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Malefactor: Os discos que marcaram Lord Vlad

Por Durr Campos
Postado em 16 de março de 2014

Todos nós temos nossos álbuns prediletos, itens que mudaram a nossa vida para sempre. Com o Lord Vlad, frontman de uma das maiores lendas do metal brasileiro, a horda baiana MALEFACTOR, não foi diferente. Sempre simpático, dono de um modo único de se expressar e cheio de paixão pelo metal, batemos um papo com Vlad para saber dele o porquê de alguns discos destacarem-se tanto de outros em sua opinião. Vale a pena ler até o final, confie em mim caro leitor, são as palavras de um homem devoto e grato pelo que ouviu e ouve.

A primeira vez que eu me lembro de ter prestado atenção no rock, foi com o grupo baiano Camisa de Vênus, em 83/84. Eu não tinha a menor ideia de que merda queria dizer este nome, mas lembro da minha avó falando: "Isso é um absurdo, este nome é um desrespeito à família". Eu tinha sete anos e o máximo que me permitiam dizer de ofensa era "abestalhada" pras minhas irmãs. Temos que lembrar que era ditadura militar e ninguém sonhava (pesadelos) com AIDS. Só depois é que colocaram aquele nome "família" de camisinha no "emborrachador de danado" (HAIL RDP).

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Camisa de Vênus, para uma criança era algo terrível, proibido, igual ver filme de mulher nua e de terror. Sete anos, que maravilha. Os caras gritando "Beth Morreu" era o máximo de rebeldia que eu podia ouvir numa música. Em 1985 veio o Rock in Rio I e minha irmã mais velha gravou alguns shows com um gravador portátil colocado na lateral da TV. Aquele áudio era uma bosta e eu ainda lembro do Scorpions tocando "Coming Home", até hoje minha música preferida deles. Mas eu realmente só comecei a perceber que estava infectado, em 86/87 quando o namorado dela, querendo pegar moral com o pirralho roqueiro, ainda fã de RPM e Michael Jackson, gravou pra mim um k-7 cheio de clássicos metalizados. Até hoje, quando eu ouço "Iron Man", com o Tony Iommi soltando aquela guitarra com som de morte chegando, e o Ozzy com voz de robô, eu lembro da sensação. Eu estava completamente, eternamente e cegamente apaixonado pelo heavy metal. Eu era um micróbio de 10 anos de idade. O cara começou a gravar tudo que era LP pra mim, acho que era pra que eu não contasse aos meus pais que ele agarrava minha irmã no playground de tarde. São destes primeiros discos, e alguns posteriores, que eu irei falar, pois são a razão de eu estar a mais de duas décadas (quase três daqui a pouco) mergulhado até a alma, no mundo da música pesada."

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Camisa de Vênus - "Viva"

Este disco de 86 tem uma capa foda, show foda e ainda tinha os dizeres "Sem MIXAGEM". Eu era um menino burro, e achava que sem mixagem era tipo: "aqui não toca porra de dance music". Porque na Bahia, em 86, era assim que chamavam as músicas dance: Mixagem, (risos gerais). No fundo, tinha a ver também. Não tinha overdub, não tinha filtro. E eram milhares de palavrões, microfonias, ofensas, berros. Eu tinha 10 anos de idade. Qual a criança que não vai achar FODA poder cantar, escondido da vovó e do papai, uma letra como: "Naqueles tempos, Eu era um menino, Que já sabia, do meu destino, E caminhando de norte a sul, Eu vi muita gente, tomar no cu. Eu entendi, E não esqueci. I did it my way" ? Eu cantava isso no recreio do colégio, junto com "Silviaaa Piranhaaaaa…" e meus coleguinhas me idolatravam. "Poxa, esse cara é doido. Se minha mãe me ouvir falar estas coisas, ela toma meu Atari". Aí claro, eu crescia pra cima deles: "Sabiam que eu já vi, O EXORCISTA"?? Ai vinha o famoso "ohhhhhhh".

