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Matanza: mestres na arte do insulto, agora ao-vivo

Por Paula Fabri
Postado em 25 de agosto de 2008

O conjunto carioca lança seu primeiro DVD, gravado ao vivo em São Paulo, contando com canções de todas as fases de sua carreira.

Formado no Rio de Janeiro, desde seu início o Matanza nunca foi encarado como a principal fonte de renda de seus integrantes: Jimmy London (vocal), Donida (guitarra), China (baixo) e Jonas (bateria). Lendo a história da banda e sabendo disso, a conclusão que se normalmente chega é que se trata de um projeto criado para a diversão de seus músicos, que resolveram unir hardcore com country "no perfeito estilo velho-oeste de ser", fazendo um som diferente que, por conseqüência, conseguiu matar a monotonia e a cada dia que passa chama mais a atenção das pessoas.

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É insultando, esbravejando e celebrando as coisas boas da vida – no caso dos quatro integrantes que formam a banda: mulher, bebida e brigas – que o conjunto comemora oito anos de estrada em sua melhor forma. Em parceria com o canal musical MTV, a banda lançou recentemente seu primeiro DVD e CD ao vivo, "MTV Apresenta Matanza Ao Vivo no Hangar 110". Coroando o que o Matanza sente como uma etapa cumprida de sua história, esse lançamento foi a maneira que o conjunto encontrou de registrar de forma completa a experiência que é um show do Matanza.

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Reunindo, em um mesmo trabalho, músicas desde seu primeiro álbum, "Santa Madre Cassino" (2001) – como "Ela Roubou Meu Caminhão" e "Rio de Whisky" – até seu mais recente disco "A Arte do Insulto" (2006) – como "Clube dos Canalhas" –, o conjunto diz não ter tido trabalho algum com a preparação do DVD, apenas mostrando o que qualquer um vê quando vai a uma apresentação da banda.

Tocando o mesmo repertório que normalmente apresenta em suas performances, com exceção de canções do CD "To Hell With Johnny Cash" (disco lançado no ano de 2005, em homenagem ao ícone do country rock Johnny Cash) por conta de acordos contratuais, o DVD passa, para quem o assiste, a mesma energia que a banda transpira no palco do Hangar 110 lotado.

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Foi para saber como as coisas andam com o Matanza que a Comando Rock conversou com Donida (que não é apenas o guitarrista da banda, mas também o responsável por todas as composições do conjunto, além de ser o autor do material extra referente ao conjunto, como a história em quadrinhos Matanza Comix na qual o próprio fez a maioria das ilustrações). Na entrevista a seguir você confere o que o músico falou sobre o DVD e CD gravado ao vivo, a notícia de que o vocalista Jimmy teve de se submeter a uma cirurgia para remoção de um câncer de pele, os trabalhos paralelos ao Matanza e muito mais.

Comando Rock: Como surgiu a idéia de gravar este CD e DVD ao vivo?

Donida: A idéia surgiu como um resultado da turnê muito grande que fizemos com "A Arte do Insulto", com a qual passamos por cidades do Brasil inteiro. A banda se tornou muito grande, as coisas mudaram muito e queríamos poder captar esse momento bacana que estamos passando, por isso gravamos o último show do ano. Pegamos o material que gravamos até então e "resolvemos" a situação.

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Como foi a preparação desse projeto?

Donida: Não teve trabalho nenhum em cima dessa situação. Na verdade, a única mudança foi que não colocamos no repertório do DVD as músicas do Johnny (Cash) que normalmente tocamos nos shows, mas isso traria uma porção de problemas contratuais, então preferimos deixar isso de fora para não atrasar o trabalho. O que se vê no DVD é o que se vê ao vivo: Matanza sem frescura, sem convidados especiais, simplesmente tocando.

O show foi gravado no Hangar 110. Queria saber por que escolheram filmar lá?

Donida: Escolhemos lá porque foi onde tudo começou e quem acompanha os shows pode ver bem a evolução da banda. Gostamos muito da estrutura, do espaço, tudo se encaixa na medida certa com o show do Matanza. Além disso, o Marcão, dono o Hangar, é um amigo querido e ter gravado lá fez com que tornasse tudo mais verdadeiro. E acho que o Hangar merecia aparecer. Afinal de contas, ele faz parte da nossa historia. Toda a vez que tocamos lá os shows sempre foram bons, o público...

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E como foi a experiência de gravar um DVD?

Donida: Na verdade foi um show normal. A diferença foi que, para a gravação, usamos muita luz e o palco lá é pequeno. Então ficou o dobro de quente (risos). Não pudemos ligar os ventiladores porque o barulho deles atrapalhava a captação do som. Estávamos tão loucos no dia do show que esquecemos que era uma gravação e que havia a possibilidade de parar e beber uma água. Só lembramos disso no final de tudo, quando tivemos de parar para afinar a guitarra. Foi só nesse momento que lembramos que podíamos parar para tomar um ar, beber água...

Faz dois anos que o grupo lançou seu último trabalho com músicas inéditas. Nesse meio tempo vocês compuseram novas canções? Alguma previsão para o lançamento de material inédito?

Donida: Nosso processo de composição normalmente é muito lento, é como se cada música saísse a fórceps. Não somos uma banda que compõe muito, preferimos fazer só o que nos interessa. Sem querer atacar outros conjuntos, mas não nos interessa sair gravando disco após disco. Queremos fazer trabalhos relevantes, que os álbuns sejam bons. Por enquanto estamos relaxados quanto ao novo material, focando apenas na divulgação do novo trabalho e provavelmente só iremos começar a pensar em gravar coisas novas no ano que vem.

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Então como funciona o processo de composição das letras músicas do Matanza?

Donida: Bom, eu componho tudo. Simplesmente sento em casa e escrevo tudo sozinho pensando no China, no Bruno. É como se fosse um trabalho encomendado. Faço apenas músicas para o Matanza, com exceção de algumas canções para o Enterro, mas normalmente é um processo longo. Trabalho de forma devagar, mexo em cada uma das canções diariamente, mas muito pouco. Acrescento uma palavra, um verso, risco alguma coisa. Tento agilizar isso para quando estamos com data marcada para gravar, mas quando chego ao estúdio vemos como o material que eu tenho se transforma. Se as coisas funcionarem organicamente vamos explorando até chegar no brutal.

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Entre alguns acontecimentos recentes que envolveram o conjunto houve o cancelamento de alguns shows por conta de uma questão de saúde do Jimmy, que teve de se submeter a uma cirurgia para a retirada de um câncer no braço. O que exatamente aconteceu?

Donida: Na verdade foi uma loucura. A única coisa que realmente sei é que o médico deu um susto nele. Tanto que ele saiu da consulta com a cirurgia marcada. Mas, no final, fez a operação e agora está tudo bem.

Outra novidade anunciada é que toda vez que o Matanza tiver shows nos quais você, por razões profissionais, não consiga comparecer será substituído por Alex Kaffer, com quem você toca em outra banda, o Enterro. Por que dessa decisão?

Donida: As coisas andam bem corridas e tem sido um pouco complicado manter a banda e o trabalho, por isso ele vai se apresentar no meu lugar. Ele é um amigo muito grande e o jeito dele tocar guitarra é bem parecido com o meu. Nós dois gostamos muito de thrash e sei que, para os shows serem iguais, só ele poderia tomar meu lugar. Sem não fosse dessa forma, as coisas deixariam de funcionar e não teria porque continuar com tudo.

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Li que a idéia por de trás do Matanza foi sempre ter outra fonte de renda que não fosse a banda. Mas, com o aumento da popularidade da banda, os shows e tudo mais, em algum momento passou pela cabeça de vocês repensarem isso e levar o Matanza a sério a ponto de ser a única atividade do grupo?

Donida: Pensar até pensamos, mas é uma coisa compulsória. Eu, por exemplo, sou desenhista e trabalho com publicidade, filmes. É algo no qual venho me empenhando há muito tempo e não é uma coisa que eu queira ou consiga deixar de fazer. Então a solução foi chamar o Alex para tocar no meu lugar, porque não quero abandonar nenhum dos dois. O lance é saber conciliar tudo.

Você e o China têm um projeto paralelo ao Matanza, uma banda de black metal chamada Enterro, que recentemente tocou em São Paulo abrindo o show do Behemoth. Queria que falasse um pouco sobre esse projeto e como foi essa experiência?

