On The Road: Jerry Garcia - O Anti-Super-Star
Por Cláudio Vigo
Postado em 28 de novembro de 2000
Quando Jerry Garcia morreu em 9 de agosto de 1995, uma semana depois de completar 53 anos, em uma clinica de desintoxicação em Forest Knolls na Califórnia, estava indo embora talvez o maior símbolo da contracultura de todos os tempos. O famoso capitão barato, líder e mentor espiritual da banda de maior longevidade com integridade de princípios de todos os tempos. Com uma horda de seguidores já na terceira geração, os famosos deadheads, o Grateful Dead animou a vida de avôs e netos que os seguiam por toda parte em caravana com o único objetivo de "seguir viagem".

Jerome John Garcia nasceu em 1942 em San Francisco, filho de um imigrante espanhol, que morreu quando ele era bem moleque e de uma dona de boteco de marinheiros. Seu nome foi uma homenagem ao grande compositor Jerome Kern, e desde muito cedo participava do circuito folk local junto com seus amigos ancestrais Bob Weir e Pigpen, até se envolver com a literatura beat na figura do poeta Lawrence Ferlinguetti, e resolver eletrificar os Warlocks depois de ver os Beatles no Ed Sullivan e o famoso barraco elétrico de Bob Dylan no tradicional festival folk de Newport. Daí em diante se tornaram uma banda de rock com grande influência folk e ganharam um hábito de improvisar intermináveis temas característicos dos grupos de jazz tão caros aos beats.
Nesta época estava se iniciando as experiências monitoradas com o LSD no Veterans Hospital perto da universidade de Stanford. Foi lá que esta turma conheceu Robert Hunter (principal letrista do Dead) e o escritor Ken Kesey ("Um estranho no ninho"), que estavam literalmente caindo de boca no escancaramento de todas as portas da percepção. Isto teve uma importância mais que fundamental na formação da consciência, no som e em toda a maneira de ver a vida do que viria a ser o Grateful Dead.
Ken Kesey arrumou um químico fabricante de ácido, encheu um ônibus de alucinados do mesmo calibre e com Neal Cassady, inspirador de Kerouac em "On the Road" de motorista (virado de anfetamina birita e LSD) atravessou os Eua divulgando um estilo de vida e consciência que chocava todos por onde passava. Dizem que a chegada em Wall Street em N.York foi antológica, com distribuição de ácido e flores pros passantes engravatados.

Outras experiências do grupo eram os chamados acid tests que nada mais eram que enormes festas, muitas vezes ao ar livre (tem gente que pensa que rave é novidade), onde em meio à projeção de slides psicodélicos, luzes estroboscópicas e ácido gratuito o Grateful Dead tocava horas e horas sem parar, improvisando direto e formatando sua identidade sonora futura no meio daquela doideira generalizada. Muitas destas intermináveis sessões de improviso abriram caminho pra coisas posteriores como, por exemplo, os Allman Brothers e outros grupos chegados a uma estrutura jazzística.
O nome surgiu duma destas viagens em Haight-Ashbury quando todo mundo alopradésimo como de costume resolveu abrir um dicionário e Garcia viu cabalísticamente esta palavra escrita brilhando em algum lugar. Daí foi um tal de é isso, maneiro e só... que não precisa ter estado lá pra imaginar...


Musicalmente o Grateful Dead sempre foi uma banda bastante interessante, muito melhor ao vivo e Jerry Garcia sempre foi um guitarrista inconfundível com seus solos viajantes e seu vocal característico, sempre entremeado com o ótimo Bob Weir. Seus melhores discos são os registros de seus shows, verdadeira celebração com a malucada e o clássico Live Dead é coisa muito séria. Lembro-me uma vez numa festa em minha casa onde o disco tava rolando direto e chegou um amigo todo suado com o olho esbugalhado e praticamente implorou: "dá pra trocar o disco?". Fiquei com pena e coloquei outra coisa mais retornante. Depois de uma coca gelada e de lavar o rosto ele disse que ficou com medo da guitarra do Jerry Garcia, pode?

Mas essa balada forte ao longo dos anos tem seu preço e no meio dos 80 Jerry Garcia se viu terrivelmente viciado em Heroína e Cocaína e começou uma interminável sucessão de internações, que acabaram por levá-lo a morte, assim como de três de seus tecladistas: Pigpen (73), Keith Godcheaux (80) e Brent Mydland (90).
Pra quem já viu um vídeo ou filme deles sabe do que eu estou falando. Eram os "anti-super-stars". Garcia tocava sempre com um jeans surrado e uma camiseta destas de ficar em casa, meio gorducho e barbudão, uma espécie de Papai Noel hippie meio parado mandando uns solos intermináveis na guitarra. Uma figura muito simpática. Enquanto na platéia um pessoal que parecia saído do túnel do tempo ou de Santa Teresa (RJ), o que dá no mesmo, fazendo umas danças performáticas junto com seus filhos e netos. Falando nisso, tem um disco do Jerry Garcia e David Grisman pra criança (Not for Kids Only) que eu coloco sempre pro meu filho escutar. O pior é que ele adora.

On The Road
On The Road: Jimmy Page, Led Zeppelin & The Black Crowes
On The Road: Um dos livros mais comentados e menos lidos da história
On The Road: O mundo girou ao redor de Andy Warhol por quase vinte anos
On The Road: Para Joe Jackson como seria o Céu e o Inferno?
On The Road: Jim Morrison, uma ode a L.A.
On The Road: The 70's - E um pouco sobre Gregg Allman
On The Road: Allman Brothers Band - ainda The 70s
On The Road: The 80's - e um pouco sobre Ian Curtis
On The Road: Tommy Bolin; sua morte prematura foi uma perda incalculável
On The Road: Chuva de Guitarras; domínio do instrumento e feeling absurdo
On The Road: John Mayall e o restaurante Indonésio
On The Road: Camel, uma noite das Arábias
On The Road: Glam Rock; A vanguarda era ditada com muito cílio postiço
On The Road: A criatividade não está restrita a uma época especifica
On The Road: Pancadão Hendrixniano
On The Road: Num muro dos anos 70
On The Road: Steely Dan - Pop Perfeito
On The Road: Os quatro CDs do Apocalipse
On The Road: Joni Mitchell e Charlie Mingus
On The Road: Gigantes do Soul Jazz
On The Road: Mais gigantes do Soul Jazz
On The Road: Quem lembra dos Supergrupos?
On The Road: Mick Jagger, Graham Bond e Geração Bendita
On The Road: Colin Hodgkinson, biscoito fino no baixo
On The Road: Alguns atalhos para muitas viagens
On The Road: The Shadows, a sombra de Hank Marvin
On The Road: Coldplay e a franja do Fernando
On The Road: Confissões Paulistas
On The Road: Mahavishnu Orchestra e a Yoga
Colecionadores de discos e de calcinhas
Para onde vão Robert Fripp e os amestradores de focas?
On The Road: Rimbaud e Morrison
On The Road: Dr. John, melancolia e insensatez durante o Tim Festival
On The Road: Jorge Mautner e as Memórias do filho do KAOS
On The Road: Soulive, usina groove em forma de power trio de jazz funky
On The Road: Exile..., obra prima feita de arestas, atos falhos e balbucios
On The Road: Os 1001 discos para se ouvir antes de morrer
On The Road: Jeff Beck, economia e bom gosto, eis a conseqüência
On The Road: O velho feiticeiro do piano e o Zappa do Funk
On The Road: Allman Brothers Band, um sonho de priscas eras
On The Road: "Jeff Beck é Jeff Beck"
On The Road: "It's a long time gone, bicho!" - CSN no RJ
On The Road: Água Brava, Bacamarte e Celso Blues Boy
On The Road: biografia de Ron Wood é bem humorada e informativa
Todas as matérias sobre "On The Road"Siga e receba novidades do Whiplash.Net:
Novidades por WhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps