Garagens dos Anos 60
Por Bento Araújo
Postado em 17 de março de 2003
Nada tem mais a ver com o Rock, do que a picaretagem. Adolescentes frustrados e revoltados, guitarras baratas e energia primitiva aliada à sagrada dose de picaretagem - somam o que o Rock tem de melhor. As bandas de garagem dos anos 60 ainda exercem inspiração em tudo o que aparece por aí, basta dar uma ouvida nos Strokes e Hives da vida, para sacar a influência. Isso sem falar na onda Punk na segunda metade dos anos 70, na New Wave dos anos 80 e no grunge dos anos 90.
Desde os primórdios do rock, mais precisamente a década de 50, sacanagem é o que não faltava. Chuck Berry ia preso por roubar carros e andava com garotas menores de idade (assim como Jerry Lee Lewis), ao mesmo tempo em que criava o "fraseado" de guitarra de deu o pontapé em tudo. Eddie Cochram "traçava" desde a secretária do estúdio, até a esposa do presidente da gravadora, e isso já era algo corriqueiro na vida dos primeiros astros do Rock. Não que seja legal abusar de menores e roubar carros, mas o que vale a pena ressaltar é como essa vida desregrada sempre influenciou na música criada por tais artistas.
Com a chegada dos anos 60, e da British Invasion, que consistia na invasão do território americano por bandas inglesas, como os Beatles, os Stones, os Animals, os Kinks o Who e muitos outros. Com a invasão, os jovens americanos sofreram um gigantesco baque. Os ingleses eram jovens, cabeludos, e tocavam guitarras como ninguém naquele país tinha tocado até então (Hendrix só estourou nos EUA em 1967). O ano era o de 1964, e uma nação de jovens passaram a comprar instrumentos, deixar o cabelo crescer e chamaram os amigos da escola e da rua para fazer barulho na garagem do garoto, que de preferência, tivesse o pai mais gente fina. A América era extremamente conservadora nessa época, e não era nada favorável a essa famigerada legião de freaks cabeludos com suas roupas coloridas e guitarras distorcidas. Era uma barra montar uma banda de rock até então.
Em termos de sonoridade, o que essa garotada começou a fazer, era um som extremamente crú e deliciosamente amador, baseado nas influências R&B e Beat (das bandas inglesas), e depois nas próprias raízes americanas como o Blues, o Rockabilly e a Surf Music. Apesar das influências, as bandas de garagem se inspiravam mais na atitude e na postura do que em qualquer estilo específico; roubavam na cara dura os trejeitos e manias de seus ídolos.
Os instrumentos eram os mais toscos possíveis; sem dinheiro e sem incentivo dos pais, muitos jovens passaram a "montar" seu próprio instrumento, com peças de sucata e tudo mais. A molecada experimentava e pesquisava bastante novos sons e efeitos. Os órgãos portáteis "Vox" e "Farfisa", os pedais de efeito "Fuzz", e o baixo criando uma verdadeira muralha sonora, resultando da definitiva aceitação do baixo elétrico no Rock, são características exclusivas dessas bandas. Cada ensaio e cada nova versão de um hit britânico, era uma descoberta diferente (esse anseio pela sonoridade e pesquisa de novos sons veio a ser crucial na onda psicodélica que viria a surgir poucos anos depois, na costa oeste Americana).
Nessa altura, as bandas de garagem já pipocavam por toda a América. A Califórnia e o Texas eram os estados que mais tinham bandas por metro quadrado; seguidos de perto por Detroit, Chicago, e Minneapolis. Muitas dessas bandas nem chegaram a gravar um compacto sequer, outras emplacaram um só hit e desapareceram; demonstrando um fenômeno bastante comum até os dias de hoje.
Antes do "mapeamento garageiro", é bom lembrar que até idos de 1972, o estilo ainda era marginalizado e desprezado pela crítica especializada e pelo grande público. Tudo mudou quando o jornalista e guitarrista Lenny Kaye (que se tornaria o guitarrista da Patti Smith anos depois), compilou em dois LP’S, os maiores clássicos das bandas de garagem dos anos 60. A bolacha foi batizada de "Nuggets" e se tornou objeto de desejo para colecionadores do mundo inteiro. A partir daí o estilo passou a ser respeitado e conhecido internacionalmente.
Norte – Oeste
Era a região de muitos músicos veteranos, que estavam mais dispostos a combater a British Invasion, do que assimilar o movimento como influência. The Sonics, The Wailers, Paul Revere and the Raiders, The Kingsmen e Don and the Goodtimes eram o que a região tinha de melhor.
O The Wailers (os primeiros a usarem o nome, antes dos jamaicanos da trupe de Bob Marley), tiveram seu primeiro sucesso ainda em 1959(!), com a música "Tall Cool One".
Os Sonics eram liderados pelo selvagem e mal humorado, Gerry Roslie, que certamente inspirou Lux Interior dos Cramps. A banda criou verdadeiros hinos da garageira como "Psycho", "The Witch" e "Boss Hoss".
Os Kingsmen foram responsáveis pelo maior hit do movimento, "Louie Louie". Uma verdadeira obra prima da tosquice, a música chegou a ser investigada pelo FBI, que julgou a letra como "inadequada aos padrões morais Americanos". O resultado foi que a faixa foi banida de várias rádios do país, o que foi um genial motivo para a molecada cair matando em cima, e transformar a canção num verdadeiro hit.
O que a região tinha de melhor, foi talvez Paul Revere and the Raiders, que trazia além de Paul, Mark Lindsay. Os principais momentos foram "Kicks", "Steppin’ Out" e "Hungry".
Uma das carreiras mais curiosas do rock é a do grupo The Monks (não confundir com os Monkees). O The Monks era muito mais animal e divertido. Os caras apesar de serem norte-americanos, formaram a banda enquanto prestavam o serviço militar numa base americana situada na Alemanha. O som da bateria parecia mais uma marcha militar misturada com "Polka", muito "feedback" de guitarra, e ainda um banjo elétrico! Ainda completando essa bizarrice toda, se apresentavam vestidos de monges e tinham um corte de cabelo engraçadíssimo. Genial! Infelizmente o grupo acabou prematuramente em 1967, e os EUA sempre ignorou a música dos Monks.
Outra sensação do mundo garageiro, o The Barbarians, tinham um baterista que só tinha uma mão, inclusive ele usava um "gancho" ao invés da mão, assim como o capitão gancho. Musicalmente, o que chama mais a atenção foi a banda ter gravado uma música chamada "Linguica" (sic) que nada mais era uma versão instrumental para "Mamãe eu Quero"(!). Inacreditável.
São Francisco
A banda mais bem sucedida comercialmente da região foram os Beau Brummels, que tinham um certo apelo pop, acrescido de influência folk e do beat de Liverpool (Merseybeat). Destaque para os vocais de Sal Valentino e para as músicas "Don’t Talk to Strangers", "Laugh Laugh" e "Just A Little".
San Jose foi berço do Chocolate Watch Band, banda que abusava em longas jams psicodélicas; e fazia hora folk-rock com competência como em "Baby Blue", hora sonzeiras a lá Stones como em "Let’s Talk About Girls". Outras bandas de San Jose também tiveram seus 15 minutos de fama (local), como The E-Types, The Mourning Reign e The Brogues. Já o Count Five chegou a ter êxito nacional com "Psychotic Reaction", e o The Syndicate of Sound com sua "Hey Little Girl" que foi regravada pelos Dead Boys nos anos 70.
De Sacramento vinha o Oxford Circle, que tinha como batera Paul Whale, que mais tarde viria a "judiar" das peles no Blue Cheer (um dos seminais trios que foram base para o Heavy Metal).
O The Golliwogs, que depois foram batizados como Creedence Clearwater Revival, também vinham dessa região, e só recentemente saiu material da banda em formato digital; com a inclusão de um CD inteiro dedicado aos Golliwogs no Box Set do Creedence.
Los Angeles
Talvez a cena mais forte do som garagem dos anos 60. Foi palco para a explosão de bandas como The Seeds, The Standells e The Music Machine.
O The Seeds serviram de influência para os Doors, que "chuparam" o formato de banda de rock com órgão Vox, guitarra, bateria e vocal. Tinham como líder Sky Saxon, um verdadeiro "xarope" que passou a ser cultuado por toda a Califórnia. A sonoridade do grupo vinha recheada de arranjos primitivos, e criaram clássicos como "I Can’t Seem To Make You Mine", que foi regravada pelos Ramones em seu disco Acid Eaters.
No The Music Machine, o que impressionava era o visual; todos estavam sempre vestidos com roupas pretas, e tinham um corte de cabelo no melhor estilo "tijela". Seu maior sucesso foi a música "Talk Talk".
Já o The Standells, chegaram a abrir shows dos Stones e lançaram uma das músicas mais ouvidas no verão de 66, "Dirty Water", que na verdade foi composta pelo produtor da banda, Ed Cobb. Foi Ed inclusive, que ofereceu e ensinou os garotos a utilizarem um pedal FUZZ na guitarra, criando aquele maravilhoso timbre de "abelha se barbeando".
