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On The Road: Mahavishnu Orchestra e a Yoga

Por Cláudio Vigo
Postado em 27 de agosto de 2003

"Tudo é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranqüilo" já dizia o profeta Walter Franco em idos tempos. Ando tendo uma nostalgia danada deste tipo de clima. Depois de mais de vinte anos voltei à prática do Yoga, ando relendo D.T. Susuki, Alan Watts, Norman O Brown e pior (ou melhor) peguei todos os discos da Mahavishnu pra passar a limpo. Isso tem cura? Talvez isso seja a cura. O perigo é alguém me pegar atracado com uma cuia de arroz integral, botando banchá na orelha e falando com planta. Se pegarem isso, podem me internar que o bicho grilo passou do ponto.

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Quando tinha quinze anos sonhava em ser Johnny Winter ou algo parecido. Para a pessoa estar "do meu lado no mundo" tinha que ter o cabelo no mínimo passando dos ombros e o meu há muito já estava no meio das costas. O umbigo do universo era uma guitarra elétrica. As leituras, um tanto raras, quando muito eram a Revista Rock e uns trecos sobre pirâmides, Lobsang Rampa etc... Com este caldo de cultura, um dia na casa de um amigo vi na TV um guitarrista de cabelo curtinho ("reco" como dizíamos) que tocava uma guitarra de dois braços e solava alucinadamente numa rapidez e precisão que nunca tinha escutado. Quando soube que o nome do cara era John Mc Laughlin fiquei tentando pronunciar um bom tempo até entender que aquele sujeito do lado com cara de beato hindu era seu guru Sri Chimnoy e que sua vida era devotada às praticas do auto conhecimento oriental. Santana também estava nessa. "Caramba! Se essa birutice fazia tocar tanta guitarra não devia ser de todo má" pensei comigo.

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Em pouco tempo já tinha arrumado todos os discos da Mahavishnu Orchestra e os ouvia num volume totalmente ensurdecedor, uma experiência mística que me levava ao nirvana absoluto e minha família ao mais terrível purgatório.

No ano seguinte (1978) houve o Festival de Jazz de São Paulo e eu num ataque ensandecido descobri que o próprio John Mc Laughlin vinha tocar por aqui. Uma providencial tia paulistana foi avisada, uma mãe semi-enfartada se conformou, um amigo maluco ficou disponível e quando a caravana do delírio ia partir rumo a Katmandu, uma terrível prova de química botou água pra dentro do barco. Assisti pela TV, no volume habitual, e não me esqueço de uma jam session no final que juntou um assustado John Mc Laughlin com um ensandecido Hermeto Paschoal, que a bordo de um mini moog evocava de Coltrane a Luis Gonzaga com cinco mil idéias por minuto. Esse festival me chamou a atenção pro Jazz e figuras como George Duke, Dexter Gordon, Larry Corryel & Philip Catherine, Champion Jack Dupree e muitos outros passaram a fazer parte do meu universo.

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Pra quem não conhece, John Mc Laughlin nasceu em Yorkshire (Inglaterra) em 1942 e começou no circuito R&B inglês tocando inclusive com a Graham Bond Organization e a Brian Auger Trinity. Em 69, já fisgado pelo Jazz gravou seu primeiro disco solo chamado "Extrapolation", que apesar do fraco apelo comercial impressionou pelo virtuosismo do mega batera Tony Williams, que o chamou para compor seu trio chamado Lifetime junto com o maravilhoso organista Larry Young. Esta banda fez história e o álbum "Emergency" é uma tour de force, usina de virtuoses onde todo mundo espalha brasa pra todo lado. Nesta mesma época participa de dois marcos da musica do séc XX, os antológicos álbuns de Miles Davis - "In a Silent Way" e "Bitches Brew", que vão dar as diretrizes aos caminhos que seriam trilhados nos anos seguintes.

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Depois de gravar mais um disco (agora com Buddy Miles) chamado "Devotion" resolve seguir o Guru Sri Chinmoy e larga as drogas, a bebida, pára de comer carne e se dedica à pratica diária do Yoga, que vai alterar profundamente o caminho que tomava sua música também.

Em 71 grava My Goal's Beyond contando com o violinista do Flock - Jerry Goodman e o baterista de Miles - Billy Cobham, que trás consigo um acento forte indiano e muito improviso. Logo após resolve seguir o conselho dos gurus (musical: Miles e espiritual: Chinmoy) e cria sua própria banda, que leva seu novo nome de batismo Mahavishnu (renascido) Orchestra e que conta com Jan Hammer nos teclados e o amigo Rick Laird no baixo. Talvez esta banda, junto com o Return to Forever, e o Weather Report, seja um dos vértices da santíssima trindade do Jazz Rock dos anos setenta.

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Os dois primeiros discos - "The Inner Mounting Flame" (71) e "Birds of Fire" (72) são excelentes e fizeram a cabeça de toda uma geração com o absurdo virtuosismo dos músicos e beleza das concepções. Re-ouvi agora depois de muitos anos e se mantiveram frescos como uma flor de Lótus. O sucesso foi enorme e inaugurou a categoria de músicos de jazz com público de rock que iria grassar na época. Com isso a viagem foi grande e o preço alto. Egos inflados, um guru que se metia em tudo, um disco abandonado no meio, lançado agora com o nome de "Lost Trident Sessions" e outro ao vivo onde fica evidente o perigo de auto indulgência e exagero que estava cercando a banda. Solos intermináveis, ninguém falando com ninguém e eis que a primeira e clássica formação da Mahavishnu Orchestra foi pro espaço.

