O Martelo: Patolla, o produtor de Charlie Brow e Biquini Cavadão
Por Carlos Lopes
Postado em 19 de novembro de 2007
Todo produtor musical é reconhecido quando o seu trabalho (mais o da banda) alcança os primeiros lugares das paradas. Não estamos aqui para debater se o artista atinge tal façanha, movido pelos velhos esquemas dos selos "mais profissionais" (jabá, cota para tocar em rádio etc), mas sim para conversar com o "desconhecido" ser que deixa o disco redondinho, timbra os instrumentos, dá conselhos, organiza a barafunda e continua, quase sempre, como diremos...um desconhecido. Conversei com um dos mais renomados produtores brasileiros: o conhecido Tadeu Patolla que ganhou ares de estrela com a ascenção do bem sucedido Charlie Brown.
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Pergunta de praxe, como você começou na profissão?
Tadeu Patolla: Eu sempre gostei de ouvir música como um todo. Desde pequeno prestava muita atenção nos arranjos, como os instrumentos e as vozes se comportavam na gravação, no volume das coisas, etc. Ter virado produtor, também é culpa da minha formação musical. Na adolescência, estudei música e guitarra por muito tempo. Tive vários professores até que me identifiquei muito com um que me apresentou a um tal de Jimi Hendrix. Apesar de não conhecê-lo pessoalmente, claro, ele me ensinou muito através de seus discos. Também prestava muita atenção nas produções do George Martin, produtor dos Beatles, e no Quinci Jones, grande músico que também produziu alguns dos melhores discos do Michael Jackson.
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Fale sobre os seus lançamentos mais reconhecidos. Você passou de músico para produtor ou começou produtor?
Tadeu Patolla: Comecei minha carreira como músico, toquei em bandas cover (Rock Memory e Rock Cover) e tive algumas bandas de músicas próprias (Lagoa 66 e Telex). Em 1988, comecei a atuar como produtor e músico no disco "La Famiglia" do Skowa e a Máfia. De 96 para cá, descobri o Charlie Brown Jr., o qual produzi seis discos e dois DVDs, entre eles o Acústico MTV onde também participei como músico. Trabalhei também com Wilson Sideral, Deborah Blando, Biquini Cavadão e Jorge Benjor, entre outros. No site www.patolla.com.br você encontra um portfólio com todos os meus trabalhos.
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Como tem sido o relacionamento entre o seu sei-o-que-é-melhor-para-a-banda ou sei-o-que-é-melhor-para-o-mercado? Você produz visando o ouvido médio, sem ser muito underground ou muito radiofônico?
Tadeu Patolla: A briga no mercado brasileiro pelo sucesso sempre foi muito intensa. Procuro extrair o máximo de rendimento musical e artístico de uma banda, filtrando seu trabalho, mas sem tirar a sua essência. Gosto mais de trabalhos radiofônicos porém sempre viso o bom gosto e a atitude. Se não gosto do trabalho não pego! Precisa ter uma química muito forte entre produtor e artista para acontecer alguma coisa boa.
Como foi sua primeira experiência como produtor?
Tadeu Patolla: Foi muito boa! Aconteceu com uma banda difícil de cuidar pois havia muitos músicos (Skowa e a Máfia). Mas isso me deu, logo de cara, muita experiência para levar a profissão adiante.
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O que você mais errou, acertou e aprendeu?
Tadeu Patolla: Aprendi que o respeito é a base de tudo num relacionamento com o artista e, na maioria das vezes, acertei por isso. Já errei em não bater o pé e defender meu ponto de vista o que, lá na frente, me causou alguns problemas. Mas fez parte do meu aprendizado e nunca mais cometi o mesmo erro.
Você se considera um produtor liberal ou controlador?
Tadeu Patolla: Às vezes é preciso ser um pouco enérgico, controlador nunca. Gosto de trocar idéias sobre o trabalho e geralmente venho com muitas dessas idéias já formatadas. O resto é só afinidade com o artista. A tal da química que é necessária existir.
Você já teve problemas ou algum desgaste em relação a algum dos produzidos durante o processo de gravação?
Tadeu Patolla: Raramente. Com o Charlie Brown Jr., depois de produzir o terceiro disco consecutivo, aconteceram alguns desgastes devido a convivência com o Chorão que, apesar de ser meu amigo e muito talentoso, é um cara difícil de lidar às vezes.
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Qual das bandas você achava que ia estourar e não aconteceu? Ocorreu o processo inverso?
Tadeu Patolla: Fiz um disco com o cantor e guitarrista Sideral que pensei que fosse ser um grande estouro. A sonoridade do disco ficou muito além do que esperávamos, muito boa mesmo! O que atrapalhou foi a música que a gravadora impôs para ser lançada como single e que eu não acreditava nem um pouco. Isso foi o bastante para desperdiçar um grande trabalho e queimar o filme do artista. No processo inverso, aconteceu recentemente com o CD e o DVD ao vivo do Biquini Cavadão. Fizemos o trabalho sem pretensão nenhuma e apenas com um mês nas lojas, o CD e o DVD do Biquini venderam muito bem e a banda está com a agenda lotada de shows.
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Você deve ter definido alguns "atalhos", tipo "vou usar esse ampli, essa microfonação, etc", porque sempre dá certo e você poupa tempo e investimento, ou você pode exceder uma programação em busca do som perfeito. Pode citar alguns atalhos?
Tadeu Patolla: Hoje, é muito comum em uma produção usar simuladores de amplificadores de guitarra, samples de bateria - que somados ao som original do instrumento criam uma sonoridade única - e recursos de afinação de voz - não porque o cantor não canta bem, mas por ser um padrão e uma tendência a serem seguidos mundialmente na música pop. Isso não chega a ser uma preocupação em termos de custo ou ser uma forma rápida de resolver as coisas. São recursos tecnológicos que estão à nossa disposição! Sendo assim, porque não usá-los ponderadamente para buscar sua própria sonoridade.
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Você sempre teve ou tem carta branca?
Tadeu Patolla: Sim. Desde que o artista concorde com as minhas idéias, na maioria das vezes tenho liberdade total para fazer o que bem entender quanto a produção. Isso tudo é um trabalho na base da confiança. Se não houver confiança, não rola!
Você grava analógico/rolo? Ou direto no computador? Fita ou HD? Vantagens e desvantagens.
Tadeu Patolla: Até uns três anos atrás eu usava e gostava de gravar com sistemas analógicos, em fita de rolo de duas polegadas. Acredito que deixava o som mais quente e com mais balanço. Depois, passava tudo para o sistema digital, o que facilita muito para a parte de edição do áudio. De uns tempos para cá, o sistema analógico começou a ficar inviável pelo alto custo das máquinas e das fitas de rolo. Algumas fábricas de fitas magnéticas deixaram até de fabricar essas fitas de duas polegadas dificultando ainda mais a possibilidade de as usarmos. Ultimamente, tenho gravado em sistemas digitais e obtendo resultados até melhores que no sistema analógico. Isso porque hoje existem no mercado equipamentos que simulam o som análogo com perfeição, não deixando nada a desejar. Alguns produtores e técnicos de áudio mais puristas ainda preferem o modelo antigo o que não é o meu caso.
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Já existe um verdadeiro mercado para a profissão no Brasil? É necessário fazer muita política entre artistas e gravadoras, mais do que ter talento, para ser reconhecido?
Tadeu Patolla: A profissão e a necessidade de existir um produtor artístico musical está sendo cada vez mais reconhecida no Brasil e no mundo. É preciso ter uma direção. O trabalho precisa ter começo, meio e fim e, é lógico, que se você põe a mão em um trabalho e este é um sucesso, você vai ter um reconhecimento merecido. Quanto a politicagem com artistas e gravadoras, isso sempre existiu mas não chega a me afetar profissionalmente porque, como já disse, eu não trabalho com quem não gosto ou com quem não tem a ver comigo, não trabalho só por dinheiro.
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Quais são os seus produtores (e os produzidos) favoritos no Brasil e no exterior?
Tadeu Patolla: No Brasil, sempre gostei do trabalho do Liminha e do Tom Capone. No exterior, continuo com George Martin e Quincy Jones pelos seus grandes feitos em praticamente toda história da música pop.
Site: http://www.patolla.com.br/
Martelo
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