On The Road: The 70's - E um pouco sobre Gregg Allman
Por Cláudio Vigo
Postado em 11 de dezembro de 2000
De tempos em tempos a indústria do entretenimento, os "segundos cadernos" dos jornais tem de esquentar o dominguinho insosso que a grande maioria das pessoas leva. A maior distração do jovem de meia idade típico é comprar aquela montoeira de papel, sentar na cadeira perto de janela e, enquanto toma um goró entorpecente vai prestando pouca atenção nas crianças, esquecendo o chefe e esperando a lasanha que vai empanturrá-lo e fazê-lo dormir pesado pelo efeito do excesso de mussarela e birita, acordando no fim da tarde angustiado pelo fim de mais um domingo e sentindo aquele pânico da segunda feira, o medo do chefe e da prestação vencida. Nesse almoço ele comenta as notícias culturais dos segundos cadernos e se sente atualizado com o que está sendo feito na vanguarda no mundo, jurando que segunda feira ele começa a ler aquele Beckett que comprou no natal, junto com a ginástica pra perder a barriga.
Allman Brothers - Mais Novidades
Um dos temas mais recorrentes nesses últimos fins de semana tem sido a recordação dos "loucos anos 70", onde no meio de enquetes do tipo "qual era o nome de cada Pantera" tem umas fotinhas duns bichos grilos da época e umas entrevistas com quem entrou ou foi barrado no Studio 54. O cara testa sua memória com a patroa e cai dentro da lasanha.
Quando os anos 70 acabaram eu era um moleque de 18 anos, e posso dizer que participei de muitas dessas mentalidades da época. Fui vegetariano, iogue, macrobiótico (radicalérrimo é claro), enchia o saco de todos os amigos e só tomava água depois de pranifica-la (passar de um copo pro outro pra absorver o prana do ar, é mole?) Tinha todos os clássicos da época que lia com devoção, coisas como Carlos Castaneda, Herman Hesse, I Ching, Tao Te King, O Livro Tibetano dos Mortos etc, além de ouvir rock'n'roll rigorosamente o dia inteiro, o que levava meu pai a loucura, junto com os meus discursos e o cheiro da minha comida que era toda preparada em panelas especiais e tinha como componente um peixe seco japonês, que fedia loucamente quando colocado na minha sopa de misso com tofu.
Das tantas coisas que eu ouvia e adorava, e não eram poucas, uma obsessão era o Allman Brothers Band; andava com meu Fillmore East pra cima e pra baixo, e acima de tudo o que eu queria mesmo era me transformar em Gregg Allman. Usava o cabelo do mesmo tamanho, me vestia como se houvesse acabado de sair da Geórgia sempre com uns jeans surradésimos, botas, uns braceletes de cobre (eu confesso, isso é verdade, apesar de ridículo) e umas costeletas que hoje são a sensação de quem vê estas fotos. A foto do meu RG ainda é assim me ocasionando alguns problemas hilários de identificação.
Isto fazia um certo sucesso com as cocotas (sabem o que é isto?) que gostavam do "estilo" mas não identificavam a origem, achavam que eu era surfista.
Fora do Allman Brothers, Gregg Allman fez uma brilhante carreira solo, e tirando seu disco com a mega perua Cher com quem casou por uma semana (saiu pra comprar cigarro e até hoje não voltou) eu tenho praticamente todos os discos e são ótimos. Tem uma coletânea com sobras de estúdio chamada One more try (an Anthology) que é fantástica, e abrange todas fases do cara - quando ele puxa um clima meio Ray Charles só resta pedir outra dose, ficar amigo do garçon e chorar, mesmo que não tenha o mínimo motivo pra isso.
Apesar de ainda amar o Allman Brothers com fervor confesso que me emociono mais com os discos do Gregg, não me perguntem porque.
Tinha muito lixo nessa época também e eu era um autêntico guerrilheiro anti-disco-music. Festa na minha casa começava com Born to be Wild, tinha Strange Kind of Woman impreterivelmente a meia noite, com todos gritando junto, inclusive a vizinhança, e terminava quase de manhã com uns Kraftwerk pra acalmar o povo.
Lembro que terminei um namoro depois de um programa na televisão onde passou (vejam o absurdo) Allman Bros e Donna Summer, e a infeliz disse que o Gregg era ridículo, bom mesmo era a Summer e que o programa deveria ter passado Bee Gees também. Não foi possível o diálogo depois disso.
Em 80 entrei na faculdade, cortei o cabelo, virei maoísta. Era época da anistia e muita coisa mudou, menos meu amor ao rock'n'roll, só que algumas coisas novas foram incorporadas, aparecia uns Clashs, e passei a prestar atenção a coisas como Talking Heads, Jam etc... os tempos estavam mudando, mas isso é assunto pra outra coluna. Até lá. Tou mandando uma foto do cronista mesmo que seja para efeito de humor involuntário.
On The Road
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps



Dream Theater anuncia turnê que passará por 6 cidades no Brasil em 2026
O clássico do rock nacional cujo refrão é cantado onze vezes em quatro minutos
A banda de rock que deixava Brian May com inveja: "Ficávamos bastante irritados"
O guitarrista que Geddy Lee considera imbatível: "Houve algum som de guitarra melhor?"
O disco que Flea considera o maior de todos os tempos; "Tem tudo o que você pode querer"
Helloween fará show em São Paulo em setembro de 2026; confira valores dos ingressos
Lemmy lembra shows ruins de Jimi Hendrix; "o pior tipo de coisa que você ouviria na vida"
O "Big 4" do rock e do heavy metal em 2025, segundo a Loudwire
Dave Mustaine acha que continuará fazendo música após o fim do Megadeth
Os shows que podem transformar 2026 em um dos maiores anos da história do rock no Brasil
O álbum que define o heavy metal, segundo Andreas Kisser
A música que Lars Ulrich disse ter "o riff mais clássico de todos os tempos"
O baterista que parecia inatingível para Neil Peart; "muito além do meu alcance"
Baterista quebra silêncio e explica o que houve com Ready To Be Hated, de Luis Mariutti
Como foi lidar com viúvas de Ritchie Blackmore no Deep Purple, segundo Steve Morse
A canção do Jethro Tull que influenciou um dos maiores hits da história do Rock
O refrão do rock nacional com cinco palavras composto no metrô e inspirado em The Who


Quando Duane Allman ficou irritado com Robert Plant no palco; "vou lá e arrebento esse cara"
A banda que deu crédito de compositor ao roadie em um de seus sucessos



