O significado da oposição de "suor sagrado" e "sangue amargo" no hit "Tempo Perdido"
Por Gustavo Maiato
Postado em 12 de julho de 2024
O hit "Tempo Perdido" é um dos maiores sucessos da Legião Urbana e já acumula mais de 242 milhões de reproduções no Spotify. A joia do disco "Dois" traz na letra uma reflexão sobre a passagem do tempo e a relação com o trabalho e seus frutos. No fim das contas, Renato Russo trata da angústia de viver e passar pelos desafios da vida.
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Um de seus versos mais enigmáticos é o trecho a seguir, que compara o suor com o sangue: "Nosso suor sagrado / É bem mais belo / Que esse sangue amargo / E tão sério / E selvagem! Selvagem! / Selvagem!".
Mas o que será que Renato Russo quis dizer com essa comparação curiosa? De acordo com o Cultura Genial, essa relação tem a ver com o esforço pela sobrevivência.
"O uso do pronome pessoal ‘nosso’ confirma a presença de outra pessoa. A quem o sujeito se dirige, afirmando que o ‘suor sagrado’ deles é mais honrado, mais digno, ‘bem mais belo’ que o ‘sangue amargo’ dos outros. Aqui, o suor parece ser metáfora do trabalho, o esforço diário pela sobrevivência no qual suas vidas parecem se esgotar.
O ‘sangue amargo’, ‘sério’ e ‘selvagem’ seria assim símbolo daqueles que oprimem, que enriquecem graças ao suor alheio. Este parece ser um comentário político e social de Renato Russo sobre o capitalismo, que promove a exploração dos pobres pelos ricos e desumaniza os trabalhadores, reduzindo suas vidas a mera sobrevivência".
Já o Letras.mus entende que o suor sagrado tem a ver com o "esforço para se conseguir dinheiro com trabalho árduo, que consome praticamente o nosso dia todo". O Psicanalise Clínica vai além e entende que Renato Russo fala sobre a Aids no trecho.
"Existe uma dualidade em relação ao trabalho quando o Eu lírico recita ‘nosso suor sagrado’. A letra desloca a ideia moralista de suor sagrado como ‘trabalho árduo’. Renato Russo estaria falando do suor sagrado como a dimensão do desejo: aquilo que fazemos para nos satisfazer, como o suor que resulta da atividade sexual. Esse suor é sagrado para o ‘nós’ (por isso, ‘nosso’), ainda que doutrinas conservadoras possam considerar como pecaminoso.
Nesta mesma direção, o ‘suor sagrado’ se opõe a ‘sangue amargo’: assim era uma forma de chamar o sangue contaminado com AIDS. Então, aquele suor sagrado que vem do desejo tem como uma das consequência o sangue amargo desta doença. Mas, ainda assim, o suor sagrado (do prazer) supera o sangue amargo (da doença)".
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