On The Road: Os 1001 discos para se ouvir antes de morrer
Por Cláudio Vigo
Postado em 28 de outubro de 2007
Metade ou muito mais do que isso de tudo que foi escrito no mundo, foram receitas do que fazer antes de morrer. Ou pra preparar o que por si só é impreparável ou mesmo pra rechear de sentido este intervalo entre os abismos de que temos consciência. Regras de conduta, de sentido, gozo e controle das famosas "Dores do Mundo" que tanto atormentavam Schopenhauer. Dois lenitivos clássicos para isso a música e a ironia.
Não podemos abandonar nenhuma destas duas coisas ao defrontar com o livro - "1001 discos para ouvir antes de morrer" - publicado pelo pessoal da Rolling Stone que li em edição portuguesa caprichada, impressa na China. Diante de tamanha Babel e de veredicto tão definitivo, só nos resta sorrir um pouco e folhear descobrindo o que esse pessoal pensa que é indispensável ouvir pra justificar nossa presença por aqui.
Pra início de conversa vivemos uma época sintética e enciclopédica. O devaneio, o atalho e a falta de objetividade são desestimulados com fúria. Para que saber o que Victor Segalen achava do abandono do mundo por Paul Gauguin em Noa Noa? Qual a utilidade disto na inserção no mercado de trabalho? Ao invés de impressões se colecionam (acumulam) dados e referências. Rápido e fugaz.
Abundam então obras que atalham o percurso. O que comer, beber, visitar, se abismar e agora ouvir para se inserir no padrão culto (cult) do consumidor médio da indústria do entretenimento de plantão. Existem guias para tudo. Inclusive um livro que ensina maneiras eficazes de se matar antes de morrer.
Voltando ao que interessa, se você já ouviu ou tem mais de 1001 discos (CDs) dificilmente vai concordar com esta lista preparada por críticos especializados. Muitas vezes vai sapatear de ódio com a não inclusão daquele álbum que mudou sua vida ou vai gargalhar com a presença de algo no mínimo inconcebível. Mas pensando bem, o legal é isso mesmo, discordar do almanaque. Tem alguns clássicos que estariam na lista de qualquer pessoa provida de tímpanos e dois neurônios, então fica divertido descobrir alguns detalhes desconhecidos, e em outras situações conhecer alguns que você nunca ouviu falar e que te instigarão a curiosidade.
Belas fotos ajudam a embalar o calhamaço ideal pra ser desfrutado com fones tocando algo que não conste da listagem e uma chuvinha fina caindo lá fora.
Alguns de meus heróis – Steely Dan, Nick Drake, Tom Waits - foram contemplados com muitos discos. Outros (muitos) foram sequer mencionados. Os caras dão pouca importância ao Blues e ao Jazz mas colocam muita coisa de Soul e Funk. Pop Farofa aparece e alguns discos brasucas surpreendem ao estarem incluídos. Achei Moreno Veloso um pouco forte apesar de não ter nada contra o mancebo.
O ideal é ler mesmo com raiva, babando de indignação pois você aí imediatamente começa mentalmente a "sua Lista" tal qual uma Xerazade entretendo seu sultão interior. Vi que lançaram um Livro dos 1001 Livros também, daqui a pouco virão às fotos, os lugares as comidas e (porque não) as drogas, os filmes etc.
Acabei me divertindo e depois colocando na estante pra pegar poeira, pega bem em sala de espera de consultório médico chique junto com Caras também e com revistas de moda e decoração.
Não leve a sério. Possivelmente não houveram 1001 dias que lembramos nesta vida. Enquanto isso, vamos levando e antes que o tédio do sultão nos tire de cena vamos propondo novas histórias, novos discos e novas listas. Dá lustro a este mundo que anda tão opaco, regalam a alma como queria Xerazade ao tocar seus 1001 discos em suas possíveis 1001 noites.
On The Road
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