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On The Road: Jim Morrison, uma ode a L.A.

Por Cláudio Vigo
Postado em 21 de novembro de 2000

Estava eu em Paris com uns amigos que moravam lá na ocasião e depois de acumular uma pilha de garrafas de champagne vazias abertas exibicionistamente no estilo 'sabre' entre as inevitáveis gargalhadas e a conseqüente manguaça foi lançada a idéia, não me lembro mais por quem: E se fossemos agora derrubar essa última garrafa no túmulo de Jim Morrison?

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Os aplausos foram generalizados e quando os casacos já estavam sendo colocados para rumar para o Pere Lachaise nos juntando à malucada no interminável plantão local, me deu um misto de senso prático com cagaço de pular muro de cemitério e convenci a todos que melhor que isso seria comprar mais e continuar bebendo em sua homenagem. A idéia foi aceita com entusiasmo e eu fiquei com uma ressaca maior e com o arrependimento de não ter prestado esta homenagem a um dos maiores mitos do rock de todos os tempos.

Sempre tive aquele famoso recalque do "tenho que fazer tudo até os 27". Orson Welles acabou Cidadão Kane com 26, Jimi, Janis e Jim Morrison morreram com exatos vinte e sete anos depois de mudar tanta coisa - eu já estava com trinta e nem muro de cemitério francês eu tinha coragem de pular. Uma coisa muito frustrante foi o dia seguinte. Ainda bem que o champagne era "nacional" o que amenizou o sofrimento.

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James Douglas Morrison nasceu em 8 de dezembro de 1943. Se a lenda procede tem 57 anos e deve morar em Saquarema disfarçado de pescador, vizinho de Serguei, pois tem gente que afirma que assim como Elvis e ao contrário de Paul McCartney, Morrison não morreu e prova isto com um monte de dados como o fato de ninguém ter visto seu corpo, umas confusões no atestado de óbito e mais uma meia dúzia de teorias da conspiração ideais para animar conversa de sábado chuvoso junto com a teoria da terra oca e a brincadeira do copo.

Independente de tudo isso, possivelmente Jim Morrison foi o maior poeta do rock. Extremamente culto e preparado, mesclava em suas leituras tanto a literatura beat em quase sua totalidade (Kerouac, Ginsberg etc) com clássicos como Plutarco e James Joyce, entremeados de muito Nietzsche, Huxley, Mallarmé e ainda tinha como brincadeira preferida ficar com os olhos vendados em seu quarto com as paredes forradas de estantes abarrotadas, enquanto um amigo escolhia um livro e lia um trecho que invariavelmente era adivinhado.

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Fez cinema (foi colega de turma de Francis Ford Coppola) e se preparava para ser uma espécie de Rimbaud beatnik quando conheceu Ray Manzarek e o rock bateu a sua porta. O resto é história exaustivamente contada e mitificada, seja em inúmeros livros ou no filme do alucinado mais careta de todos os tempos: Oliver Stone.

Em meio a discos históricos e definitivos (acho Strange Days uma obra prima) foi queimando todos seus cartuchos no excesso de drogas e intensidade e após o ápice de uma carreira de mais altos do que baixos, resolveu dar uma parada estratégica e cuidar de sua poesia na gravação de American Prayer onde declamava seus belos poemas entremeados por uns climas feitos bela banda. Eu tinha esse bolachão em vinil e ouvia sem parar enquanto lia seus dois livros: The Lords e The New Creatures.

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A temporada de Jim Morrison em Paris foi um pé na jaca generalizado, tem um livro de um amigo dele que conviveu na época que diz que o café da manhã era uma garrafa de Chivas e que lá pelo almoço não estava mais falando lé com creuza. Observando esta rotina dá pra imaginar que não dava para durar muito mesmo. A tormenta interior natural dos grandes criadores mais a idolatria do Star sistem levaram embora este poeta genial, que nasceu neste tempo em que a mídia precisa de mártires da intensidade pra oferecer em holocausto aos cordeiros produtivos .


Quando Brian Jones apareceu boiando em sua piscina em 69 isto abalou muito Jim Morrison que fez este poema que era distribuído nos shows do The Doors e que eu coloco pra vocês aqui em tradução portuguesa de Manuel João Gomes:

Ode a LA
Com o Pensamento no Falecido Brian Jones

Habito numa cidade
Fui escolhido pra fazer o
Príncipe da Dinamarca

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Pobre Ofélia

Todos os espectros que ele nunca viu
Boiando rumo ao destino
Numa vela de Ferro

Volta atrás, bravo guerreiro.
Dá o mergulho
Noutro canal

Piscina acabada de untar com manteiga
Onde fica Marrakesh
Sob as cataratas
A borrasca tumultuosa
Onde os selvagens sucumbiram
Ao cair da noite
Monstros do ritmo

Abandonaste o teu
Nada
Pra ires lutar com o
Silencio

Espero que tenhas saído
Sorrindo
Como uma criança
E penetrado no sereno espólio
Dum sonho

O homem Anjo
Que dá luta as serpentes
Por amor só das palmas
E dos dedos

Mandou finalmente
Comparecer esta boa Alma
Ofélia
Voga ensopada em sedas

Sonho de cloro
Doida asfixiada
Testemunha

O trampolim, o mergulho
A piscina

Eras um combatente
Adamascada, amilscarada musa

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Eras o empanado sol
Para a noite televisiva

Sapos com chifres
Atirador contra alvo amarelo

Vê onde isso acabou por levar-te

Ao paraíso da carne
Entre canibais e judeus

O jardineiro foi dar
Com o rígido corpo boiando

Feliz adormecido
Que matéria esverdeada é essa
De que és feito

Abram covas na pele da deusa
Cheirará
Enquanto for levado
Através dos umbrais
Da musica

Nenhuma possibilidade
Réquiem por um duro
Aquele sorriso
Aquele olhar porcino
De sátiro
Levantou-se e pulou
Enterrou-se no barro

Jim Morrison


Tem quase trinta anos que Jim Morrison morreu, isto já faz muito tempo. Ideal pra vender camiseta, relançar uns discos e pra eu abrir um champagne e lembrar que daqui a pouco vai fazer dez anos que fiquei com medo de pular o muro daquele cemitério em Paris.

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Sobre Cláudio Vigo

Da safra de 62 , Claudio Vigo ganha a vida com a poesia, o jazz e o rock n roll. Paga as contas como arquiteto.
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