Legiao Urbana: a história até Uma Outra Estação
Por Rodrigo Freitas
Postado em 06 de abril de 2006
Sempre que pensamos em rock, pensamos em bandas e cantores que se tornaram verdadeiros monstros da música. Grupos como Led Zeppelin, Iron Maiden, Deep Purple, Pink Floyd, Black Sabbath, Beatles, Rolling Stones, entre outros, mas esquecemos que o Brasil nos deu verdadeiros gênios da música, principalmente do rock. De todas as bandas que passaram por esses anos, podemos afirmar com convicção que a Legião Urbana foi a maior de todas.
Porque a maior? É uma pergunta para qual a resposta é a própria trajetória da banda. A Legião foi uma das poucas bandas que sobreviveu por quase duas décadas num estilo de música com tantas mudanças e modas como o rock n’roll. É uma banda que possui fãs apaixonados, que a idolatram como uma religião, o que infelizmente trouxe problemas para a banda, como nos trágicos shows de 86 e 88 que mostraremos a seguir. Suas músicas tinham algo que faltava em muitas outras bandas: poesia e letras que praticamente "conversavam" com o público. Quem que nunca se identificou com alguma música do Legião? Todos nós com certeza já ouvimos ao menos uma música que tinha algo para nos dizer. E, para resumir, foi uma banda que alcançou um sucesso fenomenal sem estratégias de marketing e com raríssimas aparições na TV, sempre seguindo seus princípios (provavelmente herdados da época em que seus integrantes faziam parte do movimento punk).
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Legião Urbana é isso. Uma relação de amor ou ódio, um grupo que sabia como ninguém fazer música e expressar seus sentimentos e os sentimentos dos jovens de toda uma nação, fazendo-os pensar no que acontecia no mundo ao seu redor. Uma banda que hoje faz parte da história da música no Brasil, e que com certeza estaria levando seu trabalho adiante por muitos anos se Renato ainda estivesse vivo.
A História da Legião remonta ao final dos anos 70, época em que o cenário do rock brasileiro não estava muito definido. Naquela época, se você pensasse em rock o que viria a cabeça seria o movimento da jovem guarda, indo mais no passado, e grupos como os Mutantes e cantores do porte de Raul Seixas, tido por muitos como o verdadeiro pai do rock moderno brasileiro. Nessa época o mundo transpirava ideologia, com vários movimentos culturais e sociais ocorrendo ao redor do mundo. No Brasil, os hippies saiam de cena e entravam os punks, com suas atitudes agressivas e até anarquistas. O celeiro do movimento punk foi Brasília, e nesse meio estavam jovens que se tornariam os mestres do rock nos anos 80, entre eles Renato Russo, André Pretórius (ex-Plebe Rude), Fê Lemos e Íco Ouro-Preto (Ex-Capital Inicial) só para citarmos alguns...
Todos eles faziam parte de uma gigantesca turma (ou tchurma, como se dizia) que se reuniam para conversar, beber, amar e se divertirem como puder. Diversão, naquela época, era algo complicado em Brasília, ela praticamente não existia. Restava as turmas organizarem festas (e ocasionalmente invadirem em bando as festinhas caretas) onde bebiam e escutavam punk rock. Foi uma dessas festas que André Pretorius conheceu Renato Russo, mas precisamente por causa do punk rock. Pretorius olhou os discos que estavam tocando e quis saber quem era o dono deles, e é aí que entra Renato. Nas palavras do Renato Russo o encontro foi mais ou menos assim: "André Pretorius parecia um Sid Vicious loiro. Ele encontrou comigo e perguntou – Cara, você gosta de Sex Pistols ? - Sex Pistols ? Yeah! Legal! – Então que tal formamos uma banda ? ".
Bandas eram o que não faltavam naquela turma. Foram formadas várias na época e todas elas interagiam entre si, trocando integrantes e músicas, e organizando festivais. Querem um exemplo ? Capital Inicial tocava "Fátima" com a letra de Faroeste Caboclo e o Legião fazia o inverso. Imaginem o que isso causava. Dentre as bandas de Brasília, as mais importantes (por fazerem parte da "tchurma") eram Aborto Elétrico (a primeira banda de Renato Russo, considerada o embrião do Legião Urbana, que inclusive incorporou suas músicas no repertório), Blitx 64, Metralhaz, Dado E O Reino Animal, Vigaristas de Istambul... entre muitas outras (todas essas bandas seriam dissolvidas em poucos anos, e seus integrantes formariam os grupos que dominaram o rock dos anos 80, como por exemplo o Capital Inicial, Plebe Rude e, é claro, o Legião).
Depois do encontro entre Renato Russo e André Pretorius, os dois formaram o Aborto Elétrico, tida como a primeira entre as bandas punk de Brasília. Com Renato no baixo e nos vocais, André na guitarra e mais Fê Lemos na bateria o trio estava formado e pronto para tocar.
O aborto elétrico, formado em 79, durou apenas até 1982, fruto de brigas entre Renato Russo e Fê Lemos. Fê Lemos era tão temperamental quanto Renato, e era também um dos mais influentes da turma. Eles chegaram a discutir inclusive durante os shows, brigando no palco por causa da insistência de um se sobressair mais que o outro na música. Após uma dessas brigas Renato decide sair do grupo, e começa a tocar sozinho, definindo um estilo mais folk, que seria adotado no repertório do Legião Posteriormente. Dessa fase, Renato cantava músicas mais completas com um storyboard, como Eduardo e Mônica, Faroeste Caboclo, Dado Viciado, entre outras.
Depois do sucesso do Aborto Elétrico, as outras bandas de Brasília começaram a aparecer.. E com a explosão dos Paralamas do Sucesso no Rio e em São Paulo, e com o sucesso que o Plebe Rude estava alcançando com suas músicas politizadas, Renato Russo decide formar uma nova banda junto com Marcelo Bonfá. Este, por sua vez, vinha de algumas experiências com outras bandas, como o Metralhaz e por último no Dado e o Reino Animal. Durante suas experiências solo, Marcelo começou a flertar com vários modelos de som, desde reggae à música computadorizada. Juntos, os dois decidem formar uma nova banda, a Legião Urbana.
Renato e Marcelo, depois de decidirem montar uma banda, alugam uma sala no Brasília Rádio Center para começarem suas primeiras experiências, mas para que o grupo estivesse completo faltava um guitarrista.
Renato Russo andou observando então Eduardo Paraná, um conceituado guitarrista de Brasília, tido com o melhor deles na época. E durante um show de Paraná em um barzinho, Renato fez o convite, o qual Paraná aceitou na hora. Era a chance dele tocar em uma banda nova, e de entrar para a tchurma ao mesmo tempo.
Aos três, se juntou Paulo Paulista, tecladista, que entrou e saiu da banda sem marcar presença. Fou o único tecladista fixo de toda a história do legião, posição que depois foi ocupada pelos membros da banda ou assumida por músicos convidados. Era a primeira vez que Paulo e Paraná tocavam em uma banda elétrica, fato que motivou os dois.
O nome legião, foi sugerido pelo próprio Renato Russo, que conforme uma entrevista dada a Showbizz, poderia ter tido qualquer outro nome. O Legião veio porque eles eram uma turma muito grande, uma verdadeira legião, e o Urbana obviamente porque eram uma legião na cidade, que faziam música urbana. Banda formada, nome encontrado, tudo pronto para o primeiro show.
Curiosamente, o primeiro show do Legião não foi em Brasília, mas em Minas Gerais, numa certa Festa do Milho, onde o promotor da festa havia decidido encaixar algumas bandas de rock entre atrações mais populares. O Show não terminou muito bem, com todos os integrantes da banda algemados. O Motivo? Em plena ditadura militar o vocalista da Plebe Rude, André Mueller começou a conversar com o público, todos moradores da região e trabalhadores agrícolas na maioria, conversa cujo teor socialista não agradou a polícia. Após algumas horas na delegacia foram todos liberados e voltaram para Brasília sãos e salvos. O sucesso da banda veio somente no terceiro show, no Setor Comercial Norte, onde apesar do público baixo, a banda foi recebida com grande entusiasmo, um passo enorme para eles.
Paraná e Paulo Paulista não duraram muito. Paulista saiu tão rapidamente quanto entrou, e Paraná não se encaixava no padrão de música da banda.
Paraná era um músico mais profissional, com um trabalho elaborado. Seus solos intermináveis e estilizados eram fruto de suas influências musicais, guitarristas do porte de Jimmy Page e Jeff Beck. Solos não combinavam com a música punk, de poucos acordes e ritmo rápido. Outro motivo para a saída de Paraná e Paulista era que eles impunham um estilo nitidamente pesado ao som da banda, muito Heavy Metal, o que incomodava Renato Russo e Marcelo Bonfá.
O buraco causado por Paraná foi coberto por Íco Ouro Preto, amigo de Renato Russo e ex-integrante do Aborto Elétrico. Íco também não ficou muito, não chegou nem a subir no palco (era famosa a lenda de que o guitarrista morria de medo do palco). Íco também na época já estava em dúvida quanto ao seu talento musical, e decidiu ser fotógrafo, arrumando as malas e indo para Europa. Outro motivo dele ter abandonado a banda, só explicado recentemente, foi uma cena presenciada por ele numa festa, onde Renato Russo, bêbado, agarrou um cara, deixando Íco em dúvida quanto as preferências sexuais de Renato. Durante sua passagem pelo Legião, Íco, acostumado ao estilo do punk rock, ajudou a terminar arranjos de algumas músicas, que não davam certo com Paraná.
Depois da saída de Íco Ouro Preto, Russo e Bonfá se viram com um grande problema: eles haviam alugado (junto com a turma) o Teatro da OAB para tocarem por quatro finais de semana. Os dois não sabiam o que fazer, e pensaram em várias alternativas, como seguir em dueto, desistir, utilizar percussão eletrônica, quando se lembraram de um outro guitarrista sem banda: Dado Villa-Lobos. Dado (isso mesmo, ele é sobrinho neto de nada menos do que Heitor Villa-Lobos) se mostrou um guitarrista tão bom que assumiu o posto definitivamente no Legião. Além de tudo, ele aprendeu em poucos dias tudo o que os outros integrantes na banda haviam demorado semanas para assimilar, e de quebra, ajudou a terminar e encontrar o ritmo para diversas músicas do Legião. A apresentação acaba sendo um sucesso. (anos depois a banda utilizou desenhos de Bonfá no álbum "Que País é Este" para ilustrar uma história em quadrinhos contando sobre a entrada de um guitarrista fixo na banda)
[an error occurred while processing this directive]Mesmo com a entrada de Dado, a banda tem pouco tempo para trabalhar em músicas novas para várias apresentações agendadas, e precisam de uma saída. A saída ? tocar hardcore; a música é simples e de poucos acordes, com uma energia contagiante. Dessa época surgem "Petróleo do Futuro" e "Teorema", entre outras. Algumas músicas da época do Aborto Elétrico, mesmo a contragosto da banda, precisaram ser utilizadas, como "Química" e "Conexão Amazônica" que ganharam arranjos diferentes. Outras como "O Reggae" são terminada com o auxílio de Dado, completando assim o repertório do Legião.
Nessa época os Paralamas estavam a pleno vapor, fazendo muito sucesso no Brasil. E para sorte do Legião, Bi Ribeiro, integrante da turma e ex-aluno de inglês de Renato Russo consegue uma oportunidade para a banda: gravar um álbum pela EMI, gravadora dos paralamas, que acabam se tornando seus "padrinhos".
As gravações estão no meio, e um fato marcante acontece: Renato Russo corta os pulsos depois de uma briga com a gravadora por causa dos arranjos de "Geração Coca-Cola". Depois do incidente, Renato fica incapacitado de continuar tocando baixo, e para resolver o problema a gravadora coloca Renato Rocha (mais conhecido como Negrete) no baixo, liberando Renato Russo para os vocais.
A gravadora lança então, em 1985, o primeiro álbum auto-intitulado "Legião Urbana". As músicas eram do repertório básico (Será, Ainda é Cedo, Petróleo do Futuro, Teorema, Por Enquanto, Perdidos no Espaço, A Dança, O Reggae, Baader Meinhof-Blues, Soldados e Geração Coca-Cola). A EMI estava receosa, pois achava que o Legião era só mais uma banda querendo se aproveitar do sucesso dos Paralamas, como dezenas de bandas que surgiram na época.
[an error occurred while processing this directive]Mas o receio não durou. Em pouco tempo músicas como "Será" e "Ainda é Cedo" estavam tocando nos rádios e atingindo altos níveis de audiência.
