Iron Maiden: "The Book Of Souls" é uma obra sem precedentes
Resenha - Book Of Souls - Iron Maiden
Por Ivan Carlos Miranda
Postado em 02 de setembro de 2015
A primeira audição de um álbum do Iron Maiden é sempre emocionante. Principalmente depois de cinco anos sem um lançamento de estúdio! Entendo que as letras e a temática desse trabalho dariam uma resenha à parte, por esse motivo, esse texto destina-se somente ao conteúdo musical do álbum. Vamos a ele:
If Eternity Should Fail: Muitos ecos! Sons dignos dos clássicos progressivos. Tambores tribais, uma leve pegada oitentista e um refrão melodioso e marcante, são alguns dos destaques dessa faixa de abertura do disco. O timbre dos instrumentos, algo bem "verdadeiro", marca presença em toda a faixa. Uma narração com vozes distorcidas e acompanhadas por um violão suave encerram a canção.
Speed of Light: Começa com um indefectível Cowbell e o vocal rasgado de Bruce, remetendo o fã mais antigo às épocas de "No Prayer for the Diyng" e "Fear of the Dark". Música bem direta e empolgante. O riff bem posicionado e constante, se mantém mesmo com o vocal rolando e dá um diferencial à faixa. Os solos são diretos e bem construídos.
The Great Unknown: Uma introdução com muitas cordas e um vocal imponente. Se Bruce revela-se em plena forma nas duas primeiras faixas, nessa sua voz surpreende até o fã mais otimista. Vocal agudo e marcante, afinação precisa e timbre perfeito. O primeiro solo entra em um momento propício da canção, solo curto e bem posicionado, sonoridade inconfundível. Na sequência, mais da performance de Bruce, riff’s dobrados e os solos devastadores de Smith e Murray. Segue uma pausa marcada apenas pelo Chimbal de McBrain. O entrosamento da banda é realmente algo fantástico. Enfim, Iron Maiden sendo Iron Maiden.
The Red and the Black: Uma introdução um tanto indefinível ao baixo, seguida de uma levada bem tradicional conduzida por toda a banda. Metal puro! Um riff meio "Dance of Death" com o vocal do Bruce acompanhando a melodia da guitarra. O trecho melódico se repete seguido de um Ohooo!… Ohoooo!... Marcação precisa da guitarra base. Volta a sincronia entre vocal e guitarra. Não me lembro de uma canção do Maiden onde isso tenha ocorrido com tanta intensidade. Muito legal. Surpreendente! Segue-se um riff com guitarras e teclados. Surpreendentemente Bruce volta e repete as melodias dos instrumentos, com ligeiros semitons vocais. Maravilhoso! Solos impecáveis. No segundo e terceiro solos o andamento muda. Novos e aprazíveis riff’s. A sonoridade da banda está em um nível altíssimo. Esse último solo, com bends e timbres perfeitos, com certeza é de Smith. Nova mudança no andamento da canção, frases intermináveis de guitarra, riff’s sem fim... A banda esbanja criatividade e entrosamento. Encerra-se com o Ohooooo!... Ohoooooo!... E o baixo de Harris.
When the River Runs Deep: Introdução pesada e bateria marcando somente as notas fortes. Vocal agudíssimo, bem agressivo. Chimbal e guitarra sozinhos, seguidos da levada mais característica da banda, protagonizada por Nico McBrain e Steve Harris. Uma mudança no andamento e os repiques no prato de condução. Show! Solos bem definidos. Nico comanda o ritmo de forma magistral. Grande som de batera!
The Book of Souls: A faixa título do álbum começa com um violão desferindo notas bem longas, o que nos faz acreditar que a música seguira a tendência das introduções demoradas de "The X Factor" e "Brave New World". Nada disso, a banda explode com peso. Bruce cantando muito! Esse é provavelmente o refrão mais bonito até agora. A interação precisa entre vocal e harmonia chamam a atenção até mesmo do ouvinte mais leigo. Arranjos impecáveis! Aos 05:40, a múcica indica uma pausa que remete ao encerramento da faixa ou uma seção daquelas intermináveis melodias "baladescas"… nada disso de novo! A caixa da bateria ressurge bem nos padrões de "Be Quick Or Be Dead" seguindo-se num universo que remete à "Back In The Village"… Nesse momento o corpo todo arrepia! Esse é o melhor do Iron Maiden Cavalheiros!… Solos desconcertantes e o fraseado devastador de Mr. Bruce Dickinson por entre os riff’s! (A alavancada inicial já valeria o solo), mas tem mais... Os solos e o vocal se intercalam fugindo daquela velha e batida fórmula: Introdução, refrão, solos, repete refrão, final. Isso não existe em "The Book of Souls". Composição Épica! Dez minutos que parecem Três. O violão volta, solene, para encerrar a canção.
