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A História Impopular dos Rolling Stones - Parte 06 - Exigências do Sucesso

Por Márcio Ribeiro
Postado em 01 de janeiro de 2000

Jagger compôs "Little By Little" em parceria com Phil Spector, que Andrew trouxe para conhecer e ajudar a produzir o primeiro álbum da banda. Gravado em mono, usando uma maquina Revox de dois canais, dentro de um pequeno estúdio, tendo estojos de ovos feitos de papelão coladas nas paredes servindo como isolante acústico. O disco é uma boa amostra da capacidade real da banda, com as músicas gravadas em um take praticamente sem overdub.

Entitulado simplesmente The Rolling Stones, encontrou as lojas a partir de 17 de Março e incluía basicamente covers de suas músicas favoritas. O álbum foi para No.1 com apenas duas semanas, empurrando o álbum 'With The Beatles' para segundo lugar. É o primeiro disco a ser lançado, cuja capa não contém nenhum texto ou mínima referência ao nome da banda. Somente na contra capa há texto, inclusive a frase cunhada pelo Andrew, "Rolling Stones não é apenas um grupo, é um modo de vida." Pelo interesse mostrado por jornais não especializados em música, os cinco Stones começavam a perceber o marco que estavam cravando.

Rolling Stones - Mais Novidades

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Após sua terceira excursão pelo Reino Unido, a banda saiu de férias. Mick e Chrissy foram a Paris. Lá passaram o tempo em clima de lua-de-mel. Bill, Diane e Stephen foram para o interior, hospedados em um hotel em Lyndhurst. Charlie e Shirley foram para Gibraltar em uma verdadeira lua-de-mel embora seu casamento continuasse um segredo.

Brian foi de carro para a Escócia passar alguns dias. Ele se mudou definitivamente da casa dos pais de Linda em Windsor passando a morar em Belgravia, na Chester Street ao lado da aristocrática residência de Lady Dartmouth. Brian descobrira no mês anterior que outra namorada sua, Dawn Malloy, com quem ele vem saindo ocasionalmente desde o inicio do ano, está gravida e portanto, ele será pai mais uma vez. O caso entre os dois praticamente acabaria com a gravidez e embora ele deixasse a casa de Linda Lawrence, que também estava grávida de seu filho, eles ainda voltariam a namorar. Linda aliás ficaria com Brian pelo resto da vida se pudesse escolher, mas Brian não contribui, nunca assumindo totalmente suas responsabilidades, nem como marido, nem como pai.

Celebridades

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Quando se percebeu que Charlie Watts não voltaria a tempo de tocar nas primeiras gigs depois das férias, Brian novamente procura por Carlo Little. Este não sendo encontrado, foi convidado então Micky Waller, que estava tocando com Marty Wilde (ex- Marty Wilde & the Wild Cats). Backstage em uma dessas apresentações, conhecem Jimmy Page. Em outra ocasião, Keith Relf dos Yardbirds fica doente e Brian Jones o substitui tocando gaita no Crawdaddy. Vale citar que os Yardbirds nesta época já tinham Eric Clapton na formação.

No dia 6 de Maio em Eel Pie Island, era a vez de Ian Stewart e Bill Wyman serem convidados a tocar ao lado de Jimmy Page e Jeff Beck, sem aviso prévio, para a alegria daqueles que por acaso apareceram no bar naquela noite.

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Quando é descoberto que um dos Beatles é casado e pai de um menino, os jornais voltam a falar só dos Beatles. De repente se "descobre" que os Stones também tem um membro casado e com um filho, Andrew novamente arrumando uma maneira de manter sua banda em equivalência com o Fab Four. Como diria Wyman anos depois, "Segredo? Minha vizinhança toda sabia." Nesta época Keith conhece e começa a namorar a modelo inglesa, Linda Keith.

Os Stones e a Imprensa

Uma das maiores diferenças entre a forma de trabalhar de Andrew Oldham e de Brian Epstein, empresário dos Beatles, é que, alvejando mesmo incomodar a geração mais velha, os Stones têm toda a liberdade para falar do assunto que lhes convém, da forma que convier. Esta liberdade funciona favorável para a imagem dos Stones como uma banda audaciosa e para Mick Jagger em particular como representante de sua geração perante a mídia. Sempre meticuloso para nunca fazer uma afirmação comparando os Stones diretamente aos Beatles, apesar de ser constantemente instigado pela imprensa a fazê-lo, Jagger e os demais não se esquivam de protestar contra a política bélica internacional ou a política conservadora inglesa, vista agora como retrograda e ineficaz neste novos tempos.

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A maior conscientização da banda em seu domínio de público e imprensa, começa a se mostrar de uma forma mais direta. Como se testando seus limites, Mick e Brian começam a falar mais sério. No palco certa noite Mick provoca: "Agora vamos tocar Roll Over Beethoven dos Beatles." Como ninguém na platéia discordou seguiu: "Nossa, vocês são mais tapados que eu pensei, Chuck Berry é quem escreveu esta canção." Brian conversando com um jornalista sobre a postura atrás dos cabelos compridos diria: "É uma espécie de frustração. Muitos homens gostariam de poder usar o cabelo comprido mas eles não tem a coragem. Eu sou uma das poucas pessoas que está fazendo algo que eles também gostariam de estar fazendo."

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"Eu apostei em sacrificar os estudos na faculdade pelo rhythm & blues e saí no lucro." Bill comentando sobre sua vida agora, diz: "Nós tínhamos um cachorro mas como eu vivia viajando, o cão me mordia sempre que eu voltava pra casa." E sobre os shows, em tom mais sério, "A gritaria e os desmaios fazem parte do espetáculo mas todos nos preferíamos que as pessoas prestassem atenção na música." Mick, novamente exercendo influência na opinião de sua geração, ao se referir a um incidente onde um restaurante situado dentro do hotel em que estavam hospedados, recusara a entrada da banda por não portarem gravatas, explicou: "Eu não vou me vestir em suas roupas só para poder comer no meu hotel. Eu me visto assim e pronto."

