Carol Morreu - Welcome To My Life
Por Felipe Ricotta
Postado em 24 de outubro de 2005
NOTA: NESSA RICOTTA, TUDO SOBRE A PASSAGEM PELO BRASIL DE UMA DAS BANDAS MAIS LEGAIS DA ATUALIDADE. O SIMPLE PLAN.
(ontem)
"Ei, você gosta de Led?"
"Pra caraleo! Amo."
"O que você gostaria de perguntar ao Jimmy Page?"
"Sei lá... BORA TOMAR UMA CERVA?"
"Pena que às 10 da manhã não poderia ir se ele topasse... eu vou entrevistá-lo amanhã."
"Porra! Você tá falando sério? Pra aonde? Pro programa? Como assim?????? Aaaaaaaaaaaaaaaaa! Ele tá aqui no Rio? Ele tá aonde?"
"No Othon. É que ele tá envolvido com esporte paraolímpico."
"Cara... como assim?"
"Pois é! Assim! Tô amarradona, vou levar meus cds pra ele autografar."
"Putz, cara... eu tenho que trocar uma idéia com esse cara. Tu sabe até quando ele vai ficar aqui?"
"Não sei. Você quer ir comigo?"
"Cara, cê tá falando sério? Eu até engasguei aqui."
WELCOME TO MY LIFE
Hoje eu caguei pro Jimmy Page.
Enquanto eu sonhava capotado na minha cama, o telefone tocava, eu ouvia, pensava em levantar, dar uma desculpa - em questão de segundos, sei lá se era no sonho ou se eu tava semi acordado, já tinha pensado no scrap ideal no Orkut da minha amiga que ia me levar pra lá explicando tudo CARA, EU TÔ ARRASADO. ACABEI DORMINDO DEMAIS NÃO OUVI O DESPERTADOR TOCAR, COMO FOI A ENTREVISTA? EU SOU UM IDIOTA MESMO e voltei pro meu sonho que tava mais legal.
Mas é tudo mentira, foi preguiça mermo.
Na madrugada, demorei horas pra pegar no sono pensando justamente em como ia ser a parada.
Pensei que ia ficar tímido pra falar com o cara, que meu inglês ia travar, pensei em várias piadinhas infames... - "E aí, trouxe a Les Paul pra cá?" - ...papinhos furados... - "Cara, eu vi vocês no Hollywood Rock junto com o Black Crowes, aliás, eles voltaram, né? Dá uma ligada, fala pr'eles voltarem pro Brasil e tal. E o Robert Plant? Tá bem?" - ...programei o fim de semana... - "Cara, vamo fazer um som na Lapa! Tem um baterista lá que toca na rua, você ia adorar levar um som com ele. Tomaí meu telefone, qualquer coisa me liga." - ...e ainda finalizei com classe babando o ovo do cara às avessas... - "Jimmy, eu ia pedir um palheta tua mas olha, fica aí com a minha. Ia ser uma honra imaginar que um dia você levou um som com ela."
Tudo isso e muito mais aconteceu aqui dentro da cachola enquanto tentava dormir espremendo a cara no travesseiro.
Pra quê viver as coisas de verdade se na minha cabeça é tudo tão mais divertido, não?
Na vida real, Jimmy Page hoje em dia é um cara que baba tocando guitarra.
Provavelmente ele deve cuspir quando fala também e ia ser broxante chegar perto do homem e tomar baba de velho na cara.
Deixa o Led e o Page no lugarzinho mágico que eu guardei pra eles aqui dentro do coração. É melhor.
(...)
(uma e meia da tarde, o telefone toca, eu atendo)
"Alô?"
"Fala, pai."
"E aí? Chegou atrasado lá?"
"Não, eu não fui."
"Como não?"
"BURPT!" - arrotão com gosto de guaraná.
"Chama sua mãe aí pra mim."
(uma da tarde, na mesa do almoço)
"Mãe, a comida não tá descendo. Acho que eu tô com câncer."
(quinze pra uma, eu e meu irmãozinho na rua, fui buscar ele no colégio e a gente...)
"Vitoca, você conversou com uma amiga minha ontem no msn, não conversou?"
"Conversei."
"E aí, ela é legal?"
"É."
"Você falou pra ela que era meu irmão?"
"Falei."
(o history da conversa entre ele e a minha amiga)
"Oi, sou o filho do felipe."
"Filho?"
"Victor."
"Quantos anos você tem?"
"11."