Os Electric Prunes vinham de Seattle, mais estavam morando em LA na época. O maior mérito do grupo foi ter participado da trilha sonora do filme "Easy Rider" junto com Steppenwolf e Jimi Hendrix.
Texas
Com uma cena mais demente e agressiva do que a de LA, os texanos se chapavam de ácido e se divertiam criando música tosca e psicodélica.
O The 13th Floor Elevators, liderados por Roky Erickson, eram insanos e arruaceiros. Se tornaram um "orgulho texano".
Outra banda local, os Moving Sidewalks faziam uma música ao mesmo tempo psicodélica e progressiva, cortesia de seu então guitarrista; ninguém menos do que Billy Gibons - que mais tarde viria a liderar o mais conhecido trio texano - o ZZ Top. O curioso é que o Moving Sidewalks chegou a abrir algumas apresentações do Jimi Hendrix pelo Texas, e o próprio Hendrix elogiou muito o guitarrista, e lhe deu de presente uma Fender Stratocaster cor de rosa, que até hoje é guardada a sete chaves pelo guitarrista.
Também do Texas é o divertido Sam The Sham and The Pharaohs, que emplacaram nada menos do que uma maravilha do som garagem, "Wooly Bully".
Não menos importantes para a cena, foram as bandas The Sir Douglas Quintet e o Five Americans. A primeira tinha como destaque o genial tecladista Augie Myer, e misturavam country e R&B com som garagem. Já os Five Americans eram especialistas em melodias "grudentas".
Chicago
Nada como uma banda local, para fazer geniais releituras para o tão famoso blues elétrico de Chicago. A que melhor desempenhou esse papel foi o The Shadows of Knight. O grupo também estava antenado com o que estava rolando do outro lado do Atlântico, e regravou "Gloria" dos irlandeses do Them de Van Morrison.
O The New Colony Six, também foi outra banda seminal de Chicago. Ao contrário dos Shadows of Knight, a especialidade deles era o pop psicodélico e o proto-punk. O grupo influenciou bandas do fim dos anos 70, como o The Knack e The Romantics.
Luis Alberto Braga Rodrigues | Rogerio Antonio dos Anjos | Everton Gracindo | Thiago Feltes Marques | Efrem Maranhao Filho | Geraldo Fonseca | Gustavo Anunciação Lenza | Richard Malheiros | Vinicius Maciel | Adriano Lourenço Barbosa | Airton Lopes | Alexandre Faria Abelleira | Alexandre Sampaio | André Frederico | Ary César Coelho Luz Silva | Assuires Vieira da Silva Junior | Bergrock Ferreira | Bruno Franca Passamani | Caio Livio de Lacerda Augusto | Carlos Alexandre da Silva Neto | Carlos Gomes Cabral | Cesar Tadeu Lopes | Cláudia Falci | Danilo Melo | Dymm Productions and Management | Eudes Limeira | Fabiano Forte Martins Cordeiro | Fabio Henrique Lopes Collet e Silva | Filipe Matzembacher | Flávio dos Santos Cardoso | Frederico Holanda | Gabriel Fenili | George Morcerf | Henrique Haag Ribacki | Jorge Alexandre Nogueira Santos | Jose Patrick de Souza | João Alexandre Dantas | João Orlando Arantes Santana | Leonardo Felipe Amorim | Marcello da Silva Azevedo | Marcelo Franklin da Silva | Marcio Augusto Von Kriiger Santos | Marcos Donizeti Dos Santos | Marcus Vieira | Mauricio Nuno Santos | Maurício Gioachini | Odair de Abreu Lima | Pedro Fortunato | Rafael Wambier Dos Santos | Regina Laura Pinheiro | Ricardo Cunha | Sergio Luis Anaga | Silvia Gomes de Lima | Thiago Cardim | Tiago Andrade | Victor Adriel | Victor Jose Camara | Vinicius Valter de Lemos | Walter Armellei Junior | Williams Ricardo Almeida de Oliveira | Yria Freitas Tandel |
Detroit
Essa cidade se tornou um capítulo à parte na história do rock, tamanha o número de bandas e influência a nível mundial. O som de Detroit é único e inconfundível.
Terra das indústrias automobilísticas e da Motown, Detroit tinha fatores extremamente favoráveis ao surgimento de novas bandas. Bons estúdios e incontáveis clubes e casas noturnas ideais para pequenas apresentações. Na época, em Detroit, ninguém era maior do que Mitch Ryder and the Detroit Wheels; "Good Gooly Miss Molly" e "Jenny Take A Ride" eram tocadas a exaustão por todo o país.
