On The Road: John Paul Jones - herói do Olimpo
Por Cláudio Vigo
Postado em 25 de junho de 2002
Há algum tempo andei escrevendo por aqui sobre o maravilhoso primeiro disco solo de John Paul Jones, que se chamava "Zooma". Pois não é que esta semana me caiu na mão o segundo, lançado ano passado chamado "Thunderthief", que consegue a façanha de ser melhor que o anterior. Ao contrário de Page e Plant, que continuam sua descida ladeira abaixo, parece que o mais obscuro dos quatro cavalheiros continua cada vez mais criativo e olhando pro futuro. Dinossauro que nada. O som de Jones é um passo a frente e imprevisível.

Lançado pelo mesmo selo do King Crimson (Discipline Global Mobile) em 2001, "Thunderthief" é um tour de fource onde John Paul Jones demonstra seu talento de multinstrumentista tocando e cantando (bem) de tudo um pouco. Ou seja, Baixo (4, 6, 10 e 12 cordas), guitarra de forma surpreendente, mandolin, mandolin elétrico, piano, órgão, sintetizadores e uma multidão de instrumentos exóticos de corda de não fazer feio frente a uma Incredible String Band. Robert Fripp participa em uma faixa de acento bem crimsoniano com mais um ou outro convidado junto com o baterista Terl Bryant. Fora isso, o disco é solo mesmo. Jones toca quase tudo sozinho.
O som é difícil de definir.Influências progressivas setentistas e do próprio Led Zeppelin, em sua faceta mais acústica, se podem ouvir por todo o trabalho, sem que isso pareça datado ou retrô. Um caso raro entre os músicos de sua geração, que estão na maioria das vezes fazendo covers de si mesmos, em turnês caça níquel onde se tenta vender um trabalho novo quase sempre inferior aos velhos tempos para um publico que só quer saber dos hits.

Faixa a faixa rola o seguinte:
Leafy Meadows abre o disco com um baixão marcando entremeado com as guitarras de Jones e Fripp duelando de forma psicótica em verdadeiras paisagens nervosas sem que a pulsação do ritmo caia por um só segundo. Rock Progressivo na melhor acepção do termo.
The Thunderthief segue sem que se possa tomar fôlego com um surpreendente vocal filtrado e um baixo pesadão. Uma linha de piano puxa um ótimo solo de guitarra. Nunca soube que o homem tocasse guitarra tão bem. Efeitos em cascata beiram a hipnose.
Hoediddle é a terceira faixa no mesmo clima de guitarradas lancinantes, alguma cacofonia e concentração. Não tem gordura nenhuma pra tirar, é aço no osso. Um lindo solo de mandolim aparece lá pelo final.
Ice Fishing at Night é uma bela balada ao piano onde se pergunta porque nunca deixavam Jones cantar no Led. Tá certo, Plant era Plant, mas se o próprio Keith Richards canta nos Stones, podiam ter deixado uma coisa ou outra pro cara. Olha que não ia fazer feio não.
Daphne, a faixa seguinte, é Zeppelin puro apesar do moog e da tecladeira. Dá pra imaginar Page mandando o riff, Plant descabelando e Bonzo batendo, mas o couro come é no baixo e quem entra solando na guitarra é o cara, faiscando pra todo lado.
Angry Angry parece até coisa do Primus devido ao clima nervoso, andamento acelerado e pesado, baixo pancadão e um alucinante solo de guitarra de Adam Bomb. Rock pesado como chumbo, mas que faz voar.
Down to the River to Pray é uma balada folk instrumental que poderia estar num disco do Steeleye Span, Incredible String Band ou mesmo de Steve Howe.
Shibuya Bop trás de volta o clima das primeiras faixas com um leve toque oriental. Aparece um hammond todo trabalhado ao fundo de encher os ouvidos.
Freedom Song fecha a tampa com um folk que faz pensar de onde saíram muitas das idéias do Led Zeppelin III.


Não é por nada não, mas enche o coração de alegria ver um músico que podia estar vivendo na glória da aposentadoria tocando num show beneficente ou outro (e como eles existem né?), contando a dinheirama dos direitos autorais - de vez em quando tocaria "Starway to Heaven" com Page babando e Plant desmunhecando e tava tudo certo. Ao invés disto o cara se enturmou com o povo do Crimson (abriu uns shows da ultima turnê) e resolveu "roubar os trovões dos Deuses do Olimpo".
Que Thor que nada, o nome do meu herói é John Paul Jones.

Não percam este CD, tem três dias que não sai do fone! Maduro e sereno abrindo portas pro futuro simplesmente imperdível.
On The Road
On The Road: Jimmy Page, Led Zeppelin & The Black Crowes
On The Road: Um dos livros mais comentados e menos lidos da história
On The Road: O mundo girou ao redor de Andy Warhol por quase vinte anos
On The Road: Para Joe Jackson como seria o Céu e o Inferno?
On The Road: Jim Morrison, uma ode a L.A.
On The Road: Jerry Garcia - O Anti-Super-Star
On The Road: The 70's - E um pouco sobre Gregg Allman
On The Road: Allman Brothers Band - ainda The 70s
On The Road: The 80's - e um pouco sobre Ian Curtis
On The Road: Tommy Bolin; sua morte prematura foi uma perda incalculável
On The Road: Chuva de Guitarras; domínio do instrumento e feeling absurdo
On The Road: John Mayall e o restaurante Indonésio
On The Road: Camel, uma noite das Arábias
On The Road: Glam Rock; A vanguarda era ditada com muito cílio postiço
On The Road: A criatividade não está restrita a uma época especifica
On The Road: Pancadão Hendrixniano
On The Road: Num muro dos anos 70
On The Road: Steely Dan - Pop Perfeito
On The Road: Os quatro CDs do Apocalipse
On The Road: Joni Mitchell e Charlie Mingus
On The Road: Gigantes do Soul Jazz
On The Road: Mais gigantes do Soul Jazz
On The Road: Quem lembra dos Supergrupos?
On The Road: Mick Jagger, Graham Bond e Geração Bendita
On The Road: Colin Hodgkinson, biscoito fino no baixo
On The Road: Alguns atalhos para muitas viagens
On The Road: The Shadows, a sombra de Hank Marvin
On The Road: Coldplay e a franja do Fernando
On The Road: Confissões Paulistas
On The Road: Mahavishnu Orchestra e a Yoga
Colecionadores de discos e de calcinhas
Para onde vão Robert Fripp e os amestradores de focas?
On The Road: Rimbaud e Morrison
On The Road: Dr. John, melancolia e insensatez durante o Tim Festival
On The Road: Jorge Mautner e as Memórias do filho do KAOS
On The Road: Soulive, usina groove em forma de power trio de jazz funky
On The Road: Exile..., obra prima feita de arestas, atos falhos e balbucios
On The Road: Os 1001 discos para se ouvir antes de morrer
On The Road: Jeff Beck, economia e bom gosto, eis a conseqüência
On The Road: O velho feiticeiro do piano e o Zappa do Funk
On The Road: Allman Brothers Band, um sonho de priscas eras
On The Road: "Jeff Beck é Jeff Beck"
On The Road: "It's a long time gone, bicho!" - CSN no RJ
On The Road: Água Brava, Bacamarte e Celso Blues Boy
On The Road: biografia de Ron Wood é bem humorada e informativa
Todas as matérias sobre "On The Road"Siga e receba novidades do Whiplash.Net:
Novidades por WhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps