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Poser City - Uma análise da cena glam carioca

Por Carlos Lopes
Postado em 20 de maio de 2007

Glam Rock City? Hell de Janeiro? Quando dizem que o Rio é uma cidade de modistas, os "especialistas" esquecem de analisar (e levar em conta) as características peculiares de cada Estado. Você já imaginou carioca tomando chimarrão de pé no bar da esquina? Pois é, nem eu. Visto dessa forma, não há como dissociar comportamento do ambiente.

NOTA DO EDITOR: Este texto é a estréia da coluna "O Martelo" de Carlos Lopes no Whiplash! Mais textos do Carlos podem ser lidos no seu excelente site, de mesmo nome, em www.omartelo.com.

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Os estilos comportamentais e musicais nascem e morrem na Guanabara, como em qualquer outro lugar. Alguns são mais perenes do que outros, pois criam raízes, assim como o funk, que cá aterrissou e hoje é típica música carioca, assim como o reggae é música maranhense. A diferença é que rock é uma música feita por uma minoria, que sobrevive como pode. Alimentar sonhos é um recurso bastante usado para sobreviver. Mas um dos maiores laços para a sobrevivência de qualquer cena é a amizade. Fãs se agrupam, fazem suas festas (vide o boom das festas revival dos anos 80 e o Erotische Ausgabe, por exemplo), trocam informações e alimentam o sonho coletivo. Toda cena nasce de uma amizade. Ou de uma mentira dita como verdade. Defendo o glam como parte da cultura urbana carioca. Há bastante tempo ouço falar dessa cena local. Faltava-me o interesse para conhecê-la. Só achava o termo glam inadequado, pois o glam (ou glitter rock) clássico nasceu na Inglaterra e teve expoentes como Marc Bolan, David Bowie, The Sweet, Slade, Gary Glitter e não Poison e Motley Crüe. Apesar de serem boas bandas, americanos são americanos e ingleses são britânicos. Americano glam para mim é o New York Dolls, mas eles tocavam rock and roll negro e não hard rock branco. A diferença que faz toda a diferença. O termo "farofa", usado no passado pejorativamente para designar um estilo de hard rock oitentista, já deixou há muito de ser usado com desdém. Hoje representa, como nenhum outro, o estilo sexo-mulheres-hard rock americanizado. Acredito que essa seja a denominação mais adequada ao movimento. E a correlação é muito engraçada. "Farofeiro" é o sujeito de classe baixa, que leva frango e farofa para a praia, para comer com a família. Eu simpatizo com esse termo, assim como metaleiro, que ainda possui uma conotação negativa, mas que já é pronunciado com orgulho. Uma geração subsequente sempre absorve e reinterpreta o passado de uma nova maneira. O que antes era simplesmente dantesco, passa a ser aceitável para a outra. Por exemplo, chamar uma dama de "cachorra", para mim ainda é um absurdo. Hoje é comum, nem tem mais graça. Taí o grande segredo: as novas mentalidades. A minha geração espantou as mulheres dos shows. As composições dessas novas bandas (muitas, nem tão novas assim) falam sobre o básico do básico: amor, prioritariamente em forma de sexo. E cantam sem fazer cara feia. Se vestem bem e tratam dos cabelos. Realmente, esse pessoal está em outra.O termo "Hair Metal" não se aplica no Brasil pois somos um povo mestiço. Temos cabelos alisados à chapinha. Seria bom se todos assumissem isso. E ser mestiço é do caralho! Se você tem cabelo liso não se sinta atingido. Estou apenas analisando e não dividindo.

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Por isso somos todos um povo farofa, gostando ou não de hard rock. Uma geração intermediária, no final dos 80 e início dos 90, tentou implantar o estilo "farofa" por aqui, mas deu com os burros n´água. Para ser farofeiro tem que ter mulher no show, pois esse é o objetivo maior.

