Dream Theater: Muita pretensão e pouca qualidade musical
Resenha - Astonishing - Dream Theater
Por Daniel Junior
Postado em 26 de fevereiro de 2016
Nota: 5
Quem conhece o Dream Theater sabe que a banda sempre teve em seu som dinâmicas de um grupo que idolatra o progressivo e o metal. Sua discografia está repleta de canções que apostam na grandiloquência das passagens longas e cheias de clima + convenções ferozes com o melhor do peso do metal. Foram essas combinações que conquistaram milhares de fãs ao redor do planeta. Em discos como "Metropolis Pt2: Scenes From a Memory" e "Train on Thought" reforçaram a postura agressiva nas canções, além de um som com DNA e fortemente influenciado por gigantes da música como Metallica, Iron Maiden e Rush.
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São trinta anos de banda, sendo o primeiro disco lançado em 1989 sob o título de "When a Dream and Day Unite", ainda com o antigo vocalista, Charles Dominici, que daria lugar ao canadense James LaBrie, músico da banda até os dias de hoje e também o maior responsável pelas maiores críticas à banda. LaBrie nunca foi unanimidade, mas desde então vem segurando a onda, mesmo que o grupo tenha passado por algumas turbulências, dentre elas a saída de Mike Portnoy, um dos fundadores da banda, compositor, produtor e um dos músicos mais influentes do mundo. Você pode até desconhecer a banda americana, mas certamente do sobrenome "Portnoy" você já ouviu e/ou viu em algum momento. O Dream Theater, como a comunidade roqueira acompanhou em 2010, fez uma espécie de reality show para escolher seu novo baterista. Com nomes como Aquiles Priester, Virgil Donati, Marco Minnemann, o vencedor foi o baterista e professor de música Mike Mangini, figurinha carimbada do mundo da música, onde já havia feito diversos trabalhos com inúmeros artistas diferentes.
Desde a estreia de Mike (o Mangini) foram três discos, "A Dramatic Turn of Events", "Dream Theater" e o recém-lançado "The Astonishing". O primeiro álbum ainda mantem as características do "velho" DT: as presepadas técnicas (que tanta gente ama), ótimas melodias e arranjos e uma sonoridade indefectível. O segundo, com título homônimo, era um cartaz de boas vindas à nova fase da banda. Considerado por muitas pessoas como um dos discos mais fracos da sua discografia, "Dream Theater" fez muita gente re-pensar sua idolatria em relação ao grupo. Um disco com faixas esquecíveis, muito longe de tracks como "The Dance of Eternity" ("Metropolis Pt2: Scenes From a Memory"), "Another Day" ("Images and Words") ou mesmo "Endless Sacrifice" ("Train on Thought").
A banda não pode trilhar por outros caminhos musicais e seguir, após 30 anos, um novo caminho em que possa mostrar novas nuances da sua arte para seus fãs?
Pode e deve. Nenhum artista deve ficar preso apenas às expectativas dos seus fãs mais xiitas. Deve se re-inventar, buscar uma nova abordagem, elaborar um novo retrato de si mesmo. O papel do crítico (se ele existe) não é criticar as escolhas artísticas de um indivíduo ou mesmo de uma banda. Não é supor que "faria melhor" no lugar dele ou deles. Não é ter a pretensão de saber que se a banda tivesse feito a escolha A ou B estaria nadando de braçada. Nada disso. Só não dá para passar uma borracha na história da banda e ignorar que as novas canções são inferiores aos melhores trabalhos da banda. Não dá para relativizar tudo e aceitar passivamente que "The Astonishing" seja o uma obra de arte. Não é e não precisamos da prova do tempo para chegarmos à conclusão hoje.
A despeito de todo o conceito de um disco que se chama "O Assombroso/Surpreendente" (em algumas traduções) e que deu muito trabalho para o guitarrista John Petrucci e ao tecladista Jordan Rudess, "The Astonishing" não me comoveu ou mexeu comigo nas várias audições as quais fui submetido. Como fã da banda, injetei na veia as 34 faixas (algumas vinhetas) para experimentar da obra, assim como faço com todo disco. O fone de ouvido foi um companheiro inseparável no escritório, dentro do trem, do carro e em várias outras situações. Conclusão: desde a primeira audição não foram poucas as vezes em que torci para que aquele martírio chegasse até o fim.
