Jan Dukes de Grey: Uma banda esquecida, ou pior, desconhecida
Resenha - Mice and Rats in the Loft - Jan Dukes de Grey
Por Tiago Meneses
Postado em 08 de março de 2016
Nota: 8
JAN DUKES DE GREY é certamente uma das bandas mais subestimadas da história do rock progressivo. Formada em 1969 apenas como um duo, foi uma das últimas bandas de rock progressivo a ter assinado com a gravadora Decca. Falei o nome da gravadora, pois essa ficou famosa por ser o selo que recusou os Beatles quando ainda lá nos seus primórdios os garotos de Liverpool mostraram-lhes algumas músicas para teste.
Lançaram apenas dois trabalhos, o primeiro, "Sorcerers", foi um álbum de folk ácido típico, não particularmente inovador, mas apresentou os talentosos multi-instrumentais, MICHAEL BAIRSTOW e DEREK NOY. O álbum teve pouco impacto e só está disponível através de bootleg. Mas a sua maior obra com certeza era o que estaria por vir. Já como um trio após a entrada do baterista DENIS CONLAN , lançaram o álbum "Mice and Rats in the Loft. Composto por três longas músicas encharcadas de psicodelia, tinha uma forma de soar muito mais livre e improvisada que o seu trabalho anterior. Muito mais inclinado pra música progressiva, prog folk especificamente. Uma enorme variedade de instrumentos. Entre algumas influências, se pode notar a mistura entre JETHRO TULL com pitadas de INCREDIBLE STRING BAND. Infelizmente o álbum teve pouco sucesso, visibilidade, e a JAN DUKES DE GREY não conseguiu continuar e teve que se dissolver após esse brilhante lançamento.
A primeira e maior faixa do álbum, contendo 19 minutos é, "Sun Symphonica". Começa com um fantástico tema folk acompanhado por vocais excêntricos mais linha de baixo com bom groove. Depois de dois minutos de música, a calmaria cede espaço a sonoridade frenética, ácida, freak, folk que faz o ouvinte que conhece a banda Magma até remeter esse som a eles. Após essa passagem instrumental que também possui um ótimo solo de guitarra acústica, a banda novamente cai em uma calmaria vocal, antes de mais uma vez crescer com a sua sonoridade folk de novo dentro do sobe e desce que a música se cadencia. Seções instrumentais sempre compostas com veia bastante psicodélica. Após esse ponto, por volta de seis minutos, é quando aparecem alguns elementos sinfônicos, assim como algumas partes de cordas que são realmente impressionantes e que agregam o resultado final do som. Os vocais quando reaparecem se comportam de maneira bem menos alegre, fazendo quem escuta a música esquecer como foi que tudo começou. A letra entra em reviravolta, tendo como base agora vários temas obscuros, descrições sinistras. Uma espécie de pseudo-zeuhl retorna com a música após essa parte. A linha final da faixa é composta inicialmente por vocais carregados de lamentos, e depois vai se transformando em verdadeira aberração psicodélica, com todos os tipos de instrumentos e sons em camadas um por cima do outro tendo como pano de fundo a base de um baixo repetitivo. Sem sombra de dúvidas um dos grandes épicos negligenciados da história do rock progressivo e que qualquer admirador do estilo deveria conhecer.
"Call of the Wild" começa de uma maneira com muito menos loucura que a sua antecessora, com uma extrema influência em JETHRO TULL, soa muito bem com algumas excelentes harmonias vocais criando uma sonoridade folk que tem resultado muito bonito. A música inclui vários intervalos entre vocais e inconstância de solos de guitarra e flautas insanas que variam de padrão folk acústico para sonoridades mais sombrias. De fato, boa parte do meio da faixa tem uma seção instrumental que parece que foi realizada em uma única guitarra, e é impressionante o quanto o som da banda é capaz de arrancar a partir de um (ou no máximo dois) instrumentos tocando desacompanhado. Tal como a primeira faixa, no entanto, são os últimos minutos que realmente brilham, se você está procurando música psicodélica freak-out. Dedilhar de guitarra sombrio, frenético, é o que temos como carro chefe do final da canção, mas novamente todos os tipos de instrumentos aparecem nesta seção final. "Call of the Wild" pode não ser o épico magistral que "Sun Symphonica" foi, mas ainda é uma viagem de folk executada na base de muito ácido, como era de costume na época.
A faixa título, que conclui o álbum, "Mice and Rats in the Loft", é de longe a mais obscura e estranha entre as três. Começando com um barulho de sirene estridente, mas rapidamente se aprofundando em um ritmo incomum, contém alguns vocais bastante nefastos e traz seções instrumentais muito estranhas. É a música de estrutura menos rebuscada do álbum (embora ainda seja algo bem distante de ser considerado simples), mas é, provavelmente, também a faixa mais visceral e intensa entre todas elas.
Uma banda esquecida, ou pior, desconhecida, um disco pouco mirado. Mas com certeza uma obra sensacional sobretudo aos amantes do prog rock caído mais pro folk, na linha principalmente do Jethro Tull. Mas nesse caso, com muito mais experimentalismo e psicodelia. Um verdadeiro pecado "Mice and Rats in the Loft" ter sido apenas o álbum de uma banda que não vingou. Sorte da música ser algo atemporal e que cedo ou tarde, a arte pode ter o seu valor reconhecido.
BANDA:
Derek Noy - Vocal, guitarra, teclado, baixo, percussão
Michael Bairstow - Clarineta, flauta, saxofone, trompete, teclado, percussão
Denis Conlan - Bateria
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