No mesmo ano, a banda se junta em estúdio para iniciar as gravações de seu segundo disco chamado "Dois" (existem duas versões para a banda ter utilizado esse nome no disco; a primeira é, como o próprio nome diz, por ser o segundo trabalho; a segunda versão diz que o nome vem do fato que o segundo álbum devia ser duplo – dois discos – mas como a gravadora ainda não tinha certeza se a banda conseguiria repetir o sucesso do primeiro álbum decidiu lançar um álbum simples. O nome desse álbum duplo deveria ser "Mitologia e Intuição). O disco (com as faixas "Daniel na Cova dos Leões", "Quase sem Querer", "Acrilic On Canvas", "Eduardo e Mônica", "Central do Brasil", "Tempo Perdido", "Metrópole", "Plantas Embaixo do Aquario", "Música Urbana 2", "Andrea Doria", "Fábrica" e "’Índios’"), marca época no rock e se torna um marco para a banda. Nele, o Legião acaba definindo seu estilo de música, um rock suave, mas com pitadas de hardcore, com uma música em segundo plano e variações vocais e instrumentais, e letras profundas e com críticas a sociedade e a humanidade mas extremamente poéticas, que nos faziam pensar, sem contar nas músicas folk-urbanas, que também marcaram um estilo de Renato Russo cantar e tocar.
O álbum se torna rapidamente um sucesso de vendas, e também foi o disco mais vendido da história da banda. Nessa época, acontece a primeira trágedia com a banda: num show em dezembro de 1986 no ginásio poliesportivo de Brasília, um quebra-quebra termina com uma menina morta e 20 pessoas feridas. Esse fato colaborou a atitude da banda de realizarem pouquíssimos shows durante sua trajetória.
O incidente quase terminou com o Legião. Depois de dois anos sem se manifestar e com a decisão de não fazer mais shows em Brasília, o grupo desiste da idéia de abandonar a carreira e lança mais um álbum novo, o terceiro da banda, "Que País é Este". Este ábum trouxe surpresas ao público, pois ao invés de colocarem composições novas, o Legião gravou músicas da época do Aborto Elétrico e do início da carreira da banda, numa espécie de retrospectiva da carreira. O disco trazia junto um encarte que contava uma breve história da banda, desde a época do Aborto, e comentava cada música individualmente, contando também a história delas. Foi outro bom álbum, que alcançou boas vendagens. As músicas do álbum ("Que País é Este", "Conexão Amazônica", "Tédio (Com Um T Bem Grande Pra Você)", "Depois do Começo", "Química", "Eu Sei", "Faroeste Caboclo", "Angra dos Reis", "Mais do Mesmo") mostravam bem como o grupo mudou do punk para um rock mais leve e elaborado. Podemos destacar algumas músicas daí: Que País é Este – A faixa título do disco é um grande grito de protesto, que agora podia ser gravado sem problemas com censura. Rock dos bons, com direito a bate-estaca e refrão animador, era uma das que mais empolgava o público nos shows. Química – Outra música da época do Aborto Elétrico, mas merece destaque por ser conhecida em várias versões (uma das duas músicas do legião que mais possuíam versões gravadas, mas que foram incluídas em álbuns somente mais tarde. A outra música é "Canção do Senhor da Guerra", que também era para ter saído nesse álbum, mas foi retirada pois era parecida demais com as outras canções acústicas. Ela foi lançada anos mais tarde em versão elétrica na coletânea "Música para Acampamentos". Química, voltando ao assunto, já havia sido gravada pelos Paralamas e uma versão na voz do Legião foi incluída nas primeiras cópias cassete do disco "Dois"), mas a música que mais merece destaque é, sem dúvida, "Faroeste Caboclo". Faroeste foi uma música que fugia dos padrões fonográficos da época, pois era comprida demais (mais de 8 minutos), mudava de ritmo diversas vezes no decorrer (começava no conhecido folk, e terminava um punk de arrepiar!), e, como "Eduardo e Mônica", possui um storyboard (possui uma história com personagens e tudo mais). A música contava a história de João do Santo Cristo, um rapaz pobre e de vida simples e difícil que vai para a capital do país tentar a sorte e acaba no crime. Pode ser interpretada como o povo brasileiro, sofrido, que espera dos políticos uma solução que nunca aparece. Grande sucesso até hoje, que as rádios foram obrigadas pelo público a transmitir sem parar.
