On The Road: Jorge Mautner e as Memórias do filho do KAOS
Por Cláudio Vigo
Postado em 29 de outubro de 2006
Certamente em uma noite de muitas estrelas um anjo torto destes que adora misturar chiclete com banana apontou seu violino decaído e disse vai ser Jorge vai ser gauche nesta vida. Que Jorge? O que traz o santo guerreiro junto com os abismos dos anjos caídos, A cultura apolínea, Européia e Germânica e os batuques da África ancestral. Falo de Jorge Mautner que acaba de lançar sua autobiografia infanto juvenil: "O filho do Holocausto-Memórias (1941-1958) onde com a mansidão de um regato escorrendo lenta a sombra de Heráclito relembra e esclarece a formação deste amálgama que torna possível uma ponte entre Heidegger e Araci de Almeida".
Mas o que tem o personagem em questão a ver com o Rock n roll? Aparentemente nada, mas na verdade tudo. Desde Louis Jordan dando seus gritinhos em falsete, desde Little Richard desmunhecan- do com Lucille. Desde Elvis mostrando que um branco caipira podia ser negro que o rock sempre foi o terreno soberano da mistura. Ponte entre culturas disparatadas, hoje mainstrean, máquina de clones de rebeldia pré fabricada, mas nem sempre foi assim, houve uma época em que as coisas se transformaram no limite e nada mais foi o mesmo, só com três acordes.
Quando estreou na literatura com o mitológico "Deus da chuva da morte" em 62, que ganhou o Premio Jabuti de revelação, ano do meu nascimento, causou profundo estra- nhamento com uma escritura que era capaz de cortar feito navalha assim como ter a superficialidade do santo ridículo. Desde adolescente sou leitor e ouvinte de Mautner e posso afirmar que este é seu livro mais formalmente "normal" ao mesmo tempo em que também o mais esclarecedor dos percursos e toda a ambiência de formação deste personagem tão singular.
Profeta limítrofe toma partido na eterna luta dos nazismos internos e externos e aponta o norte de um eterno presente, mesmo que reflexo de memórias (sonhos de passado), oceanografia ante tédio, hedonista, mas compromissada com a evolução da raça (humana demasiadamente humana). Memória de uma vida turbulenta, subterrânea, mas sempre buscando o sol, mesmo que esse fosse aquele gélido da meia noite, Uma vida sem comedimento, com pudores mais éticos que estéticos. Quem de nós (fora o Gentileza) se autodenomina profeta? Antena da raça? O ridículo (de Kierkegaard) sempre próximo, fazendo o contraponto entre a sintonia, o biscoito fino para as massas e o desafino de fato e de direito.
Mas e o livro? È muito bom... o encontro com outro mito pessoal meu (Flavio de Carvalho) foi revelador e confirmador. Um Atlas de surpresas e afetos. Deve ter doido nas entranhas remexer, vale uma sessão de psicanálise em público.
Com certeza uma meia dúzia deve estar perguntando: O que este mané está falando sobre tudo isso em um site onde impera o metal pesado (assim como a espada de Jorge), o barulho e o rock industrial. Pois é, mas a revolta transformadora pode ter a leveza do Tai Chi Chuan, do samba de Ismael Silva e misturar é preciso. Abrir corações, cabeças e mentes nestes tempos onde se sabe tudo sobre o parafuso, mas se esquece o sentido da máquina. Se manter à margem, periférico como uma esquiva de karatê, sem perder o senso e a leveza. Cara, muito pouca coisa na vida é novidade e tem gente que até acredita que a história se repete em ciclos.
Viagem pouca é bobagem? Mas fora isso o que resta? Só sei que tá nas livrarias e é o inventário de percurso de uma das mentes mais despudoradamente originais e sem medo deste nosso circo de convenções. Dá uma lida, a edição tá caprichada e você pode perceber que uma linha reta nunca liga dois pontos necessariamente.
Se te incomodar como este texto agora, tá ótimo. Boa viagem!
On The Road
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