Carol Morreu - Meu coração country em sintonia com Kid Abelha
Por Felipe Ricotta
Postado em 19 de outubro de 2004
Eu sabia que ia acabar tendo um dia meio Nick Hornsby. Mas juro que nunca li nenhum livro dele. Com vocês, as músicas que mais doem.
1) "Waiting" (Sugar Ray)
A primeira música que me fez chorar!
Como se já não bastassem minhas raízes posers pra queimar meu filme, ainda tenho que assumir que minha primeira lágrima musical derramada ocorreu por causa de uma das bandas mais indiferentes do mundo.
Sugar Ray é uma banda que ninguém odeia e ninguém venera.
Ela simplesmente está lá e deixa ela lá, pô? Qual o problema?
O amor da minha vida tinha mudado de cidade e a letra é clara.
"I'll be waiting there for you".
Mas era uma frase solta no segundo verso principal que elevava ao cubo meu dramalhão.
"She looked at me and softly said i'm gonna love you til the day i die"
(Ela me olhou e disse suavemente 'eu vou te amar até o dia em que eu morrer')
O pior é que eu ainda acredito muito nessa frase.
2) "Return Of The Grevious" (Ryan Adams tocando Gram Parsons)
Eu e meus amigos costumávamos ter os Momentos Country.
A gente sentava no bar que tinha na minha sala, botava um whisky no copo e no som rolava uma coletânea barata de música country do meu pai.
Todo mundo achando uma merda aqueles velhos lamentando e cantando sobre a estrada com aquele sotaque americano caipira, aqueles banjos e tal.
Mas era o Momento Country, cara!
Precisava ser assim.
Até que um dia eu conversava com o gigante irlandês James MacDowell (vulgo Matanza) e perguntei o que ele ouvia em casa.
"Country, man." - ele não falou "man", mas eu queria muito que ele tivesse falado, então foi o que ficou na minha cabeça.
E eu achei aquilo realmente muito foda.
Depois daquele dia, eu comecei a achar bacana esse lance de falar pras pessoas que "em casa eu SÓ ouço Country!", mesmo que isso não fosse verdade.
Sempre que eu falava, era como se eu crescesse pelo m enos meio metro pra cima e pros lados.
Mas acabei sem querer descobrindo esse mp3 e a partir daí, comecei a me ligar de verdade em Gram Parsons.
"Twenty Thousand Roads I Went Down, Down, Down.
And They All Lead Me Straight Right Home To You"
(20 Mil Estradas Eu Rodei E Todas Elas Me Levaram Direto Até Você)
Hoje finalmente minha sensibilidade está preparada, man.
Pro Country.
3) "Pool Shark" (Sublime, versão acústica)
O cara tá no seu quarto, pelado na sua cama de plástico, pensando em como as coisas estão legais pra ele e no momento que antecede o pico na veia, ele assume que um dia vai perder essa batalha.
"One Day I'm Gonna Lose The War".
Ele morreu de overdose anos depois e eu sempre que posso, toco essa música pra alguém.
4) "Só Se For A Dois" (Cássia Eller cantando Cazuza)
"As possibilidades de felicidade são egoístas, meu amor.
Viver a liberdade? Amar de verdade?
Só se for a dois, só dois."
Diz tudo.
Mas na voz do Cazuza nunca me bateu tão forte.
5) "Os Outros" (Kid Abelha)
"Depois De Você, Os Outros São Os Outros E Só."
É, eu sei que você odeia o Kid Abelha.
Eu também, mas foi a primeira vez que uma mulher dedicou uma música pra mim.
E a letra foi tão especial naquela hora que eu mal pude respirar.
"Cara, você tem aquela música "Os Outros" do Kid Abelha aí na tua casa?
"Tenho."
"Coloca aí então."
(A música tocou inteira. Coloquei de novo.)
"Qual foi, Ricota? Alguém dedicou a música pra você? ahahah"
"Nem, cara. Nem."
Flutuei e quase bati com a cabeça no ventilador de teto da casa do maluco.
Podia ser até o Detonautas cantando que eu ia me emocionar.
E nesse dia, ela me teve de volta.
Golpe baixo.
Carol Morreu
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