Donida: É a maior bagunça. Meu problema em si é que sou o único integrante da banda que mora em São Paulo, então eles ensaiam e eu tento me manter atualizado. Mas é um projeto basicamente de estúdio, sem muitos shows, então quando vou ao Rio acabo me inteirando de tudo. Abrir para o Behemoth foi a glória. Ela é uma das bandas que mais amamos no mundo e tocar com eles foi como voltar 15 anos no tempo. Ser a banda de abertura para eles foi muito bom.

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E como tem sido a resposta das pessoas quanto a esse projeto?

Donida: Tem os fãs de Matanza que, assim como nós, também curtem black metal e por conseqüência têm gostado do que fazemos no Enterro. E, por outro lado, tem as pessoas que são basicamente fãs de black metal, que chegaram a banda sem saber da existência do Matanza. Então não há conflito entre os dois tipos de público.

A proposta do Matanza é diferente de tudo que se tem visto ultimamente, sendo de certa forma bastante temática. Há como continuar nessa linha por muito tempo?

Donida: Sempre digo que devemos mudar sempre, mas essas mudanças são nada mais do que o desdobramento do que já fazemos. Isso acontece desde o primeiro disco, onde tínhamos de usar na letra palavras como deserto e saloon para situar as pessoas. No último disco de inéditas que lançamos dá para perceber que continuamos falando sobre as mesmas coisas, mas de uma forma mais subjetiva. A escrotisse continua a mesma, mas sem repetir as soluções. Não temos muito que fazer, somos uma banda de rock que responde às coisas do mundo com cinismo, sem se levar a sério demais. Também porque, se quisesse fazer algo sério, viraria escritor e lançaria um livro. Mas não é isso que queremos, então adaptamos nossa linguagem da melhor forma que conseguimos, isto é, usando o deboche, a ironia.

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Já faz um certo tempo que o Jimmy, "o porta-voz" da banda, não consome bebidas alcoólicas. E isso tem gerado certas críticas do público, dizendo que o Matanza não é mais o mesmo. O que acham da postura das pessoas que misturam o que está nas letras com a vida pessoal dos integrantes?

Donida: Esse é um erro cabeludo que as pessoas cometem, confundindo a vida pessoal com o que se faz no palco. Para mim as duas coisas não tem nada a ver. Certos estavam os caras do Kiss que nem o rosto mostravam. As pessoas têm de se focar no espetáculo, no rock, nas duas horas de entretenimento que estamos oferecendo. Assim como as pessoas não ligam de verdade para a opinião do diretor de um filme ou para a cara de um pintor e querem só saber de sua obra, queria que esse comportamento também se aplicasse à música. Que diferença faz ele beber ou não?

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Esse tipo de mentalidade incomoda o conjunto de alguma maneira?

Donida: Olha, vou te dizer, a única coisa que nós incomoda é a falta de dinheiro para pagar nossas contas. Tirando isso... (risos).

Há um tempo foi lançado o Matanza Comix, revista em quadrinhos com histórias que seguem o clima "Matanza" de ser. Ela foi feita por você e contou com a colaboração de outros ilustradores como Arnaldo Branco (Capitão Presença), Daniel "Etê" (Muzzarelas), Flock, Edhmüller, Caio Vitoriano, Juca, Sieber, Lyra (Menina Infinito) e Caetano. Além de ter alguns textos assinados pelo China. De onde surgiu a idéia de lançar algo do tipo?

Donida: Essa era uma idéia antiga, um sonho de criança que começou a se tornar realidade quando consegui achar parceiros que estavam interessados a nos apoiar nesse lançamento. Ele foi lançado sem muitas pretensões e fiquei bem feliz com o bom resultado que deu. Não foi algo feito por dinheiro e, de fato, é um item para colecionador.

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Tem em mente lançar um novo número do Matanza Comix?

Donida: Sim, mas é um trabalho demorado, ainda mais com a agenda que temos tido, mas quando estiver pronto, por que não lançar?

Quais os planos para o futuro?

Donida: Por enquanto vamos continuar focados na divulgação desse trabalho, aproveitando a agenda cheia até o final do ano, tocando pelo País inteiro. De resto estamos sem planos.

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