A cena naufragou nos 80 e 90, sem nascer. Teve que se reconstruída a partir de 2 ou 3 personagens, que aguentaram todas as ofensas possíveis, cusparadas e xingamentos. Aguentaram e venceram, é direito de todos ter a cena que quiser. E eles construíram a deles, longe dos nazistas, dos white e dos black metals. Agora podem se orgulhar do resultado. O visual e as harmonias dessas novas bandas são todas "chupinhadas" da cena "farofa" dos 80. Esse é um aspecto que se tornou majoritário em quase todas as vertentes: as novas gerações idolatram os anos 80, até mais do que os 70 ou os 60. Meninas e meninos na puberdade que só querem se divertir ao som de Ratt, White Lion, Firehouse e Dokken. E por que, não? Hard rock americano desce redondo no ouvido deles, pois seus sonhos ainda não tiveram tempo para se degradar, ainda não foram contaminados pelos vícios do passado.

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Graças a Deus. Pelo menos, metade das baladas hard, que conheço é assumidamente brega. Ao prestar atenção nas melodias, percebi que esse estilo baladeiro absorve, mesmo sem querer, clichês das antigas canções românticas da soul music americana dos anos 60. E creio que nem os músicos sabem disso. Esse detalhe explicou-me confortavelmente muita coisa. Os hards navegam em dois mundos, sem ter conhecimento: no branco (assumidamente) e no negro. E tudo o que é negro desperta paixão. É sensual, é sexual. Black is beautiful. Glam is beautiful.

As bandas e os fãs hard da cidade têm o saudável hábito de pegar o ita para São Paulo para assistir bandas brasileiras de hard rock! E isso fortalece a cena, desde que a outra metade faça a sua parte, é claro. Parece incrível, mas era exatamente o que acontecia há 20 anos, quando a paixão na cena metálica falava mais alto: o povo viajava entre os Estados para assistir shows de bandas brasileiras. As pessoas ainda não concorriam entre si. Eram como irmãos. Assim como parece hoje. Os contratos e a inveja colocaram tudo para perder no passado. A concorrência desleal pode ter ajudado "um par de três" bandas, mas acabou destruindo a cena clássica do metal brasileiro. Outra semelhança que existe com o passado é a completa falta de estrutura para os shows. O farofeiro adora o mundo glamourizado, mas no Rio não há condições de se tocar em uma casa com ótimo som e luz, então só a força dos amigos pode salvar a cena da derrocada. Se a platéia é linda e participante, o que está em volta passa a não ser tão importante: todos sonham juntos e acaba dando tudo certo. É primordial fazer o sonho crescer. Nunca vi o Rio under tão bonito, com gente tão leve, solta e animada. Há muito tempo não tinha orgulho da minha cidade, mas hoje sei que o futuro está aqui. O Rio se reencontrou, seja no hard rock farofa ou no glam rock clássico. Rio é Hollywood, é praia, paetê, travesti, é bloco de carnaval, não é Nova Iorque. Que cada um faça a cena da sua maneira, mas que todos estejam juntos nesse momento da ascenção. Rio é neon e purpurina, essa é a nossa casa. As bandas locais são ótimas, umas melhores que outras, mas isso não vem ao caso, pois como falei, não deve haver concorrência, mas sim espaço para todas. Mas tudo isso depende da amizade e do respeito. Caros "Farofeiros" da cidade, se divirtam pois vocês merecem. Vivam o seu momento. Em compensação a cena de metal melódico do Rio está arrasada. Nesse ponto, quem diz que essa é uma cidade modista, tem lá a sua razão. Parece que aqui não tem espaço para duas coisas.

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Sobre Carlos Lopes

Carlos Lopes é jornalista, músico, produtor e escritor. No início dos anos 80, ele fundou uma das bandas de metal mais populares do Brasil, a Dorsal Atlântica, onde era guitarrista, compositor e vocalista. Foi a primeira banda da América do Sul a fundir punk e metal. Entre 1981 e 2001, gravou oito discos com a Dorsal, sendo o último produzido na Inglaterra. Em 2005 regravou o primeiro álbum da Dorsal (Antes do Fim), que foi eleito pelos leitores da revista Rock Brigade como um dos melhores trabalhos da temporada. Há seis anos comanda duas bandas de rock, a Mustang e a Usina Le Blond, cada uma já com três CDs de estudio. Como jornalista e escritor, colaborou desde cedo com desenhos e textos para várias publicações e fanzines. Formou-se em Jornalismo na Faculdade da Cidade no Rio de Janeiro. Desde 2006, edita o site www.omartelo.com.
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