O significado de "Disparo contra o sol" em "O Tempo Não Para", de Cazuza
Por Gustavo Maiato
Postado em 18 de outubro de 2025
A canção "O Tempo Não Para", lançada em 1988, é um dos maiores desabafos da música brasileira. Escrita por Cazuza em um momento de fragilidade - após descobrir ser portador do HIV -, a faixa é ao mesmo tempo confissão, protesto e retrato de uma geração.
Logo nos primeiros versos, o cantor abre o peito com uma das imagens mais marcantes de sua obra.
"Disparo contra o sol
Sou forte, sou por acaso
Minha metralhadora cheia de mágoas
Eu sou um cara"
Cazuza - Mais Novidades

A expressão "disparo contra o sol" sintetiza o tom da música. Como apontam análises do site Letras.mus, trata-se de um gesto de revolta e impotência. Cazuza se vê "armado" - com palavras e mágoas -, mas atira contra algo inalcançável. O sol, aqui, representa o impossível, o inatingível, talvez até o próprio destino.
Atirar contra o sol é um ato de rebeldia inútil: ele sabe que não vai causar dano algum, mas ainda assim dispara, movido pela necessidade de se manifestar contra uma força maior - seja a doença, a sociedade hipócrita ou o próprio tempo que não para.

O cantor troca as balas por sentimentos. Sua "metralhadora" dispara mágoas, ironias e críticas, e não chumbo. É uma metáfora poderosa para o modo como Cazuza enfrentava o mundo: usando a arte como arma.
Como observa o canal Musicália, o verso também carrega uma dimensão trágica: "Quando ele fala 'disparo contra o sol', ele mostra um tipo de fragilidade. Imagine dar um tiro no sol - é inútil. Ele está lutando contra algo impossível de vencer. É como remar contra a maré. O personagem da canção sabe que não adianta, mas ainda assim tenta."
Ou seja, por trás da ousadia, há um sentimento de cansaço e desencanto. O "cara" do verso seguinte não é um herói invencível, e sim alguém consciente da própria vulnerabilidade.

O "disparo contra o sol" é, portanto, símbolo de resistência, mesmo quando tudo parece em vão. É o gesto de quem não aceita o silêncio - ainda que a luta pareça perdida.
Para o site Cultura Genial, a música como um todo é "um grito de revolta contra uma sociedade que rejeita e marginaliza", e esse verso inicial já anuncia essa postura. Cazuza se coloca em posição de ataque, mas seu inimigo é o mundo inteiro - e talvez ele mesmo.

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