Black Sabbath: a "era Mob Rules"
Por Bento Araújo
Fonte: poeira Zine
Postado em 14 de agosto de 2010
Chamado por muitos como "o primo pobre" de Heaven And Hell, o segundo álbum de Ronnie James Dio com o BLACK SABBATH envelheceu de forma grandiosa e hoje também é considerado um clássico supremo do heavy metal.
Depois de alguns meses de férias após a extensiva e extenuante turnê do álbum "Heaven And Hell", o BLACK SABBATH se reuniu em Los Angeles, em abril de 1981, para começar a compor e gravar aquele que seria o segundo registro da era-Dio. Mudanças foram propostas de imediato pela própria banda: Geezer, que era o letrista principal do conjunto nos anos 70, voltaria a escrever, agora ao lado de Dio, que cuidou sozinho das letras do disco anterior, devido a ausência temporária do baixista. Na parte sonora, a banda queria fugir um pouco da sonoridade mais limpa e cristalina de HAH e voltar à agressividade e distorção dos antigos discos com Ozzy no vocal. Para isso convocaram novamente o experiente Martin Birch.
Black Sabbath - Mais Novidades
Com tudo parecendo estar nos trilhos novamente, um misterioso baixo astral começou a rondar a banda com força total, como relembrou RJD 20 anos depois: "Foi nessa época que adentramos nosso período ‘Sabbath odeia todo mundo’. HAH foi muito fácil de ser criado, pois envolveu apenas eu e Tony; quando Geezer voltou e insistiu para participar desse processo, tudo ficou mais difícil. Eu não sei a razão, mas Geezer tinha atitudes extremamente negativas perante a banda e a sua própria vida. Bastava tudo estar indo bem para ele desconfiar que existia alguma conspiração contra ele ou contra o grupo. Ele achava que todo mundo queria sabotar a banda de alguma forma. Se não existia algum problema com o Sabbath, Geezer logo criaria um bem rápido e daqueles bem problemáticos. A trajetória do conjunto comprova exatamente isso, foram problemas atrás de problemas. Isso colaborou, e muito, para as coisas ficarem difíceis pra gente; se alguém não está feliz dentro do grupo a música sofre com isso. Essa negatividade estava presente o tempo todo. Mesmo assim escrevemos juntos. Geezer é um excelente letrista, apesar de às vezes você ter que concordar com ele, evitando assim uma discussão que levaria a coisa muito adiante. Ele tinha muitos problemas familiares na época e odiava estar nos EUA, mas isso não pode afetar o processo criativo de um disco e foi exatamente o que aconteceu. Isso tudo estava muito distante do alto astral meu e de Tony quando fizemos o HAH."
"Mob Rules", o novo disco, sofria então com esse caótico processo de composição. Mesmo assim Geezer aprovava o novo material: "Estou mais satisfeito com esse disco do que com o anterior. HAH continha algumas músicas que me cansaram com o passar do tempo. Agora Vinny se encaixou muito bem no grupo e ele era um apreciador de nossa música desde o início da banda. Mesmo assim, Bill ainda é o meu favorito. Ronnie por sua vez escreve tudo muito rápido, ele pode inclusive escrever uma letra enquanto canta a melodia. O ponto baixo é que Ronnie pensa que HAH foi um sucesso unicamente pelo fato de contar com a sua própria presença, não dando crédito para mais ninguém pelo que foi feito naquele álbum. Ele tinha esse tipo de atitude: ‘Eu ressuscitei essa banda e sem mim eles não seriam nada’. Era muito difícil lidar com essa postura dele."
O processo de composição nessa época, por mais produtivo que fosse, trazia algumas fissuras que logo derrubariam por completo a confiança e a amizade entre os integrantes. Em HAH, os créditos de todas as composições (músicas) ficaram divididos entre os quatro integrantes, tudo "em nome da música", o que deixou Dio furioso, pois ele sempre clamou por ter criado tudo sozinho ao lado de Iommi.
Em "Mob Rules", todas as músicas foram creditadas a "Butler, Dio e Iommi", com todas as letras do disco sendo creditadas à apenas Dio, assim como no álbum anterior. Essa tensão perante os créditos pairava no ar e Ronnie sempre deixou muito claro que essa não foi uma época feliz de sua carreira. A alegria e camaradagem havia durado pouco, somente na época de HAH. Em "Mob Rules" a coisa já havia desandado e o vocalista considerava também a fase de "Live Evil" como a mais triste e depressiva de toda a sua carreira.