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Reações Variadas

O fato de que eles estavam se divertindo enquanto ficavam ricos e eram desejados por milhares de mulheres, acirra a inveja e descontentamento do trabalhador comum que vive de bater o seu cartão de ponto, sempre "com seus sapatos lustrados e suas cuecas limpas" como Brian e Keith zombavam a pouco mais de um ano atrás. A banda se apresenta fora do Reino Unido pela primeira vez, em Montreux, para participar de um especial do programa "Ready, Steady, Go!".

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Jagger não permitia a ida das namoradas nas excursões, tendo discursado intensamente sobre o assunto com Chrissie, Charlie e Shirley, dias antes. Mas ao se despedir no aeroporto, perceberam que Keith havia trazido a sua namorada Linda Keith para dentro do avião e Mick não teve coragem para enfrentá-lo e obrigá-la a voltar. Chrissie, que viu Linda embarcar, discute escandalosamente com Mick, deixando-o embaraçado publicamente. Mick odeia explosões de emoção, principalmente em público.

Uma vez em Montreux, os cabelos compridos faziam as pessoas nas ruas pararem para olhar e nem o público adolescente local sabia como reagir. Em uma terra onde a dança era organizada em fileiras, até os dançarinos de rock 'n' roll do programa causavam espanto. Charlie passou a beber excessivamente. Sua instabilidade é fruto de sua tentativa de levantar coragem para enfrentar Mick e Andrew, avisando que ele já estava casado e que doravante queria Shirley, sua esposa, acompanhando-o nas viagens. Charlie receava ser despedido.

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Acabou doente, permanecendo na Suíça por mais um dia, sem condições para viajar com os rapazes de volta. A banda segue continuamente, encontrando um público estimado em mil e quinhentas pessoas por apresentação. Na festa da NME no final de Abril, pela primeira e única vez, os Beatles e os Stones se apresentam no mesmo evento. Entre as várias atrações da noite também estão incluídos The Swinging Blue Jeans, Dave Clark Five, Joe Brown & the Bruvvers, Big Dee Irwin, the Shadows, Cliff Richard, Manfred Mann, Brian Poole & the Tremeloes, Billy J. Kramer & the Dakotas, Gerry & the Pacemakers, the Searchres, the Merseybeats, além das presenças de Murray the K (que gravou as apresentações) e Roger Moore como mestre de cerimônias.

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A recepção calorosa do público somados à excelente apresentação dos Rolling Stones, deixam os Beatles preocupados. É claro que ao fechar a noite, os Beatles também dão um show extraordinário e as duas bandas se parabenizam nos bastidores. Em Birkenhead, a banda descobre que um acidente de carro feriu dois fãs severamente. A banda comovida passa antes no hospital para visitá-los. Na volta, Mick Jagger é novamente multado por velocidade acima do permitido e com o seguro do veículo já expirado. Por ser sua terceira infração, ele terá que ir a corte para não perder sua carteira. No final do show, o público invadiu o palco e na confusão que se seguiu, Jagger torce o tornozelo. Na Escócia a loucura e pandemônio fora tanto que a prefeitura da cidade de Hamilton aboliu shows de rock 'n' roll na cidade. A caminho da América, os jornais americanos anunciavam: "Se vocês acharam os Beatles estranhos, esperem até ver os Rolling Stones, a nova sensação da Grã Bretanha."

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Dentro da banda, havia a sensação de que eles haviam conquistado um espaço e um orgulho por terem aberto portas com sua música, para pessoas como Muddy Waters, Howlin' Wolf, Bo Diddley e John Lee Hooker, que dificilmente teriam o renome que passaram a desfrutar, não fosse a popularidade dos Rolling Stones. Ao chegar na América, os rapazes acreditavam que seria mais fácil tocar para um público que entendia a música que eles tocavam. No aeroporto JFK em Nova York, umas quinhentas meninas gritavam pela presença da banda. Houve uma rápida conferência com a imprensa e cinco limousines, uma para cada Stone, levaram os rapazes até o Astor Hotel em Times Square. Lá, com apenas quatro policiais guardando a entrada, o local se tornou instantaneamente um manicômio.

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A Primeira Excursão Americana

Os detalhes ocorridos nestas excursões, são narrados aqui com intuito de exemplificar a rotina desgastante que a banda era obrigada a manter. Sim porque diferente de hoje em dia, tudo era novidade. Novidade para o público, os estabelecimentos, e para os artistas. Afinal, bandas inglesas tendo um mercado nos Estados Unidos nunca acontecera antes. Nem os Beatles vieram ainda à América, excursionar de costa a costa. Eles só iriam chegar para a sua excursão dentro de dois meses.

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A estada da banda em Nova York incluiu apenas entrevistas para rádio e imprensa. Somente à noite puderam curtir um pouco o circuito de clubes, onde dançaram e socializaram com algumas pessoas.

Mas foi durante uma destas entrevistas para rádio, que o DJ Murray The K toca uma canção de Bobby Womack, "It's All Over Now" e sugere aos rapazes, que eles poderiam fazer uma boa versão dela. De fato, mais tarde no ano, a versão dos Stones da canção se tornaria seu primeiro No.1 na América. Ficaram em NYC por três dias, seguindo então, diretamente para Los Angeles. Ed Sullivan havia se recusado a apresentá-los para seu público essencialmente familiar, então ficou para o programa Hollywood Palace, a estréia da banda na TV americana.

