Spiral Architect: Apogeu da forma cética da arte metálica extrema
Resenha - A Sceptic's Universe - Spiral Architect
Por MATHEUS BERNARDES FERREIRA
Postado em 31 de agosto de 2016
A "Sceptic Universe" é o primeiro álbum do quinteto norueguês de metal progressivo Spiral Architect. Para quem espera alguma referencia musical ao Black Sabbath, de quem os noruegueses pegaram emprestado uma de suas músicas para nomear a banda (uma das minhas favoritas), até encontrará nos vocais de Oyvind Haegeland alguma referência ao lendário Ozzy Osbourne. Mas as similaridades acabam por aí. É bem provável que se você nunca ouviu as bandas Cynic ou Atheist, você vai se surpreenda com o conteúdo deste álbum. Espere em "A Sceptic Universe" um ensaio do álbum mais técnico que a comunidade metálica jamais ouviu.
Tentar entender a insanidade técnica deste álbum passa primeiro por identificar o papel do contrabaixo na composição da música metálica e de como o Sr. Lars Norberg deturpa escandalosamente essa noção. Pelo metal ser um gênero predominantemente dominado pelas guitarras pesadas e bateria rápida e estridente, o som do contrabaixo raramente possui algum destaque na composição, sendo muitas vezes infelizmente relegado a mero acompanhamento dos riffs da guitarra, quando não é totalmente inaudível. Em "A Sceptic Universe" o instrumento não apenas está no mesmo volume da guitarra, se não estiver mais alto, como as linhas de contrabaixo pouco seguem as das guitarras, isso quando não correm extraordinariamente na direção oposta. Em vários momentos do álbum dá a impressão de que a banda toca uma música enquanto o Sr. Norberg toca outra completamente diferente. A maioria das faixas foi composta pelo próprio Norberg e impressiona o modo como ele impôs seu instrumento em todas as músicas do álbum.
A proposta do restante dos instrumentos não é menos ousada. Asgeir Mickelson simplesmente não consegue manter a mesma batida por mais do que 10 segundos, isso é fato. Parece que o cara tem "fobia da mesmice", que sofre de um tipo raro de distúrbio obsessivo compulsivo que não o permite admirar a ordem dos sons no tempo, que precisa quebrar a música no momento em que ela adquire qualquer ritmo definível. E ele o fará mesmo que precise quebrar a música inteira. Ele quebrou bonito.
A dupla de guitarristas Steinar Gunderson e Kaj Gornitzka também não é adepta da continuidade como filosofia musical. A técnica extrema e constante alternância dos riffs dificultam muito o ouvinte a entrar na música. Ao final do álbum, não é de se admirar que nenhum riff de qualquer música tenha ficado na cabeça. A dupla é bastante versátil já que temos riffs escalonados que lembra muito o estilo Petrucci de tocar no Dream Theater, belas passagens acústicas, algum flamenco e outras inspirações mais exóticas. Às guitarras também cabe o papel de adicionarem vários efeitos acústicos e solos soltos durante as músicas, trazendo uma pitada extra de excentricidade à composição.
O som das guitarras não é muito pesado, é no pedal duplo e nas imponentes linhas de contrabaixo que o álbum define seu peso. O teclado assume um papel discretíssimo, servindo apenas de fundo para algumas faixas, portanto, nada de solos psicodélicos ou outras fanfarronices típicas do gênero.
A voz de Oyvind Haegeland assemelha-se com a do Bruce Dickinson, fato que deveria colaborar com a acessibilidade do álbum, mas não é exatamente isso o que acontece. O rapaz tem um belo alcance vocal e abusa das alternâncias de tons, na mesma linha do primeiro vocalista do Fates Warning, o mestre John Arch. Sua interpretação lembra os trabalhos do folclórico Ozzy Osbourne ao transmitirem perturbadoras sensações de angústia e delírio, o que não ajudam em nada na ordenação da insanidade instrumental.
O ceticismo de A Sceptic Universe vem de sua frieza quase absoluta. Não há estrutura de música definida, não há refrãos, não espere encontrar batidas acompanháveis, praticamente não há melodias. O álbum é mecânico, matemático, preciso e perfeito em sua execução. Parece contraditório, mas para a proposta do álbum, a execução não foi menos que perfeita. Por mais que, a princípio, tudo soe muito confuso e inacessível, o ouvinte persistente perceberá que as infinitas notas musicais tocadas neste álbum formam uma criativa rede de texturas sonoras. Como se a banda provocasse o ouvinte a procurar pela simetria entre todos os sons contidos no álbum. É gratificante concluir que existe sim tal simetria musical e que não é apenas contagiante, mas também possui beleza imperativa.
A "Sceptic Universe" é o apogeu da forma cética da arte metálica extrema. Recomendado para veteranos do metal progressivo ou qualquer ouvinte que esteja à procura de uma música desafiadora.
Spiral Architect
A Sceptic's Universe, 2000
Prog Metal (NOR)
Lista de músicas:
Spinning (3:23)
Excessit (6:13)
Moving Spirit (3:44)
Occam's Razor (1:32)
Insect (5:54)
Cloud Constructor (5:25)
Conjuring Collapse (6:30)
Adaptability (4:34)
Fountainhead (6:30)
Tempo total: 43:45
Faixa bônus versão japonesa:
Prelude to Ruin (7:32)
Músicos:
Oyvind Haegeland / vocal, teclado
Steinar Gunderson / guitarra
Kaj Gornitzka / guitarra
Lars K. Norberg / contrabaixo, programação
Asgeir Mickelson / bateria
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