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O que significa "Ovelha Negra", e de quem Rita Lee estava falando na letra da canção
Por Bruce William
Postado em 05 de dezembro de 2024
"Ovelha Negra" é uma das canções mais marcantes do rock nacional. Lançada por Rita Lee & Tutti Frutti no álbum "Fruto Proibido", que saiu em 1975, que marcou um momento crucial na carreira de Rita, sendo o quarto de estúdio da artista e o segundo com a banda Tutti Frutti. Após sua saída conturbada dos Mutantes, e o desempenho comercial aquém do esperado do disco "Atrás do Porto Tem uma Cidade" (1974), Rita buscou restabelecer sua posição no cenário musical. A parceria com João Araújo, presidente da Som Livre, trouxe a liberdade criativa necessária para que o grupo criasse este trabalho icônico.
Musicalmente, "Ovelha Negra" é reconhecida não só pela força de sua letra supostamente autobiográfica, mas também pelo solo de guitarra de Luiz Carlini, um destaque técnico e emocional no rock nacional. A combinação de simplicidade aparente com uma execução cheia de sentimento faz do solo uma referência para fãs e críticos, figurando frequentemente em listas dos melhores solos de guitarra do Brasil.
A expressão "ovelha negra", que dá nome à canção, refere-se a alguém que destoa de um grupo, muitas vezes com conotações de má reputação ou rebeldia, especialmente no contexto familiar. A origem do termo vem de um fenômeno genético em ovelhas, onde genes recessivos resultam no nascimento de animais com lã preta em vez de branca. Por se destacarem visualmente no rebanho, essas ovelhas eram consideradas menos valiosas comercialmente.
Conforme relata o livro "O Poder da Ovelha Negra: Explorando o Significado Histórico e Cultural de Ser uma Ovelha Negra" de Andrew Anova (Amazon): "Ao longo da história, o termo 'ovelha negra' carregou um significado significativo, simbolizando indivíduos que se desviam das normas sociais e expectativas. Suas origens podem ser rastreadas até a Grécia antiga, onde os pastores costumavam ter rebanhos de ovelhas brancas com a ocasional ovelha negra. A ovelha negra se destaca, tornando mais fácil para o pastor identificá-la e acompanhá-la. Com o tempo, o termo 'ovelha negra' evoluiu para representar indivíduos vistos como diferentes ou não conformistas dentro de suas comunidades. Em muitas culturas, as ovelhas negras eram consideradas excluídas ou encrenqueiras por sua recusa em aderir às normas sociais(...) No entanto, é importante reconhecer que ser uma ovelha negra não é inerentemente negativo. Na verdade, muitas ovelhas negras possuem qualidades únicas e forças que podem levar ao sucesso se aceitas."
De quem Rita Lee estava falando na letra de "Ovelha Negra"?
E ao associar o termo à música, Rita Lee capturou a ideia de singularidade e contestação, ressoando com a juventude da época e consolidando "Ovelha Negra" como um hino de libertação pessoal e auto aceitação, pois, a princípio, a letra parece ser simples e direta, relatando diretamente a relação entre uma jovem e seu pai: "Levava uma vida sossegada/ Gostava de sombra e água fresca/ Meu Deus quanto tempo eu passei/ Sem saber/ Foi quando meu pai me disse, filha/ Você é a ovelha negra da família/ Agora é hora de você assumir /E sumir".
"Em algumas entrevistas, ela dava a entender que mantinha uma relação conflituosa com os pais e que se considerava a ovelha negra da família. Havia fotos dela em 1975, quando seus pais tentaram proibir a 'menininha sardenta' de seguir a perigosa vida de artista, acreditando que isso prejudicaria seus estudos", diz o jornalista Júlio Ettore em um vídeo onde ele coloca a brilhante estratégia de marketing de Rita de tirar proveito da letra associando sua própria imagem.
Prossegue Júlio: "Rita afirmava até mesmo que seus pais não falavam com ela, dando a entender a desaprovação deles em relação ao seu estilo de vida. No entanto, essa narrativa não passava de uma invenção. A única restrição que seus pais faziam era em relação à exaustão da carreira da filha, que a tornava famosa e, portanto, desgastante."
Mas o consenso que se tem hoje em dia é que Rita estava falando, na verdade, sobre sua saída dos Mutantes, e esse "ovelha negra" seja referente ao fato dela não ser considerada uma instrumentista virtuosa, que foi o que o grupo passou a pautar após sua saída, pois na época os Mutantes estavam enveredando pelo Rock Progressivo com influências de bandas como Yes e Genesis: "Minha saída do grupo aconteceu bem nos moldes de 'o noivo é o último a saber', no caso, a noiva", conta Rita em sua autobiografia (Amazon).
"Depois de passar o dia fora, chego ao ensaio e me deparo com um clima tenso/denso", prossegue Rita. "Era um tal de um desviar a cara pra lá, o outro olhar para o teto, firular instrumento e coisa e tal. Até que Arnaldo quebra o gelo, toma a palavra e me comunica, não nessas palavras, mas o sentido era o mesmo, que naquele velório o defunto era eu. 'A gente resolveu que a partir de agora você está fora dos Mutantes porque nós resolvemos seguir na linha progressiva-virtuose e você não tem calibre como instrumentista.' Uma escarrada na cara seria menos humilhante. Em vez de me atirar de joelhos chorando e pedindo perdão por ter nascido mulher, fiz a silenciosa elegante. Me retirei da sala em clima dramático, fiz a mala, peguei Danny (a cachorra) e adiós."
Rita também comentou o assunto em entrevista a Bruna Lombardi, realizada em 1992: "O grupo rompeu por vários motivos. O Gil e o Caetano tinham sido exilados. Nossos gurus tinham ido embora. Eu falei para nós fazermos nosso som. Afinal, eles tinham nos ensinado tudo. Ensinaram a compor em português, fazer arranjo, cantar o Brasil. Mas o pessoal da banda decidiu ir para outro lado. Decidiram fazer música progressiva tipo Yes, Emerson, Lake & Palmer. Eles eram ótimos músicos e eu era a intuitiva da coisa. Eu achava que podia tocar por intuição. Comprava meus tecladinhos e tudo. Mas aí não podia. Tinha que ser uma coisa mais técnica. Aí de repente eles me convidaram para me retirar dos Mutantes. Comigo, acho que saiu o humor."
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