Angra: A reinvenção de uma lenda do metal nacional
Resenha - Ømni - Angra
Por Ramon Cardinali
Postado em 19 de fevereiro de 2018
Nota: 8
No início de 2017 tivemos o lançamento do "Machine Messiah", do Sepultura. Maravilha! Um dos melhores discos da banda. Sem dúvidas o melhor da "era Derrick". Agora, início de 2018, é a vez do "Omni". Pra mim, o melhor disco do Angra desde o saudoso "Temple of Shadows"! Como é bom ver as duas maiores e mais clássicas bandas do metal brasileiro buscando se reinventar!
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Reinvenção é precisamente a palavra que me veio à mente ao escutar esse novo disco do Angra. A começar pela formação, que agora tem Marcelo Barbosa na guitarra — com a penosa tarefa de substituir Kiko Loureiro (atual guitarrista do Megadeth). Além da nova formação, a banda, que se destacou internacionalmente por fazer um "power metal à brasileira", parece agora influenciada pela sonoridade do djent e do prog metal contemporâneo. É notável a influência de bandas como Intervals, Periphery e Pain of Salvation, por exemplo. Tanto o power metal quanto os ritmos brasileiros continuam fazendo parte da mistura, mas é a sonoridade prog, que sempre deu suas caras ao longo dos lançamentos anteriores, que está extremamente acentuada aqui.
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No disco anterior, "Secret Garden", uma das músicas que mais dividiu opiniões entre os fãs foi a "Upper Levels". Justamente a música mais prog: com estrutura menos convencional, com menor presença dos tradicionais compassos em 4/4 etc.. Enquanto alguns acharam ela simplesmente a melhor música do disco, outros não conseguiram "senti-la". Ao meu ver, algo similar irá ocorrer com as reações ao "Omni": ele irá dividir os fãs. Alguns irão torcer o nariz de imediato, dizendo que "Angra não é mais Angra" (como se isso fosse inerentemente ruim). Outros vão reconhecer um esforço extremamente válido de reinvenção — no melhor sentido do termo. Me coloco junto aos últimos.
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Esse predomínio da sonoridade prog torna o "Omni" um álbum de mais difícil digestão (em relação aos anteriores), mas o torna também um dos mais recompensadores na discografia da banda.
O álbum inicia com a música "Light of Transcendence", cuja melodia inicial remete imediatamente à clássica "Nova Era", do álbum "Rebirth". É sem dúvidas a música mais acessível desse novo disco. Angra fazendo seu clássico power metal, com tempo acelerado, elementos sinfônicos, melodias grudentas e tudo mais. Em termos de estrutura, uma música comparável a "Spread Your Fire", "Nova Era", "Carry On" e outros clássicos. Uma ótima e, ao mesmo tempo, "ilusória" música de abertura, pois ela não aponta para o caminho tomado no resto do disco.
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Da segunda canção em diante a banda explora novos territórios. Exemplo claro disso é a terceira canção do álbum, "Black Widow’s Web". A música apresenta a participação de Alissa White-Gluz (atual vocalista do Arch Enemy). O que isso significa? Significa que é a primeira música do Angra com vocais guturais! A faixa tem também uma breve participação da Sandy, que na minha opinião, deveria ter sido melhor aproveitada. A sonoridade está longe do tradicional power metal, tanto nos vocais quanto nos riffs — que estão mais "djent" do que nunca.
Se o ouvinte se colocar aberto à proposta mais experimental da banda, ele rapidamente perceberá que as "melodias grudentas" no vocal — característica clássica do Angra — permanecem fortes. Isso fica evidente em canções como "Insania", "Travelers of Time", "Caveman" (Olha o macaco na árvore!) e "Magic Mirror".
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Coerente com essa aproximação de uma sonoridade prog, "Omni" pode também ser considerado o álbum mais técnico na carreira da banda. Isso foi reconhecido pelos próprios integrantes em entrevistas recentes. Todos os músicos estão em altíssimo nível aqui! Fabio Lione (vocal) dispensa comentários e parece infinitamente mais à vontade. Meu destaque, entretanto, vai para a "cozinha". Felipe Andreoli (baixo) e Bruno Valverde (bateria) dão um show à parte! Conseguiram superar o trabalho dos guitarristas em termos de criatividade. Ouça o início de "Insania" para um belo exemplar de groove e criatividade! Um destaque ainda mais especial (talvez por eu também ser baterista) para o trabalho do Bruno, que por ser um músico extremamente versátil, torna o caminho da experimentação mais fácil e natural.
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Não obstante, algumas músicas me soaram pouco inspiradas. É o caso de "The Bottom of my Soul" e "Always More" — coincidentemente, as duas "baladas" do disco. O vocal de Rafael Bittencourt (guitarra) na "The Bottom of my Soul" é bom, mas é ofuscado pelo trabalho magnífico realizado por Lione ao longo do disco. Já "Always More" soa excessivamente genérica e conservadora. Ambas não apresentam nada de novo e não emocionam como as baladas de discos anteriores ("Silent Call", "Make Believe", "Rebirth", etc.).
No mais, trata-se de um disco que aprofunda a busca por uma reinvenção da sonoridade do Angra — busca essa iniciada no disco anterior, "Secret Garden". Não é um disco passível de ser digerido com uma apreciação apenas, especialmente se o ouvinte estiver esperando escutar o "Angra de sempre". Isso irá afastar alguns, mas com certeza irá chamar a atenção de novos ouvintes. Aliás, a menção ao Sepultura no início desse texto não foi acaso. O "Machine Messiah" provocou efeito similar. O disco mostrou um Sepultura mais experimental (também flertanto com o prog!) e dividiu opiniões. Entretanto, trouxe também vários novos fãs, que só começaram a prestar mais atenção ao Sepultura agora, através do "Machine Messiah" (sim, conheço casos).
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Nos resta torcer pela manutenção da atual formação da banda (algo que sempre foi uma pedra no sapato do Angra), para que o processo de experimentação possa se consolidar em algo ainda melhor num lançamento futuro. Ainda assim, "Omni" é um trabalho excelente, bem produzido e diversificado — conseguindo, apesar da diversidade, ser mais coeso que seu antecessor "Secret Garden". O melhor desde "Temple of Shadows"!
Tracklist:
01. Light of Transcedence
02. Travelers of Time
03. Black Widow´s Web
04. Insania
05. The Bottom of My Soul
06. War Horms
07. Caveman
08. Magic Mirror
09. Always More
10. OMNI - Silence Inside
11. OMNI - Infinite Nothing
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