Iron Maiden: honestidade e liberdade em "The Book Of Souls"
Resenha - Book Of Souls - Iron Maiden
Por Leonardo Luís dos Santos
Postado em 22 de setembro de 2015
Nota: 7
Após uma longa espera, os ingleses finalmente lançaram mais um álbum de estúdio. Seguindo um hiato de cinco anos, "The Book of Souls" invade as prateleiras do mundo e torna-se público, de forma física, a todos. Afinal, este álbum é realmente um dos maiores momentos da banda?
Qualquer lançamento de uma banda clássica atualmente é motivo de ansiedade. Pois, com músicos quase sexagenários, a expectativa aumenta muito, uma vez que, por questões fisiológicas, em breve não os teremos mais no meio musical.
"The Book Of Souls" é um álbum realmente bom. Obviamente não segue a mesma linha dos clássicos da década de 1980, ilusão esperar algo assim, porém não é um clone da fórmula desgastada e retroativa dos últimos lançamentos do grupo. Sim, sejamos fãs, mas conscientes. "AMOLD" é mediano e "The Final Frontier", em muitos momentos, soa muito fraco e uma espécie de tampa buracos: um trabalho feito apenas para constar na discografia e na lista de grandes escorregões dos deuses do Rock.
Tendo uma maior participação de Bruce Dickinson e Adrian Smith nas composições, o disco intercala de forma precisa músicas progressivas, diretas e outras com novos elementos adicionados. Temos a dupla mais criativa do Iron Maiden extremamente livre para criar.
"If Eternity Should Fail", que estaria num álbum solo de Bruce Dickinson é responsável por dar as boas vindas ao ouvinte. Misteriosa, com introdução sombria, fora feita sob medida para abrir os shows. Todos os elementos da carreira solo do vocalista estão lá. Uma boa composição com excelente refrão, andamento cadenciado e intenso. Destaque ao peso das guitarras nas bases galopantes. Como seria o novo álbum de Bruce?
"Speed Of Light" é direta e reta. Rápida com guitarras pesadas e um vocal rasgado. Esta música expressa toda a liberdade dos músicos em estúdio. A dupla Smith/Dickinson aparece com força total e dando sinais de que querem algo intenso. Destaque à crueza do timbre das guitarras: foram plugadas e muito bem exploradas. Ótima escolha para primeiro single e candidata a ser uma das mais festejadas ao vivo.
"The Great Unknown" começa com velha introdução lenta a qual vai crescendo e explode com Bruce Dickinson arrebentando. Destaque aos vocais, pois são altos e com muitos agudos. Algo que impressiona, porque Bruce a gravou quando estava com câncer. Tirando o excelente trabalho de Dickinson, a música é morna, apenas para compor o álbum. Uma lembrança dos últimos discos. Poderia não figurar no tracklist.
"The Red And The Black" tem um início traumático: o patrão apodera-se de seu baixo e faz uma introdução. Mas o susto para por aí. A música apresenta uma estrutura muito boa, com bases pesadas que unem-se a uma linda melodia que é acompanhada pelas linhas vocais. Todos os elementos do Maiden estão presentes: guitarras dobradas, belo refrão, coro e melodias intermináveis, mas não cansativas. Os solos são excelentes, dão uma beleza a mais à canção. São 13 minutos em que se observa uma banda solta, honesta e com vontade de tocar. Em muitos momentos lembra o álbum "The X factor", principalmente "The Sign Of The Cross"
"When The River Runs Deep" começa despojada. Um bom riff do senhor Smith e um vocal altíssimo. Aos 35 segundos, entra uma guitarra crua, pesada cheia de veneno para apresentar mais uma música rápida. O refrão é pausado e em tom de explicação. É muito bom ouvir as músicas de tiro curto do Iron Maiden, principalmente quando Adrian Smith comanda as ações nas seis cordas. Um grande momento com ótimos solos, camadas de teclado. Sem sombra de dúvidas uma das melhores canções já feitas nos últimos 20 anos, sem exageros.
"The Book Of Souls" tem a alcunha de encerrar o primeiro disco. Uma música que explora muito os teclados e o clima sombrio. A princípio não gostei, mas após ouvi-la mais vezes, confesso ter mudado de ideia. Dividida em duas partes, primeiro a música segue arrastada, com bom refrão, contudo nada muito forte. A segunda parte já começa com uma sequência matadora de riffs e muito peso. Por que não seguiu toda essa linha? Encerra de forma competente o primeiro disco que supera expectativas.
"Death Or Glory": Amigos, preparem-se para ouvir umas das melhores músicas da banda. Composta pela dupla afiadíssima Smith/Dickinson, "Death Or Glory" é uma volta ao passado da banda. Começa com guitarras fortes e inspiradas. A bateria que, sob meu ponto de vista, é apenas pragmática em todo álbum, aparece muito bem; ao estilo Nicko de acompanhar os fraseados de guitarras. O refrão é simples e poderoso. Solos rápidos, precisos, executados com perfeição. O baixo segue costurando a música e adicionando peso. Os vocais são ótimos. Ao lado de "When The River Runs Deep" é a canção que retoma boa parte da época de ouro.
"Shadows Of The Valley" por vir após a excelente "Death or Glory", parece estar desconexa da obra. Não é uma canção ruim, porém, longe de ser um momento a ser lembrado e indicado como forte em todo álbum. Um trabalho simples sem novidades. Não quero ser o dono da verdade ou produtor da banda, mas esta música poderia ficar de fora.
"Tears Of A Clown" é muito bonita. Uma justa homenagem ao grande ator Robin Williams. Inicia de forma direta, com uma guitarra coesa que apresenta um ótimo riff. O clima melancólico norteia os quase cinco minutos muito bem aproveitados. Destaque aos solos – em todo o álbum as guitarras estão incríveis – vocal (pode soar repetitivo, entretanto Bruce fez um trabalho excepcional) e a letra. Novamente o som cru, simples e bem feito. Boa música.
"The Man Of Sorrows" apresenta de cara uma guitarra incrivelmente sentimental com um feeling apuradíssimo, digno do nosso grande guitarrista Dave Murray. Apesar de iniciar muito bem, o andamento muda bruscamente e tudo fica solto até demais. Uma balada que não acaba como balada. (explicação confusa, assim como a música). É boa, porém bagunçada. O final consegue salvar a curva mal feita.
"Empire Of The Clouds" merece uma resenha apenas para ela. Para não cair em piegas serei direto ao falar desta peça do hevy metal composta em três atos: o piano dá um tom melancólico à música e narra de forma poética a triste história do dirigível R101. Os outros instrumentos acompanham o piano e transformam a composição em algo grandioso. Bruce Dickinson encerra o álbum com chave de ouro. Responsável por abrir e fechar as cortinas do espetáculo, o competente e magnífico cantor soube como fazer de forma impecável tais ações. Ouça e tire suas conclusões, pois não são resenhas que dirão o quão grandiosa é esta canção.
Resenhar um álbum não é tarefa fácil, pois sempre colocamos nosso juízo de valores, todavia, tentei ser imparcial e falar de forma simples sobre as músicas; apenas dizer como são de forma geral. "The Book of Souls" é um álbum forte. Soube mostrar a alma da banda de uma forma leve e honesta. Ouça-o, mas sem ter em mente os anos de 1980 e os dois últimos álbuns. Abra uma cerveja, reúna-se com grandes amigos e aprecie o trabalho. Um lançamento de respeito.
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