Depois de dois anos sem tocar em Brasília, o grupo resolveu fazer um show, muito esperado pelos fãs, mas a organização deu um exemplo de descaso e negligência, preparando um esquema ridículo de segurança, o que não deveria ocorrer, visto o saldo do último show do grupo em Brasília.
O show, feito no Estádio Mané Garrincha, levou 50 mil fãs para assistir a banda se apresentar. O palco foi instalado muito baixo, próximo do gramado, o que não impediu a platéia de subir e atirar objetos, como bombinhas, por exemplo. Até um fã descontrolado subiu e se agarrou no pescoço de Renato Russo, que assustado, continuou tocando para ver se conseguia botar ordem. Mesmo assim o grupo teve que se retirar do palco, revoltando a platéia. As cenas que se seguiram foram terríveis. Uma verdadeira batalha campal se iniciou, entre o público e a polícia, que, montada a cavalo disparava gás lacrimogênio na platéia. O quebra-quebra aumentou até que se espalhou pela cidade, e terminou com um saldo de 385 feridos, 60 pessoas presas e 64 ônibus depredados. Enquanto isso Renato Rocha e Bonfá choravam no camarim enquanto Renato praguejava que não havia vindo até Brasília para dar um show para animais. Nunca mais o Legião voltou a tocar na capital.
Depois de um longo tempo sem gravar, dois anos, a legião sai do estúdio com um trabalho que revolucionaria sua trajetória e o rock brasileiro: o disco "As Quatro Estações", já sem o baixista Renato Rocha, que se desligou do grupo logo após o final das gravações de "Que País é Este", pois não conseguia se adaptar aos compromissos com shows e gravações.
O Novo álbum, onde Renato e Dado se encarregaram dos baixos, é considerado por muitos o grande divisor de águas da história da banda. Em suas onze músicas ("Há Tempos", "Pais e Filhos", "Feedback Song For A Dying Friend", "Quando O Sol Bater Na Janela Do Teu Quarto", "Eu Era Um Lobisomem Juvenil", "1965 (Duas Tribos)", "Monte Castelo", "Maurício", "Meninos e Meninas", "Sete Cidades" e "Se Fiquei Esperando Meu Amor Passar") o lago mais pesado substituído por canções belas, com um forte apelo sentimental, e temas mais pesados (como o homossexualismo, por exemplo) adotado em suas letras. Renato também incluiu citações religiosas nas músicas, como trechos do novo testamento (Junto com os Sonetos de Camões em "Monte Castelo"), o Credo (em "Se Fiquei Esperando o Meu Amor Passar"), citações budistas (em "Quando O Sol Bater...") até citações de livros orientais antigos. Um álbum profundo, que teve quase todas músicas transformadas em sucessos nas rádios, e um dos álbuns mais vendidos da banda.
Através desse álbum com letras mais diretas, o público mais jovem (que era criança na época do início do Legião) se identificou mais com as poesias de Renato Russo, aumentando ainda mais o número de fãs da banda, a essa altura consolidada como a maior banda de rock do Brasil.
A partir de 1990, houve uma grande reviravolta na banda, mais precisamente com Renato Russo. O líder e vocalista assumiu publicamente em uma entrevista que era homossexual, e no mesmo ano descobriu que era portador do vírus da AIDS. Para completar, Renato se afundou no vício, consumindo muita cocaína e heroína. Todas essas mudanças podem ser notadas no disco "V", lançado em 1991.
O novo álbum, mais uma vez surpreendeu os fãs. Era pesado tematicamente, com músicas tristes e letras que falavam do vício nas drogas e de paixões perdidas (fruto de um relacionamento terminado abruptamente na época). Talvez por ter sido um álbum triste foi um que tinha as melodias mais belas do grupo, mas mesmo assim teve músicas bem executadas nas rádios (talvez pelo próprio status da banda). Entre as faixas ("Love Song", "Metal Contra As Nuvens", "A Ordem Dos Templários", "A Montanha Mágica", "O Teatro dos Vampiros", "Sereníssima", "Vento no Litoral", "O Mundo Anda tão Complicado", "L’Âge D’Or" e "Come Share My Life"), podemos destacar "Metal Contra As Nuvens". É uma música sem igual na história da banda. É também a música mais longa até então (11 minutos) e era dividida em quatro partes, que trazia temas medievais e heróicos, numa letra cheia de sentimento. Outras músicas como "A Ordem Dos Templários" e "Come Share My Life" por serem músicas totalmente instrumentais.
Em 1992, a gravadora lança a coletânea "Música para Acampamentos", um álbum duplo com 20 gravações ao vivo e de especiais para rádio e televisão, onde a banda mostra talento intercalando seus sucessos com covers dos Beatles e Rolling Stones. Nesse disco foi incluída a versão elétrica de "Canção do Senhor da Guerra", música, como já dita anteriormente, que possuía várias versões gravadas mas nenhuma em disco.
Depois outro longo período de dois anos sem gravar, os fãs já estavam ansiosos por novos trabalhos do Legião, e em 1993, são pegos novamente de surpresa com o álbum "O Descobrimento do Brasil", o sexto da carreira da banda.
O disco mostrava um Renato Russo alegre, de bem com a vida, recuperado do problema com as drogas e apaixonado. A capa, bem diferente do estilo das anteriores, trazia os três integrantes vestindo roupas medievais (Renato de monge, Dado de cancioneiro e bonfa de camponês), no meio de um campo florido. Foi também o primeiro álbum a trazer um videoclipe com produção elaborada e figurino (a música "Perfeição"). Quanto as músicas do álbum ("Vinte e Nove", "A Fonte", "Do Espírito", "Perfeição", "O Passeio da Boa Vista" , "O Descobrimento do Brasil", "Os Barcos", "Vamos Fazer um Filme", "Os Anjos", "Um Dia Perfeito", "Giz", "Love In The Afternoon", "La Nuova Gioventú", "Só Por Hoje") elas falavam sobre o amor e a morte, mas ainda mantinham letras de críticas a sociedade (novamente, "Perfeição"). Uma das músicas, "Os Barcos", entrou na trilha sonora de uma novela na rede Manchete. A EMI aproveitou o álbum muito bem comercialmente, que também teve vendagens boas, mas não tantas com os discos anteriores. Muitos fãs antigos não gostaram pois acharam que o estilo de música havia mudado muito. A Legião também fez alguns shows desse álbum, sendo um deles inclusive transformado para a televisão com depoimentos da banda. O Show foi mostrado a exaustão após a morte de Renato.
Três anos se passaram e os fãs tinham poucas notícias da banda e estavam ávidas por novos trabalhos. Neste meio tempo, para burlar a ausência do grupo, a EMI lança em 1995 uma lata em edição limitada com todos os álbuns da banda, com exceção do disco duplo "Música para Acampamentos", remasterizados por Dado Villa-Lobos nos estúdios londrinos da Abbey Road. A lata incluía um livreto com a história da banda e dos discos, e se esgotou rapidamente das lojas. Posteriormente, a EMI distribuiu no mercado os CDs da lata, individualmente, substituindo as gravações originais. Os CDs receberam novo tratamento visual, inclusive no rótulo, e também um selo desenhado por Marcelo Bonfá (Os três andando descalços) impresso na contracapa.
Entre esses três anos, Renato lançou dois álbuns solo, o "The Stonewall Celebration Concert", um álbum comemorativo cantado em inglês, que celebrava os vinte anos de um levante homossexual nos Estados Unidos. O disco continha músicas de Bob Dylan e Madonna, entre outros cantores, e teve seus lucros revertidos para campanha contra a fome do sociólogo Herbert de Souza.
O outro álbum solo, "Equilíbrio Distante", era um álbum cantado em italiano, que segundo Renato, foi feito a pedido de sua família, que gostaría de vê-lo cantando músicas tradicionais em italiano. O disco, foi um sucesso de vendas instantâneo, com mais de 300 mil cópias, e teve suas músicas (principalmente "Strani Amore") tocadas em rádios que nunca antes haviam tocado rock ou falado em Legião Urbana. O trabalho serviu também para chamar a atenção das pessoas pelo lado poético de Renato, e para a beleza de suas composições. Muitas pessoas que se arrepiariam de escutar um disco de rock se tornaram fãs do legião depois do trabalho solo. O disco rendeu também videoclips, uma indicação para o Video Music Awards Brasil 96 e levou o Premio Sharp de Música na categoria "Melhor Álbum em Língua Estrangeira".