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Típico programa de variedades, seu apresentador, Dean Martin, famoso cantor e comediante, passou o programa fazendo piadinhas e ridicularizando a banda, o que foi por um lado um tremendo choque para os rapazes mas pou um outro lado, fez com que os Stones tocassem com um fervor impressionante. Mick, Keith e Brian demonstraram tremenda musicalidade neste dia, vinda da pura fúria de quem quer provar alguma coisa. Tocaram no programa "Not Fade Away", "I Just Want To Make Love To You" e "Tell Me". Nas coxias, o clima fora igualmente agressivo, com o produtor do programa exigindo que a banda colocasse um uniforme e Bob Bonis, responsável pela banda durante sua excursão americana, garantindo que os Stones não usam uniformes. Keith cansando dos insultos constantes estava pronto para bater em Dean Martin. À noite, Brian Jones conhece e acaba dormindo com uma das filhas de Dean.

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Depois foram tocar em San Bernardino, perto de Los Angeles, para um público de 4.400 pessoas aos berros. Parecia Beatlemania sendo que as meninas conseguiam passar pela polícia e invadir o palco. Keith tocava guitarra com uma menina pendurada no pescoço enquanto a polícia tentava tirar outra que se agarrava na cintura de Mick. O show foi um sucesso e a saída foi uma guerra entre 2.000 meninas e a polícia para evitar que cerquem o ônibus da banda. Sucesso estava na mente de todo o grupo, porém a realidade chegou quando a banda viajou país adentro. Em San Antonio, Texas, o próximo show da excursão, a banda abre para Bobby Vee, grande teen idol americano. O público, uma mistura de cowboys e criançada, ignora a banda, tratando os Stones como aberrações. Mas a banda impressiona o saxofonista da banda de Bobby Vee que na década seguinte, iria ajudar a banda a reconquistar o mundo. Seu nome? Bobby Keys.

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Casas que comportavam 15.000 pessoas recebiam 650 dos quais 50 eram do policiamento. Em Nebraska, um guarda entrou no vestiário dos Stones antes de uma apresentação. "O que é isso que você está bebendo?" ele logo foi perguntando a Keith. De brincadeira ou sarcasmo, foi respondido whiskey com Coca-cola sendo imediatamente reprimido pelo oficial pois, beber álcool em locais públicos é proibido por lei. Quando Keith tentou mostrar que era brincadeira e ele sorvia apenas refrigerante, o guarda puxou sua arma e apontou para a cabeça de um Keith assustado e perplexo. O líquido foi imediatamente entornado na pia do local.

O Blues da América

Em Chicago, vão para o famoso Chess Studios e gravam pela primeira vez em um estúdio de quatro canais. A banda estava na lua de tão felizes por estarem lá e o engenheiro de som Ron Malo, soube tirar melhor e mais rapidamente do que qualquer engenheiro de som inglês, o som americano que os Stones sempre queriam em seus discos. O resultado foi que em quatro horas, os Rolling Stones estavam com quatro canções prontas e mixadas: "It's All Over Now", "I Can't Be Satisfied", "Time Is On My Side" e um jam batizado de Stewed and Keefed". Durante a sessão conhecem Buddy Guy e Willie Dixon para a alegria dos seis. Voltando para o estúdio mais tarde, para o horror de todos, encontram Muddy Waters trabalhando como assistente de estúdio, levando os equipamentos da banda para dentro. Na parte da manhã, Waters estava pintando o teto de outra sala do local. Os seis meninos não sabiam nada da realidade atrás do blues que eles tanto amavam. A realidade de ser negro na América.

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O Movimento Dos Direitos Civis

Em junho, quando os Stones chegaram na América, segregação ainda era legal no país. Havia um movimento contra a segregação que foi chamado de O Movimento Dos Direitos Civis (The Civil Rights Movement), e embora o negro tivesse a proteção legal para direitos iguais desde 1868, três anos depois de libertados da escravidão, na prática, a lei não excluía a segregação. Ela permitia apenas que existisse um equivalente para negros das mesmas facilidades que o homem branco dispunha. Assim, se existia o bebedouro público, então passou a existir o bebedouro público para o negro. Havia o parque público, e o local destinado para os negros. O homem negro tinha o direito de procurar um emprego na área que ele desejasse, mas ninguém era obrigado a contratá-lo, nunca dando oportunidades para que ele pudesse se mostrar capaz. Enfim, durante a primeira metade do século XX, ao homem negro urbano eram oferecidos basicamente trabalhos secundários desde varrer e limpar, até servir e receber ordens. As únicas profissões em que o homem negro podia galgar alguma notoriedade ocorriam no esporte, mais especificamente no boxe, ou na música, mais especificamente em jazz e ragtime. Outras profissões eram praticamente fechadas para um homem de cor.

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No esporte, embora Jesse Owens, um americano negro, houvesse ganho uma medalha de ouro nas Olimpíadas da Alemanha, a última antes da Segunda Guerra Mundial, o atletismo continuava sendo um esporte amador. Passariam a haver ligas negras no baseball, todas amadoras e com seus atletas muitas vezes maquiados como palhaços, fazendo partidas para exibição. No basquete a hegemonia branca era total e só foi quebrada com o surgimento de um time de exibição todo negro, chamado de Harlem Globetrotters. O público que este time passou a atrair graças ao nível do espetáculo que eram suas exibições, acabou impulsionando a contratação de negros neste esporte.

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O homem negro freqüentar o mesmo parque do branco como um cidadão, com os mesmos direitos de usufruto, era não só impensável, mas literalmente proibido. Principalmente no sul, onde o negro poderia ser morto por tal audácia. O Movimento aos Direitos Civis, embora atuante em pequena escala, ganhou força e notoriedade após um incidente inesperado. Em dezembro de 1955 na cidade de Montgomery, Alabama; uma jovem chamada Rosie Parks, recusou a dar seu assento em um ônibus para uma pessoa branca. A lei previa que, mesmo pagando o mesmo valor de passagem, o negro podia sentar apenas se houvesse lugar para todos. Se uma pessoa de pele branca estivesse em pé, esta pessoa tinha o direito de solicitar o lugar e a pessoa de cor tinha a obrigação de ceder o banco, fazendo o restante de sua viagem em pé. Rosie se recusou a dar o seu lugar e foi presa por seu ato de desobediência civil.

