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On The Road: Colin Hodgkinson, biscoito fino no baixo

Por Cláudio Vigo
Postado em 04 de março de 2002

Dizem que baixista é igual a goleiro, só aparece quando falha. Mas assim como a turma que fica debaixo do gol, tem uns que se revoltam e vão pra frente dos refletores engolir guitarristas, bateristas, tecladistas e o que vier pela frente. Dentre todos estes "bass heroes" do Rock talvez o mais fantástico e um dos menos conhecidos do povão é o inglês Colin Hodgkinson, um verdadeiro monstro quando assume a responsabilidade e sola igual a um guitarrista sem ninguém pra atrapalhar.

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A primeira vez que ouvi falar de Colin Hodgkinson foi nos anos 70 numa Melody Maker (via Revista Rock) onde havia uma crítica a um show do Deep Purple e o sujeito desancava sem dó nem piedade suas majestades púrpuras (chamava de decadente pra baixo) colocando nas maiores alturas uma banda de abertura que eu nunca havia escutado falar. Na época, como fã incondicional do Purple fiquei mais que passado e já estava chamando o inglês de anta, quando a descrição do tal show despertou minha atenção. Tratava-se de um inusitado trio de sax, baixo e bateria chamado Back Door, que fazia uma mistura de Blues Rock e Jazz, onde o baixista fazia acordes e solava tresloucadamente em todas as músicas o tempo todo, como se fosse um guitar hero. Fiquei com dezoito pulgas atrás de todas as orelhas por anos a fio procurando ouvir qualquer coisa desta tão fantástica banda, que com apenas um baixo havia reduzido meus ídolos de então ao vexame total.

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Colin "Bomber" Hodgkinson nasceu em Peterborough em 1945 e se tornou profissional em 1966 no jazz rock trio chamado Eric Delaney's Showband, e em 1969 fazia parte da lendária New Church de Alexis Korner, com quem abriu o famoso concerto dos Stones no Hide Park e em que Mick Taylor fez sua estréia em um dos melhores empregos do rock. Tenho uma gravação desta banda onde o homem arrasa num blues solado, conduzido unicamente no baixo.

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Em 1971 forma o Back Door com Ron Aspery (sax) e Tony Hicks (bateria). Numa época onde predominavam guitarras e hammonds na linha de frente, os caras apareciam com um saxofonista muitas vezes fazendo base para o baixista alucinar enquanto o baterista mandava ver. Ninguém entendeu nada, mas obtiveram um relativo sucesso naqueles pubs enfumaçados e circuitos alternativos em geral.

Em 1972 gravaram seu primeiro disco por um selo local e depois catapultados por uma grande gravadora (Warner) se tornaram referência cult pra toda a imprensa musical inglesa. Com a produção de Felix Pappalardi foram para Nova Iorque gravar o fantástico segundo disco chamado "8th Street Blues". Em 1975 mudaram o baterista e o som em seu último disco gravado (produzido por Carl Palmer) chamado "Activate" que cá entre nós, é bem inferior aos anteriores. Não sei o que foi, mas que a receita desandou, desandou. Em 1977 a banda acabou depois de quatro discos de pouca vendagem, muito sucesso de crítica e pouco público, uma daquelas bandas lendárias que muita gente ouviu falar, mas poucos conheceram de fato.

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Até o inicio dos anos 80 Colin voltou a tocar com Alexis Korner e partiu para uma colaboração com o tecladista Jan Hammer (Jeff Beck, Mahavishnu) em seu projeto com Neal Schon (Journey). Em 1981 fez parte de uma big band (Rocket 88) que incluía gente como Ian Stweart, Charlie watts, Jimmy Page, Jack Bruce e muitos outros. Em 1982 Colin Hodgkinson entrou para o Whitesnake onde gravou o álbum "Slide it In".

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Daí em diante tocou e gravou com um monte de gente, mas dois destes projetos me agradam profundamente. O primeiro se Chama Eletric Blues Duo em parceria com o guitarrista Frank Diez que tocou em inúmeras bandas de Kraut Rock (Emergency, Agitation free, Armageddon) e com Eric Burdon. Trata-se de um encontro bem informal entre dois excelentes músicos que se reúnem pra tirar um som (só baixo e guitarra) que se tocasse no bar em frente da minha casa ia trabalhar lá de garçom só pra ouvir isto todo dia. Som de boteco, cheio de improviso, mas muito bom. Existe um disco com big band que tentei encomendar, mas não consegui. O que eu tenho ("Lucky at Cards") é simplesmente demais. O outro é uma gravação de um concerto em 1985 no Café Atlantic de Fribourg com Pete York e Brian Auger onde rola um Jazz Rock de primeira (até Duke Ellington) e o couro come no mesmo clima intimista. Tenho uma gravação de outro concerto no mesmo local um ano antes com Spencer Davis e Peter York que é interessante, mas bem inferior.

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Pois bem: em 1998 convenceram o homem a gravar seu primeiro disco solo chamado "The Bottom Line". Para quem gosta de baixo, ou simplesmente curte música bem tocada com recursos mínimos (um só instrumento) é fascinante. O disco é uma coleção de seus standarts de uma vida inteira. Músicas que tocou em quase todos os seus shows quando dispensava acompanhamento e a bordo de seu ancestral Fender Precision Bass (dizem ser o mesmo desde o início) se acompanhava cantando toda sorte de Rags, Blues e Rockabillys entre um solo acachapante e outro. Tem de ouvir pra crer. Sua versão de "San Francisco Bay" que fazia Jack Casady brilhar no Hot Tuna é simplesmente surpreendente.

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A dica é essa, não é lá muito fácil encontrar os discos, mas vale a pena e muito procurar. Sempre quando surge aquele papo de quem seria o melhor disso ou daquilo e se fala em baixo muito pouco se cita Colin Hodgkinson. É claro que tem mais uma multidão de baixistas fantásticos. Se formos entrar pelo Jazz então o bicho pega mesmo, tal a quantidade de gênios e monstros sagrados. Mesmo no Rock tem muita, muita gente. Mas que dói ver que poucos conhecem este biscoito fino não tenham dúvida que dói.

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Sobre Cláudio Vigo

Da safra de 62 , Claudio Vigo ganha a vida com a poesia, o jazz e o rock n roll. Paga as contas como arquiteto.
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