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Roadie Crew: Tudo o que cercou a histórica entrevista com Vinnie Paul

Por Thiago Sarkis
Postado em 10 de agosto de 2006

Profissionalismo, está aí uma coisa que não se pode abrir mão, mas que demanda sérios cuidados. Nada mais comum na atualidade, principalmente no que diz respeito à imprensa, do que vermos esse "termo mágico" ser usado como justificativa para trabalhos frios, secos, e totalmente desprovidos do mínimo de sensibilidade e respeito aos limites de um ser humano.

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Talvez os paparazzi, em grande parte, sejam o melhor exemplo disso. Em outras palavras, certas situações demandam do profissional algo além de seu profissionalismo. Matérias como essa que ilustra a capa da atual Roadie Crew enquadram-se justamente aí.

Após a morte de Dimebag Darrell Abbott em 8 de dezembro de 2004, seu irmão e companheiro de banda, Vinnie Paul, tornou-se uma das personalidades mais procuradas de todo o meio musical, não só do Heavy Metal. Àquele momento, uma única frase dele já cairia bem à grade de programação de qualquer emissora, ou aos mapas de revistas, jornais, sites, inclusive os não especializados em artes e que sequer sabiam da existência de sua música. A questão não residia aí, mas sim no ponto do estúpido assassinato de Dimebag ser uma boa saída para que todos esse veículos arrecadassem mais, seja em dinheiro ou nos famosos índices de audiência, os "números do IBOPE".

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É inegável que a curiosidade atinge níveis altíssimos em episódios tão extremos e, conseqüentemente, algumas vezes, na febre de acharmos aquilo que o público procura, e/ou o que nós mesmos buscamos, tropeçamos em nossas próprias pernas. Isto posto, doses "mínimas" de controle, juízo, reflexão, e consideração, fazem muito bem nestes momentos.

Voltando no tempo, 2004 acabou da maneira que nenhum de nós desejava, e 2005 chegou trazendo esperança, sabe-se lá como ou porquê, de dias melhores. Aqueles que partiram já não voltavam mais, e os que ficaram precisaram escolher maneiras de tocarem suas vidas. Vinnie Paul decidiu se isolar. Ninguém o encontrava, e notícias relacionadas a ele, seus projetos, antigas bandas, etc., praticamente se resumiam a rumores, ou boletins policiais que atualizavam os fãs sobre o desenrolar das investigações da morte de Dimebag. Neste tempo, e é preciso enfatizar isso, os veículos relacionados à música tiveram uma postura brilhante. Nada de fotos, invasões de privacidade, ligações, etc. Fãs, jornalistas, e até paparazzis, entraram num consenso de que era preciso "dar tempo ao tempo". Como resultado, Vinnie voltou à mídia por conta própria, no segundo semestre de 2005, quase final do ano passado, quando sentiu que tinha condições. Contudo, ainda falando pouco... apenas deixando pistas de que seu retorno se aproximava. Não tardou, e ele surgiu com a gravadora Big Vin Records, anunciando o CD "Rebel Meets Rebel" e o DVD "Dimevision".

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Uma declaração aqui, outra ali, e de repente Vinnie estava efetivamente na imprensa, sendo entrevistado, conversando com repórteres, colunistas, etc. Obviamente ele sabia, assim como qualquer um de nós, que todas essas pautas abordariam não só seus novos lançamentos, como também o que havia ocorrido a ele, seu processo de recuperação até o regresso à cena, e os acontecimentos do fatídico 8 de dezembro de 2004.

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Como nos velhos tempos, quando E-mail, Skype, MSN, AIM, etc., ainda não facilitavam os contatos, preparei um pacote incluindo uma carta assinada, e uma revista Roadie Crew (Ed. #86). Enviei o material, contudo, sempre tive a consciência de que o foco de divulgação da Big Vin Records era a América do Norte, e que uma data para imprensa no Brasil não seria algo fácil de se arrumar. Duas semanas depois, qual não foi a surpresa quando, ao conferir meus e-mails, deparei-me com uma mensagem da assessoria do músico perguntando quando e como queríamos realizar a entrevista.

Vinnie viajaria ao Canadá dias depois, e sua equipe logo nos notificou sobre isso, questionando inclusive se não queríamos que Mitch Lafon, nosso correspondente por lá, fosse ao encontro deles. Apesar de sabermos que isso diminuiria os custos do trabalho consideravelmente, e também que Mitch traria um material soberbo, prontamente respondemos: "NÃO!".

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A paixão por Pantera e Damageplan e a morte de Dimebag foram vivenciadas pelos brasileiros de uma maneira bem particular, e dificilmente conseguiríamos transmitir isso através de alguém que não houvesse sentido ou participado daquele movimento incrível que nos mobilizou após alguns absurdos televisivos que todos se lembram muito bem (aproveito a chance e agradeço a Maurício Ricardo do Charges.com.br pelo apoio dado na época).

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Tudo deu certo, e exatamente um ano e meio após o falecimento de Dimebag, falávamos novamente com Vinnie Paul. Em poucos segundos de ligação, ele já expressava a felicidade em poder se comunicar com seus fãs no Brasil novamente. "Eu estava ansioso por isso, fiquei muito contente em receber a carta e a revista. É um prazer falar com os brasileiros de novo". Começamos então a abordar a criação, os objetivos da Big Vin Records, e o que ele procurava em termos artísticos para a sua gravadora. Independentemente do que tratávamos, a menção de Vinnie ao irmão, chamando-o de "Dime", surgia. Algo recorrente, ininterrupto... não importava tópico, ritmo de conversa, e se tratávamos de algo engraçado, triste, animado, melancólico.

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Apesar de guardar lembranças muito positivas de Dimebag, e de se referir a ele com orgulho a todo o momento, as memórias da tragédia, a terrível "presença da falta", e os assuntos relativos a 8 de dezembro apareciam com mais e mais freqüência. Chegamos a um ponto em que precisamos parar, e isso é retratado fielmente na revista. A paralisação com ambos os lados embargados nas vozes veio após a descrição de Vinnie de seus últimos momentos com o irmão. Reproduzimos abaixo o trecho final desta parte da entrevista:

"(...) Antes de entrar no palco, olhei para Dime, e ele se aquecia na guitarra. Andei na direção dele e disse: ‘Van Halen’, ao que ele respondeu: ‘Van-fucking-Halen’. Um minuto e meio depois, e eu nunca mais falaria com meu irmão de novo. Van Halen era o nosso código, pois os considerávamos a maior banda de todos os tempos no palco. Quando falávamos aquilo, sabíamos que era hora de detonar. Van Halen foi a última coisa que ouvi meu irmão dizer, e é inacreditável pensar isso."

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Passamos a falar de Zakk Wylde, dos planos de lançamentos futuros com material inédito de Pantera, Damageplan, e do próprio Dimebag, também percorremos as polêmicas com Phil Anselmo, e as críticas de Ted Nugent à versão de "Cat Scratch Fever" gravada pelo Pantera. Enfim, resumimos alguns detalhes que restavam, mas já era hora de acabar. Não dava mais. Desliguei o gravador, conversamos um pouco, e Vinnie ressaltou a luta que tem pela frente para conduzir o legado deixado pelo irmão (N. do E.: o que inspirou o título da matéria), e agradeceu por todo o amor e carinho dos brasileiros em relação a Dimebag, e pelo apoio e espaço dado à Big Vin Records e a seus novos projetos.

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Dias depois chegava a nós um pacote do próprio Vinnie Paul, algo que realmente nos orgulha, e comprova que cumprimos nosso papel integralmente. Do começo, quando nos revoltamos e protestamos contra o sensacionalismo Global, reunimos músicos, e prestamos homenagens a Dimebag, ao fim, com a devida resposta aos Arnaldos Jabors do mundo, dada pelo próprio Vinnie.


Depois de duas publicações, e muitas sugestões (obrigado!), decidimos dedicar o Roadie Crew Report apenas e tão somente à matéria de capa da revista. Novas idéias são muito bem vindas, pois estamos construindo a coluna com vocês, leitores da Roadie Crew, e também do Whiplash!. Sendo assim, encorajamos todos a continuarem nos enviando suas sugestões, críticas, idéias, deixando-nos saber aquilo que gostariam de ter por aqui.

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Agradecimentos finais: Janie Hoffman, Chad Lee, Talita Carvalhais Lauar, Frederico Prates.


Morte de Dimebag Darrell

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Sobre Thiago Sarkis

Thiago Sarkis: Colaborador do Whiplash!, iniciou sua trajetória no Rock ainda novo, convivendo com a explosão da cena nacional. Partiu então para Van Halen, Metallica, Dire Straits, Megadeth. Começou a redigir no próprio Whiplash! e tornou-se, posteriormente, correspondente internacional das revistas RSJ (Índia - foto ao lado), Popular 1 (Espanha), Spark (República Tcheca), PainKiller (China), Rock Hard (Grécia), Rock Express (ex-Iugoslávia), entre outras. Teve seus textos veiculados em 35 países e, no Brasil, escreveu para Comando Rock, Disconnected, [] Zero, Roadie Crew, Valhalla.
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