Como alguém que conhece muito de rock me disse em clima descontraído: "o disco acaba várias vezes". A gente fica com a sensação que John Petrucci quis soar clássico em muitas das faixas de "The Astonishing" e o máximo que ele conseguiu foi fazer um disco maçante, onde raramente apresentou cenas envolventes na história que estava contando. O músico sensacional que é, sequer fez seu maior trabalho como compositor ou como guitarrista. A produção está pasteurizada, escondendo (mais uma vez, vamos contar?) John Myung e colocando em evidência as zilhões de camas de teclado que Rudess entrega no disco, como vem sendo recorrente.
Não sou daqueles que persegue James LaBrie. O músico está longe de ser um dos melhores no que faz, mas pelo tempo em que está à frente da banda, já o ouvimos com menos restrições do que em discos ou apresentações em que ele foi severamente criticado. Um disco conceitual que pretende dar voz a tantos personagens, não existe uma canção em que você perceba que o "eu-lírico" esteja diferenciado... Um trabalho que se vendia especial, não recebeu nada de fantástico por parte do seu porta-voz. Apenas mais um disco. Apenas mais um trabalho.
E o que falar do trabalho de Mike Mangini? Uma heresia comentar a técnica do ex-professor da Berklee College of Music, um dos mais referendados músicos no seu instrumento. No entanto, junto ao DT, em minha opinião, não funciona. Faz escolhas irritantes para uma banda onde a base musical tem um guitarrista "pesado" e a "agudez" dos teclados desenham praticamente todas as canções. A bateria trigada em "The Astonishing" torna as faixas mais artificiais do que são. Um disco que, em suma, diz que a música vai vencer, precisava de mais coração e punch. Lembro-me que a primeira vez em que escutei/vi "Live At Luna Park" (2013), imaginei que por não estar com uma versão oficial em minhas mãos, ele estaria apresentando problemas com relação ao som de bateria. Engano meu. O músico faz opções que não dão vida às canções do DT, embora todas estejam irretocáveis no que diz respeito à excecução. O Dream Theater fez a única coisa que seria possível para substituir Mike Portnoy: colocou em seu lugar um robô.
Músicos excelentes poderiam "cometer" um disco tão sem inspiração e vida?
Sim, tanto que o fizeram. Não me interessa a capacidade que eles têm. Já me provaram que são capazes de fazer discos maravilhosos como os tantos outros álbuns feitos, colocando até alguns discos não "queridos", como "Systematic Chaos", em uma prateleira melhor do que estavam até a entrada de Mangini. Eu não coloco nenhum dos últimos três discos lançados pela banda em um TOP 7, para ser gentil.
Acho que o álbum está longe de ser o que Petrucci sonhava: um ode à arte musical. É longo, enjoativo, presunçoso; a mixagem parece de um disco pop de tão agudo que é. Apesar das muitas audições - fiz assim para que pudesse dar um parecer espesso e rico sobre o tal - em nenhum momento fui "convidado" a pegar o cd novamente e louvar as horas de prazer escutando "The Astonishing". Onde está aquela banda de metal com ótimas ideias para arranjo como acontece em "Finally Free" ("Metropolis Pt. 2: Scenes From a Memory")?
Por fim: ao que me parece, "esta" é a banda hoje. Este é o som que eles desejam fazer, as músicas que querem compor, os álbuns que querem gravar. Não gosto das intervenções "molhadas" de Rudess nos últimos álbuns e acho que ele contribuiu muito para que a qualidade musical das faixas tenham caído. Minha exceção vai para linda suíte "Illumination Theory" (do disco homônimo), de fato, uma das poucas canções que me impressionam pela beleza e arranjo emocionante.
Eles seguiram uma nova estrada musical. Faremos o mesmo?
@diariodopierrot
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