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On The Road: Num muro dos anos 70

Por Cláudio Vigo
Postado em 31 de julho de 2001

Juro que a intenção não era essa. Tinha em mente falar sobre alguma coisa bem "groovy", bem "funky". Ando ouvindo muito Tower of Power e tem um CD do mago do batuque Willie Bobo rolando direto enquanto estou escrevendo. Mas como se fosse um Proust carioca, no meio de um café caído e um biscoito meio velho (que substituem mal e parcamente o chá e as madeleines do gênio francês), comecei a lembrar de um monte de figuras hilárias dos anos 70. Gente que sumiu, encaretou, engordou ou pirou. Meu Mirabel velho foi a minha passagem prum tempo perdido que deu vontade de compartilhar. Na próxima juro que aumento o suingue. Por hoje, vamos tirar um pouco de poeira do armário da memória?

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Os anos eram os finais da década de 70, entre 76 e 79. Eu morava em um bairro residencial de Niterói e então todos os amigos de infância e de intermináveis peladas e outros agitos típicos estavam com uma tendência para o ócio contemplativo e cabelos crescendo com rapidez proporcional a descoberta de discos novos. Havia um amigo (meu vizinho) cujos pais (talvez por surdez) tinham uma especial tolerância com o volume do que escutávamos todas as noites, por horas a fio, sentados em cima de seu muro, simplesmente apreciando o movimento, enquanto o "Made in Japan" do Purple rolava inteiro no volume mais ensurdecedor.

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Não preciso dizer que este muro acabou virando point, altamente freqüentado por uma fauna bizarra e variada, que trazia sempre algumas novidades (sonoras ou não) para os freqüentadores experimentarem. O primeiro disco do Led Zeppelin foi lá que ouvi, comprei em primeiríssima mão o "A Night at the Opera" do Queen que ninguém conhecia. E tome Robin Trower, Santana, Foghat, Status Quo, Slade, Black Sabbath degustados se equilibrando no tal Muro do Delírio.


O vizinho da frente era bem mais velho e atendia pelo apelido de "Paulinho Astronauta" e lá das galáxias distantes que habitava fazia imitações de Johnny Winter e Hendrix, totalmente previsíveis, pois sempre repetia o mesmo solo e vocal, independente do que estava interpretando. Ouvíamos com atenção, era o nosso ídolo e terror de nossas mães (talvez por isso) e aplicava a galera em coisas como Cream, Wishbone Ash e Allman Brothers, suas bandas preferidas. Em menos de um ano meu cabelo estava do tamanho do dele (enorme) e andava com uma guitarra que nunca aprendi a tocar. Quando tinha festa na casa da figura ficávamos olhando de fora, literalmente em cima do muro, apreciando o entra e sai da malucada e comentando a intensidade do aroma da noite.

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Outra figura pra lá de folclórica era um negão enorme (parecia o armário de Três Rios do show do Camel) que nos dias de hoje fatalmente seria um curtidor de pagode, mas que naquela época era um fã alucinado de rock progressivo. Era o maior arranhador de discos que Deus havia posto na terra e detonou a coleção de muita gente boa. Eu fugia dele como o diabo da cruz e ele vivia implorando o empréstimo de alguma coisa que "infelizmente estava emprestada com aquele meu primo da Tijuca". Ele não se conformava e tentava outros discos: "E o Breque Sabá...? Hum... Foi também..." respondia. "e o Íéis..." "com a namorada dele...". "Azar né?..." "E o Du porpo?"... e por aí ia com a maior dificuldade de identificar o grupo pela pronuncia típica do Manzuba (o nome da peça). "Ô Craudio, ruma este Jreto tu que eu tô pedindo que eu te rumo o daquele cara o Emerson Lake Palmi..." depois que Manzuba reduziu, como se fosse a santíssima trindade, os três em um... desisti e falei: "empresto não Manzuba, empresto não". Pensando bem, talvez este papo de santíssima trindade agradasse aos egos inflados de Keith Emerson, Greg Lake e Carl Palmer".

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Marrio Lorro era outra peça antológica. Notório surfista de areia, amava o Lynyrd Skynyrd e o América assim como o relato de fantásticas e épicas ondas que pegava sempre entre quatro e 5 da manhã, um horário infelizmente pouco propicio a testemunhas. Uma Pena! Chegávamos na praia e a figura em pé como um totem olhando pro horizonte saudosamente.

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Perguntávamos invariavelmente: "e aí vai entrar? Parece que ta legal né?" no que respondia sempre: "que nada... De manhã tava alucinante, quase três metros. Caí sozinho e to cansadão. Loucura mermão, loucura!" Todo mundo acreditava, ou quase, e a "Onda Perfeita" do Marrio Lorro não podia ser conspurcada com este detalhe de realidade. Ficava inacessível como na Caverna de Platão, perfeita, alimentando o mito do surfista da madrugada.


