Carol Morreu - Alguém me dê um celular, please?
Por Felipe Ricotta
Postado em 12 de dezembro de 2004
Kraftwerk. Rio. Tim Festival. Armazém 5.
"Não consigo falar com essa parada na boca."
Lá fora, o céu desabava raivoso em forma de água cinza enquanto que lá dentro, quatro caras com seus quatro computadores tinham todos em suas mãos. A frieza deles só facilitava as coisas, o clima entre as pessoas era ideal e... bem, eu também me deixei levar como todo mundo.
Quase o tempo todo.
"Pô, escreveram errado, aí. Não é Maschine, é Machine! Alemães idiotas."
Olha o cara, ele canta (fala?) como se estivesse contando um segredo pra alguém, com a mãozinha na boca. E olha aquele careca do canto direito, que cara mais apavorante!
Putz, eu tinha que entrar no camarim pra trocar uma idéia com eles!
(peraí, mas eu não sei falar alemão.)
Tanto faz, eles não devem ter camarim mesmo.
Saem do palco e devem ir direto pra NAVE.
"Protein? Vitamin? Se fosse o Arnaldo Antunes e sem telões, todo mundo ia achar um saco."
(...)
"Opa, peraí. Isso aí eu conheço!" - era "Trans Europe Express", cover do DJ Marlboro.
(...)
"Você curte o Kraftwerk?"
"Olha, vou te falar que eu não conhecia não."
"Podecrer...E o que você acha dessa galera nova que faz música eletrônica de qualidade hoje em dia no Brasil como o err...PR5 do Paulo Ricardo? - eu perco a linha, às vezes.
"Sério que o Paulo Ricardo tá fazendo música eletrônica?"
Demorei um tempo, mas acabei me dando conta de que não era dia pra piadinhas infames.
(...)
Encontrei um deles na platéia ("ele era um deles, você não tá entendendo!") e ele assistia o show como deveria mandar o figurino.
Parado, estranho e careca.
Aliás, vale lembrar que todos os Carecas Cool Cariocas estavam presentes no show.
"O que o Kraftwerk significa pra você?"
"Um estilo de ser em harmonia com as máquinas." - ele era um deles, ele era um deles e eu tive certeza.
Saí de perto na hora.
(...)
"Fon Fon!"
Em Autobahn, lembrei dela que se incomodava com o vidro do carro que não era elétrico e putz...a modernidade é uma merda mesmo.
No telão, rodovias e carros passando me deixaram feliz por não ter o menor tesão automobilístico. O carro facilita a vida sim, mas é apenas um meio de transporte, right?
Eu sou mesmo tão anormal assim?
(...)
Olhei pro lado e meu amigo chorava. Eu simplesmente travei, não conseguia me mover perdido dentro daquele telão. Não fazia o menor sentido dançar naquela hora e por que diabos estão todos dançando?
Finalmente, mesmo que por apenas alguns minutos, me emocionei com Radioactivity.
Renovação cerebral total e um aperto de leve na consciência pelo egoísmo e pela falta de atitude perante o mundo que eu vivo.
(...)
"O Kraftwerk é responsável pelo não-vazio cultural. Na verdade, tudo acabou nos anos 90, cara. Entende?"
E foi doido, mas de uma certa forma, eu acho que entendi o que ele quis dizer. Só não me peça pra explicar, baby. Ia precisar de muitas linhas.
"É o Vácuo Cultural."
Certo?
(...)
Fim de show.
Musique Non Stop e os caras foram saindo um a um, até que só sobrou o líder.
Ele enfim quebrou o clima e falou com a galera.
"Good Night."
Ainda tava meio escuro quando as pessoas começaram a se afastar uma das outras e saiam da muvuca correndo desesperadas/necessitadas pros seus celulares (Neon Lights?).
Sei lá, viu? Aquilo fez todo o sentido pra mim na hora.
A radiação é light, relaxa. Nada que necessite um Stop Radioactivity com palminhas hipócritas no ar e foi no mínimo assustador perceber a intensidade do poder da Tecnologia e a dependência forçada que ela gera em doses cavalares sobre nossos inconscientes. Admirável Mundo Novo? 2001, Uma Odisséia no Espaço? Não. Eu tentei deixar tudo isso de lado antes que fosse tarde demais, mas não teve jeito.
Naquele exato momento, eu não consegui deixar de sentir todo o peso do tempo, que antes me era imperceptível.
Eu vi a História agindo muito rápido sobre todos nós e me rebaixei como um inútil qualquer por concluir que não há nada que se possa fazer.
We Are The Robots? Com certeza. Faz tempo já.
"Podecrer."
"E te digo mais, cara. Tão chato ficar falando sobre isso agora, não?"
(...)
E eu fico aqui parado com o meu cigarro apagado na boca olhando sozinho pras pessoas e isso no fundo, no fundo é o que mais me importa. Minha cabeça cheia de idéias sobre o Kraftwerk e eu fazendo de tudo para renegá-las. Só queria poder esvaziar a mente e me deixar levar pelo agora. Será que tem como?
"Ei, Britney? Você quer fazer parte da minha história?"
"Quero."
(pronto.)
Carol Morreu
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