Nessa época a banda havia renovado seu contrato com a Warner, que teria avisado que HAH seria o último lançamento pelo selo. Devido ao grande sucesso de vendas a gravadora não só renovou o contrato para mais alguns álbuns, como assinou também, na surdina, um contrato com Ronnie James Dio para um disco solo. Enquanto "Mob Rules" estava sendo gravado, o Sabbath foi convidado para se apresentar no lendário festival Heavy Metal Holocaust, que aconteceu em Stoke On Trent, na Inglaterra, e contou com Frank Marino, Triumph, Motörhead e Ozzy Osbourne. Evitando um contato direto com seu ex-vocalista, o grupo cancelou sua aparição e se concentrou totalmente na gravação do novo álbum.
"Mob Rules" foi finalmente lançado no dia 4 de novembro de 1981, e chegou a 12ª posição da parada britânica, por onde permaneceu por 14 semanas. Dois singles foram extraídos da bolacha: "Turn Up The Night" e "The Mob Rules".
Com exceção de "Over And Over", a banda executou todas as faixas do novo álbum durante a tour que se seguiu, que teve início no Quebec City Coliseum (Le Colisee), em Quebec, Canadá, no dia 15 de novembro de 1981. A abertura ficou por conta de Alvin Lee e sua banda, que nessa época contava com uma forcinha especial do guitarrista Mick Taylor. Para o Sabbath era uma honra ter um ex-integrante do Ten Years After e um Stone no palco naquela primeira "perna" da turnê. Três dias depois, no gigantesco Maple Leaf Gardens, ainda no Canadá, mais um tumulto entre o público. Parecia que o Black Sabbath atraía esse tipo de confusão...
O show na capital escocesa de Edimburgo foi cancelado em função da forte neve que castigava a cidade. Em Cardiff, no País de Gales, o teto do teatro onde o grupo se apresentaria, o Sophia Gardens Pavilion, desabou devido a uma tempestade de neve. Mais cancelamentos no caminho... E também confusões de mais diversas procedências durante a excursão: Vinny Appice foi ferido pelo gelo seco do palco e Tony Iommi passou maus bocados depois de ingerir comida estragada. O show em Winnipeg, Ontario, Canadá, precisou ser cancelado por um motivo pra lá de bizarro: a arena tinha sido alugada para um circo, que estava montado quando a banda chegou para se apresentar. O jeito foi arrumar outras preocupações e tentar ignorar a onda de azar: durante a parte norte-americana da tour a banda grava algumas apresentações para um futuro álbum duplo ao vivo. Era preciso combater "Live At Last", lançado à revelia de Iommi e Geezer.
"Mob Rules" pode não ser tão conceituado como "Heaven And Hell", mas sem dúvida é mais épico, pesado e até mesmo mais "progressivo" que seu antecessor. Se "Heaven And Hell" era o cérebro, "Mob Rules" era o coração pulsante da era-Dio do Sabbath. Seja qual for o seu preferido, o que é unânime é que ambos são capítulos emocionantes e irretocáveis da história do heavy metal.
"Mob Rules" - O Disco
O segundo disco de Dio com o Sabbath tem um som diferente: mais gordo, encorpado e caloroso se comparado a "Heaven And Hell": "O equipamento utilizado foi o mesmo, não alteramos nada. Tivemos um troca de baterista, é claro, mas creio que foi mais uma progressão natural do nosso produtor Martin Birch. Ele estava testando coisas diferentes e isso refletiu no disco," confessou Ronnie James Dio.
Os graves definitivamente estavam mais pesados e marcantes. Os bumbos de Vinny Appice apareciam com destaque, assim como o baixo de Geezer e os riffs infernais de Iommi. Birch era fissurado em sons pesados de bateria e baixo, e teve como meta extrair o melhor som possível da banda em estúdio.
As incansáveis comparações entre "Mob Rules" e "Heaven And Hell", o trabalho anterior da banda, se dão ao fato da primeira faixa de ambos ser muito semelhante, praticamente uma repetição da fórmula. "Turn Up The Night" tenta desesperadamente recriar o vigor, potência e frescor de "Neon Knights", mas não consegue. Dio inclusive nunca foi um grande apreciador dessa canção.