O incidente tomou impacto nacional quando promoveu-se um boicote ao ônibus público na cidade. O até então desconhecido Reverendo Martin Luther King Jr., provou que o homem negro tinha um peso na economia nacional, apontando para o fato de que quem tinha carro era o homem branco. Portanto era o homem negro quem mais se locomovia de ônibus. Quando o negro demonstra com seu boicote que prefere ir a pé do que usar um sistema de transporte público que lhe discrimina, os ônibus municipais são economicamente feridos. Como os ônibus pertencem à prefeitura, logo esta também sofre economicamente. O boicote promovido por King foi iniciado no dia 5 de dezembro, e no dia 13 o Senado decreta o fim de segregação em transportes públicos. Dia 21 o boicote foi encerrado não só com uma vitória, mas com uma consciência maior de como funciona o pêndulo do poder em um país que é a capital do capitalismo.

Os anos seguintes serão cheios de protestos da comunidade negra por igualdade, muitos dos quais abraçados por pessoas de pele branca também. O Governo Kennedy tratava seriamente o assunto questionando o povo sobre a constituição do país fundada no conceito de que todo homem tem direitos iguais. Em Agosto de 1963, a maior congregação de negros na historia americana se reuniu em Washington DC e ouviram o mais famoso dos discursos de Martin Luther King Jr., intitulado I Had A Dream. Em Novembro do mesmo ano, o Presidente John F. Kennedy é assassinado. Em julho de 1964, seu sucessor, Presidente Lyndon B. Johnson assina um documento que torna lei federal a integração de facilidades públicas, acabando com as famosas placas Whites Only (Apenas Brancos) espalhadas pelo país. Com isto, os negros não poderiam ter sua entrada recusada em um restaurante por exemplo, simplesmente pela força da cor de sua pele. Mais importante, garantia legalmente o direito do negro de poder estudar em escolas públicas brancas que passariam a ser agora integradas, bem melhores do que os educandários existentes para a comunidade negra. O documento também torna terminantemente ilegal discriminação de mão-de-obra, seja ela por cor, sexo ou crença. Um marco na historia americana e um exemplo para as demais nações.

Mesmo assim, levaria outros cinco anos até as escolas sejam não só liberadas a aceitar negros mas obrigadas a de fato fazê-lo. Martin Luther King Jr. ganharia o Prêmio Nobel da Paz por seus esforços e conquista. Durante toda a década, haveriam incidentes, brigas, e em alguns casos, guerra entre brancos assustados e negros determinados.

É no mínimo curioso que foi justamente na Inglaterra, que nunca tivera leis de escravatura e a promoveu em praticamente todas suas colônias, que a música negra, mais precisamente o blues, passaria a ter uma apreciação real como arte. O blues na América era sub cultura e o rock, ao nascer, era digno de ser considerado uma aberração. Na América, adolescentes ingleses, cabeludos cantando o blues eram igualmente tratados como aberrações por uma grande parte do público adulto e jovem.

Gravando Na América

Apesar de consternados, vendo um dos seus maiores ídolos, cuja música batizou a banda, pintando paredes e carregando equipamentos, os Stones continuaram sua programação gravando "Confessing The Blues" e "Around And Around" de Chuck Berry, que também apareceu por lá conversando amigavelmente. Chuck, como muitos negros, achavam que os Stones estavam roubando os negros de sua música. Em duas ou três outras ocasiões nesta excursão, ao estar no mesmo local que os Rolling Stones, sua atitude era de ignorar e evitar a conversa. Agora, talvez refletindo melhor sobre a curiosa missão destes rapazes, catequizando o blues entre os brancos, ele se chega e conversa com o sexteto amigavelmente pela primeira vez.

Outras versões são gravadas antes de entrarem nas composições novas como "Empty Heart" e "Tell Me Baby" de Jagger e Richards mais "2120 South Michigan Avenue" que Wyman considera de sua autoria embora a canção é creditada a toda banda através do pseudônimo de Nanker Phelge.

É lançado nos Estados Unidos o compacto Tell Me/I Just Want To Make Love To You, na mesma semana que o programa Hollywood Palace Show vai ao ar. Jagger furioso com o programa, imediatamente liga para Londres e discute com Eric Easton por ter negociado aquela apresentação.

Easton tenta acalma-lo explicando que a garotada vai saber enxergar o episódio como despeito dos adultos para com a geração jovem. Que a garotada, que é efetivamente o publico alvo, irão correr para os shows por causa destas agressões. A excursão continuou com altos e baixos. Shows tinham público que variavam entre menos de 100 pessoas como em Detroit, para 1.300 em Pittsburgh. Acabaram participando de um programa de televisão em Nova York chamado The Clay Cole Saturday Show gravados de manhã antes de duas apresentações em Carnegie Hall à tarde e à noite.

Durante as viagens o clima de animosidade era constante. Nos aeroportos, ao passar, chegando ou saindo de uma cidade, podia-se ouvir comentários do tipo, "Vá cortar este cabelo, maluco!", "Olha lá! São os Supremes!", "O que pensam que são, meninas?" Se os Rolling Stones simbolizavam o "anti-establishment", ou seja, a negação dos valores vigentes, Mick Jagger era o homem de frente, nos olhos do publico. Portanto era ele, mais do que os outros, que era odiado pelas geração mais idosas. E por idoso, eu me refiro a pessoas maiores de trinta anos. Sim, porque a diferença de gerações não era como hoje em dia onde um homem de cinqüenta anos cresceu ouvindo rock and roll. Hoje, John Lennon teria mais de sessenta anos, e Elvis Presley teria a mesma idade que Bill Wyman. Então para um adolescente em 1964, uma pessoa nascida na primeira metade da decada de trinta, estaria, salvo exceções, do lado daqueles que amam polka e Frank Sinatra e detestaria rock 'n' roll. Provavelmente classificariam o gênero como musica tribal ou anti-música, o que só aumentaria seu glamour aos olhos dos jovens que nasceram na década de quarenta em diante.

Os Frutos do Esforço

De volta a Londres, são recebidos por fãs e jornalistas no aeroporto e a noite ainda tiveram que tocar para um "show da volta". Só então, foram liberados para descansarem. Uma análise do aparente fracasso da mini excursão americana conclui que os locais foram mal escolhidos e que chegar no país sem ainda ter um No.1 nas paradas fora um equívoco. Havia um sentimento geral de frustração referente à excursão americana porém Mick Jagger, mais do que ninguém, estava se sentindo derrotado. Ele passou a evitar a noite londrina, preferindo ficar em casa com Chrissie. Ele estava confuso. Em Nova York ele e a banda foram tratados com a devida importância, mas no resto do país, eles eram apenas aberrações. Mas antes de viajarem, gente com opiniões de importância no meio como Bob Dylan e até Phil Spector lhes disseram que os Stones teria um mercado ótimo na América. Como poderiam estar enganados?

As mini férias começam com todo mundo gastando um pouco do dinheiro que ganharam. Stu comprou um Jaguar. Mick e Keith, percebem que o endereço residencial já está na boca dos fãs e sempre há gente a sua espera. Às vezes, quando estão excursionando, os fãs invadem a casa à procura de lembranças de seus astros. Assim, o duo continua a dividir um apartamento, desta vez em Hampstead, deixando Oldham no antigo apartamento em Mapesbury Road. Chrissie tinha o seu apartamento também, mas morava a maior parte do tempo com Mick. Charlie Watts, que tecnicamente ainda morava com os pais, no início da primavera, comprou para eles uma nova casa no Kingsbury Council Estate. Agora que a banda parou de excursionar, é a sua vez de se mudar, morando com Shirley em Gloucester Place, perto do escritório de Andrew Oldham. Bill também comprou uma casa melhor. Infelizmente, enquanto ajeitava a casa antes de efetivamente se mudarem, ao queimar o lixo na lareira, a casa acaba por pegar fogo. O seguro cobriria os prejuízos mas até este dinheiro entrar, eles iriam precisar dele para necessidades domésticas. Os Wymans acabam por permanecer mais algum tempo no bairro de Penge.

Os casais Mick & Chrissie, Keith & Linda, e Charlie & Shirley, resolvem todos passar algumas semanas em Ibiza, para poderem descansar e fugir de toda a loucura. Porém Linda Keith, namorada de Keith, sofre um acidente de carro e o casal fica em Londres. Mal os outros quatro chegam na ilha paradisíaca e são reconhecidos pelo povo e a imprensa. Sem condições de passearem livremente, acabam confinados em seus hotéis. Enquanto isto, na Inglaterra, chega às lojas o compacto "It's All Over Now/Good Times, Bad Times" que se tornaria o primeiro No.1 da banda.

O Diabo Mostra o Rabo

A banda em geral sente uma certa dificuldade de se readaptar à vida fora da estrada com suas respectivas famílias. Os horários de sono são geralmente diferentes da maioria, tendo as manhãs para dormir e as noites despertas. Apesar de conseguirem fama e fortuna, os cabelos compridos e a imagem de sujos que a imprensa criou em torno deles tornam a aceitação social difícil. Nos bares, os garçons os ignoram; nos restaurantes e teatros, são geralmente recusados. Descobrem com pesar que só são aceitos enquanto estão excursionando e cada show se torna um evento com exageros em abundância.

Em 1º de Julho, nasce formalmente e legalmente a firma Rolling Stones Limited. No mesmo dia, chegam noticias vindas dos Estados Unidos de que o público finalmente acordou para a música dos Stones e uma demanda para outra excursão americana começa a crescer.

Tantos os Beatles quanto os Stones recebem cerca de 300 cartas de fãs por dia. Na noite de estreia do filme A Hard Days Nights, Brian, Keith e Phelge comparecem. Enquanto os músicos das duas bandas se cumprimentam amistosamente na recepção, as fãs aguardando nas ruas, estão se engalfinhando, arranhando e puxando os cabelos umas das outras.

Exigências do Sucesso

Durante a ausência de Mick, a imprensa londrina volta a bajular Brian, interessados agora na sua opinião e o procurando para entrevistas. Brian está radiante com toda a atenção. Seu estado de espirito geral é de puro otimismo e por conseguinte, até as vibrações que ele emana ao seu redor, são todas positivas. Ele passa a reparar que no escritório Rolling Stones Ltda., estão recebendo pilhas de cartas dos fãs, endereçadas para ele. Sua banda está encostando em popularidade aos Beatles e a música que a banda faz, ele considera melhor e mais profissional. Brian está tão seguro que fica um pouco cheio de si.

Certa noite, em uma mesa no Ad Lib Club, enquanto sorvia uma bebida na companhia de Keith Richard, John Lennon e um jornalista americano chamado Al Aronowitz, Brian diz claramente que os Stones em pouco tempo serão maiores que os Beatles, e se tornarão os maiores de todo o mundo. Lennon retrucou algo nos moldes de, "Te desejo boa sorte pois quando você estiver lá, você vai odiar. Pode ficar com tudo porque eu estou pensando em sair." Um ar de espanto geral toma a mesa enquanto Lennon continua, "Ando pensando seriamente nisto. É tudo um saco! Você tem que ser forte o tempo todo. Ser fantástico o tempo todo, e jamais mostrar uma fraqueza. Não é fácil como você pensa que é. Não estão tocando mais em shows de pequena escala." "Não; estamos no primeiro time agora!", Brian responde, "Nós somos fortes". John então se inclina olhando cara - a - cara com Brian. "São? Tem certeza? Não há ninguém fraco entre vocês que poderá atrasar os demais?" Brian e Keith se entreolham calados e perplexos. Finalmente acenam afirmativamente com a cabeça. Sim, existe um. "Então livre-se dele." responde John sem remorsos. Depois de um pequeno silêncio, Brian força um sorriso e conclui, "Mais uma excursão e chegaremos ao topo."

