eternas para um troço que acabou em um mês. Fiquei imaginando que haviam casais de velhos espalhados por aí... e escrevi a letra." (Felipe do Lasciva Lula)
Alguém aí tem medo do tempo? Eu tenho.
Domingo.
Gram. Teatro Odisséia.
(com vocês, a Garota Abbey Road.)
"GRAM HOJE NO ODISSÉIA." - era o meu nick no msn.
"Por que você gosta de Gram?"
"E aê? Beleza?"
"Aham. E com você?"
"Tudo tranquilo...e eu confesso que eu até torci pro Túlio Maravilha fazer um. Ele merece. Ele é o Last Superstar dos Gramados." - eu sou tricolor, ela é botafoguense.
"Quanto foi?"
"4 a 3 pro Volta Redonda. Isso que aos 5 do primeiro tempo tava 2 a 0 pro Flu.
"Upa lê lê, que beleza. Porra, queria ter visto, acabei pegando no sono."
"Então agora que você tá acordada, larga de ser ranzinza e vamu pro Odisséia ver o Gram?"
"Acho Gram um saco."
"Chata."
"Chato é o Gram. Vou pro Open Air."
"Quê que vai ter lá hoje?"
"Uns amigos meus vão tocar, o Callado (Canastra) e o Bubu (Los Hermanos)."
"Pô, eu realmente num entendo seu critério. Sobre o que é chato ou não..."
(...)
Gram. A Entrevista.
1) Existe algo de cunho sexual na relação que o guitarrista da banda mantém com o seu amplificador, visto que no show ele manteve por alguns momentos uma relação tórrida de bolinação e esfregação intensa com o aparelho? Minha fotógrafa comentou comigo que chegou a ver um beijo de língua entre os dois. Procede essa informação? Melhor dizendo, o que diabos ele tomou antes de subir no palco?
Sérgio: O Marco Loschiavo tomou uma cerveja antes de subir no palco. A relação dele com a guitarra é de amor mesmo, pode acreditar!
2) Com quem você conversa quando está cantando de olhos fechados?
Sérgio: Com as pessoas que fizeram parte da minha vida e me inspiraram a escrever tais letras.
3) Uma amiga minha sempre diz que nada de novo surgiu no mundo da música depois do Abbey Road. Ela também diz que Gram é chato. O que você tem a dizer a ela?
Sérgio: Que ela tem todo o direito de não gostar do Gram, respeito qualquer opinião.
4) Sobre a minha versão From Hell do clip dos gatinhos, onde o Gatinho era na verdade um rockeiro viciado em heroína, a Gatinha era uma paty fã de Detonautas e o Pato Gordo era um engenheiro honesto e trabalhador traumatizado por ser um pato com pêlos no peito, você cogitaria a possibilidade de nós vendermos o roteiro pro Beto Brant transformar em filme e aí a gente racha meio a meio a grana? Se sim, o que você acha do André Gonçalves no papel do Gatinho, a Deborah Secco no papel da Gatinha e o Tony Ramos no papel do Pato Com Pêlos?
Sérgio: AHAHAHAHAHA... sua versão do clipe é fantástica, eu ri muito quando li a primeira vez! Sabe que eu adoro o trabalho do Tony Ramos? Sou fã dele! Eu topo, mas como a idéia original é minha, quero 95% dos lucros, ok?
Carol Morreu
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps