Aquiles Priester: os álbuns que marcaram o baterista
Por Emanuel Seagal
Fonte: Aquiles Priester
Postado em 16 de janeiro de 2011
Aquiles Priester é um dos grandes nomes da bateria no metal brasileiro. Como muitos, ele começou batendo em latas e panelas, e começou sua carreira no metal em 1997, quando formou o HANGAR. Três anos depois, o músico tocou na banda de Paul Di'Anno, ex-vocalista do Iron Maiden, com o qual gravou o álbum "Nomad".
No ano seguinte, Aquiles entrou no Angra, onde ficou até 2007, tendo gravado três discos de estúdio, um EP e um CD/DVD ao vivo. Sempre bastante elogiado pela imprensa e tendo apoio de empresas como Mapex e Paiste, que criaram modelos signature de seus produtos com o seu nome, Aquiles é um dos grandes nomes do metal brasileiro.
Confira abaixo os primeiros contatos de Aquiles Priester com a música e os álbuns que marcaram sua vida.
"Meu primeiro contato com a música aconteceu quando eu tinha quatro anos de idade e ainda morava na África do Sul. Vi uma bateria na TV. A única coisa que me lembro é da sensação que eu tive, foi tipo uma premonição. Eu simplesmente estava passando pela sala, vi aquilo e me chamou atenção. Anos mais tarde, quando eu já tinha quinze anos, vi outra bateria num bar que estava sendo limpo para funcionar à noite e fiquei ali na porta, parado olhando. Não demorou para alguém me chutar dali... No mesmo ano, por causa de uma gincana da escola, comecei a dublar o Ultraje o Rigor e tocávamos em todas as festinhas que tinham nos colégios da redondeza. Percebi que tínhamos mais facilidade com as meninas da nossa idade por sermos 'celebridade'... A partir dali, abandonei a minha promissora carreira de jogador de futebol e entrei de cabeça no mundo da música".
Ultraje a Rigor - "Nós Vamos Invadir sua Praia"
Por incrível que pareça, conheci o Ultraje a Rigor quando estava assistindo ao Globo Esporte (programa esportivo da Rede Globo), pois na época eu era fissurado em futebol. Na verdade, até 1985 eu queria ser jogador de futebol. Acho que a reportagem falava do alojamento de um grupo de meninas do vôlei, da seleção brasileira, e a música "Rebelde Sem Causa" era a trilha sonora. Imediatamente, gravei em fita cassete e assim iniciei minha vida musical, pois, com esse disco, eu montei uma banda que dublava o Ultraje a Rigor e, a partir de então, comecei a me apresentar nas festinhas do colégio e gostei da experiência. Toda a história é contada na minha Biografia Oficial – Aquiles Polvo Priester – De Fã a Ídolo, esse foi o pontapé inicial na minha carreira musical.
Paralamas do Sucesso - "O Passo do Lui"
Esse disco tem o melhor som de bateria da história da música brasileira, em minha opinião. Levando-se em conta que ele foi gravado em 1984, é assustador falar isso hoje em dia. O som do bumbo da música "Óculos" é referência até hoje. Falar da atuação do baterista João Barone é muito importante, pois, desde aquela época, ele já estava revolucionando a história da bateria do nosso país e apareceu na grande mídia como um dos músicos mais competentes e inovadores da história da bateria. Por anos a fio, foi eleito o melhor baterista pelas revistas especializadas da época. Não é a toa que ele e os Paralamas continuam muito bem até hoje... Ou seja, passaram pelo teste do tempo.
Inocentes - "Pânico em SP"
Eu estava assistindo o extinto programa Clip Clip da Rede Globo, em 1986, e vi a banda Inocentes tocando no programa ao vivo. Achei muito animal a atitude da banda e, na semana seguinte, achei o disco. Durante muitos anos, a música "Ele disse não" foi uma espécie de hino para a minha turma de amigos em Foz do Iguaçu (onde morei até os 18 anos) e também já comecei a me acostumar com um som mais pesado. Inocentes sempre foi sinônimo de atitude e rebeldia. Minha música favorita é "Ele Disse Não". Ainda quero tocar essa música ao vivo com eles...
Iron Maiden - "Somewhere in Time"
Aqui minha vida musical começa a tomar outro rumo. Foi o primeiro disco e a primeira banda de metal que eu ouvi na minha vida. Sem dúvida nenhuma, esse foi o disco que mais escutei na vida e, com certeza, nenhum outro disco irá ultrapassá-lo. Steve Harris, então com 30 anos de idade, fez a grande obra prima da sua vida. Na época, os fãs mais radicais acharam estranho as guitarras sintetizadas, mas hoje, o disco é reconhecido como uma das melhores fases da banda, junto com outros dois grandes trabalhos, o "Powerslave" e o "Seventh Son of a Seventh Son". Quem já leu minha biografia oficial, sabe o porquê desse disco ser tão importante na minha vida. Eu nunca escuto uma música ou outra individualmente. Esse disco merece ser ouvido na íntegra, como eu fazia em 1986, virando o cassete intermináveis vezes para tentar assimilar um pouco mais da grande musicalidade aqui encontrada. No final de cada audição, tenho a certeza de ter escutado o melhor disco de metal da história, em minha opinião. Nesse disco se ouve a banda em plena forma, apesar de Bruce não ter composto uma única música e passava pela primeira fase estranha na banda, mas canta muito em todas as oito faixas. Nicko esbanja "takes" fantásticos com seus bumbos galopados, tocados na velocidade da luz com um único pé. Adrian Smith faz solos que são pequenas composições dentro de cada música e forma a dupla perfeita de guitarrista com o Dave Murray. Steve Harris nos presenteia com obras primas como "Caught Somewhere in Time", "The Loneliness of the Long Distance Runner" e "Alexander the Great", que tem o tema de "twin guitars" mais cativante de todas as músicas do Iron Maiden. Um disco que mudou minha vida e que nunca será ouvido de forma indiferente.
Racer X - "Second Heat"
Apesar desse disco ser da mesma época do "Somewhere in Time", só fui tomar conhecimento dele em 1994, na época que eu estava entrando de cabeça nos dois bumbos. A banda tinha Scott Travis na bateria, Paul Gilbert e Bruce Bouillet nas guitarras, John Alderete no baixo (que hoje toca no Mars Volta), e Jeff Martin nos vocais. Uma banda virtuosa, fazendo música virtuosa, para todos os gostos. Bateristicamente falando, é um disco de pesquisa até hoje, pois nessa época não existia gravação digital e os bumbos de Scott Travis, na música "Scarified", era o "benchmarking" da época; e 24 anos depois continua sendo, assim como a introdução de "Painkiller", que o tornaria mundialmente famoso. O disco foi lançado pelo selo Shrapnel Records, do famoso Mike Varney/Steve Fontano, que revelou muito dos guitarristas virtuosos que atuam no mercado musical até hoje.
Sepultura - "Beneath The Remains"
Esse disco era o maior orgulho nacional na época. O Sepultura começava a aparecer no mundo e eu, como toda uma geração de metalheads, carregávamos esse disco para todos os lugares, mostrando aos colegas. Comecei ouvindo Sepultura no disco "Morbid Visions" e na época não entendi muito bem a evolução da banda no "Schizophrenia", mas no "Beneath The Remains" a evolução era latente. Logicamente, o Igor era uma espécie de super herói para os bateristas brasileiros de metal, pois estava sendo comparado ao Dave Lombardo e isso era surreal para a época. Eu era fã de ir aos encontros promovidos pela Rádio Ipanema na casa de shows Porto de Elis, nos anos 90, em Porto Alegre. Fui ao show do lançamento do disco no ginásio Geraldo Santana, em Porto Alegre, e eu era um dos carinhas que estava na frente do palco, e que o Max olhava nos olhos ao final do show e dizia: - A gente ama vocês!!! Minha música preferida é "Primitive Future", uma das mais violentas da banda.
Tony MacAlpine - "Maximum Security"
Esse disco caiu na minha mão por acaso, pois um guitarrista me emprestou para eu tirar uma música do Tony MacAlpine. A música era "Hundreds of Thousand" e o baterista era o Deen Castronovo. Além de Deen, Atma Anur também toca nesse disco, mas as atuações do Deen beiram algo surreal para a época. E falei para o guitarrista que eu não entendia nada que o baterista tocava... Isso era 1994 e fiquei sabendo que o Deen tinha lançado uma vídeo aula. Nessa época, eu estava começando a fazer aulas com o mestre Kiko Freitas, em Porto Alegre. Quando a vídeo aula chegou, eu entendi que muitos padrões de condução no ride eram tocados com as duas mãos... Ele ensinava seus melhores licks e muitos truques que abriram minha cabeça, sem falar na pegada do cara que já era um absurdo. Aprendi muito nesse vídeo e posso dizer que moldei meu estilo ouvindo o Deen e aplicando tudo de técnica que aprendi com o Kiko Freitas, especialmente nas ideias que me surgiam ao ouvir todo o material que consegui do Deen, naquela época. Minha música favorita nesse álbum é "King’s Cup". Hoje em dia, o Deen toca com o Journey e continua sendo uma grande inspiração para mim.
Death - "Symbolic"
Digamos que esse é um disco obrigatório para todo baterista de heavy metal. Gene Hoglan, em entrevista para a Modern Drummer americana, falou que esse disco era uma espécie de tributo ao Deen Castronovo. Quando fiquei sabendo, comprei o álbum. Logo de cara, a faixa que abre o disco é "Symbolic", que beira a insanidade em termos de arranjos mais que perfeitos e velocidade extrema para a época. Até hoje, essa música é "benchmarking" para os bateristas de metal. Tem tanta informação nesse disco que recentemente, em outra entrevista para a mesma Modern Drummer, ele afirma que tocou mais que devia e encheu as músicas de arranjos para mostrar suas habilidades. No entanto, acho que o disco entrou para a história, não só por sua atuação, mas também pelas composições de Chuck Schuldiner, que se mostrava muito inspirado na época. Até hoje, esse disco causa um grande impacto devido a gama de informações musicais existentes. A música favorita nesse disco é a "Symbolic", tanto que fiz uma versão para o meu DVD "The Infallible Reason of my Freak Drumming".
Dave Matthews Band - "Crash"
Esse é, com certeza, o disco que vai gerar maior constrangimento no meu top 10. Mas a musicalidade e habilidade de cada integrante é evidente, e desde o seu lançamento, esse disco já chegou arrebentando ao entrar direto para a segunda colocação na parada da Billboard 200. Claro que a forma que Dave canta é um tanto peculiar e também estranhei no começo, mas depois de ouvir a atuação do baterista Carter Beauford, tudo fazia sentido. Quando Carter apareceu foi um choque, pois sua forma de tocar é única, assim como sua sonoridade. Era estranho um disco que vendia milhões de cópias ao redor do mundo ter tantos deslocamentos de tempo e tantos grooves com pedal duplo. Carter abriu o mercado com sua abordagem eclética e tão pessoal. Tive a chance de vê-los ao vivo, no Rock in Rio III, um dia antes do Iron Maiden.
Joey Tafolla - "Infra-Blue"
Apesar de ser o disco de um guitarrista, é o baterista Deen Castronovo que é o show man por aqui. Um disco instrumental mais que perfeito, com três músicos muito competentes. Completa o time o baixista John Onder, que mais tarde também gravaria com o Artension. As músicas são bem ecléticas e isso faz com que o disco nem pareça instrumental. Esse disco é a base da vídeo aula "High Performance Drumming", de Deen Castronovo, e como ele mesmo ressalta na fita, as ideias simplesmente aparecem durante um bom "take" e nada mais. Para os bateristas curiosos, escutem também os discos: Cacophony – Go Off (1988), Tony MacAlpine – Premonition (1994), Dragon’s Kiss – Marty Friedman (1988) e avaliem se o Deen não estava muito a frente do seu tempo.
Álbuns que Marcaram
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