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Rolling Stones: Alta rotatividade química e criatividade

Resenha - Exile On Main Street - Rolling Stones

Por Paulo Severo da Costa
Postado em 09 de setembro de 2012

No início dos anos 70, uma praga egípcia parecia assombrar a então emergente classe de proletários do rock n´roll. Assim como a burguesia havia ascendido ao poder dois séculos antes, os então marginalizados herdeiros de CHUCK BERRY passaram da condição de uma casta endividada e mal vista na sociedade para o status de novos milionários - em um negócio que conheceria naqueles anos os primeiros reflexos do gigantismo que dominaria o show bussiness posteriormente. Entretanto, com o bônus vem o ônus: ao mesmo tempo em que adquiriam fazendas e carros esportivos, os novos ricos tiveram de encarar a tal da praga: uma carga tributária pesada, sobretudo na Inglaterra. JETHRO TULL, LED ZEPPELIN e outros afortunados, tiveram de pedir arrego em outros países, tornando-se a primeira leva de exilados fiscais daquela década.

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Com os STONES não haveria de ser diferente: em 1971 a banda corria o risco iminente de confisco de bens em razão de impostos não pagos. Segundo consta, o então empresário da banda, ALLEN KLEIN, havia desviado uma boa parte dos lucros da banda para empresas fantasmas e, claro, deixou de pagar os impostos. Para piorar de vez a situação, os STONES respondiam por quebra indireta de contrato com sua ex- gravadora, e haviam perdido o direito de arrecadação autoral de todo o seu catálogo anterior. Resumo: estavam à beira da falência.
Sem opção, a banda deixou a Inglaterra e foi morar na França, se espalhando ao longo do sul daquele País. O quartel general da banda passou a ser a residência de RICHARDS e ANITA PALEMBERG em uma mansão a beira mar em Nellcote. A vida da banda e de seus agregados respeitava ipsi literis a cartilha daqueles tempos: drogas, sexo, drogas de novo e um pouco de rock n´roll. Próximos ao epicentro da loucura daqueles tempos - a cidade de Marselha - os STONES viveram um período de alta rotatividade química e muita criatividade.

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No porão-estúdio da casa de RICHARDS foi gravado o embrião daquele que seria, anos depois reconhecido com uma das obras máximas do grupo: "Exile On Main Street". Fundindo blues, R&B, country, soul e gospel, o disco é fruto de um esforço hercúleo: gravado em doze horas por dia em meio aos surtos de heroína do dono da casa, sem direção musical, em local sem ventilação, e com o pau quebrando por várias vezes, poderia ter sido a síntese do fracasso - e foi o oposto.
Digam o que quiserem: em termos de sonoridade blues, a melhor dobradinha dos STONES foi a parceira TAYLOR/RICHARDS. "Ventilator Blues", "Cassino Boggie" e as covers de SLIM HARPO, "Shake Your Hips" e "Stop Breaking Down" de ROBERT JOHNSON são a soma correta do som pesado do primeiro com o tradicionalismo do segundo: é gritante a diversidade de informações dentro de um mesmo estilo, passeando pelo jump blues, o boggie tradicional e o blues britânico no melhor estilo de CLAPTON (que aliás havia sido chamado para entrar na banda e recusou). As variações de pegada vem da sensacional "Tumbling Dice", do caos de "All Down The Line" e da malemolência da profana "I Just Want To See His Face"
O sabor do hard setentista está lá: como negar que bandas como AEROSMITH, STARZ, FREEWAY e outras quinhentas, não foram uterinamente influenciadas por riffs como os de "Happy", "Rocks Off" ou "Rip This Joint" ? E as baladas? O calor country suave de "Sweet Virginia", a veia Harlem de " Shine A Light", a sangria de "Loving Cup"...

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"Exile" é uma dessa obras que é cercada de histórias fantásticas, gente fanática por ela, detratores e toda espécie de situação que atiça nossa curiosidade – por isso recomendo o documentário "Stones In Exile". É mais do que um disco, é um tratado de sociologia musical.

Track List:
1. "Rocks Off"
2. "Rip This Joint"
3. "Shake Your Hips" (Slim Harpo)
4. "Casino Boogie"
5. "Tumbling Dice"
1. "Sweet Virginia"
2. "Torn and Frayed"
3. "Sweet Black Angel"
4. "Loving Cup" –
1. "Happy"
2. "Turd on the Run"
3. "Ventilator Blues"
4. "I Just Want to See His Face"
5. "Let It Loose"
1. "All Down the Line"
2. "Stop Breaking Down" (Robert Johnson)
3. "Shine a Light"
4. "Soul Survivor"

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Sobre Paulo Severo da Costa

Paulo Severo da Costa é ensaísta, professor universitário e doente por rock n'roll. Adora críticas, mas não dá a mínima pra elas. Email para contato: [email protected].
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