"Voodoo" é a faixa seguinte, mais cadenciada e com um riff cavalar de Iommi; e abre caminho para talvez a melhor do disco, a épica e gloriosa "The Sign Of The Southern Cross", uma das preferidas de Dio, com uma letra mística e elaborada: "Eu amo essa música. Quando se fala desse álbum ela é a primeira a ser lembrada. Gosto muito também do título e quando eu tocava trompete quando garoto, a gente tocava uma canção chamada ‘The Southern Cross’. Foi muito divertido compor essa canção, pois precisávamos de algo na linha de ‘Heaven And Hell’."
"E5150" é uma vinheta eletrônica, utilizada também para abrir os shows da banda dali pra frente. Geezer queria de qualquer maneira incluir a palavra "evil" no disco, então aqui temos a letra "E"; o "5" no algarismo romano é "V", o "1" é "I", e o "50" é "L"; juntando tudo: "EVIL". O Van Halen mais adiante batizou um álbum e uma música como "5150", mas alegando que se tratava de um código usado pela polícia norte-americana para designar os criminosos com problemas mentais.
A faixa "The Mob Rules" é outro destaque, uma das mais agressivas da carreira da banda; "Country Girl" foi escrita por Ronnie em homenagem a sua esposa Wendy e tinha uma temática mais convencional, o que desagradou Tony e Geezer, apesar do riff que era Sabbath puro. "Slipping Away" é a próxima e tem uma levada mais funk que é puro Led Zeppelin, com Vinny colocando de fora toda sua admiração por John Bonham. Outro ponto alto do tema é o solo de baixo repleto de distorção e malandragem de Geezer.
"Falling Of The Edge Of The World" traz outro riff agressivo de Iommi, como há tempos não pintava num disco do Sabbath. Foi uma das últimas faixas a ser composta para o disco e também caprichava no teor épico e dramático. O título, assim como "Heaven And Hell", foi mais uma vez baseado numa outra canção de George Young e Harry Vanda, a dupla de compositores dos australianos do Easybeats, uma das bandas favoritas de RJD.
O disco é encerrado com a melancólica "Over And Over", uma pequena pérola depressiva, com solos mais blueseiros de Iommi e uma interpretação impecável e dramática de Dio, que comentou sobre ela: "Gosto do que eu escrevi nessa letra; ela é essencialmente um tema bem ‘Dio’, e reflete como eu me sentia nessa época, passando uma ideia da minha luta contra a negatividade da banda. Tem até um trecho que retrata a vida como um pedaço de papel, e daí temos uma chama. Essa chama pra mim era como algum integrante do grupo na época." A letra trazia também uma frase que resumiu o fim da era-Dio no Sabbath: "Oh How I Need To Be Free Of This Pain."
Kill OZZY?
O impressionante desenho usado na capa de "Mob Rules" é na verdade uma tela de autoria do artista Greg Hildebrandt, que pintou essa obra ainda nos anos 70. Com nome original de Mob Dream, a tela foi licenciada para ser usada pelo Black Sabbath e foi aí que a confusão começou.
Para muitos fãs, a arte que apareceu na capa do álbum traz a inscrição "Kill Ozzy", ou "Matar Ozzy" meio escondida na parte inferior do desenho, no que seria o chão daquela cena violenta. A palavra "Kill" pode ser percebida ao lado esquerdo da assinatura do artista, e a palavra "Ozzy" exatamente abaixo do nome do artista.
Más línguas garantem que a arte foi alterada a pedido do grupo. Um representante da Warner chegou até a confessar que isso realmente aconteceu, porém a banda sempre negou tal acusação.
