Carol Morreu - As botas sujas de Frank Jorge
Por Felipe Ricotta
Postado em 11 de setembro de 2004
A banda tá tocando, e a história gira em torno de duas pessoas trocando olhares perto do palco. Eles estão separados por apenas alguns metros. O tempo vai passando. Eu olho pra ela e faço um gesto com o olhar. Ela olha pra mim e corresponde com o mesmo olhar.
Frank Jorge. Rio, Loud Sábado 21/08/04
A música tá crescendo, a ansiedade dos dois crescendo e de repente quando a música atinge o topo e desce como uma montanha russa... Explode, né? Eles sobem no palco, se beijam na boca e os seguranças jogam eles de novo na platéia.
Esse clip é de "Dirty Boots", do Sonic Youth e ele passava em minha cabeça enquanto eu flutuava em Frank Jorge e me apaixonava ao mesmo tempo.
Ela estava na primeira fila, acompanhada de um casal e de um cara que eu não sabia quem era - isso me desesperava. E o show rolava e a gente sempre se olhando. Ela parecia tímida na medida certa. Linda, linda.
(...)
Rewind notório. Quando soube do show no início da semana, entrei em contato com meu fotógrafo playbaço patrão, que logo quando soube das novas, exclamou com felicidade.
"Quem? Frank Aguiar na Loud? Que maravilha, amigão!"
(...)
Resolvi apelar e acabar com todo meu sofrimento. Mandei um bilhete. Será que ela não percebe como seria grandioso conhecer o homem de sua vida no show do Frank Jorge em 2004? Seria o equivalente da tua Mãe contando que conheceu teu Pai no show do Roberto em 1969, cara! Ou então imagina eu, Grande Roberto, conhecendo você, a Maria Rita mais papo firme do pedaço, em 72? E ainda por cima através de um bilhetinho?? Nem o Erasmo poderia ter feito melhor. Eu estava começando uma história, o gesto era intenso.
"Você quer dançar comigo em cima do palco?" - ela riu quando leu, e mostrou pra todo mundo. Mas eu não fui falar com ela, claro. Pra quê estragar tudo? Até perceber que era a hora certa de tentar um próximo movimento e me sentei em cima do palco de frente pra ela. Esperei ela olhar para que eu estendesse minha mão e a puxasse. Ela fingiu não me ver e como sempre, desisti e perdi todas as esperanças de viver ali o momento mais romântico de toda minha vida.
(...)
Frank Jorge ("Cadê o Freeenk Aguiar, cara?") com seu vizoo "Querida, acabei de chegar do escritório" fez a festa da galera tocando Graforréia, Júpiter e as composições de seus dois discos solos.
"Se você pensa" e "Você não serve pra mim", ambas do Manco Rei, são óbvias e bem empregadas, assim como os bengahits do quilate de "Vou Largar a Jovem Guarda", "Concurso Literário" e "Nunca Diga".
(...)
Abaixo estão listadas todas as perguntas que surgiram na minha cabeça assim que iniciei uma conversação com Freenck que durou alguns poucos minutos.
Eu acabei não fazendo nenhuma delas, pois embarquei numa bad trip onde ele era o Verdadeiro Diretor da Escola que se trancava com pipoca na Sala dos Professores assistindo a Corrida Maluca e torcendo pro Dick Vigarista. E foi assustador, bicho! Quis realmente sair de lá de perto.
- Por que os loucos do Sul são mais loucos que os loucos do Rio? Dê uma explicação da forma mais antropológica o possível.
- Como pode existir algo como os Irmãos Panarotto?
- A história da música "Concurso Literário" é verdadeira?
- Você conhece o Marcelo Mirisola, grande poeta?
- Você acredita que o Graforréia seguirá o mesmo destino que Van Gogh e vai obtever um merecido reconhecimento apenas depois de vários anos após sua morte?
Manda esse email pra secretaria de Cultura de Porto Alegre e talvez você obtenha as respostas.
(...)
Mais pro fim da noite, cruzei com ela na saída do banheiro feminino.
"Você não quis dançar comigo..."
Ela me olhou e sorriu. E foi embora sem falar uma palavra.
Noite ideal, eu sei que a gente ainda vai se ver de novo.
Ricotta? Eu Leio!
Carol Morreu
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