"Poxa, o Felipe tem filho dessa idade já?"
"Claro." - ehehehehe
"Bacana, prazer... sou pollyanna."
"Sou Tião." - uhauhauha noveleiro maldito!
"Oxe, cada hora um nome?"
"É."
"Legal."
"Eu te amo, Polly." - aprendendo a conquistar mulheres com meu brow.
"Obrigada, querido."
"Quer casar com migo?"
"Caso sim." - foi fácil, fácil.
"Você vem aqui na minha cidade?"
"Vem você." - ou seja, exagera no romantismo primeiro e depois começa a cagar pra ela. ele é um gênio.
"Eu não."
"Vem escondito da sua mãe, vem."
"O que você faz aí?" - ela já tá gamadona, mudou até de assunto.
"Eu escrevo no computador." - uhauhauha tirada genial!
"Só isso? Num estuda nem nada?"
"Isdudo."
"Ah, você vem daí fugido..."
"Sim para namorar."
"Venha. Você sabe onde eu moro?"
"Sei. Na Rua Cabral, é?" - tradução : tanto faz onde você mora, baby. isso é o de menos.
"kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk Meu amorzinho, eu moro no Maranhão. Você já ouviu falar?"
"Vem agora eu vou istuda. Vem." - minha mãe chamou ele pra fazer o dever o casa.
"Hum."
"Vem agora eu istou mandando." - ahahahaha, exatamente como se tem que chamar uma mulher.
"kkkkkkkkk Tô indo nessa, foi bom falar com você... se cuida, viu?"
(...)
(...trocava uma idéia básica.)
"Você falou que era meu irmão mesmo? Ou falou que era meu filho?"
"(...)" - abre um pusta sorriso lindo - "Filho!"
"Ahahahaha Boa moleque!"
(...)
"Dinhêro! Dinhêro!" ("Mim Quer Tocar", Ultraje. Grande Roger.)
"As pessoas só pensam em dinheiro, que mierda!"
"Pô Ricot, acho hipócrita excluir a questão DINHEIRO. Mas não acho que tudo se resuma a dinheiro não. Ainda consigo priorizar outras paradas."
"Sei lá, eu vejo meus amigos e todo mundo parece meio afundado dentro do esquemão, saca? Todo mundo de saco cheio, fazendo o que não quer, cheios de negatividade acumulada. E o pior de tudo é quando eu penso que cedo ou tarde vai acabar acontecendo comigo... quando eu cansar de sonhar."
"Se é que um dia você vai parar de sonhar, né? Muito maneiro você me falar isso. Tenho observado as paradas por esse prisma também, mas ninguém nunca comenta e eu fico sempre achando que é viagem da minha cabeça. Cambada de frustrados!" - (é. vocês mesmo que estão lendo.) - "(...)as pessoas andam meio vazias, sem expectativas, sei lá. Priorizando paradas que são meio imbecis pra mim, com uma energia meio negativa mesmo como você falou. Tá sendo dificil pra mim estar em certos ambientes com certas pessoas... uma certa estagnação, sempre o mesmo papo, ninguém cresce, ninguém puxa um papo interessante, meio massificada a parada, senso comum geral... beleza, grana... etc, etc, etc... acabou a mágica, estranho."
"Se tu percebe isso é porque tá tirando um dos pés do chão. Eu me sinto como se já tivesse quase tirando o segundo e tá ficando cada vez mais dificil voltar. Porque a questão não é nem mais os outros. Sou eu que não tô conseguindo segurar a onda sozinho. Aí eu fico sem saber se isso é realmente bom pra mim. Sei lá... pra tu CRIAR, pra tu ser artista, é meio que necessário um certo distanciamento..."
"Pô, mas se você ja enxergou tudo isso, não vejo problema em recuar pra avançar mais depois." - nietzche, baby. nitzche.
"Fico triste é de imaginar que depois de ter conseguido abrir um espaço bem bacana pra mim em tão pouco tempo batalhando sozinho, o lance mesmo é deixar de me dedicar violentamente a isso pra virar burocrata de escritório pra sobreviver. Fico na mega dúvida."
"Caraca Ricotta, infelizmente a gente não nasceu em berço de ouro... se eu pudesse me dedicar ao que eu realmente gosto... puta que pariu."