Luis Alberto Braga Rodrigues | Rogerio Antonio dos Anjos | Everton Gracindo | Thiago Feltes Marques | Efrem Maranhao Filho | Geraldo Fonseca | Gustavo Anunciação Lenza | Richard Malheiros | Vinicius Maciel | Adriano Lourenço Barbosa | Airton Lopes | Alexandre Faria Abelleira | Alexandre Sampaio | André Frederico | Ary César Coelho Luz Silva | Assuires Vieira da Silva Junior | Bergrock Ferreira | Bruno Franca Passamani | Caio Livio de Lacerda Augusto | Carlos Alexandre da Silva Neto | Carlos Gomes Cabral | Cesar Tadeu Lopes | Cláudia Falci | Danilo Melo | Dymm Productions and Management | Eudes Limeira | Fabiano Forte Martins Cordeiro | Fabio Henrique Lopes Collet e Silva | Filipe Matzembacher | Flávio dos Santos Cardoso | Frederico Holanda | Gabriel Fenili | George Morcerf | Henrique Haag Ribacki | Jorge Alexandre Nogueira Santos | Jose Patrick de Souza | João Alexandre Dantas | João Orlando Arantes Santana | Leonardo Felipe Amorim | Marcello da Silva Azevedo | Marcelo Franklin da Silva | Marcio Augusto Von Kriiger Santos | Marcos Donizeti Dos Santos | Marcus Vieira | Mauricio Nuno Santos | Maurício Gioachini | Odair de Abreu Lima | Pedro Fortunato | Rafael Wambier Dos Santos | Regina Laura Pinheiro | Ricardo Cunha | Sergio Luis Anaga | Silvia Gomes de Lima | Thiago Cardim | Tiago Andrade | Victor Adriel | Victor Jose Camara | Vinicius Valter de Lemos | Walter Armellei Junior | Williams Ricardo Almeida de Oliveira | Yria Freitas Tandel |
Dio: "As pessoas sempre vão ler o que querem ler. É uma questão de querer enxergar algo fictício, assim como aquele papo de que virando o logo DIO de ponta-cabeça você tem a palavra ‘DEVIL.’"
Esse texto e muitos outros sobre Ronnie James Dio você encontra na edição impressa da revista poeira Zine, numa edição limitada de colecionador inteiramente dedicada ao vocalista. Black Sabbath, Rainbow, ELF, Heaven & Hell, DIO e muito mais. Para saber mais sobre essa edição, acesse o www.poeirazine.com.br.
Poeira
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps



Robert Plant tem show anunciado no Brasil para 2026
Hellfest terá 183 bandas em 4 dias de shows na edição de 2026 do festival
Duff McKagan elege as músicas do Guns N' Roses que mais gosta de tocar ao vivo
Angra posta mensagem enigmática no Instagram; "Foi bom enquanto durou"
O disco que une David Gilmour e Steve Vai na admiração pela genialidade de seu autor
Para alguns, ver o AC/DC é um sonho. E sonhos não têm preço
O músico que Jimmy Page disse que mudou o mundo; "gênio visionário"
Rob Halford fala sobre a importância de estar há quase quatro décadas sóbrio
A música do In Flames que é uma reflexão poderosa sobre empatia e dor
O "vacilo" que levou Nicko McBrain a achar que fosse passar no RH do Iron Maiden
AC/DC anuncia show extra no Chile e encerra adição de datas na América do Sul
Roxette anuncia dois shows no Brasil em 2026
Garagens dos Anos 60
Grand Funk Railroad: A Maior Potência do Hard Norte-Americano
Black Sabbath: a passagem de Ian Gillan pela banda
A lista de clássicos do Rock que foram regravados em versões pesadas pelo Iron Maiden
Resenha - Jethro Tull (Credicard Hall, São Paulo, 20/03/2004)
Lynyrd Skynyrd x Neil Young: Amigos ou inimigos?
Tommy Bolin: Os excessos estavam acabando com aquele cara
Jerry Lee Lewis: o dia em que ele quase matou John Lennon
The Who: Quinze minutos de fama no lugar de Keith Moon
Poeira: Rockstars e as bandas que eles sonhavam fazer parte
Bon Scott, o eterno Rocker...
Blind Faith: uma das capas mais polêmicas da história
Os 25 melhores álbuns do metal britânico, segundo o RYM
A maior lenda do rock de todos os tempos, segundo Geezer Butler do Black Sabbath
A banda com quem Ronnie James Dio jamais tocaria de novo; "não fazia mais sentido pra mim"
Os dois maiores bateristas de todos os tempos para Lars Ulrich, do Metallica
Viúva de Ronnie James Dio afirma que ficou feliz com último show de Ozzy Osbourne
A reação de Ozzy Osbourne ao cover de "War Pigs" gravado pelo Judas Priest, segundo Rob Halford
Axl Rose é criticado por sua voz após Guns N' Roses homenagear Ozzy com cover no Brasil
O convite era só para Slash e Duff, mas virou uma homenagem do Guns N' Roses ao Sabbath e Ozzy
O que realmente fez Bill Ward sair do Black Sabbath após "Heaven & Hell", segundo Dio