A Saúde de Brian Jones

Os problemas de saúde de Brian pioram com o esforço das constantes viagens. Sua expressão agressiva e ar de insolência no palco é um reflexo do seu receio de ter uma crise repentina. Isso o fazia parecer ainda mais atraente aos olhos femininos. Através dos anos, a saúde de Brian tem sido cada vez mais questionada. Ele tinha asma, e desde que entrou para o circuito musical, mesmo nos tempos de saxofonista de jazz, todos que trabalharam com ele, conheceram também seu inalador. Nele continha remédio para no caso de uma crise, embora poucos foram aqueles que assistiram ele tendo uma. Mesmo havendo poucos, existem relatos. Certa vez em 1962, depois de uma festa, Brian já em casa, entra em crise asmática. Seu amigo Paul Jones teve que voltar correndo de bicicleta para o local onde fora realizado a festa para procurar o seu inalador, pois fora esquecido em algum lugar na casa. Brian gostava de esquecer o seu inalador, mas precisava dele.

Sempre reclamando de dores, a banda, todos muito jovens, faziam piadas e não levavam Brian a sério. Mesmo quando ele desmarcava ensaios ou faltava apresentações, ele era confundido com um hipocondríaco. Hoje, existem fortes suspeitas de que Brian Jones era na verdade um epiléptico, possivelmente sem saber. Sua filha, que ele nunca conheceu ou sequer soube que existia, tem epilepsia lobo-temporal e vários de seus sintomas batem com atitudes que Brian tomava. Coisas como se desligar totalmente no meio de uma conversa, perder a noção do tempo, cair repentinamente em um sono profundo, acordando depois se sentindo péssimo como se estivesse de ressaca. É possível que embora Brian não estivesse ciente de qual era sua doença, ele tinha noção de que não teria saúde para lutar continuamente para manter a liderança na banda.

Lembrem-se que Brian Jones nunca teve autoconfiança em suas habilidades musicais, mesmo sendo o músico mais talentoso do grupo e o único cuja beleza e eloqüência faziam frente às de Mick Jagger, atributos fortes a serem respeitados, se considerarem que Mick tem seu trabalho facilitado por ser o crooner. É também verdade que Brian sempre teve a tendência de aumentar demasiadamente as proporções de um problema. Maníaco depressivo, alérgico a diversas medicações, ao mesmo tempo que, por conta de sua asma, é obrigado a tomar medicação desde a infância. Somando isto tudo a uma falta de auto confiança apesar de seus talentos, sua atração para entorpecentes é o caminho previsível à dependência. As pressões do estrelato, somados às pressões internas armadas inicialmente por Oldham, levariam Brian Jones a ser visto como um paranóico, viciado e com os miolos torrados por drogas.

Keith Afirma Sua Fama

À partir do dia 11 de Julho, recomeçam excursionando dentro do Reino Unido. O repertório é Walking The Dog, High-Heeled Sneakers, You Can Make It If You Really Try, Not Fade Away, Can I Get A Witness, I Just Wanna Make Love To You, fechando com o hit It's All Over Now. Entre curiosidades há a história do show em Birlington, onde a gerência exigiu além dos ingressos, que todos se vestissem de forma limpa e ordeira. Jeans e jaquetas de couro não seriam permitidos dentro do salão mesmo com ingresso na mão. O público, estimado em 3.000 pessoas foram a loucura quando a banda apareceu e o volume de histeria foi maior do que o da música. Em Leeds, Mick e Bill tiveram parte de suas roupas rasgadas. Porém nada foi mais marcante do que Blackpool. Era feriado prolongado Escocês e muita gente entrou com ingressos falsos. A policia, embora em grande número, ficou do lado de fora para conter o público furioso, com ingressos na mão, sem poder mais entrar. A lotação já estava acima do limite legal, o salão lotado de gente e o calor era insuportável.

Brian estava nesta noite cheio de pique; pulava e tocava, se chegando bem perto do palco, para instigar o público. Quem assistiu esta apresentação, sugere que ele estava possivelmente querendo aparecer mais do que Mick. Infelizmente, havia um grupo de arruaceiros que passaram a xingá-lo. Brian passou a gostar de irritá-los e já chegando a metade do show, a gangue começa a cuspir nele. Sendo profissional, Brian continuou seu "show" apesar do banho de escarro que persistia em chover em cima dele. Keith indignado sai do seu canto e olha ameaçadoramente para quem entende ser o líder da gangue, mas o banho continua.

Entre canções, Keith ameaça o sujeito agora verbalmente mas alguém então cospe nele. Sem titubear, Keith pisa com a sola de sua bota na mão do rapaz que marcou bobeira deixando-a sob o palco. Com a dor, o rapaz abre a guarda e Keith da-lhe um chute com o bico de sua bota acertando o nariz do rapaz. Pronto, os ingredientes para uma catástrofe estão expostas. A banda se entreolha enquanto Keith, hipnotizado pelo ódio e adrenalina olha fixamente para a gangue que está pronto a encarar... a todos. Novamente, outro rapaz lhe cospe, tendo que chegar perto para atingí-lo e novamente Keith bica a cabeça do sujeito. Alguém da banda encosta em Keith, cutuca e diz "Porra Keith, sai fora enquanto ainda está vivo," e é o que todos fazem.

