A banda de rock que gravou 5 álbuns clássicos em 24 meses e durou só 4 anos
Por Gustavo Maiato
Postado em 17 de outubro de 2025
O Creedence Clearwater Revival é um dos maiores paradoxos da história do rock: uma das bandas mais bem-sucedidas e influentes do final dos anos 1960, que gravou cinco álbuns clássicos em apenas dois anos e acabou em menos de quatro. O grupo, que parecia vir das margens do Mississippi, na verdade nasceu na Califórnia, e deixou um legado de hits tão duradouro quanto sua história foi curta e conturbada.
Em vídeo recente publicado em seu canal, o jornalista Andre Barcinski revisitou a trajetória meteórica e dramática da banda. "Uma das bandas mais adoradas e mais populares da virada dos anos 60 para os 70 foi o Creedence Clearwater Revival. Eles fizeram tantas músicas clássicas - Born on the Bayou, Fortunate Son, Have You Ever Seen the Rain, Who'll Stop the Rain - que a gente até esquece que essa é uma banda que durou quatro anos", diz ele.
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Barcinski lembra que o primeiro LP do grupo saiu em julho de 1968 e o sétimo, em abril de 1972. "Em quatro anos e pouco, eles lançaram sete discos de estúdio com um monte de álbuns ao vivo e singles. Eles chegaram a lançar cinco discos em dois anos. Entre julho de 68 e julho de 70, saíram Creedence Clearwater Revival, Bayou Country, Green River, Willy and the Poor Boys e Cosmo's Factory. Cinco grandes LPs do rock em 24 meses", conta o jornalista.

A explosão do Creedence Clearwater Revival
Mesmo com um som que parecia nascido nos pântanos do sul dos Estados Unidos, o Creedence era uma banda da costa oeste. "Muita gente ouve e pensa: 'Pô, esses caras devem ser do Alabama, da Geórgia'. Mas não. Eles eram de El Cerrito, na área de São Francisco, o epicentro da contracultura no fim dos anos 60. Uma banda urbana que fazia um som completamente rural", explica Barcinski.
O grupo era formado por dois irmãos, John e Tom Fogerty, além do baixista Stu Cook e do baterista Doug Clifford. "O John Fogerty era o grande gênio da banda. Ele compunha todas as músicas e virou o líder natural do Creedence. O Tom era o irmão mais velho, quatro anos mais velho que ele. Deve ter sido muito difícil ver o caçula, muito mais talentoso, dominar a banda", comenta.

Apesar do sucesso e da popularidade, as tensões internas logo começaram a crescer - e um contrato assinado no início da carreira selaria o destino da banda. "O Creedence foi contratado pela gravadora Fantasy, de um cara chamado Saul Zaentz", explica Barcinski. "Era aquele típico contrato de banda iniciante, só que a banda explodiu. Os primeiros discos venderam milhões de cópias, e o Zaentz ganhou muita grana. A banda também ganhou, mas deveria ter ganhado muito mais."
As disputas por dinheiro e controle se agravaram quando os outros três integrantes passaram a se alinhar ao empresário. "Os três brigam com o John Fogerty e vão para o lado do Zaentz. Eles vendem as partes deles nas músicas e nos fonogramas, e o produtor fica dono de cerca de 75% da banda. Em 1972, o Creedence acaba por causa dessas brigas internas. Os três ficam do lado do Zaentz e o John fica sozinho nessa briga", relata Barcinski.

As brigas e problemas do Creedence Clearwater Revival
O problema é que John ainda devia discos à gravadora. "Os primeiros álbuns solo do John Fogerty também foram feitos para o Saul Zaentz, um cara que ele odiava e que o odiava de volta. Para sair do contrato, o John cedeu os royalties dele, e o Zaentz ficou dono de praticamente 100% do catálogo. Durante muito tempo, ele ganhou milhões de dólares com a discografia do Creedence."
O resultado foi um silêncio forçado. "O John Fogerty passou uns 10 ou 15 anos sem tocar músicas do Creedence. Cada vez que ele tocava, quem ganhava dinheiro era o Saul Zaentz. Ele se recusava a isso. Só bem depois voltou a cantar suas próprias músicas", lembra Barcinski.

O tempo passou, e o empresário continuou lucrando até vender a gravadora. "O Zaentz vende a Fantasy para a Concord em 2004 e morre em 2014. Desde então, o John sonhava em recuperar os direitos das músicas que compôs. E ele conseguiu: primeiro, a gravadora devolveu os royalties, e depois ele comprou de volta o próprio catálogo. É bizarro pensar que o cara teve que recomprar as próprias músicas que ele mesmo escreveu há 50 anos."
Para marcar essa vitória, Fogerty decidiu revisitar o passado. "Ele lançou agora, aos 80 anos, um disco chamado Legacy, em que regrava todas as músicas do Creedence. Mas não são novas versões: ele tentou refazer tudo igualzinho. Usou os mesmos instrumentos e recriou o som faixa a faixa, num trabalho de cópia exata. As músicas que ele compôs, claro, porque Suzie Q. e Midnight Special não são dele", explica Barcinski. "Ele está em turnê agora com os filhos, tocando essas versões idênticas, fiéis às originais."

Mas a vitória artística não apaga o lado sombrio da história. "Toda essa briga causou o grande afastamento entre os irmãos Fogerty. O Tom teve uma carreira muito triste depois do fim da banda. Ele pegou HIV numa transfusão de sangue e morreu de AIDS em 1990, sem fazer as pazes com o irmão. Tem relatos de brigas até no leito de morte. O Tom teria dito ao John: 'O Saul Zaentz tem razão, você não presta'. Até o fim da vida, não conseguiu perdoar o irmão."
Confira o vídeo completo abaixo.

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