De maneira grandiosa e, no mínimo, surpreendente, encerra-se o primeiro disco do álbum "The Book of Souls". Um disco que superou todas as minhas expectativas, tanto em performance, quanto em timbres, composições e arranjos. Certamente um dos maiores trabalhos da Donzela de Ferro. Mas tem mais! Vamos ao segundo disco:
Death or Glory: Fazendo jus ao nome, apresenta-se a introdução mais pesada até agora. Metal tradicionalíssimo e vocal bem coeso. A letra é exposta entre trechos que se alternam entre agressivos e melódicos. A levada de bateria segue sua cadência constante, os rff’s surgem, baixo cavalgado, característico de Harris. Os solos cumprem seu papel sem muitas variações da harmonia. O refrão retorna e a canção segue para seu encerramento. Essa faixa sim respeita aquela linha bem definida do Heavy Metal. Uma ótima canção. Direta e precisa, mas sem grandes surpresas.
Shadows of the Valley: Essa faixa te leva, logo em seus primeiros compassos, ao universo de "A Matter Of Life And Death", em especial, à "These Colours Don't Run". Uma canção que diz de cara à que veio! Viradas "justas" de bateria, precisos ataques de guitarra, vocal bem moderado, com apenas alguns trechos agudos. A cadência da banda muda durante o primeiro solo e retoma a pegada no segundo, (solo sobre riff). E uma das características mais marcantes desse trabalho reaparece após o instrumental, vocal e riff juntos, mais, Ohooooo! Um solo curto interrompe o coro, retorna o vocal e a faixa se encaminha para o fim. Uma grande música, embora não se destaque tanto quanto as demais.
Tears of a Clown: Música que surpreende já na introdução, pesada e técnica. Um trecho que, com certeza, exigiu muito ensaio e entrosamento da banda. Nico mandou muito na batera! O vocal surge em um tom médio, as guitarras soam mais discretas e o baixo se destaca. A pegada cresce novamente aos poucos. O refrão chega e o vocal sobe ligeiramente o tom. Uma canção reflexiva e cadenciada. Não chamaria de forma nenhuma de balada, mas não mantem o peso que indicara no começo. A introdução se repete e logo o primeiro solo é executado. Os timbres das guitarras são, sem dúvida, dignos de menção. Instrumentos diretamente plugados ao ampli, sem filtros, pedais, compressores e afins. Assim como o vocal, somente garganta e microfone. O mesmo pode ser dito da bateria e baixo. Sonoridades verdadeiramente grandiosas.
The Man of Sorrows: Essa sim poderia, logo pela introdução, ser taxada como "balada". Uma guitarra chorada encima da harmonia de cordas com drives bem leves. O vocal surge sob a mesma atmosfera introspectiva. Um minuto e meio que remete ao título em seu sentido mais literal. Bateria e baixo entram poderosos e a música segue outra direção, alterando sua cadência nos próximos compassos. Aos 02:15 o vocal parece não se integrar tão bem à harmonia. Um acorde agudo e contínuo de teclado surge sombrio, vozes sobrepostas criam um ambiente um tanto quanto confuso. As guitarras se juntam no riff pré solo. Solos curtos e objetivos cumprem bem seu papel. Destaque para a linha de baixo e as guitarras fantasmagóricas no encerramento da faixa. Com certeza está é uma canção enigmática, com alternações um tanto conflitantes, difícil de sintetizar.
Empire of the Clouds: Enfim, a esperada e aclamada "Império das nuvens". A maior canção já lançada pelo Iron Maiden, com 18 minutos de duração e assinada exclusivamente por Bruce Dickinson. Sua introdução, ao piano, já seria inovadora, mas o que dizer de um violoncelo? Isso mesmo! Um violoncelo em uma canção do Iron Maiden. Com certeza sua presença se justifica em termos de ambientação e harmonia, perfeito ao contexto da obra. Uma introdução com arranjos incríveis e sonoridade que compõem brilhantemente a anunciação de um clássico. Uma atmosfera que remeteria facilmente o ouvinte à uma obra medieval, ou, no mínimo, às trilhas sonoras dos grandes épicos do cinema. O vocal surge juntamente aos rufos pausados da bateria. Destaque para as primeiras frases de Bruce, não apenas cantando a canção, mas narrando uma história, interpretando verdadeiramente o texto. O conjunto apresentado até aqui é realmente brilhante. Um crescimento evidente em aspectos musicais e profissionais. Bateria e baixo ditam o ritmo cadenciado e pesado em que a canção, aos poucos, se desenvolve e cresce. O primeiro riff de guitarras dobradas não foge ao que já vinha sendo apresentado, conduzindo a banda à uma pausa, aí sim a coisa muda de direção. A próxima sequência de riff’s e a cadência dão uma sensação de liberdade e "vitória". Segue um longo trecho sem vocal eté que os primeiros solos surgem aos dez minutos. Instrumental perfeitamente harmonioso. Bruce retoma a canção em um a taque agudo e agressivo. O que dura pouco. Logo o instrumental assume as rédias da situação novamente. Durante um grande período não se tem uma participação ativa do vocal. A canção segue para seu final sem que eu conseguisse, exceto por alguns flashes, encontrar alguma referência dentro da trajetória da banda que fosse digna de nota. Essa é, sem dúvida, uma obra sem precedentes.
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