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Foram várias as remontagens da banda (todas muito boas) até os anos 80 quando os discos solos (que existiram em grande quantidade todo este tempo) e o projeto de outras bandas de vários formatos e influência tomaram conta da carreira do nosso zen guitar hero.


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Em 79, depois de uma fase um tanto difícil (como em toda adolescência) dei uma radicalizada geral também na minha vida. Com a certeza absoluta da descoberta das verdades do Universo (típicas dos dezessete anos) passei a fazer Yoga diariamente, parei de comer carne, cortei o cabelo e andava pra lá e pra cá com uma cara que era um misto de gafanhoto da antiga série Kung Fu da TV e foto de anúncio de molho de soja. Fiquei impossível e doutrinava meus amigos entre citações de Herman Hesse, Castañeda e uma afetação no respirar que abalava não só Bangu como Katmandú. Essa excentricidade fazia um certo sucesso e não nego que surgiam inúmeros curiosos com este caminho. Se não cheguei a ter discípulos, foi quase. Meu dia a dia incluía saudação ao sol, pranificação de água, muito OM, alimentação natureba e não posso negar, um enorme bem estar.

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Nesta época eis que John Mclaughlin, agora acompanhado da One Truth Band vem tocar no Rio junto com Egberto Gismonti. Não preciso nem dizer que fui um dos primeiros a entrar na câmara de ecos do Maracanazinho junto com meu embornal cheio de chá e biscoitos de gengibre para finalmente tentar ouvir alguma coisa. Quem nunca assistiu um show no Maracanazinho não vai entender, mas desde o Gênesis (77) eu já conhecia o poder daqueles ecos. No primeiro solo faiscante do homem uma sucessão de repetições se fez ouvir e não dava pra entender rigorosamente nada. Um tanto decepcionante, mas respirei fundo (o que mais fazia então) e masquei mais um gengibre. Finalmente uma profecia se concretizava mesmo que a custa de tantos ecos.

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Muita histórias hilárias ocorreram nesta época. Lembro da visita a casa de um famoso guru (até hoje por aí) com uma amiga quando apareceram umas pessoas de branco na porta entoando uns mantras com uma flor na mão, um bafo danado de almíscar e muito Ravi Shankar no som. Fiquei bastante desconfiado, pois todo mundo parecia mais chapado que qualquer coisa e sorriam pra tudo e todos. Lembrei logo de um amigo que havia pirado e virado Hare Khrisna que tinha o mesmo olhar. Uma mulher mais velha, alta descalça e toda de branco falou: "o mestre vem aí" e todos passaram a fazer uns ruidinhos estranhos que me deixaram mais grilado ainda. E aí aparece o iluminado. Uma figura mediana com uns cinqüenta e poucos anos com um saiote indiano e uma túnica. Imediatamente deu uma longa sacada nos peitos da minha amiga que pululavam no decote e nos convidou a sentar.

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Eu já estava meio irado com o fauno travestido de Avatar quando este começou um longo discurso contando sua última viagem à Índia onde havia ido para revolucionar o estudo do Yoga. Aí pegou... Como é que pode? Que mané revolucionar o quê? Seria o mesmo que um cara das ilhas Fiji vir pra cá ensinar futebol para a garotada. E por aí foi com o ambiente ficando um tanto tântrico pro meu gosto. Resolvi saltar fora antes que ficasse difícil o negócio.


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Os anos foram passando e fui me distanciando paulatinamente destas ortodoxias. Se me apaixonei pelo Budismo posteriormente foi muito mais um encontro filosófico com uma doutrina que propõe a extinção do ego do que alguma cantilena prática. Fiquei muito longe de tudo isso e eis que num terrível ataque de stress generalizado resolvi simplificar uma série de coisas e me propus voltar a fazer Yoga e tentar levar de leve. A experiência foi muito fascinante, pois parecia que estava de volta numa estrada abandonada cheia de buracos, placas caídas, mas com uma paisagem deslumbrante. Alguns meses depois recebi coincidentemente de presente de meus dois amigos Cecil Galvão e José do Carmo, dois monges roqueiros de boa cepa e antiga extração, cópias dos discos da Mahavishnu e do antológico show paulista de 78.

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Pois agora me encontro tentando pavimentar o velho caminho, com muito mais experiência, tijolinho por tijolinho ouvindo a velha Mahavishnu.

Não existe nenhum ponto de chegada, a meta é o próprio caminho.


Certa tarde de outono, o mestre Ikyyu vagueava pelos campos, levando consigo uma flauta de bambu. Um eremita, ao vê-lo, perguntou-lhe:

_ Quem és tu?

_ Sou um peregrino que segue para onde sopra o vento.

Tencionando pô-lo em apuros, o eremita perguntou:

_ E quando o vento não sopra?

_ Então sopro eu - respondeu Ikyyu começando a soprar na sua flauta.

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Da safra de 62 , Claudio Vigo ganha a vida com a poesia, o jazz e o rock n roll. Paga as contas como arquiteto.
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