O The Iguanas faziam versões de clássicos da Surf Music, e dos Beatles. O mais curioso é que o batera dos Iguanas era um tal de Jim Osterberg, que mais tarde se transformaria em Iggy Stooge (depois Pop) e formaria um dos maiores holocaustos sonoros do rock, o The Stooges.
Também de Detroit e redondezas, surgiram os grupos: The Bob Seger System, Ted Nugent Amboy Duke’s, Terry and the Pack (que se tornaria o Grand Funk Railroad), o Frost (com Dick Wagner nas guitarras, que depois se tornaria session man de Alice Cooper e Lou Reed entre outros), e uma das bandas que mais influenciaram o Punk Rock: o MC5.
Curiosamente, um dos maiores hits locais era "96 Tears" da banda " Question Mark And the Mysterians", que era um grupo formado em sua maioria por mexicanos que moravam no Texas, mas sabiamente se mudaram para Detroit nessa época.
Minneapolis
A banda que colocou Minneapolis no mapa das bandas de garagem foi o Trashmen, com seu demente hit "Surfin’ Bird". Ninguém da cidade conseguiu tamanho reconhecimento na época. Os que tentavam seguir na linha dos Trashmen eram os The Gestures e os The Castaways.
Outra grande banda da cena local, The Litter, tinham uma sonoridade deliciosamente agressiva. O vocalista Denny Waite parecia que "rosnava", enquanto a guitarra gemia numa alucinante combinação de fuzz e feedback’s. O ponto alto da banda foi o compacto "Action Woman".
Ohio
Basta dizer que o The McCoys eram de Ohio, e tinham como líder o jovem Rick Derringer. O maior hit foi mesmo "Hang On Sloopy", seguido de "Fever". Outras bandas da região eram o The Outsiders e o The Music Explosion.
Nova Iorque
Canções mais elaboradas, carregadas de Fuzzy-guitar, alguns efeitos sonoros e jams alucinantes, essa era a tônica do Blues Magoos. No repertório da banda se destaca "Pipe Dream" e "We Ain’t Got Nothing Yet".
Em termos de influência para o punk e afins, vale lembrar que o Velvet Underground veio de Nova Iorque; e que tanto Lou Reed, como John Cale tocavam em bandas de garagem antes do Velvet. Alguma dessas bandas eram os The Primitives, The Roughnecks e o Beechnut.
Poeira
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps



A maior canção já escrita de todos os tempos, segundo o lendário Bob Dylan
O grupo psicodélico que cativou Plant; "Uma das minhas bandas favoritas de todos os tempos"
Guns N' Roses fará 9 shows no Brasil em 2026; confira datas e locais
Bangers Open Air acerta a mão mais uma vez e apresenta line-up repleto de opções
Bandas de heavy metal da nova geração não empolgam Kerry King
Com mais de 160 shows, Welcome to Rockville anuncia cast para 2026
As cinco melhores bandas brasileiras da história, segundo Regis Tadeu
Guns N' Roses anuncia lançamento dos singles "Nothin" e "Atlas" para 2 de dezembro
James Hetfield não ficou feliz com o visual adotado pelo Metallica nos anos 90
4 candidatas a assumir os vocais do Arch Enemy após a saída de Alissa White-Gluz
O que pode ter motivado a saída abrupta de Fabio Lione do Angra?
Poucas horas após deixar o Arch Enemy, Alissa White-Gluz lança primeira música de álbum solo
FM confirma show no Brasil em março de 2026
5 motivos que podem ter levado o Angra a escolher Alírio Netto como novo vocalista
Jeff Scott Soto se manifesta sobre saída de Fabio Lione do Angra
Grand Funk Railroad: A Maior Potência do Hard Norte-Americano
Black Sabbath: a passagem de Ian Gillan pela banda
A lista de clássicos do Rock que foram regravados em versões pesadas pelo Iron Maiden
Resenha - Jethro Tull (Credicard Hall, São Paulo, 20/03/2004)
Lynyrd Skynyrd x Neil Young: Amigos ou inimigos?
Tommy Bolin: Os excessos estavam acabando com aquele cara
Jerry Lee Lewis: o dia em que ele quase matou John Lennon
The Who: Quinze minutos de fama no lugar de Keith Moon
Poeira: Rockstars e as bandas que eles sonhavam fazer parte
Bon Scott, o eterno Rocker...
Blind Faith: uma das capas mais polêmicas da história
Black Sabbath: a "era Mob Rules"