"Faz uns anos que eu tenho essa parada na minha cabeça... que a hora de correr atrás do que eu realmente quero (que não é nada exatamente certo, mas tem a ver com poder sobreviver do meu processo criativo) é agora, até porque, bem ou mal, eu tenho ainda alguma segurança da minha família. Porque o auge da vida é agora! Acho que não faz sentido gastar meu tempo útil hoje pra fazer algo que não vá me acrescentar em nada. Mas te digo que uma parada que pesa é que eu tenho esse lado autodestrutivo meio forte também... um lance meio FODA-SE. SE PRECISAR MORRER, TANTO FAZ."
"Tudo é a forma como se vê a vida, vou envelhecer e morrer, óbvio. Mas enquanto eu não morrer, não quero ser medíocre... ou pior... uma frustrada, que olha as conquistas dos outros com olhar de despeito, que maldiz a vida por ter perdido oportunidades e não ter corrido atrás na hora certa."
"TENHO QUE FAZER TUDO ESSE ANO PORQUE EM 2006 EU VOU ESTAR MORTO. Li isso em algum lugar e foi inspirador pra mim."
"Pra mim também seria. Eu não penso muito na morte não, até porque eu cago pra ela. Só ia ficar puta de deixar de conhecer certos lugares, comer certas coisas... sei lá, passar por aqui sem fazer ao menos 1% do que eu gostaria de fazer. Por isso eu acordava cedo, ia pra facul. Por isso eu vou ficar enfurnada num escritório, aguentando aquela coroada hipertensa e brocha... faz parte. Tô vendo além. Talvez você devesse fazer o mesmo."
"Cara, vou te falar que o meu irmão é uma pessoa que mexe muito com o meu jeito de pensar."
"Teu irmão tem sindrome de down, né isso?"
"Cara, todo mundo aqui é tricolor, saca? Outro dia estávamos vendo o Fla Flu eu, meu pai e ele. Aí a cada gol do Flu a gente comemorava e amaldiçoava flamenguistas e tal FILHA DA PUTA! SE FUDEU! Meu pai berrava pra caraleo e o Victor quieto. Tinha hora que ele até se assustava, ficava bem desconfortável. Até falava pra ele PÔ, COMEMORA, CARA. É GOL DO FLU!" E ele quieto... Mais tarde depois do jogo, levei ele no Bob's e no carro, do nada, ele soltou essa... O MEU AMIGO DA ESCOLA DEVE TÁ TRISTE perguntei POR QUÊ? ele disse PORQUE ELE TORCIA PRO FLAMENGO e eu FOI POR ISSO QUE VOCÊ NÃO QUERIA COMEMORAR? e ele FOI.
"Que fofo, né?"
"Aí eu fico me sentindo muito idiota. Na verdade, eu paro do lado dele e fico pensando em como eu sou egoísta, vaidoso, orgulhoso, competitivo, o caralho a 4... e penso em quem é o verdadeiro deficiente..."
"Exato."
"Tipo, um tempo atrás no colégio, ele tava jogando bola, eu olhando... aí o time dele fez gol, a molecada saiu toda correndo pra galera imitando jogador de futebol, todo mundo se abraçou, ele foi junto... logo depois, o time adversário fez um gol, ele também saiu pra comemorar com o time adversário! Chegou um molequinho, deu um empurrão nele e gritou VOCÊ NÃO. Mas afinal, quem é que tá certo? Ele ou o mundo?"
"Eu acho que a questão nem é certo ou errado, a questão é: ser diferente, quebrar as regras sociais, sacou? Isso choca. Tirar as coisas do lugar, incomoda."
"Na cabeça dele, não entra esse lance de você curtir o outro se dando mal. Nem que seja numa partida de fut. Mas isso acaba valendo pra tudo nessa vida... todo mundo tem que competir o tempo todo... trabalho, dinheiro, mulher... menos o Marcelo Camelo que não quer mais ser O Vencedor."
Se as pessoas são tão competitivas e egoístas, ver uma pessoa comemorar por comemorar na inocência incomoda pra caraleo."
"Eu queria aprender a amar do jeito que ele ama. Incondicionalmente. Sem me importar com o que eu tô recebendo de volta."
"Pô, Ricotta. Acho que vou te dar um presente, tava esperando a muito por isso."
"Um presente? A tua virgindade?"
"Não. Um livro do Buda."
"Ah, que merda."
* Felipe Ricotta é vocal e guitarra do Carol Azevedo e é lógico que não foi no show daquela merda do Simple Plan. Eu tava no Moby, aguardem a próxima ricotta.
Carol Morreu
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