Havia uma banda que era a nossa síntese: um power trio bem heavy com forte influência do Uriah Heep e Purple, todos os músicos nossos amigos, os seguíamos como deadheads atrás de Jerry Garcia e sua trupe. Eu ajudava a carregar umas caixas e me sentia em Woodstock com tudo a que tinha direito. Era um misto de road com fã e tinha tanta pose e estilo que o grupo chegou a me chamar pra ser vocalista; mas depois da primeira versão de "Burn" a la Glenn Hughes com cabeleira voando e agudos, o conselho pra voltar pro carregamento de caixas foi imediato. Dizem que esta foi a pior imitação de Hughes de todos os tempos. Pra meu desespero e curiosidade mórbida existe um cassete perdido prestes a ser eternizado em cd pirata e caseiro da estonteante versão. Pois esta banda tinha dois guitarristas (eu disse que era Power trio, eu sei, mas vocês já vão entender): um faiscante e sacolejante apelidado por motivos óbvios de Peter Blackmore, e o outro chamado Ernesto, que tocava uma guitarra base sem nenhum volume. Além disso, era dono de uma fantástica garagem, de uma bela Fender e tinha uma mãe altamente tolerante ao ruído que adorava servir intermináveis lanches; usava um cabelo semi reco, uns óculos de fundo de garrafa que o tornavam parecido com um misto de Woody Allen e Elvis Costello. Não tinha a mínima noção de ritmo e passava todas as musicas possivelmente tocando os mesmos acordes (ninguém ouvia) que eram marcados com um pezinho torto e olho fechado. Já o Blackmore tocava com a guitarra dele e emprestava a sua detonada Gianini "mais adaptada ao ritmo". O cara vivia em Marte e possivelmente estava adiantado ao seu tempo. Se formos ver o que fez sucesso na década seguinte o Ernesto se encaixava como uma luva. Os óculos, o ritmo quebrado, a esquisitice. Se fosse inglês chegaria ao estrelato sem duvida!

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Se tem uma palavra que pode definir Paulo Ronaldo (outra peça raríssima) esta palavra é gostoso. O sujeito se dedicava dia e noite ao exercício da gostosura e era a coisa mais próxima de David Cassidy que existia. Muitas senhoras casadas e cheias de filhos escondem com todas as forças o fato de terem sucumbido aos encantos do efebo. Hoje negam, dizem que não se lembram, mas ouviram muito Lynyrd Skynyrd e Poco naquela fusca a beira mar onde ele contava as peripécias de seu guia espiritual, um encosto indígena de origem Apache, e gemia um "ai luv ma beibe" nos ouvidos perplexos com o sotaque do Alabama. Hoje é um senhor mais pra cheinho e possivelmente não causa tantos suspiros. Agora, cá entre nós: "Guia espiritual Indígena e Apache" é muito engraçado. Se ainda fosse tupiniquim ou Bororó, vai lá.

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Infelizmente pouco sei do fim que levaram estas figuras. Tinha mais um monte delas, de algumas eu esqueci, outras resolvi obscurecer. O que ligava toda esta turma era o fato que o rock era nosso assunto principal, nossa razão de viver. Todos tínhamos grupos preferidos e ódio profundo à Disco Music que surgia com toda força pra nos atormentar. Se Marcel Proust toda vez que molhava sua Madeleine no Chá vislumbrava (com talento e gênio é claro, o que infelizmente não é o caso aqui) um mundo de Barões e Condes, o meu Combray é um muro baixo e descascado que hoje vive vazio à espera de uma outra turma de malucos pra se sentar e sonhar com um futuro cheio de histórias prá contar ao som do bom e velho rock'n'roll. Não consigo deixar de sentir um travo de melancolia toda vez que passo por ali. Quantas escolhas de caminho nas tantas encruzilhadas (crossroads) que se apresentaram em tanto tempo. Pensando bem, até o biscoito Mirabel parou de ser fabricado e este café está pra lá de requentado como todas estas lembranças.

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Muitas vezes a gente se acostuma com a cajuada e nem conhece o gosto do caju. O Willie Bobo terminou e pude perceber que muito do Santana e de muita coisa saiu desta fonte. Um fantástico Latin Jazz dos 60 com muita conga, maraca, Timbales e um suingue de perder o rumo. Peguei-me gritando uns três "ughs!" nos intervalos da metaleira. Entrou um Herbie Hancok agora em que os clássicos Cantaloupe Island e Maiden Voyage estão mostrando que o original é superior a todo o acid jazz que sampleou estas musicas.

Caramba! Já estou entrando no assunto que eu ia falar. Vou jogar este café fora e procurar alguma coisa mais interessante pra ouvir o resto deste Herbie Hancock. Quem vai nessa?

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Sobre Cláudio Vigo

Da safra de 62 , Claudio Vigo ganha a vida com a poesia, o jazz e o rock n roll. Paga as contas como arquiteto.
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