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Black Sabbath - "Paranoid"

Comprado na antiga Sandiz, atualmente não é o disco do Sabbath que mais ouço. Meu disco preferido é mesmo o "Sabbath Bloody Sabbath". Mas ele me marcou muito. Além da capa maluca, com Lion Man/Jaspion drogado na capa e de ter a música culpada de tudo, "Iron Man", ela tinha "War Pigs" e aquele começo mágico e diferente, com o chimbal contando e batendo no contra. Muito antes deu chegar a um show e ouvir a plateia gritando o clássico "Toca Raul", a cena metálica da Bahia, não sei por que porra, sempre, seja qual fosse a banda e estilo, alguém gritava "War Pigguêêêêssssss". Acho que é porque ninguém tirava este cover. Virou um ritual nas décadas de 80 e 90 gritar isso nos shows de metal daqui de Salvador. E claro, irei gritar MUITO isso no Rio de Janeiro na tour do "13". Sem dúvida NENHUMA:. É a banda mais pesada de todos os tempos e os criadores de fato do metal. E tem o pacto com Satã, com certeza. Todas as bandas da época deles morreram 3, 4, 5 integrantes. Do Sabbath original, nenhum. E não foi por falta de tentativa.

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Iron Maiden - "Somewhere in Time"

FUDEU A BAHIA! Como gritamos aqui quando queremos dizer "não tem mais jeito" (ou "fudeu Maria Preá", tanto faz). Até então, o Iron Maiden ainda não tinha chegado à minha vida. Eu já estava curtindo Sabbath, Ozzy, Judas, Kiss, Led Zeppelin, Venom (que os caras me apresentaram assim: "Guri, esses caras aí conversam com Satanás de verdade. Depois que você ouvir já era"). Aí comprei uma revista, que eu acho que era a Som Três. Eu sabia que eles tinham tocado no Rock In Rio, mas, até então, eu só queria saber do cara que comia morcego. Eu nem sabia como se fazia pra uma guitarra soar distorcida, e o Iron Maiden já estava sendo criticado por que tinha gravado com "guitarras sintetizadas". Acredito que o disco só chegou aqui em 87. Não tenho certeza. Mas lembro de que Metallica e Megadeth só importado. Ai, eu vou numa loja em Salvador chamada "A Modinha" (que nome trend - risos) e me deparo com esta capa. ESTA CAPA! Caraaaaaalho, meu herói até então era o Conan, o Bárbaro. Eu tinha tudo. Desde as revistas do Heróis da Tv até "A Espada Selvagem..." e eu não via um outro (anti) herói para fazer sombra ao Cimério. Ai deparei-me com esta capa. Que dizer, eu devo ter ficado uma meia-hora analisando cada detalhe. O vendedor não me suportava mais e minha família estava de saco cheio querendo ir embora. E eu ali, hipnotizado. Nem tinha ouvido ainda. Ganhei o disco. Fui louco pra casa junto com meu primo Junior, que 5 anos depois formaria o Malefactor comigo, e o mundo parou. Era terminar o Lado A, virava e ouvia o Lado B. Acabava o B, voltava pro A. Sem parar, o dia todo, todo dia. O Iron Maiden me fez gostar das aulas de inglês. O Iron Maiden me fez ter cabelo grande. Ainda é meu disco preferido de todos os tempos. Por mim, o Iron Maiden tocava ele na íntegra nos shows, e depois ia dividindo as dezenas de outros clássicos no set-list. Nunca tocaram ao vivo "Deja-Vu", "The Loneliness...", "Alexander the Great". Daí pra frente nunca mais teve merenda na escola. Pegava a grana que meus pais me davam e no final da semana tinha grana pra comprar um vinil na loja "A Modinha" ou na "Cor & Som". CompravaTUDO do Iron Maiden que eu achava.

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Metallica - "Master of Puppets"

Eu fiquei meio retardado com o Iron Maiden. Todo mundo ficou menos interessante então. Ai chegou o Metallica. Fui ouvir este disco com quase dois anos de atraso. Lembre-se que não existia internet, eu era um pirralho e a moçada que eu já andava, estava de cabeça no metal nacional, quando comecei a ter gravações do Vulcano, Sepultura, Sarcófago, Mutilator, Chakal. O "Master..." chegou pra mim num K-7 tosco e eu fui ouvir no walkman que era presente de natal. Ninguém, ninguém conseguia tocar guitarra daquela forma. Era diferente demais. Era muito rápido, mas era alternado. A voz do Hetfield era uma coisa inacreditável. Isso sem falar na qualidade da gravação. Não parecia com as outras gravações de thrash que eu tinha ouvido. Eu tinha um violão, tomava aulas e conseguia tocar "Nightmare (Sarcófago), "Troops of Doom" (Sepultura), "Outbreak of Evil" (Sodom) e pensava que eu já estava pronto para tocar numa banda rápida. Aí veio este disco e me fudeu (risos). Era tão bem tocado e grudento quanto Iron Maiden, só que na velocidade da luz. O melhor logotipo do mundo até hoje. Todos copiaram, até a gente uma época. Estas pernas esticadas nas extremidades do logotipo, TODO MUNDO babava. Só que aí eu já estava virando um "radicalzinho" de 12 anos e queria ir mais além.

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Warfare Noise – Sarcófago, Holocausto, Mutilator e Chakal

Quando ouvi este disco, também com atraso de dois anos, já na antiga loja Maniac, eu tinha 12 anos e me fantasiava todo de Iron Maiden. Aí cheguei à loja e perguntei ao Jonga (grande amigo até hoje e responsável pela apresentação de bandas fantásticas aqui na cidade) o que rolava de mais pesado. Ele disse: "Guri... tem um som aqui que se você ouvir, você vai se cagar de medo". Foi como perguntar ao jegue se ele quer capim. Meu amigo, uma criança ouvindo metal todo dia, tu só queres ir além, a menos que você seja metal de verão, como costumamos falar por aqui. Eu pensava comigo: "Que nada. Eu tive coragem de ouvir no escuro a música título "Black Sabbath", Venom, Slayer, Sepultura, etc.". Nada me daria medo. Então ele coloca a intro "Recrucify". É até hoje, seguramente, a coisa mais macabra, satânica, suja e perversa do mundo das sombras. Minha banda nacional preferida sempre será o Sepultura antigo, mas quem me deu noção do poder que uma música pode causar na espinha de uma pessoa foi o Sarcófago com a dupla "Recrucify/The Black Vomit" e "Satanas". Para quem não é desta época ou não começou a gostar de metal tão cedo, talvez seja difícil entender de fato o quanto brutal aquilo foi pra mim. De imediato eu disse: "Quero ter uma banda extrema e satânica quando for mais velho". Todas as faixas de todas as 4 bandas são muito foda, mas o Sarcófago estava um passo além no extremismo em toda a cena metálica mundial. São 27 anos que eles lançaram este disco e continuo achando que ninguém jamais conseguiu me causar de novo MEDO em forma de música. Era como se tudo à sua volta fosse contaminado pela maldade. Era como se a sociedade morresse em menos de 10 minutos. Era uma bomba nuclear jogada dentro do Vaticano em forma de som. Inesquecível.

Slayer - "Show No Mercy"

Esta capa colocou as do Venom como mais palatáveis. Nada foi tão ofensivo e repugnante para a sociedade em 86. Este disco nunca foi superado pelo Slayer, em minha opinião. Não tem "Reign in Blood" certo, apesar de entender que ali eles já tinham o som DELES. No "Show No Mercy" ainda era uma mistura de Iron Maiden, Venom, Judas Priest e hardcore. E funcionava. Desde sempre eu guardei isso na mente. A mescla de estilos dentro do metal respeitando as raízes dos 60, 70, 80. Era uma forma de soar diferenciado e acredito que tentamos soar diferenciados com o Malefactor também, portanto lá estão nossas influências mescladas. Dos soundtracks épicos, passando pelo heavy tradicional, black metal, death e doom este disco tinha este caráter híbrido e tem cheiro de enxofre, como eu quero que minha banda soe. Da primeira à última faixa tudo é perfeito demais. O visual dos caras colocava todo mundo no chinelo. O Tom Araya nesta época já era inacreditável e o Dave Lombardo nem sabia pra que lado iam os dois bumbos mas já tocava pra caralho.

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Sepultura - "Beneath The Remains"

Eu fiquei fanático de vez pela banda quando peguei um K-7 em 87/88 com o "Schizophrenia". Que banda foda. Aquilo não soava brasileiro. Ninguém podia ser tão bom naquela época. Aí dei maior atenção aos primeiros álbuns. Como é que estes caras tinham ficado tão bons, técnicos de 86 pra 87? Não tinha como ir além. Minha cabeça, claro, ainda não processava desta forma. Eu era um guri chato, mascote da turma. Ai saiu o "Beneath the Remains" em 89. Na boa, eu tenho minhas idas e vindas quando a imaginar alguma vida após a morte. Sou muito mais pendente hoje a crer que iremos apenas virar sanduba de morotó. Mas a transição técnica do Sepultura do "Morbid Visions – Schizophrenia-Beneath the Remains", num espaço de três anos é humanamente impossível. Tem que ter uma macumba fodaça aí no meio. O Max Cavalera é do catimbó das encruzilhadas. Eu não sei que zorra este cara ofereceu em troca, mas acho que podem passar mais 50 anos e ninguém no Brasil vai fazer um disco tão foda quanto o "Beneath the Remains". Nem eles. Acho que ali foi gasto 80% da criatividade, com todo respeito que tenho ao "Arise" , que é um puta disco, e os seminais do death metal mundial "Bestial Devastation" e "Morbid...", mas o "Beneath..." foi foda demais. No colégio a gente queria andar com as roupas imitando os caras. O cara era o Max Possessed, eu assinava minhas cartas como Vladimir "Cova". Capa fantástica, gravação 10 anos na frente das outras feitas no Brasil e na América do Sul. Assim como 1986 foi um ano inacreditável de lançamentos, 1989 foi marcado por lançamentos que mudaram a cara da cena extrema. "Altars of Madness" (Morbid Angel), Symphonies of Sickness (Carcass) e demo-tapes fantásticas, coisa que eu começava a colecionar avidamente. Uma aula do Igor, do Andreas e do Max. O Paulo Jr., o cara mais sortudo do planeta Terra, estava ali também, mesmo que em espírito.

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Celtic Frost - "To Mega Therion"

Neste período de idiotice cega pelo Sepultura eu lia qualquer merda que escrevessem sobre a banda. Comprava gravações piratas, shows em VHS, revistas, zines. TUDO ! Aí li uma entrevista deles na revista Metal ou na Rock Brigade, não lembro qual das duas, em que a banda falava que o disco novo (Schizophrenia) tinha coisas diferentes, até uns violinos (na verdade, somente na Intro do disco). Ai o cara perguntava "diferente como? Tipo o Celtic Frost do To Mega Therion"? Daí acho que o Paulo Jr. disse: "Peraí, assim também não". Fiquei na curiosidade do rato. Era 87/88 e eu nem sabia que eram os mesmos caras do Hellhammer. Se soubesse, talvez nem tivesse ido atrás por preconceito. Eu era um pirralho melequento ainda e não sacava o Hellhammer. Tudo que eu tinha lido deles era péssimo. "A pior banda do mundo" era o adjetivo mais recorrente. Eu não tinha ainda noção que ser o pior muitas vezes é você ser o melhor dentro do metal. A ideologia e a estética aqui contam demais. Não tinha ideia da genialidade dos caras. Enfim, eu não conhecia quem tivesse o LP ou gravasse pra mim. Num final de semana fui fazer compras com minha família e um milagre satânico acontece. Não tenho a menor ideia como, nem quem, mas TODO o catálogo da Wodstock Discos estava à venda no Paes Mendonça, uma espécie de Supermercado Pão de Açúcar baiano. Lá só vendia disco de forró, axé babá e rock brasileiro, que estava na moda. Da noite pro dia, eu tinha acesso aos melhores discos das bandas mais importantes do metal underground mundial: Kreator, Motorhead, Destruction, Sodom, Running Wild, Grave Digger, VoiVod, Possessed, Chariot, Angel Dust, Piledriver, Anacrusis, Candlemass, Exorcist, Exumer, Exciter, Flotsam and Jetsam e tantos outros, pelo preço de LP nacional, na e que iam dentro do carrinho da mamãe, ao lado do iogurte, sabão Omo e mortadela. A frase da minha mãe passou a ser "Olha, você pode ir no mercado, mas nada de disco hoje". Não adiantava, claro. O Celtic Frost veio logo de cara, junto com um pôster dos caras dentro do LP. Que capa perfeita, talvez a minha preferida ao lado das capas do Iron Maiden "Killers" e "Somewhere in Time". Não parecia com banda alguma. Muito, muito esquisito e muito do caralho. As letras falavam de sombras, frio, morte, deuses esquecidos, espadas, um universo obscuro e diferenciado. Não era mais o satanismo simples do Hellhammer (HAIL!!!), era outra banda. Juntava com meu herói preferido (Conan – homenageado na primeira música do disco "The Usurper"), coisa que levei anos pra saber, trombones e uma voz que parecia gravada dentro de uma tumba. Quando ouvi aquele vocal feminino misturado ao vocal gutural em "Necromantical Screams" eu pensei: "Epaaa, isso pode é?" Estamos falando de seis anos antes do Paradise Lost e seu "Gothic". Foi uma mola propulsora anos mais tarde, quando eu já tinha banda e conseguia ver que você pode soar mórbido, mágico, melódico e diferenciado no metal extremo. Top 10 dos meus preferidos até hoje.

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Kamikaze - "Kamikaze"

Antes que eu seja acusado de forçar a barra, moda retro oitentista e outras baboseiras, eu vou explicar o porquê deste disco estar aqui. É tão e somente um EP, cantado em português e o metal assim me marcou muito. Muitos vão achar que seria mais metal e mais correto eu falar então da Dorsal Atlântica e seu "Antes do Fim" ou do Ratos de Porão com "Cada Dia Mais Sujo...", mas isso aí não atiçaria a curiosidade em quem nunca ouviu sequer falar deste grupo mineira. Mais uma bandaça apresentada pelo meu amigo Jonga na Maniac Records quando era no centro da capital baiana. O batera João Guimarães é um músico fenomenal e era o dono do J. G. Estúdios, onde foram gravadas quase todas as pérolas do catálogo da Cogumelo Records. Só que este disco ainda eram 8 canais e a gravação é FODA se você levar em conta a precariedade dos canais e o ano, em se tratando de gravações brasileiras. Fora o desempenho animalesco dos músicos. Todo mundo tocava para caraaaaaalho. As letras eram boas, meio que entre o rock e o metal, mas eles tinham o Rob Halford nacional, Guilherme Bizzoto, que depois virou cantor de blues. Ele era o MELHOR vocalista de heavy tradicional que já teve no Brasil e 95% dos bangers brasileiros sequer sabem quem ele é. Sempre que posso apresento este disco a amigos e SEMPRE é a MESMA reação: "Caralho, onde este disco estava escondido"? Muito disso deve-se à própria banda, que depois passou a tocar rock pesado, tentando soar como o Barão Vermelho de início. Pra mim dá um pau nas outras bandas heavy tradicional em português, algo que morreu na década seguinte, depois do Sepultura estourar. Não tem Overdose (Século XX), Azul Limão, Harppia, Zona Abissal, Stress. Gosto muito de todas estas bandas, mas o Kamikaze num disco de 4 músicas, está no rol de uma das produções mais subestimadas e desconhecidas do metal nacional. Discaço para ouvir na estrada, pisando fundo. Metal demais.

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Rotting Christ – Thy Might Contract

Eu conheci a banda no primeiro, o "Passage to Arcturo", e meio que passei batido. Começamos o Malefactor em 1991, ouvindo muito Morbid Angel, Sarcófago, The Mist, Sepultura, Amon, Sodom, Iron Maiden, Headhunter DC e ficávamos meio atordoados no meio destas sonoridades diferenciadas e compor era um mistério enorme. Acredito que não tínhamos um foco, um referencial exato de como queríamos soar. No ano de 94 fui passar uma temporada em Recife e me deparei com uma loja que tinha vários vinis importados maravilhosos, chamada Armorial e fiz amizade com muita gente de Natal também. Todos estavam falando: "Cara, você tem que ouvir o novo do Rotting Christ". O suco da maldade e do radicalismo imperava na minha cabeça nesta época e para engolir sugestões novas era preciso me convencer mesmo. Eu estava o tempo todo ouvindo Samael, Napalm Death, Mystifier e não sacava ainda a cena da Grécia de forma efetiva. Quando meu amigo Fábio Brayner (ex-Decomposed God/ex-Sanctifier/ex-As The Shadows Fall) gravou este disco, junto com outras pérolas, minha cabeça virou do avesso. Este foi o disco de black metal que mais ouvi na vida, ganhando do Bathory, do Venom, de todo mundo. Conheço milimetricamente cada nota, cada arranjo, cada refrão. O inglês ruim do Necromayhem e as melodias de guitarra eram originais demais. Quando cheguei à Bahia e mostrei o disco foi como uma febre assolando tudo. Fiquei louco pela cena grega. Só dava Horrified, Septic Flesh, Necromantia, Nightfall, Varathron, etc., o tempo todo. Sou completamente fanático pelo som deles daquela época, embora eu goste deles na fase que for, em especial os quatro primeiros discos. Top 5 do metal extremo pra mim.

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Horrified - "In The Garden of the Unearthly Delights"

Acredito que alguns vão ler e dizer "Qual é, o cara quer posar de radical, botar disco que ninguém conhece". Não vai ter jeito, vou ter que entregar o ouro. Na época, começo da década de 90 ainda, eu e vários outros amigos éramos como agentes secretos. Quando alguém conseguia um material raro era uma verdadeira burocracia para passar pra alguém. Por este aí eu cultivava um ciúmes do inferno e, pior, tinha um plano maligno. Eu queria seguir esta linha de som. Ainda estávamos no começo do Malefactor e nosso som era muito mais voltado ao death/black/doom. Se alguém hoje for sacar nossa demo-tape "Into The Black Order" vai achar todos estes elementos lá, mas já com teclados, solos melódicos e até umas vozes limpas, gravadas pelo produtor Ephendy Steven. Eu já queria usar vocais mais heavy, mas simplesmente não sabia fazer e não combinaria com a proposta. Em 96 meu primo Jafet entrava para o grupo com novas propostas, querendo resgatar mais a linha da nossa demo "Sickness" de 93, aliando ao som próximo ao Horrified. Todos nós ouvíamos este disco o tempo TODO. Era um ritual. Toda sexta feira íamos beber e no som era o tempo todo este disco, o "Twilight of the Gods"(Bathory) e outros. Nosso baixista Roberto comprava e revendia uns discos importados e só ele conseguiu este disco original. Chovia nego querendo comprar a cópia dele. Eu mesmo tentei umas 300 vezes. Mas era a época do "agente secreto". Um disco que só você tinha, porra era um troféu. Basta ouvir nosso primeiro play "Celebrate Thy War" para ter uma ideia do quanto este disco mudou nossa sonoridade, nossa forma de compor e foi, provavelmente, uma das maiores influências do Malefactor desde sempre.

Judas Priest - "Painkiller"

Desde a primeira vez que ouvi o Priest, eu pirei. Acho que todo metalhead de raiz passa por isso. E eu sou alucinado pelo "Sad Wings of Destiny" e "Screaming for Vengeance", mas eu sempre achava que o Judas estava um ponto atrás do Sabbath e do Maiden na área do heavy tradicional. Eles vieram ao Rock in Rio 2 na tour do "Painkiller", um disco após o "Ram It Down", o qual achei que faria a banda ir pro saco. Muito chato aquele. Daí a surpresa. Finalmente um disco do Judas que é PAU a PAU com QUALQUER um do Maiden ou do Sabbath. Certamente é o melhor disco de heavy tradicional da década de 90 e, pra mim, se reinventaram totalmente com a entrada do Scott Travis na bateria. Se eu perceber que uma pessoa está começando a se interessar pelo metal e me pedir "Vlad, que música você acha que é o sinônimo do que é heavy metal?" Eu colocarei a música "Painkiller" para tocar no ato. Se você não curtir, bem, vá ouvir Padre Marcelo Rossi ou se mate. Nota 10 porque não pode ser 11. Mais de vinte anos de lançado e pra mim ainda soa atual, inovador e você bate cabeça da primeira à última música. Eles gravaram uma balada como bônus pro Japão. QUE BOM que ela não veio no meio. Só heavy metal! Heavy metal!!! Muito obrigado ao Judas Priest pela aula.

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Death - "Individual ThoughtPatterns"

Certamente este disco não é unanimidade dentre os fãs do Death. O único disco deles que não dou nota 10 (Dou 9,0) foi o último pelo timbre de voz. Mas o Chuck, e posso dizer com toda certeza, é o ÚNICO compositor de toda a cena mundial que NUNCA fez UMA música ruim. Qualquer banda com mais de dois discos tem uma ou várias músicas fracas e nisso eu, claro, me incluo. O Death não. Cada disco deles pegava todo mundo com as calças na mão. No "Human" eles já haviam se tornado INUMANOS no quesito técnico, mas no "Individual..." viraram o death metal de cabeça para baixo. Tudo aqui é perfeito. Se duvidar é o único disco que eu já vi caras que realmente NÃO CURTEM death metal se ajoelharem. Radicais que não ouvem som mais trampado geralmente gaguejam: "Pô, prefiro o ‘Scream Bloody Gore’, mas este aí é foda mesmo". Quando Chuck morreu, eu e vários amigos ficamos realmente tristes. Pra mim ele era como o Steve Harris, o Dio ou o Tony Iommi da cena extrema. HAIL EVIL CHUCK! HAIL DEATH!

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Bem, eu levaria meses dizendo sobre outros discos e demos. Venom, (OLD) Queensryche, (OLD) Morbid Angel, Paradise Lost, Plasmatics, Kreator, Sodom, Bathory, Mercyful Fate, Metal Church, AC/DC, Deep Purple, Dissection, Candlemass, Saxon, Deicide e tantas e tantas outras bandas antigas que tornaram-se donas dos meus ouvidos. Espero que as pessoas tenham paciência para ler minhas besteiras e possam entender um pouco desta devoção e gratidão com a música infernal. HAIL HEAVY METAL !!!

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Sobre Durr Campos

Graduado em Jornalismo, o autor já atuou em diversos segmentos de sua área, mas a paixão pela música que tanto ama sempre falou mais alto e lá foi ele se aventurar pela Europa, onde reside atualmente e possui família. Lendo seus diversos artigos, reviews e traduções publicados aqui no site, pode-se ter uma ideia do leque de estilos que fazem sua cabeça. Como costuma dizer, não vê problema algum em colocar para tocar Napalm Death, seguido de algo do New Order ou Depeche Mode, daí viajar com Deep Purple, bailar com Journey, dar um tapa na Bay Area e finalizar o dia com alguma coisa do ABBA ou Impetigo.
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