São levados até o telhado da casa e, pulando de telhado em telhado, saem na rua dos fundos, onde um carro da policia já os espera para tirá-los da cidade. Só Stu ficou para trás para aguardar a melhor hora de levar o equipamento e contar o que veio a acontecer. Irritados, bêbados e agressivos, o público aguardou um pouco a banda voltar mas quando perceberam que eles já não estavam mais no local, a casa veio abaixo. Cadeiras eram lançados, cortinas rasgadas, janelas quebradas. Garrafas voavam para acertar o candelabro. Invadiram o palco e destruíram os equipamentos. Não roubaram nada, destruíram tudo. Um piano de cauda Steinway, pertencente à casa, foi jogado do palco para a plateia que brigava entre si. Amplificadores, tudo enfim, foi pulverizado. A polícia levou horas para conseguir trazer a paz e a ordem, diversas pessoas foram presas, dois policiais e trinta pessoas foram hospitalizadas.

No dia seguinte, todos os jornais do país falavam da desordem e da guerra campal que é um show dos Rolling Stones. O fato de ingressos falsos e lotação acima do permitido contribuir para os eventos acontecerem é mero detalhe. O foco da confusão está sempre sobre os Rolling Stones. A imagem da banda estava tão negativa que até firmas de seguros passariam a recusar qualquer Rolling Stone como cliente. Andrew Oldham durante este episódio sumiu e continuou desaparecido por quase um mês. Mas Eric Easton apareceu no dia seguinte com £7.000 de equipamentos, vindo direto da fabrica da Vox para que a banda possa continuar a trabalhar.

Os demais shows ocorrem sem maiores incidentes, embora em todos, haja histórias de histeria por parte do público, obrigando a banda a entrar e sair dos locais, sempre com táticas bem estudadas. Após as datas no Reino Unido, descansam antes da excursão Européia em Agosto.

Entre uma coisa e outra, gravam Little Red Rooster. Ao ouvir o que acabam de gravar, Charlie sugere que este deveria ser o próximo compacto e a idéia é imediatamente acolhida por todos. Mais tarde Andrew tentaria brecar a idéia. A banda porém, insiste que mesmo não sendo teoricamente comercial, gostaram tanto da versão que ela será o próximo compacto.

Debate na Casa dos Comuns

As confusões que cercam os shows dos Rolling Stones são em geral mal vistas pela sociedade em geral. Assim como também os cabelos longos e despenteados, somados às roupas deselegantes, que nem sempre são acompanhadas de uma gravata. Todos esses fatores dão reforço para o sistema considerar os Rolling Stones e seus integrantes, uma ameaça aos códigos de moral e bons costumes. Quando um garoto é preso em Glasgow, por jogar uma pedra em uma loja após ter assistido um show dos Rolling Stones, é a banda que o magistrado critica na Casa dos Comuns. Andrew Oldham, sempre disposto a colocar lenha na fogueira, enaltecendo assim a imagem de rebeldes, comenta para os jornais "O problema reside no fato que o cara pertence a uma geração morta e que não se atualiza." Porém dois dias depois, outro magistrado, este do partido dos trabalhadores, vai à Casa dos Comuns e se queixa da atitude do colega, se aproveitando de sua posição privilegiada, para fazer comentários irrelevantes de cunho snobe, além de insultante, sobre a aparência dos Rolling Stones. Ele realça sua afirmação, dando credibilidade ao quinteto, lembrando a todos presentes, que a banda está fazendo uma excelente contribuição para as exportações Britânicas.

A situação de confronto acontece em diversas camadas e se repete em formas similares. Quando Mick Jagger tem que responder a lei sobre três multas de trânsito, seus cabelos compridos são novamente razão para se temer tratamento desfavorável. Pelas leis de transito inglesa, com três multas você pode perder sua habilitação, um travo para a vida na estrada de um artista. O advogado da banda, Dale Parlinson oferece um discurso à beira do cômico para apontar a injustiça e prejuízo que seria para este cidadão Michael Jagger, que exporta mais do que muitos executivos. Em tradução livre, seu discurso em determinado momento diz: "O Duke de Marlborough usava cabelos bem mais compridos que a do meu cliente, e mesmo assim, venceu várias batalhas conhecidas. Ele passava pó nos seus cabelos, por causa das pulgas. Meu cliente não tem pulgas." No final, Mick pagou £10 libras de multa e continuou com sua carteira de habilitação.

Andrew e a Imprensa

Quando Andrew reapareceu, ele estava casado. Casou com Sheila Klein sua secretaria, em Glasgow, Escócia. Ele começava a falar sobre deixar os negócios, esgotado que estava. Falava para a imprensa de se aposentar, com apenas vinte anos e com seu maior trunfo apenas começando a dar lucro. Os jornais passaram a falar e analisar o lucro que uma banda pode acumular em tão pouco tempo, a ponto de se poder pensar em aposentadoria em idade tão jovem. Oldham declara que vendeu a sua agência Image mas na prática, ele continuaria com os Rolling Stones por mais alguns anos, deixando os detalhes empresariais com Eric Easton e se concentrando em produção de discos e bolando alguns truques promocionais.

O tratamento especial que Andrew dispensava a Jagger sempre foi percebido, mas a partir da metade final de 1964, ele tem seguidamente dado entrevistas aumentando a importância de um membro em detrimento aos demais. Oldham fala sobre como é necessário criar o clima perfeito para Jagger no estúdio, para que ele possa dar o seu melhor e liderar a banda para que eles possam também dar o melhor. Todos da banda estavam um pouco frustrados com as atitudes de Andrew, mas ninguém ficou mais amargurado e depressivo do que Brian Jones, que começa a mergulhar mais fortemente nos barbitúricos.

