A banda de rock que George Harrison odiava: "Sem finesse, só barulho; simplesmente lixo"
Por Gustavo Maiato
Postado em 18 de abril de 2025
No fim dos anos 1970, o rock vivia um choque de gerações. De um lado, artistas veteranos com carreiras consolidadas; do outro, jovens furiosos, dispostos a demolir tudo com três acordes e um grito. O movimento punk, nascido em meio à insatisfação social e política, causou espanto — e desprezo — em muitos músicos da velha guarda. Entre eles, George Harrison, que não escondeu o incômodo ao ouvir os Sex Pistols.
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"Do ponto de vista da musicalidade, as bandas punk eram simplesmente um lixo – sem finesse na bateria, só barulho e nada mais", disse o ex-Beatle em entrevista resgatada pela Far Out Magazine. A declaração revela o choque estético entre o som urgente do punk e a sofisticação melódica cultivada por Harrison em sua trajetória solo — marcada por álbuns como "All Things Must Pass" e "Living in the Material World".
Mas, apesar da crítica severa ao conteúdo musical, Harrison demonstrou empatia pela realidade vivida por aqueles músicos. "Senti muita pena quando os Sex Pistols apareceram na televisão, e um deles disse: ‘Somos educados para trabalhar em fábricas, em linhas de montagem’. Esse é o futuro deles. É terrível."

A fala expõe uma contradição típica da época: enquanto os punks queriam destruir os ídolos do passado — inclusive os Beatles, com o bordão "a Beatlemania é uma farsa" —, Harrison enxergava neles um retrato de uma juventude sem perspectivas, moldada por um sistema que produzia frustração em série.
Ao contrário de Harrison, outros ex-integrantes dos Beatles encararam o punk com mais leveza. John Lennon chegou a dizer que os Pistols não faziam nada muito diferente do que sua banda fazia no Cavern Club — só que com alfinetes no rosto. Paul McCartney, por sua vez, buscou adaptar-se à nova sonoridade com faixas mais rápidas e cruas em seus projetos solo.
Mas George nunca escondeu que valorizava estrutura, harmonia e espiritualidade na música. E, para ele, isso faltava por completo no punk. Ainda assim, sua indignação parecia menos voltada à rebeldia dos garotos e mais ao sistema que os empurrava para o caos. "O problema não era o grito, era o motivo pelo qual estavam gritando."

Com o tempo, os dois mundos coexistiriam nas paradas. Enquanto os Sex Pistols viravam símbolo de revolta, Harrison ainda emplacava hits suaves como "Blow Away". A Beatlemania podia ter sido contestada, mas a sensibilidade de George, mesmo envolta em crítica, seguia viva — mesmo quando, entre um acorde e outro, ele soltava frases como: "Era só barulho. Nada além disso."

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