Depois do intervalo mais longo entre um álbum e outro do Legião, a EMI lança em meados de Setembro de 1996 o disco "A Tempestade (ou o Livro dos Dias)". O lançamento foi apressado, pois Renato estava muito enfraquecido e doente, e a gravadora temia que o disco acabasse sendo póstumo. As primeiras tiragens do disco vieram acondicionadas em uma caixa especial de papelão( que ao mesmo tempo era o encarte), como no disco em italiano. O encarte trazia no final uma lista de entidades de defesa dos direitos humanos, da mulher e da criança, para que o público pudesse ajudar.
O Trabalho causou, mais uma vez, surpresa até mesmo nos fãs mais acostumados com as reviravoltas da banda. Ele trazia um Renato com a voz sensivelmente debilitada pela doença, melodias e letras tristes que falavam de dor, tragédia e despedida. O álbum trazia poucas músicas com apelo comercial para as rádios e a primeira faixa transmitida foi "A Via Láctea" (a faixa, depois da morte de Renato, foi finalmente compreendida como a sua despedida do mundo).
As músicas ("Natália", "L’Avventura", "Música de Trabalho", "Longe do Meu Lado", "A Via Láctea", "Música Ambiente", "Aloha", "Soul Parsifal", "Dezesseis", "Mil Pedaços", "Leila", "1º de Julho", "Esperando por Mim", "Quando Você Voltar", "O Livro Dos Dias") eram de vários estilos diferentes. Tinha desde melodias passando por blues, soul, até lembranças de um Legião punk. Duas músicas merecem destaque: "Soul Parsifal", por ter sido feita em parceria com Marisa Monte, e por ser a mais alegre do disco; e "Dezesseis", por ser mais uma música com storyboard, contanto a história de um garoto que morre (se suicida) em um racha. Era também uma lembrança da época do punk rock.
Esse seria o último trabalho do Legião Urbana.
No dia 11 de outubro de 1996, o Brasil, em especial os fãs da banda, acordaram chocados com a notícia de que o poeta, músico e líder do Legião Urbana, Renato Russo, cujo nome de batismo era Renato Manfredini Jr, havia morrido na madrugada vítima de complicações resultantes da AIDS. Era o fim de uma era.
Dias depois, a banda anunciou em uma entrevista coletiva na sede da EMI, que o Legião estava oficialmente terminado. Terminava nesse dia também a trajetória da maior banda de rock do país de todos os tempos, uma banda que era quase uma religião, um estilo de vida para os fãs. Para eles, sobraram as lembranças, saudades e músicas de um tempo onde éramos jovens e inocentes, e tudo parecia que ia mudar no país. Um tempo que agora parece muito distante, perdido mesmo.
Quanto a Renato, seu corpo foi cremado e suas cinzas foram jogadas sobre um jardim florido no sítio do paisagista Burle Max, a pedido do próprio poeta.
Depois da morte de Renato, em 1997 a banda resolve juntar velhas gravações e out-takes do segundo e do último álbuns, que deveriam ser duplos. A EMI lança então o álbum "Uma Outra Estação", o álbum póstumo do grupo, que foi vendido rapidamente (assim como todos os outros álbuns da banda que se esgotaram das lojas após a notícia da morte do poeta).
Quanto as músicas ("Riding Song", "Uma Outra Estação", "As Flores do Mal", "La Maison Dieu", "Clarisse", "Schubert Länder", "A tempestade", "High Noon (Do Not Forsake Me)", "Comédia Romântica", "Dado Viciado", "Marcianos Invadem a Terra", "Antes das Seis", "Mariane", "Sagrado Coração" e "Travessia do Eixão") podemos destacar: Riding Song – A faixa conta com a participação do ex-baixista Renato Rocha, que toca e canta em conjunto com os outros dois integrantes. Renato Rocha, foi encontrado por acaso em um restaurante por Dado Villa-Lobos e decidiram imediatamente entrar em estúdio para gravar. A Tempestade – deveria ser a faixa-título do outro álbum, mas acabou saindo somente neste. Clarisse - É uma música autobiográfica, que retrata Renato Russo na pele de uma menina de 14 anos. É também uma das músicas mais comprida do grupo, com mais de 10 minutos, e por fim Sagrado Coração – a música é só instrumental, pois Renato não teve tempo de gravar os vocais.
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