ZZ Top: os sagrados primeiros álbuns alterados em estúdio
Por Bento Araújo
Postado em 07 de outubro de 2004
Para um simples amante do Rock dos anos 70, pode ser maravilhoso ouvir seus discos favoritos com toda a praticidade e pureza que a edição digital dos mesmos oferece. Mas isso não acontece no caso do ZZ TOP! O que muita gente não sabe, é que essas "novas versões digitais" foram alteradas em estúdio.
Tudo na verdade começou na segunda metade dos anos 80, quando a Warner se mostrou interessada em lançar todo o catálogo dos texanos do ZZ TOP em formato digital. A idéia era extremamente atraente aos fãs do conjunto; toda a primeira e melhor fase do trio seria acondicionada numa luxuosa edição batizada de "Six Pack". Eram três cd's que abrigavam os seis primeiros discos da banda (omitindo somente o também essencial disco "Deguello" de 1979, pois esse era o único que já havia merecido uma versão digital).
Como parte do projeto, toda a banda mais o produtor Bill Ham, entraram em estúdio para realizar todo o trabalho de masterização de tais discos. Tudo ia muito bem até que eles começaram a ouvir as antigas masters originais com a parte da bateria. Segundo o grupo, e principalmente o baterista Frank Beard, aquelas masters estavam completamente deterioradas.
Ao invés de "sugar" essas faixas de bateria a partir de um vinil original em ótimo estado de conservação (como muitas bandas que passaram por uma situação parecida fizeram), o baterista optou por refazer em estúdio toda parte da bateria.
A "excelente" opção de Beard, simplesmente aniquilou o som rústico e crú que o trio impunha nessa primeira fase de sua carreira. No disco de estréia, "First Álbum" de 1971, a diferença chega a ser gritante, como é que um álbum de 1971 pode soar com aquele som de bateria?
A diferença em relação ao vinil também aparece no terceiro e melhor disco da banda, "Tres Hombres" de 1973. Repare logo na faixa de abertura "Waiting for the Bus"; é absurda a diferença do som. Na música "Master of Sparks" a bateria soa falsa e moderna demais para o pique da música, e na balada "Hot Blue and Righteous" o som da caixa, atinge um efeito "reverb digitalizado" jamais sonhado por qualquer estúdio lá pelos idos de 1973.
No mezzo ao vivo / mezzo estúdio "Fandango!" (1975), a banda teve pelo menos uma fagulha de bom senso ao preservar o som da batera na parte ao vivo, já na parte de estúdio a palhaçada continua, basta conferir a faixa "Heard It On The X". Billy Gibons e Dusty Hill também entraram na onda e refizeram vários trechos desses álbuns, o que conspira totalmente a favor de uma "famosa" picaretagem em conjunto.
A Warner insistiu no erro ao lançar todos os álbuns antes inseridos no "Six Pack" de forma individual, pois tanto a gravadora, como a banda tiveram uma nova oportunidade de consertar o estrago, mas preferiram manter as regravações postiças.
Numa total falta de respeito com a própria obra, e principalmente com os fãs, a banda talvez quisesse soar definitivamente, como a fase muito mais lucrativa e menos inspirada, que foi a dos discos "Eliminator" e "Afterburner" em meados dos anos 80.
Vale a pena correr atrás das edições originais em vinil, apesar de raras e difíceis de serem encontradas (os três primeiros só existem em versões importadas). Somente com elas é que se poderá conferir toda a força e qualidade original desse poderoso trio texano.
(Nota do editor: as novas versões em CD, chamadas "Remastered and Expanded", estão trazendo a mixagem original, mas nem todos os títulos foram relançados até o momento).
Poeira
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