Casais Complicados

No dia 23 de Julho, Linda Lawrence, namorada de Brian, teve um filho. Nasceu Julian Mark, quase o mesmo nome que o filho de Pat, que se chama Mark Julian. Nenhuma das crianças de Brian é descoberta pela imprensa mas o relacionamento fora do matrimônio entre Mick e Chrissie rapidamente se torna um favorito entre os tablóides. É o preço que Mick tem que pagar por ser o estrela dos Rolling Stones. Toda a mídia, seja boa ou má, gira em torno dele. O caso é extremamente mal visto e muitos acreditam que os Rolling Stones e Mick Jagger em particular irão torrar no inferno algum dia.

O relacionamento do casal não tem sido exatamente o melhor possível. Chrissie começa a se deprimir com a forma que sua vida passa a se desenrolar. Ela vive entre a sombra de duas celebridades; sua irmã, Top-model e seu namorado, cantor em uma das bandas mais populares do país. As pessoas quando se aproximem geralmente perguntam "E o que você faz?" e ela não fazia nada. Envergonhada, chegou a assistir algumas aulas de teatro mas logo desistiu. Ela sabia que não queria ser atriz. Ela não queria fazer nada além de ser a mãe dos filhos de Mick, o homem de sua vida. Mas as pressões externas começam a confundi-la e interferir com seu relacionamento.

Mas ficar a só com Mick Jagger é quase impossível. Sem contar que Keith está dividindo o apartamento com ele, sempre tem um aglomeração de amigos e os amigos destes, seguindo os dois.

Nas poucas noites em que Mick está na cidade e não excursionando, ele não quer discutir problemas. Suas ambições exigem que ele apareça na noite Londrina, conhecer pessoas e ser visto. E caso apareçam as fãs, ele deveria ser visto só, mostrando-se disponível a elas, assegurando assim, manter o mercado feminino. A solidão do papel de ser namorada de um pop star, começa a pesar e o casal discute constantemente.

Chrissie e Shirley haviam se tornados boas amigas, aproximando Mick e Charlie ainda mais. Chrissie estava em constante campanha para ela e Shirley poderem passar a viajar com a banda nas próximas excursões. Mick se defende dizendo que como elas não terão o que fazer porque os homens estarão ocupados, será um tédio e é melhor mesmo não irem. Charlie, que nunca criou coragem para contar que já estava casado, teve seu trabalho facilitado por algum reporter bisbilhoteiro que acabou descobrindo o furo de notícia. Jagger e Andrew ficaram extremamente descontentes com a traição mas Chrissie foi a primeira a defender o casal de amigos. Afinal, foi a atitude idiota dos dois, Jagger e Oldham, que obrigaram o casal a casar escondido. Só a Chrissie sabia do casamento dentro do "círculo interno dos Stones" e nunca contou para ninguém.

A revelação evidentemente não mudou em nada a atração do público pela banda. Assim sendo, e tendo ainda o incidente da Linda Keith indo para Suíça com Keith Richards sempre lembrado, Jagger cede concordando em permitir as duas a irem com eles para Paris. "Tá bom , vocês podem ir, mas irão ficar entediadas e só irão atrapalhar." Com isto, as duas se posicionam à sua frente em saudação nazista e gritam "Heil Jagger!" e saem rindo mais parecendo Betty e Wilma dos Flintstones. Jagger largou o assunto a partir de então.

Algazarra Nunca Vista

Os Stones nem sempre provocam os problemas mas são sempre eles que levam a culpa nos jornais. Muitos locais negligenciam uma melhor organização e a banda acaba sendo obrigada a tocar para 5.000 pessoas em locais que teoricamente só poderiam comportar 1.500. Foi o caso em Belfast, onde o público chamou a polícia para briga. Em locais organizados, os shows transcorriam sem problemas e apesar da histeria juvenil, todos conseguem se divertir sem incidentes. Em outra cidade, a gerência apostou suas fichas em um time de rugby para assegurar a ordem, colocando vinte e quatro jogadores entre a plateia e o palco. Porém uma menina de quinze anos os derrotou vergonhosamente. Em um só pulo, ela abraça as pernas de Mick Jagger, que tropeça e cai no fosso da orquestra. Esta e outras cenas da noite acabaram registrados em filme pela ABC-Pathé, editado posteriormente em um documentário chamado "Rolling Stones Gather No Moss 1964."

Conforme progrediu a excursão, o despreparo da gerência e das autoridades competentes, desacostumados a tamanha algazarra em shows, foi dando condições para seguidos incidentes se repetissem, por todos os países em que passaram. Na Holanda o show foi encerrado antes de chegar pelo meio. Em Bruxelas não houve incidentes, mas em Paris a história foi outra. À noite, enquanto bebiam quietos em um bar, um grupo de rapazes começaram a fazer piadinhas irritantes, por causa dos cabelos compridos. Keith levantou, chegou até o rapaz do grupo e sem dizer uma palavra, deu-lhe um soco no rosto. Por sorte não houve retaliações e os rapazes fugiram assustados. Durante o show, tudo transcorreu com tranqüilidade, mas do lado de fora, aqueles que não conseguiram entrar causaram problemas nas ruas. Depois que a banda saiu, o público agitado, danificou o Olympia e o comércio em ruas adjacentes. Cerca de 150 pessoas foram presas em um prejuízo calculado em £1.400. Os jornais foram unânimes em declarar os Rolling Stones o maior fenômeno inglês a passar pelo país, deixando um impacto, muito superior ao dos Beatles.


Pedras Que Rolam Não Criam Limo - A História Impopular dos Rolling Stones

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Sobre Márcio Ribeiro

Nascido no ano do rato. Era o inicio dos anos sessenta e quem tirou jovens como ele do eixo samba e bossa nova foi Roberto Carlos. O nosso Elvis levou o rock nacional à televisão abrindo as portas para um estilo musical estrangeiro em um país ufanista, prepotente e que acabaria tomado por um golpe militar. Com oito anos, já era maluco por Monkees, Beatles, Archies e temas de desenhos animados em geral. Hoje evita açúcar no seu rock embora clássicos sempre sejam clássicos.
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