Carol Morreu - A pinta que me encarava
Por Felipe Ricotta
Postado em 15 de outubro de 2004
Noite lotadaça no Circo e o público era muito maior que o da noite anterior no show da Pitty. Nada contra a Pitty (que faz um som bem legal) mas é emocionante se dar conta de que duas bandas independentes com muito pouco espaço na mídia tão fazendo mais bonito que ela na bilheteria.
Cordel Do Fogo Encantado e Mombojó.
Rio, Circo Voador
Sábado 07/08/04
Sinal dos tempos?
"Nem, isso não tem nada a ver. O que acontece é que são públicos diferentes." - alguém tentou me broxar.
"Ah, mas tem muita gente aqui que só veio pra beijar na boca e paquerar e nem tá ligando pro som." - outra garota resmungou.
Quando eu perguntei se isso era tão ruim assim, acho que ela percebeu que tinha pagado de velha frígida moralista e deixou pra lá.
(...)
Tava muito na pilha de ver o Mombojó e não me decepcionei nem um pouco.
Eles abriram com a macabra "A Missa", que infelizmente perdi em função dos últimos goles de refri na porta do Circo e seguiram em frente com o repertório do seu álbum de estréia "Nada De Novo". Destaque para "Adelaide", que é deliciosamente JovemGuardiana ("O que eu entendo por ser meu é tudo que eu posso te dar") e funcionou muito bem ao vivo, assim como "Deixe-se Acreditar" ("Nada vai acontecer não tema, esse é o reino da alegria"), a última do show com direito à participação especial do ex-Sheik Tosado China.
(...)
O show do Cordel é, no mínimo, uma experiência intensa.
Talvez tenha sido excesso de sobriedade, talvez tenha sido falta de saco mesmo, mas o fato é que tive sérios problemas pra digerir tudo aquilo.
Sinceridade? Pra incorporar a viagem dos caras, acredito que seja preciso que haja uma certa sintonia cósmica entre você e o ambiente, as pessoas, o som, o visual... Eu tava anos-luz dessa onda e embarquei nela apenas dias mais tarde quando me tranquei no escuro e finalmente pude apreciar músicas lindas como "Tempestade" ("Homens do ar não descem / Mulheres do ar não descem / Crianças do ar / Velhos do ar / Sempre mandam recados") ou então a apaixonada interpretação do vocalista Lirinha para a poesia de um tal de Zé Da Luz ("Ai Se Sesse").
(...)
Durante o show, minha amiga rata de praia resolveu botar pra fora sua opinião sobre o evento.
"Cara, eu acho que o Cordel tá mandando muito melhor que o Mombojó."
"Ahn? Por que você fala isso?"
"Eu acho que eles tão mais inspirados que a outra banda. Captaram muito mais a vibração da galera e..."
"Cara?"
"Quê?"
"Isso aqui é o Duelo Das Bandas?? Eu acho que você tá é falando merda."
(...)
Fui procurar alguém do Cordel no camarim e encontrei um maluco que eu não lembro o nome nem o que ele fazia na banda. Só lembro que ele tinha uma enorme pinta cabeluda no pescoço.
Confesso que me senti o cara mais ridículo do universo. Enquanto o cara falava sobre como você tem que estar preparado espiritualmente pra tocar no Cordel e profundidades do tipo, eu não conseguia prestar atenção em nada do que ele falava porque a pinta negra me encarava e me apavorava.
Isso que dá crescer ouvindo Bon Jovi e Skid Row (Pose? Glamour? Onde foram parar?). Por mais que você cresça e evolua as idéias, suas raízes em algum momento sempre vão acabar queimando teu filme.
Carol Morreu
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