"Estúpidos de doer"; a adorada banda que, para Lou Reed, concentrava tudo que ele odiava
Por Bruce William
Postado em 11 de outubro de 2025
Lou Reed sabia o que era lançar um grande disco e ver as prateleiras ignorarem. Em 1970, ele assinou pelo Velvet Underground o álbum "Loaded", que traz músicas como "Sweet Jane" e "Rock & Roll", e mesmo assim o disco andou pouco nas paradas. A partir dali, sua ironia ficou mais afiada: passou a separar, com critérios próprios, o que era música viva e o que era só pose, e isso fez com que ele entrasse em rota de choque com um símbolo do rock dos anos 1960.
Antes do nome, a moldura. Reed não engolia o espírito "paz e amor" embalado para consumo. Nos anos 1970, ele mandou: "Tínhamos enormes objeções à cena inteira de São Francisco. É simplesmente tediosa, uma mentira e sem talento." E, em seguida, apertou mais: "Eles não sabem tocar, e certamente não sabem compor."


A mira parecia ser difusa, mas durante entrevista em 1987 à PBS (via Far Out), ele apontou o dedo diretamente para quem tinha em mente: "Eram estúpidos de doer e pretensiosos e, quando tentavam se tornar artísticos, o resultado era ainda pior do que rock and roll estúpido." E deu a letra: "Quando digo 'estúpidos', quero dizer, tipo, The Doors."

O que estava em jogo não era só antipatia, mas sim choque de estética. Reed e Jim Morrison falavam em "poesia" mas vinham de hemisférios diferentes: o misticismo de um lado, o asfalto de Nova York do outro. Em vez de citar versos longos (que viram outra discussão), basta dizer que Reed colocava a carne crua na frase onde Morrison buscava transcendência e, em 1970, o holofote estava mais para o lado do "sublime" do que para a sarjeta que ele defendia.
Quando queria mostrar o caminho que, para ele, rompia o molde de verdade, Reed apontava para Detroit. Sobre o clássico dos Stooges, ele admitiu um profundo respeito: "Sempre amei 'Raw Power'. Gosto do som, o som honesto de garotos tentando romper a barreira do rock empedrado, moldado, estéril. E eles conseguiram. Grande guitarra e vocais maravilhosos do Iggy. E inspiração para os jovens até hoje." A antítese do "artístico" sem pulso era essa honestidade abrasiva.

Mas ele também tinha seu lado cruel. Ao comentar a morte de Morrison, Reed atravessou qualquer linha de elegância: "Alguém recebeu um telefonema dizendo que Jim Morrison tinha morrido em Paris, numa banheira. 'Que fabuloso, numa banheira em Paris!' Eu não tive pena alguma daquele sujeito bobo de Los Angeles." Era a pura navalha do personagem cantando alto, sem pensar nas consequências.


Dá para discordar de Reed em quase tudo, inclusive sobre os Doors. Mas o mapa interno dele é coerente: menos teatralidade "artística", menos transcendência de cartaz; mais fricção entre palavra e vida real. Na régua do autor de "Street Hassle", a poesia do rock não vinha do altar: vinha do chão. E quando ele quis um emblema do caminho errado, escolheu Morrison, que ele citou com todas as letras e sem ter a mínima compaixão.

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